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PARTE III – ESTUDO EMPÍRICO

CAPÍTULO 6 – DESENHO DA INVESTIGAÇÃO E METODOLOGIA

6.3. DESENHO DA INVESTIGAÇÃO

O desenho da investigação consiste na sequência lógica e ordenada das várias fases do processo de investigação. A escolha da metodologia decorre do desenho da investigação e, por isso, o desenho da investigação e a metodologia são dois processos da estratégia de investigação intimamente relacionados.

Tharenou, Donohue e Cooper (2007) referem quatro principais tipos de desenhos de investigação: experimentais ou semi-experimentais, estudos de campo correlacionais, estudos de caso e investigação-acção:

a) Os estudos que recorrem a um desenho experimental são normalmente conduzidos fora do local onde o fenómeno ocorre normalmente (p.ex., num laboratório) e são desenvolvidas formas de controlar o maior número possível de interferências externas. Os estudos semi-experimentais são semelhantes aos anteriores mas são realizados em condições reais (p.ex., nas organizações).

b) Um estudo de campo correlacional é baseado em dados de inquéritos conduzidos numa determinada população ou amostra, em que as relações entre uma ou mais variáveis dependentes e uma ou mais variáveis independentes são analisadas. c) Um estudo de caso é uma análise detalhada de uma entidade, acontecimento ou

situação. O seu objectivo é procurar explicar o processo de um determinado fenómeno no seu contexto. A unidade de análise (ou seja, o caso) pode estar circunscrito a um indivíduo ou ser alargado a um país. Um dos benefícios de utilizar o estudo de caso é que ele permite uma análise aprofundada de elementos empíricos específicos. Os estudos de caso podem empregar dados quantitativos ou qualitativos para responder a uma pergunta de partida. A principal dificuldade deste desenho de investigação está na sua dificuldade de generalizar para outros casos; contudo, a capacidade de generalização pode ser melhorada ao ser utilizado mais do que um caso.

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d) Os estudos que utilizam um desenho de investigação-acção alternam ciclicamente entre um processo de diagnóstico (investigação) e intervenção (acção) até existir uma compreensão e mudança no sistema social (p.ex., na organização) que está a ser analisado. Em cada interacção, são desenvolvidas interpretações que, por sua vez, servem de informações para a nova fase do ciclo. Neste tipo de desenho de investigação, tanto o investigador como os embros do sistema social que está a ser estudado trabalham de uma forma colaborativa, procurando compreender e melhorar o sistema social.

O processo que foi seguido para escolher o desenho de investigação utilizou como modelo os passos sugeridos por Sekaran (2003), implicando a determinação de seis aspectos básicos: 1) o propósito do estudo; 2) o tipo de investigação; 3) a extensão da interferência do investigador; 4) a montagem do estudo; 5) a unidade de análise; e 6) o horizonte temporal do estudo. De seguida, descreve-se, de uma forma breve, cada um destes passos (no seguimento da apresentação da metodologia, estes aspectos serão abordados mais detalhadamente).

No que concerne ao propósito do estudo, se a presente investigação se debruça sobre a identificação dos factores que influenciam a capacidade inovadora das câmaras municipais portuguesas na prestação de serviços públicos de desporto e, mais especificamente, sobre os efeitos que esses factores têm na capacidade inovadora das câmaras ao nível dos serviços de desporto, o teste de hipóteses é indicado em detrimento do estudo exploratório, descritivo ou estudo de caso. Pese embora o sector e a unidade de análise a estudar pela inexistência de estudos empíricos anteriores exijam o desenvolvimento de novas escalas de medida da capacidade inovadora, a produção teórica existente permite suportar a fundamentação de hipóteses para o estudo.

Relativamente ao tipo de investigação, os estudos podem estabelecer uma relação causal (procurando determinar a causa) ou de correlação (em que se procura identificar os factores associados a determinada situação) (Tharenou, Donohue e Cooper, 2007). O presente estudo enquadra-se no primeiro tipo, procurando identificar as variáveis que explicam a capacidade inovadora dos serviços públicos de desporto das câmaras municipais.

