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Desenvolvimento dos estudos sobre “empreendedorismo

1 INTRODUÇÃO

2.1 Desenvolvimento dos estudos sobre “empreendedorismo

O estudo sobre mulheres empreendedoras remonta a década de 1970. Até então apenas os homens eram objeto de pesquisa nos estudos sobre empreendedorismo (AHL, 2006; CAMPBELL, 2001). Um dos primeiros trabalhos sobre “empreendedorismo feminino” de que se tem notícia é o de Schwartz (1976). No artigo, a autora abordou aspectos relacionados à motivação, características de personalidade e dificuldades enfrentadas por mulheres empreendedoras. Schwartz (1976) concluiu, na ocasião, que os motivos que levavam mulheres a montar seu próprio negócio eram semelhantes aos dos homens. Além disso, ambos tinham “qualidades empreendedoras” parecidas. Suas diferenças, portanto, eram mínimas. No entanto, a pesquisadora detectou que as mulheres enfrentavam mais barreiras que impediam o sucesso de suas organizações, principalmente em função das dificuldades de obtenção de crédito.

No final daquela década, Decarlo e Lyons (1979) publicaram o resultado de uma investigação realizada com 122 mulheres. Os pesquisadores identificaram e descreveram o perfil do grupo de empresárias e compararam esse perfil com os de outros grupos de mulheres que não eram empresárias. De natureza quantitativa, os dados forneceram muita informação nova sobre o “perfil” das mulheres empresárias e contribuíram para pesquisas que foram realizadas adiante. Não obstante a constatação de que as mulheres empreendedoras diferenciavam-se das mulheres em geral, os autores concluíram que existia a necessidade de muita pesquisa adicional para que se chegasse a conclusões úteis em relação ao estabelecimento de um “perfil” do empresariado feminino.

Como se vê, a produção da década de 1970 foi pequena. No entanto, os anos 1980 despontaram como um período relativamente promissor no desenvolvimento da pesquisa sobre “empreendedorismo feminino”, se comparada à década anterior, principalmente em função do crescimento da participação feminina ao longo dos anos 1980 no mercado de trabalho não só como empregada, mas como empregadora e dona de seu próprio negócio.

A década de 1980 foi marcada, basicamente, pela produção internacional. De um modo geral, a produção acadêmica sobre o tema limitou-se ao hemisfério norte. Alguns pesquisadores que começaram a se interessar pelo assunto naquele decênio, até hoje estudam e publicam sobre “empreendedorismo feminino” (Robert Hisrich e Candida Brush são, por exemplo, estudiosos que continuam investigando o fenômeno, ora realizando estudos sozinhos, ora entre eles ou com outros parceiros, inclusive de outras instituições e de outros países). No início da década de 1980, Hisrich e O´Brien (1981) previram que, não obstante a presença ainda não tão significativa das mulheres na atividade empreendedora, a participação delas cresceria em quase todas as áreas. Ao pesquisar em profundidade 21 mulheres empresárias, Hisrich e O´Brien (1981)

detectaram que elas tinham dificuldades particularmente relacionadas ao acesso a linhas de crédito, à obtenção de garantias e à superação de uma imagem negativa a respeito da mulher. Os resultados da pesquisa demonstraram que os problemas enfrentados estavam relacionados ao tipo de negócio e não ao grau de escolaridade ou nível de experiência das respondentes. Logo depois, Hisrich e Brush (1984), considerando que pouco se sabia sobre as mulheres empresárias, realizaram uma pesquisa com 468 empresárias e descreveram seu perfil, sua motivação, suas habilidades, os problemas enfrentados e as características de seus negócios. Continuando na mesma vertente, mais tarde, Hisrich e Brush (1987) analisaram os resultados de um estudo longitudinal realizado com mulheres empresárias e, mais uma vez, investigaram suas características pessoais, práticas familiares, habilidades gerenciais, disposição para correr riscos, problemas enfrentados e índice de crescimento empresarial. Assim como Hisrich e Brush (1984, 1987) e Joos (1987) acreditava que a atuação feminina na atividade empreendedora crescia, embora pouco se soubesse sobre ela. Assim, explicitou, numericamente, a ascensão feminina na condição de empresária, nos Estados Unidos, entre meados da década de 1970 e meados da década de 1980, creditando parte do crescimento ao estímulo dado pelo governo do presidente Jimmy Carter, que criou programas para apoiar mulheres empresárias: havia a compreensão de que seus empreendimentos impactavam, positivamente, sobre a economia norte-americana.

