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Desenho da decoração – princípios gerais

No documento O desenho como substituto do objecto (páginas 127-134)

Da conversão do achado arqueológico em objecto inteligível

4. O desenho de diferentes tipos de materiais

4.2.6. Desenho da decoração – princípios gerais

Os princípios gerais expostos nesta alínea seguem o exemplo do desenho de material cerâmico mas são igualmente válidos para outro tipo de objectos.

O desenho como registo da decoração deve manter todas as virtudes que permitem a leitura clara da informação. O desenho tem a capacidade e o objectivo de delimitar e definir em absoluto a figura sobre o fundo, de individualizar acessórios, de definir e agrupar esquemas decorativos e sempre que possível traduzi-los por convenções em símbolos gráficos representativos facilmente inteligíveis.

Os elementos da decoração devem ser reproduzidos, sempre que possível, integrados no desenho principal. Dado o carácter curvo da grande maioria das formas cerâmicas a decoração integrada fica, sob um ponto de vista ‘naturalista’, sujeita a estreitamento ou deformação quanto mais afastada da posição central for representada.

Em certos casos pode ser útil manter este efeito mas geralmente a leitura da decoração é facilitada se esta for sujeita a uma planificação, podendo ser incluída no desenho principal ou ser destacada, ou mesmo isolada 103.

103

“ Quando a decoração de desenvolve de forma não repetitiva, ou sempre que o seu módulo de repetição exceda a área de representação disponível, preteriu-se excepcionalmente o método de desdobramento de vistas a favor da projecção plana dentro do esquema geométrico da forma correspondente, representada `a direita se exterior e à esquerda se interior.” (Castro; Sebastian, 2003, p. 549)

Fig. 69 – Decoração inserida num vaso cerâmico Fig. 70 – Decoração inserida e destacada (desenrolada); método

que permite a inteligibilidade do motivo e economizador de vistas em caso de decorações não repetitivas

Se tal interpretação se verificar a decoração deve ser sujeita a uma projecção que seguirá o esquema geométrico da forma elementar a que diz respeito mantendo as dimensões verticais nas formas aproximadas do cilindro e do cone onde o levantamento pode inclusive ser executado por decalque. Será de particular dificuldade ou mesmo praticamente impossível aplicar estes métodos a formas esféricas ou ovais.

O desdobramento de vistas deve ser reduzido ao estritamente necessário, evitando a perda de tempo no registo de dados repetitivos resultantes em situações redundantes. Na ausência das vistas laterais subentende-se uma afirmação de ausência ou repetição da forma ou decoração. Pelo mesmo factor de economia de esforço e de linguagem, dado também o mesmo critério de repetição da decoração, a representação das vistas superior ou inferior são limitadas por ordem de prioridades a um quarto de círculo, a meio circulo ou representação completa (fig. 72 A, B, C, respectivamente.)“ (…) o resultado mais minimalista deste principio é o registo de marcas de fabrico através da sua

Fig. 71 A, B – Esquemas de

planificação da decoração inserida em forma cónicas ou cilíndricas

representação isolada, respeitando no entanto a sua disposição axial.” (Castro; Sebastian, 2003, p. 548)

As características angulares do perfil da peça podem induzir um critério para opção do desdobramento das vistas superior ou inferior, ou seja, caso o ângulo entre o perfil e o plano da base seja igual ou inferior a 45º impõe-se o desdobramento de forma a evitar deformações104.

“Na representação de qualquer motivo decorativo, é fundamental a delimitação nítida do contorno de forma a definir a configuração precisa do motivo, trabalhando em seguida o conteúdo, fazendo-o depois contrastar ou não em relação ao fundo, conforme as sua características gerais e pormenores a realçar, considerando-se sempre a sombra gerada por uma fonte de luz colocada à esquerda do objecto, criando assim dois ou mais níveis de representação distintos e contrastantes.” (Madeira, 2002, p. 28)

104 Ibidem (p. 549) Fig. 72 A, B, C Fig. 73 Fig. 74

Não existindo fórmulas exactas que possam responder ao melhor tratamento gráfico das diversas decorações, existem pelo menos três tipos de tratamento standardizado, adoptados pela generalidade dos desenhadores, que correspondem a também três tipos diferentes de decoração.

