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AS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO E A SUA INFLUÊNCIA NA ORIGEM E EVOLUÇÃO DO

DESENVOL VIMENT O

· Remediação: incide na alteração de uma condição identificada na criança e é, normalmente, desenvolvida por um profissional, fora do sistema familiar. Vai alterar a forma como a criança se comporta em relação aos pais. A decisão a tomar, numa dada situação, é se esta intervenção é apropriada ou viável. Um exemplo será a medicação dada para controlar a hiperactividade de uma criança.

· Redefinição: incide numa modificação da forma como os pais percepcionam a criança, em casos em que eles a vêm como desajustada relativamente aos seus códigos familiares. A intervenção deverá focar-se nos pontos fortes da criança para que os pais passem a reconhecê-la como um parceiro interactivo gratificante. Vai alterar a forma como os pais interpretam o comportamento da criança. A decisão a tomar, numa dada situação, é se a dificuldade na interacção pais-criança se deve a uma inadequação das percepções dos pais, a experiências parentais anteriores inadequadas, ou se os pais simplesmente não têm as competências necessárias para desempenharem adequadamente a sua função. Como exemplo de redefinição, podemos considerar uma criança com trissomia 21 que à medida que vai crescendo cada vez se ajusta menos às expectativas iniciais dos pais.

· Reeducação: incide na passagem de novos conhecimentos e competências aos pais. O objectivo é ensinar os pais a prestar cuidados aos seus filhos, seja a nível dos cuidados básicos, a mães adolescentes, por exemplo, seja em relação a aspectos específicos como nos posicionamentos ou técnicas de alimentação numa criança com paralisia cerebral. Vai alterar a forma como os pais se

F i g u r a 5 . O s 3 R s d a i n t e r v e n ç ã o : F l u x o g r a m a d e d e c i s õ e s d o d i a g n ó s t i c o t r a n s a c c i o n a l – ( A d a p t a d o d e S a m e r o f f & F i e s e , 1 9 9 0 ) I n t e r v e n ç ã o d i r i g i d a à c r i a n ç a I n t e r v e n ç ã o d i r i g i d a a o s p a i s ( a d e q u a ç ã o d o c ó d i g o f a m i l i a r à s c a r a c t e r í s t i c a s d a c r i a n ç a ) I n t e r v e n ç ã o d i r i g i d a a o s p a i s ( p r o m o ç ã o d e c o n h e c i m e n t o s e d e c o m p e t ê n c i a s ) R e m e d i a ç ã o R e d e f i n i ç ã o R e e d u c a ç ã o N ã o N ã o S i m S i m S i m

comportam em relação à criança. Um exemplo será proporcionar estratégias aos pais que lhe permitam controlar as birras da criança.

O Modelo Transaccional ao considerar o conjunto criança-contexto ambiental como um sistema hierarquizado, onde criança e família surgem como sistemas organizados, cada qual com as suas regras próprias, permite, como vimos, intervir apenas ao nível da criança ou da família com efeitos que se estendem aos outros níveis do sistema de prestação de cuidados. Há nestas intervenções uma preocupação, quer em ajustar a criança ao sistema regulador, quer em ajustar o sistema regulador à criança, num mecanismo muito semelhante ao proposto por Lerner quando utiliza o conceito de

goodness-of-fit. Também Bronfenbrenner no seu Modelo Bioecológico

(Bronfenbrenner, 1989; Bronfenbrenner & Cecci., 1994; Bronfenbrenner & Morris, 1998), como veremos já em seguida, vem salientar a importância de se considerarem as características da pessoa em desenvolvimento inserida no sistema ecológico de níveis integrados e interrelacionados, recolocando as interacções como um aspecto central na compreensão do processo de desenvolvimento.

4.2.3. O contributo de Bronfenbrenner e do seu modelo Bioecológico

Como referimos noutro texto (Tegethof, 1996), na primeira teorização que propõe, em 1979, a Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano, Bronfenbrenner, vai desenvolver um modelo de desenvolvimento de forte inspiração sistémica, recorrendo à Teoria de Campo de Lewin (1890-1947), para salientar a necessidade de compreender o comportamento do indivíduo tendo em conta o conjunto de factores que fazem parte do espaço em que ele se movimenta, o seu espaço de vida, e vão, a cada momento, influenciar o seu desenvolvimento.

Aliás, como realça Thurman (1997), o termo ecologia, com origem nas ciências biológicas e ligado ao estudo dos sistemas interactivos, denota uma preocupação com o estudo do conjunto de sistemas em que o indivíduo se desenvolve e com as influências e efeitos recíprocos entre este e o sistema ou os cenários em que o desenvolvimento ocorre. Para uma melhor compreensão da teoria de Bronfenbrenner é importante fazer aqui a distinção entre sistemas e cenários, tal como Thurman (1997) propõe. O termo sistema diz respeito a um conjunto de entidades que interagem entre si produzindo no seu conjunto uma sinergia, ou seja, produzindo resultados que ultrapassam o resultado de cada unidade considerada isoladamente.

