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4 TEMAS DE APOIO A GACS

4.1 Desenvolvimento de produto

Vários autores, como Walton et al. (1998), Hagelaar e Van Der Vorst (2002), Sarkis (2003), Grossman (2004), Tsoulfas e Pappis (2006) e Fijal (2007), citaram a importância das atividades de projeto e desenvolvimento do produto para que ocorra a GACS. Resumidamente, estes autores comentaram que durante a fase de desenvolvimento são escolhidos os materiais que serão utilizados nos produtos, estes influenciarão os métodos de produção e a destinação final dos produtos após a vida útil. Assim, escolhas equivocadas de materiais durante a fase de desenvolvimento poderão causar impactos ambientais significativos. O ideal é que os projetistas não trabalhem com as matérias-primas tóxicas, inflamáveis, corrosivas, reativas ou que possam causar danos aos seres vivos.

O desenvolvimento de produtos consiste em um conjunto de atividades que tem o objetivo de chegar às especificações de projeto de um produto e de seu processo de produção, para que a manufatura seja capaz de produzi-lo. Para tanto, é necessário considerar as necessidades do mercado, as possibilidades e as restrições tecnológicas, e considerar as estratégias competitivas e de produto da empresa.

De acordo com Rozenfeld et al. (2006), as características do projeto e desenvolvimento de produto são:

¾ Elevado grau de incertezas e riscos das atividades e resultados;

¾ Decisões importantes devem ser tomadas no início do processo, quando as incertezas são ainda maiores;

¾ Dificuldade de mudar as decisões iniciais;

¾ As atividades básicas seguem um ciclo iterativo do tipo: projetar (gerar alternativas), construir, testar e otimizar;

¾ Manipulação e geração de alto volume de informações;

¾ As informações e atividades provêm de diversas fontes e áreas da empresa e da cadeia de suprimentos;

¾ Multiplicidade de requisitos a serem atendidos pelo processo, considerando todas as fases do ciclo de vida do produto e seus clientes.

O desenvolvimento de produto deve considerar a demanda multifacetada, ou seja, deve considerar um amplo conjunto de fatores que precisam ser balanceados quanto ao custo e tempo, com o intuito de desenvolver um produto que atenda as necessidades dos consumidores a um preço razoável e em tempo hábil. Um dos fatores que devem ser atendidos é a adequação ambiental do produto e do processo produtivo. A realização de alterações em projetos já desenvolvidos para adequá-los ambientalmente pode ser tecnicamente complicada e dispendiosa.

Luttropp e Lagerstedt (2006) propuseram dez regras que devem ser utilizadas para desenvolver produtos ambientalmente adequados. Estas são:

1. Não usar substâncias tóxicas. Quando não for possível substituí-las, a empresa deve trabalhar com o circuito fechado, recolhendo o produto após o consumo para reciclar ou reaproveitar a substância;

2. Minimizar a energia e o consumo de recursos naturais na fase de produção e transporte do produto. Aperfeiçoar o sistema logístico para diminuir as rotas;

3. Utilizar as características estruturais e materiais de alta qualidade para minimizar o peso dos produtos, porém o desempenho e a segurança do produto não podem ser comprometidos;

4. Minimizar a energia e o consumo de recursos naturais na fase de utilização do produto, especialmente, para produtos que causam impacto significativo nesta fase;

5. Promover o reparo e a modernização dos sistemas que os produtos são dependentes;

6. Prolongar a vida útil do produto, especialmente para produtos que o descarte ocasiona impactos ambientais significativos;

7. Investir na melhoria da qualidade dos materiais, no tratamento de superfícies ou em mecanismos estruturais para proteger os produtos da sujeira, corrosão e desgaste, garantindo a redução das manutenções e o aumento da vida útil do produto;

8. Disponibilizar as informações sobre a desmontagem do produto, identificar as partes plásticas;

9. Facilitar a reciclagem, preferindo as soluções “monomaterial” em relação à “híbridas”.

10. Utilizar sistemas simples de fixação, com o menor número possível de fixações.

Resumidamente, estas regras consideram a interação entre o produto e o meio ambiente durante o ciclo de vida, ou seja, a fase de concepção do produto engloba as regras de um a três, a fase de utilização destaca as regras de quatro a sete, e a fase de descarte está relacionada com as regras de oito a dez.

DeMendonça e Baxter (2001) também salientam que na fase de desenvolvimento do produto é necessário considerar os impactos ambientais durante todo o ciclo de vida do mesmo. Além disso, definiram Design for Environment (DFE) como um método para minimizar os impactos ambientais através de modificações no projeto do produto. Este método está ilustrado na Figura 4.1.