1 – No que diz respeito ao registo da decoração incisa, penteada ou carimbada é usual recorrer-se ao completo preenchimento a negro das zonas rebaixadas e a branco nas zonas relevadas. (fig. 69, 70, 75).105

2 – No caso da decoração plástica ou por modelagem a leitura é facilitada pelo relevo conseguido através do espessamento das linhas tradutoras de inflexão na superfície do objecto opostas a um centro irradiador de luz colocado superiormente `a esquerda (fig. 76).106 Em alguns casos um tipo de tratamento mais elaborado será enriquecedor para a compreensão motivo, usando o pontilhado ou soluções distintas que facilitem a inteligibilidade do volume (fig. 73 e 74)

3 – Para a decoração brunida e pintada o processo consiste basicamente no preenchimento da mancha correspondente pelo processo do pontilhado. A maleabilidade desta técnica permite manter as variantes da expressão decorativa original resultantes das diferentes tonalidades quando a cor utilizada é a penas uma107, traduzindo também com eficácia as partes desgastadas destas técnicas decorativas. (fig. 77)

No entanto, no desenho da decoração pintada impõem-se algumas questões que derivam de uma dificuldade prática em produzir, segundo as regras gerais, um resultado eficaz, tradutor ou simplesmente satisfatório da realidade da decoração: por exemplo, 105 Ibidem (p. 549) 106 Ibidem (p. 550) 107 Ibidem (p. 550)

nos casos em que “ (…) o motivo decorativo inclui elementos impossíveis de traduzir por pontos, como finos contornos desenhados, ou densas variantes de tonalidade, levou- se a diferenciação ao extremo do negro absoluto (…)”. (Castro; Sebastian, 2003, p. 550)

Quando o objecto possui duas cores uma deve ser representada a negro. Só no caso de decorações complexas que possuem mais que duas cores é que se devem utilizar tramas ou gradações simbólicas devidamente legendadas.

4.3. O vidro ____________________________________________________________

No desenho de recipientes de qualquer tipo de material devem seguir-se as regras gerais para o desenho de recipientes cerâmicos: do lado direito figura o perfil do objecto e as particularidades específicas do exterior, e no lado esquerdo a secção (preenchida a negro) e as particularidades do interior. Segue-se sempre a imposição da linha divisória vertical em relação ao plano de fundo salvo em casos particulares que necessitem de ajustamento de modo a esclarecer características morfológicas ou elementos decorativos.

O desenho de objectos em vidro deve ser feito só com linha; a vista exterior deve ser desenhada a traço fino e sóbrio, salvo casos excepcionais de decorações mais elaboradas em que se justifique algum realce a traço mais forte, não fazendo tentativas de usar o sombreado para tridimensionar o objecto.

Nas decorações relevadas ou rebaixadas assim como aplicações de cor, deve-se proceder às técnicas propostas pelo desenho de materiais cerâmicos. A escolha e aplicação das vistas são geridas de modo idêntico ao desenho de cerâmica.

Dado que os vasos em vidro são muitas vezes assimétricos ou de plantas derivadas de forma geométricas variadas (quadradas, hexagonais, circulares, etc) será aconselhável desenhar planos diversos, geralmente uma vista inferior ou superior, de modo a esclarecer essas características.

O mesmo se aplica a outro tipo de características peculiares do objecto passíveis de melhor explicação com vistas laterais.

No caso do desenho de vidros de janela estes devem ser desenhados anteriormente ao processo de conservação, podendo ser usado o decalque com películas transparentes sobre caixa de luz. As cores podem ser mostradas com a ajuda de tramas ou gradações simbólicas mas nem sempre é viável108.

108

Adkins (1989, p. 177)

Fig. 79 A, B - Representação de recipientes de vidro a partir de

fragmentos da base; Adkins 1989; A – Base quadrada; B - Base hexagonal

4.4. Os metais (madeira, osso, outros casos) _________________________________

As normas seguintes dizem respeito à representação de objectos de metal osso e madeira, abrangendo ainda outros tipos de material

Nota:

Consideramos ser útil para a nossa exposição a organização feita por Madeira (2002), um pouco à semelhança do documento redigido por Feugére (1982) sobre a normalização do desenho de material não cerâmico em arqueologias (o metal, vidro109, osso, madeira e terra cota). O desenho de material lítico é um caso de material não cerâmico abordado de forma individualizada: requer uma observação mais cuidada dada a minúcia e especificidade do trabalho em causa.

Adkins (1989) faz uma divisão e enunciação de estratégias individualizadas para o ferro, cobre, madeira, osso e pele, tendo em conta algumas referências ou indicações práticas muitas vezes associadas ao estado de conservação do objecto e ao manuseio do mesmo. Posto isto, decidimos manter a primeira proposta, por achar que é mais sintética e ajustada aos nossos interesses, mas introduzindo um breve ponto relacionado com o desenho de peças cujo estado de conservação levanta problemas de representação.

No documento O desenho como substituto do objecto (páginas 127-134)