Por sua vez, o termo cenário1, embora mantendo as características do sistema, é mais circunscrito, ou seja, é definido por fronteiras físicas e temporais e está por norma embebido num sistema mais alargado. Thurman aponta a família como um exemplo de sistema, enquanto que a casa constituirá um cenário.

O modelo ecológico, proposto por Bronfenbrenner (1979), vai salientar a importância das trocas do binómio organismo-meio, que constitui uma rede complexa de interrelações através das quais o desenvolvimento se processa, não podendo, portanto, ser compreendido independentemente dos contextos em que ocorre. O estudo da ecologia do desenvolvimento humano deverá, de acordo com este modelo, incidir na análise do processo de acomodação mútuo e progressivo, ao longo do espaço de vida, entre o indivíduo activo em crescimento e as propriedades em mudança dos seus cenários de vida imediatos. Ao contrário do que sucedia até então, os trabalhos de investigação incidindo no estudo do desenvolvimento deverão, segundo Bronfenbrenner (1979), ter em conta a forma com as crianças se desenvolvem em cenários representativos do seu dia-a-dia. Assim, para ter validade

ecológica o cenário da pesquisa deve reproduzir fielmente a realidade. Propõe, então,

que se abandone o laboratório e se estude a criança em desenvolvimento, por exemplo, em casa, no jardim-de-infância ou na escola.

Na proposta teórica de 1979, Bronfenbrenner, como ele próprio reconhece (Bronfenbrenner, 1989, 1995), preocupou-se essencial e intencionalmente com a influência do meio envolvente no desenvolvimento do indivíduo, deixando para segundo plano a contribuição do segundo neste processo. Neste sentido propôs uma descrição detalhada dos contextos de desenvolvimento, conceptualizados como um sistema hierárquico interrelacionado, em que a criança aparece no centro e que é constituído por quatro níveis, progressivamente mais complexos, em que cada um contem o anterior: o microssistema que respeita às estruturas e processos que têm lugar no cenário imediato que contem a criança (ex.: a casa, o jardim de infância); o

mesossistema que inclui as interrelações e processos que se estabelecem, num dado

momento, entre dois ou mais cenários que contêm a criança em desenvolvimento (ex.: as relações entre a casa e o jardim de infância ou entre o jardim de infância e o programa de intervenção precoce); o exossistema que é constituído pelas interrelações e processos que têm lugar entre dois ou mais cenários em que, pelo menos um deles, não contem a criança em desenvolvimento, mas onde se produzem acontecimentos que vão ter efeito a nível do microssistema (ex.: as relações entre a casa e o local de trabalho dos pais); e, finalmente, o macrossistema que diz respeito

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às ideologias, marcos históricos, sistema social e ao conjunto de valores culturais e normativos próprios duma determinada cultura ou sub-cultura onde o micro-, o meso- e o exossistema se inserem.

Figura 6. – O sistema ecológico do desenvolvimento (adaptado de Bronfenbrenner, 1979)

Esta conceptualização teve grande impacto, não só em termos teóricos, mas também ao servir de enquadramento conceptual a numerosas pesquisas da área do desenvolvimento humano, colocando-as no campo abrangente da “ecologia do desenvolvimento humano”. No entanto, passados cerca de 20 anos, é o próprio Bronfenbrenner (1989, 1995, 1998) que se vem manifestar, de certa forma, desiludido com as investigações até então levadas a cabo e vai, a partir de 1989, propor uma reformulação do modelo original em que realça a importância dos processos proximais1. De facto, ele considera que as pesquisas até então desenvolvidas trouxeram mais contributos para a compreensão das características relevantes dos contextos de desenvolvimento, próximos e distais, do que para a compreensão das características do indivíduo em desenvolvimento. Reconhecendo que tal resultou do facto de a sua proposta inicial estar, por razões científicas e práticas, teoricamente incompleta ao assumir por defeito “um organismo vazio”, vem propor um modelo que repõe as propriedades da pessoa em desenvolvimento numa perspectiva ecológica, o

Modelo Bioecológico (Bronfenbrenner, 1989; Bronfenbrenner & Cecci., 1994;

Bronfenbrenner & Morris, 1998).

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Bronfenbrener distingue osprocessos proximais, que são aqueles que ocorrem nos contextos imediatos que contêm a criança em desenvolvimento e que têm uma influência directa nesse mesmo desenvolvimento, dos processos distais que ocorrem nos contextos

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