A interferência do investigador, no enquadramento desta investigação, entende-se que deva ser mínima, resumindo-se à administração de um questionário, reunindo, portanto, as características de um estudo de campo (segundo a divisão proposta por Tharenou, Donohue e Cooper, 2007).

No que diz respeito à montagem do estudo, distinguem-se os estudos que decorrem em ambiente natural, onde a actividade se desenvolve normalmente, dos que decorrem em ambiente artificial. Estudos de campo, como o do presente estudo, são invariavelmente

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conduzidos em ambiente natural, enquanto estudos causais têm lugar em ambiente artificial (laboratório).

A unidade de análise da presente investigação foi determinada pelas questões de investigação. Ao procurar identificar quais os factores que influenciam a capacidade inovadora das câmaras municipais portuguesas na prestação de serviços públicos de desporto, a nossa unidade de análise fica confinada às estruturas orgânicas responsáveis pelo desporto nas câmaras municipais.

Finalmente, no que concerne ao horizonte temporal, o investigador pode optar por um estudo de carácter seccional (os dados são recolhidos num único momento no tempo) ou longitudinal (diferentes momentos no tempo para os mesmos casos). Considerando o tempo disponível para a realização da investigação, a opção recaiu sobre um estudo de carácter seccional. Nesse sentido, o presente estudo segue o desenho de investigação apresentado na Figura 6.3.1.:

Figura 6.3.1. – Desenho de investigação

REVISÃO DA LITERATURA

CONSTRUÇÃO DO MODELO DE ANÁLISE

ESTUDO EMPÍRICO

CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE NOVAS LINHAS DE INVESTIGAÇÃO

Identificação da população

Elaboração dos instrumentos de medida Pré-teste

Recolha de dados

Análise e discussão dos resultados

Identificação das perspectivas de análise fundamentais;

Identificação das dimensões e variáveis; Construção das hipóteses do estudo.

Fonte: Elaboração própria baseada em Hill e Hill (2002), Sekaran (2003) e Tharenou, Donohue e Cooper (2007)

O presente estudo empírico seguiu, portanto, uma estratégia de investigação do tipo quantitativo não-experimental, em que não existe manipulação das condições, mas sim a descrição de fenómenos do universo visado. Esta estratégia caracteriza-se pela utilização de um questionário na recolha de dados, existindo decisões prévias sobre o tratamento estatístico dos dados a obter.

A opção por este instrumento de investigação, como já foi referido anteriormente, justifica- se por permitir a recolha da informação junto de um subconjunto mais amplo do universo,

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objecto de estudo, a um custo relativamente baixo e com a respectiva economia de tempo. Os questionários são normalmente conduzidos com o objectivo de procurar obter informações junto de determinados indivíduos, informações essas que podem estar relacionadas com as suas percepções ou atitudes em relação a um determinado assunto (Tharenou, Donohue e Cooper, 2007). Neste caso, interessava conhecer a percepção dos responsáveis políticos ou técnicos do desporto das câmaras municipais sobre diversas variáveis que podem influenciar a capacidade inovadora dessas organizações, pelo que esta opção pareceu a mais adequada. A concretização do estudo numa amostra ampla da população poderá permitir a análise de subgrupos e potenciais comparações entre vários grupos existentes na amostra, bem como a identificação das dimensões e variáveis que melhor permitem explicar a capacidade inovadora dos serviços de desporto municipais.

Existem, todavia, algumas desvantagens na utilização de questionários, tais como a validade e fiabilidade dos dados que se obtêm a partir da sua aplicação (Tharenou, Donohue e Cooper, 2007) as quais, usando técnicas descritas mais à frente neste estudo, o investigador procura controlar.

No presente estudo, a unidade de análise é a estrutura camarária responsável pela prestação de serviços públicos desportivos. Normalmente esta estrutura está enquadrada no pelouro do desporto (quando ele existe na orgânica camarária), mas também pode assumir a forma de departamento ou divisão integrada noutro pelouro ou, em algumas situações, a forma de empresa municipal, o que depende das características e opções políticas e de estrutura tomadas a nível municipal.