Inicialmente, os projetistas devem realizar uma avaliação dos requisitos do produto, dos riscos e dos custos. Em seguida, os impactos ambientais relacionados com o ciclo de vida do produto necessitam ser avaliados, considerando processos alternativos para reduzir ou reciclar os rejeitos da produção. Um passo importante para a conservação dos recursos naturais é a aquisição de matéria-prima reciclada.

A facilidade de desmontagem do produto aumenta a reutilização ou a reciclagem de componentes na própria linha de produção ou após a vida útil.

Finalmente, tem-se a otimização dos processos produtivos que considera as condições de trabalho, segurança, a qualidade dos materiais adquiridos, o tratamento e a disposição dos resíduos gerados. Após esta fase, o produto será distribuído, utilizado e deverá ser reciclado para voltar ao ciclo produtivo como matéria-prima.

Fonte: DEMENDONÇA e BAXTER (2001, p.54). FIGURA 4.1: Design for Environment (DFE).

Por outro lado, as informações para a adequação ambiental do produto devem partir das diversas áreas da empresa que necessitam quantificar os seus impactos ambientais, bem como da cadeia de suprimentos que pode fornecer dados sobre os impactos para a fabricação das matérias-primas ou componentes. Outras fontes de informação são as leis do país em que o produto será comercializado e também as leis internacionais, para as empresas que preferem adotar ações proativas em relação ao meio ambiente. Os impactos ambientais durante a vida útil e as formas de destinação final dos produtos também devem ser avaliadas durante a fase de desenvolvimento do mesmo.

Rozenfeld et al. (2006) consideram que as áreas fortemente relacionadas com o desenvolvimento de produto são: planejamento estratégico, monitoramento de mercado, vendas, atendimento ao cliente, assistência técnica, produção, suprimentos e

Avaliação:

Requisitos, riscos e custos

Projeto - Recursos; - Necessidades dos consumidores; - Durabilidade, - Processo; - Manutenção; - Alternativas; - Condições de trabalho; - Disposição; - Reciclagem. - Ciclo de vida; - Seleção de material; - Fornecedores; - Especificações; - Redução; - Custo; - Mercado; - Decisões. - Condições de trabalho; - Políticas da empresa; - Otimização; - Manutenção; - Qualidade; - Segurança; - Disposição de lixo; - Tratamento. Impactos ambientais Análise e

seleção Produção Utilização

Disposição Reciclagem

distribuição. Como esta tese se refere à GACS, neste tópico será considerado o relacionamento entre as áreas de desenvolvimento de produto e suprimentos.

A função da área de suprimentos é abastecer com bens físicos a produção. Mas esta área também pode trabalhar em conjunto com a de desenvolvimento de produto. Os componentes dos produtos podem ser desenvolvidos totalmente pelos fornecedores ou através de parcerias entre a empresa e seus fornecedores. Geralmente, durante o desenvolvimento de produtos, quanto mais cedo os projetistas começarem a trabalhar com os fornecedores para desenvolver os componentes, menor será o tempo deste desenvolvimento.

A minimização dos impactos ambientais deve ser estudada englobando todas as atividades para se obter o produto, desde a extração de matérias-primas e produção dos componentes até os estudos sobre os impactos durante a vida útil e após o descarte do mesmo.

Jeswiet e Hauschild (2005) citaram algumas tendências para a área de desenvolvimento de produto, estas são:

¾ A nanotecnologia causará uma nova revolução nos meios de produção, aumentando a complexidade dos produtos e dos processos para fabricá- los;

¾ O responsável pelo projeto dos produtos deve estar atento à legislação ambiental que tenderá a ser cada vez mais rigorosa;

¾ Neste cenário de mudanças, novas ferramentas serão necessárias para auxiliar o projetista a identificar o mais cedo possível os riscos funcionais, econômicos e ambientais associados ao produto;

¾ A análise do ciclo de vida será um método bastante utilizado para a análise dos impactos ambientais durante o desenvolvimento de produto. No futuro, acredita-se que a ACV será uma exigência legal.

Finalmente, Hemel e Cramer (2002) realizam uma pesquisa em pequenas e médias empresas para avaliar os fatores motivadores para que ocorra o ecodesign. Os fatores internos que se destacaram foram: a oportunidade de inovação, o aumento da qualidade e a oportunidade de concorrer em mercados. Os fatores externos comentados foram: as necessidades dos consumidores, a legislação e as iniciativas do setor

industrial. As empresas entrevistadas relataram que os fatores internos têm maior influência sobre as decisões que os fatores externos. Além disso, esta pesquisa também relatou algumas barreiras para o ecodesign, estas são: quando os benefícios ambientais não são claros ou quando não há uma solução alternativa disponível.