A década de 1980 foi marcada por estudos, na maioria das vezes, quantitativos e empíricos que tentaram caracterizar, ou melhor, traçar um “perfil” da mulher empreendedora. Sexton e Kent (1981), por exemplo, no intuito de identificar características psicológicas que distinguissem as mulheres executivas das mulheres empresárias, compararam o comportamento de 45 executivas e 48 empresárias, concluindo que elas possuíam mais semelhanças do que diferenças. No ano seguinte, Smith, McCain e Warren (1982) publicaram o

resultado de uma pesquisa realizada com 76 empreendedores em São Francisco, nos Estados Unidos. Os autores classificaram os empreendedores em crafts- oriented e opportunistic. Comparadas aos homens, as mulheres demonstraram uma tendência a um comportamento e atitudes mais oportunistas.

As pesquisas, porém, não se limitaram aos Estados Unidos. No Reino Unido, Watkins e Watkins (1983) apresentaram o resultado de uma pesquisa realizada com mulheres empreendedoras e compararam certos aspectos relacionados à experiência de homens e mulheres. Os autores concluíram que as mulheres empreendedoras, em função de fatores involuntários e de decisão consciente, restringiam-se a atuar em áreas estereotipicamente femininas. Na visão dos autores, à medida que a sociedade aceitasse de fato a presença feminina no mercado de trabalho exercendo a função de empresária e proporcionasse condições igualitárias a elas, as mulheres atuariam em qualquer segmento empresarial. Watkins e Watkins (1983) estão entre os primeiros que indicaram que as diferenças entre homens e mulheres não eram necessariamente de ordem biológica, mas de caráter social, tendo em vista que eram mais estimuladas a atuar em determinadas atividades do que em outras. Buttner e Rosen (1988) também estiveram entre aqueles que levantaram a discussão a respeito do poder e da influência dos estereótipos de gênero no meio empresarial. Os pesquisadores investigaram se mulheres empreendedoras eram vistas em termos de estereótipos sexuais no processo de tomada de empréstimo em instituições de financiamento e concluíram que os agentes financeiros tinham uma visão estereotipada de que a mulher teria menos chance de lograr êxito se comparada ao homem, uma vez que não possuiriam os “atributos” necessários para ser empreendedora de fato.

No Reino Unido, Carter (1989) publicou o resultado de uma investigação realizada com mulheres empreendedoras e considerou que seus empreendimentos possuíam um desempenho e uma dinâmica peculiar à sua

condição. De certa forma, ela explicou que as diferenças entre homens e mulheres se davam em função de um comportamento, motivação e ambição pessoais diferenciados, inclusive porque as mulheres possuíam um critério particular, que não era meramente econômico, para avaliar o sucesso. Nos Estados Unidos, Wilkens (1989, p. 15) também defendeu a tese de que as mulheres precisavam aceitar suas “forças tipicamente femininas e reconhecer”, que tais forças proporcionariam uma base sólida para o desenvolvimento e sucesso de suas carreiras como empreendedoras. A compreensão de Carter (1989) e Wilkens (1989) a respeito das diferenças passava mais por questões de cunho pessoal, ao contrário do que sugeriram Buttner e Rosen (1988) e Watkins e Watkins (1983).

