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4 TEMAS DE APOIO A GACS

4.2 Logística e a gestão ambiental

4.2.1 Logística reversa

Leite (2003, p. 16-17) define logística reversa como:

a área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros.

O termo pós-consumo é utilizado para denominar os bens que já foram utilizados pelo consumidor final da cadeia produtiva. A destinação destes bens pode ser:

¾ Reuso: esta disposição é aplicada para os bens que já foram utilizados e que ainda apresentam condições de uso. Os exemplos são os bens duráveis ou semiduráveis;

¾ Desmanche: é a separação do produto descartado em componentes que possam ser destinados ao mercado de peças usadas, à reciclagem ou aos aterros sanitários;

¾ Reciclagem: consiste na transformação dos materiais descartados em matérias-primas para a fabricação de novos produtos (ZAMBRANO, 2005 apud LEITE, 2003).

O termo pós-venda é utilizado para denominar os bens que retornam a cadeia de suprimentos devido a problemas como: prazo de validade vencido, presença de defeitos, grandes estoques no canal de distribuição, etc.

Já, Tibben-Lembke (2002, p. 2) define logística reversa como:

o processo de planejamento, implementação e controle da eficiência e custo efetivo do fluxo de matérias-primas, estoques em processo, produtos acabados e as informações correspondentes do ponto de consumo para o ponto de origem com o propósito de recapturar o valor ou destinar à apropriada disposição.

Nos últimos anos, a importância dos estudos sobre logística reversa tem aumentado. Prahinski e Kocabasoglu (2006) citam algumas razões para se aprimorar os sistemas de logística reversa:

¾ A quantidade de produtos devolvidos é significativa; ¾ Aumento da quantidade de produtos descartados;

¾ As leis ambientais se proliferaram tanto na Europa como nos Estados Unidos, exigindo que as empresas gerenciem todo o ciclo de vida do produto;

¾ Consumidores têm pressionado as empresas para se responsabilizarem por produtos que possuam materiais tóxicos;

¾ Cada vez mais, torna-se difícil disponibilizar áreas para a instalação de lixões, desta forma, há a necessidade de aumentar as taxas de reciclagem dos produtos.

Prahinski e Kocabasoglu (2006) destacam que a cadeia de suprimentos reversa pode ser organizada pelas seguintes etapas: aquisição do produto, logística reversa, inspeção e disposição, desmontagem e distribuição.

Basicamente, existem três tipos de aquisição do produto, os quais incluem: aquisição direta da cadeia de suprimentos, ocorre quando o produto apresenta falhas de qualidade, aquisição através do estabelecimento de políticas de recolhimento do produto após a vida útil e, finalmente, através do descarte do produto como lixo, podendo ser encaminhado para os aterros sanitários ou para reaproveitamento dependendo do valor dos materiais.

As atividades da logística reversa incluem o transporte, o armazenamento, a distribuição e o gerenciamento dos estoques de materiais. As decisões relacionadas com a logística reversa devem atentar para os altos custos do transporte dos materiais.

O propósito da inspeção é determinar o nível da qualidade do produto retornado e o objetivo da disposição é estabelecer uma estratégia apropriada de recuperação para cada tipo de produto. Geralmente, as alternativas de disposição são as seguintes:

¾ Reuso: o produto é reutilizado imediatamente após a venda, sem a necessidade de recuperação ou reciclagem. Um exemplo, são os carros semi-novos que são passados para outro consumidor;

¾ Melhoramento do produto: consiste na realização de reparos no produto para que este possa ser utilizado novamente;

¾ Recuperação de materiais: após a vida útil do produto, estes são desmontados e seus componentes são reciclados;

¾ Gerenciamento do lixo: quando o produto não puder ter nenhuma das três alternativas anteriores, devido à inviabilidade técnica ou econômica, estes produtos são destinados para a incineração ou para os aterros sanitários. Um exemplo são os materiais hospitalares descartados. Geralmente, para evitar contaminação, estes materiais são encaminhados para a incineração.

Quando a estratégia de disposição do produto for “melhoramento do produto” ou “recuperação de materiais”, os produtos passarão pela etapa de desmontagem. As dificuldades desta etapa são: a separação de materiais intrínsecos, a classificação dos componentes, a variedade e a complexidade dos materiais. Além disso, na maioria das vezes, não é fácil a automação do processo de desmontagem, fazendo com que este seja realizado de forma manual e, portanto, lentamente.

Finalmente, em relação às vendas dos produtos recondicionados ou usados, há vários canais de distribuição. Uma alternativa é utilizar o mesmo canal de venda do produto novo, lembrando que a distinção entre produtos novos e recondicionados deve ser clara para o consumidor. Outra opção é vender o produto em lojas específicas de mercadorias recondicionadas. Estas lojas já são caracterizadas por possuírem um preço inferior aos das lojas de produtos novos.

Por outro lado, Kumar e Malegeant (2006) destacam as dificuldades para se implementar a cadeia de suprimento reversa, estas são:

¾ As empresas tendem a focar nas suas competências essenciais, negligenciando os benefícios que o fluxo reverso de materiais pode lhes proporcionar;

¾ A implementação do fluxo reverso de materiais requer investimentos iniciais de capital;

¾ Aumento da complexidade técnica. O projeto do produto utilizado na cadeia de suprimentos direta pode não se adaptar a cadeia reversa, desta forma, haverá a necessidade do desenvolvimento de um novo projeto para o produto recuperado e para o processo de fabricação;

¾ O volume de material retornado não é constante.

¾ Possibilidade de ocorrer um desequilíbrio entre a quantidade retornada e a demandada;

¾ Dificuldade para estabelecer um fluxo reverso para determinados bens, como produtos perecíveis.

¾ Os produtos remanufaturados ou recauchutados concorrem com os produtos fabricados através da cadeia de suprimentos direta.

A fim de superar estas dificuldades, Kumar e Malegeant (2006) propõem o estabelecimento de uma aliança estratégica entre as organizações do fluxo direto de materiais e as organizações filantrópicas. No Brasil, estas organizações são representadas por cooperativas de catadores de resíduos sólidos.

Geralmente, as cooperativas de catadores de resíduos sólidos são responsáveis por coletar, separar e armazenar os materiais descartados. Em seguida, estes bens serão reciclados ou remanufaturados e voltarão para o fluxo direto de materiais como matérias-primas. Delegar estas atividades às cooperativas, facilita o trabalho das empresas que compõe a cadeia de suprimentos direta, possibilitando que estas possam se concentrar nas suas competências essenciais, não necessitem investir capital no processo de recuperação de materiais, além de criar uma imagem verde.