Muitos estudos tentaram conhecer a mulher empreendedora comparando-a ao homem empreendedor. O estudo comparativo, de fato, sempre esteve presente na produção acadêmica sobre o tema: ora para verificar se se encontravam diferenças na origem dos recursos para a implantação da empresa, nos resultados de seus empreendimentos, nas suas experiências e motivações; ora para identificar “características” ou traçar um “perfil” de cada um dos grupos (CARTER, 1989; HOLMQUIST; SUNDIN, 1989; SMITH; MCCAIN; WARREN, 1982; STEVENSON, 1986; WATKIN; WATKINS, 1983). Os estudos comparativos não se deram, porém, apenas entre os gêneros. Aldrich et al. (1989) chegaram a pesquisar redes de empreendedores e empreendedoras nos Estados Unidos e na Itália. Não observaram diferenças expressivas entre os países. Contudo, identificaram diferenças significativas entre as redes compostas por homens e aquelas constituídas por mulheres. Não obstante a pequena quantidade de mulheres inseridas em redes pessoais, os pesquisadores verificaram disparidades substanciais entre os “mundos” feminino e masculino. Inspirados no trabalho de Aldrich et al. (1989) e Cromie e Birley (1992) desenvolveram um estudo similar no norte da Irlanda. As pesquisadoras

chegaram à conclusão de que as mulheres, quando comparadas aos homens, são menos ativas nas redes, desenvolvem redes menos densas, estão mais inclinadas a discutir com outras mulheres e consideram os membros da família as pessoas mais importantes da sua rede de contatos.

De certa forma, predominaram entre as pesquisas sobre mulheres empreendedoras a busca de diferenças entre homens e mulheres empreendedoras através de dados demográficos, familiares, ocupacionais e educacionais. De um modo geral, as pesquisas adotaram uma abordagem mais quantitativa. Todavia, Neider (1987), por exemplo, tentou combinar entrevista semiestruturada com teste psicológico e observação, a fim de investigar a personalidade, características demográficas e características organizacionais do empreendimento de 52 mulheres na Flórida. Apesar de seu esforço de unir diversas técnicas de pesquisa, ela também acabou traçando um “perfil psicológico” da mulher empreendedora. A pesquisadora detectou que predominavam nessas empreendedoras certas “características”, tais como alto nível de energia, persistência e habilidade para influenciar os outros. Além disso, constatou que essas mulheres possuíam dificuldade para delegar e conciliar vida pessoal e profissional.

Como precursores esses estudos colaboraram com a comunidade científica, pois introduziram a mulher no debate sobre o empreendedorismo e apresentaram dados preliminares a respeito da mulher na condição de empresária e empreendedora em vários países. As contribuições dessas pesquisas tenderam, fundamentalmente, a formular estudos normativos de natureza empírica destinada a identificar características demográficas e de personalidade das mulheres e, inclusive, traçar um “perfil comportamental” delas. Em sua base, esses estudos prenderam-se à identificação e descrição de características daquilo que seria uma mulher empreendedora, buscando em sua “essência” determinados atributos. Poucos foram os trabalhos que caminharam numa

direção diferente, superando a visão do determinismo biológico, que coloca o sexo como o elemento desencadeador das diferenças e, trazendo para o debate a discussão da atuação do contexto sociocultural na construção dos significados de ser homem e de ser mulher. Embora não se esteja fazendo aqui nenhum tipo de generalização, as pesquisas realizadas na década subsequente não se comportaram de forma tão diferente. Porém, o volume da produção aumentou significativamente. Uma informação que confirma essa percepção é a busca por palavras-chave relacionadas a mulheres empreendedoras ou empresárias em páginas da web de periódicos internacionais (quanto mais próximo dos dias atuais, maior é a quantidade de publicação sobre o tema).

A década de 1990 iniciou-se com pesquisas que foram além dos Estados Unidos e da Europa. A Ásia foi objeto de interesse de Chew e Yan (1991) e Hisrich e Fan (1991). Os primeiros exploraram o caso da República Popular da China, que sofreu um crescimento acentuado no número de empresárias a partir de 1978. Os últimos investigaram a experiência de mulheres empresárias em Cingapura, com ênfase nos padrões de mudança estabelecidos e vivenciados por elas nas duas últimas décadas. Muito embora os estudos fossem inusitados, tendo em vista que a empresária asiática ainda não tinha sido objeto de investigação, ambas as pesquisas restringiram-se a traçar um “perfil” das mulheres empresárias dessas regiões.

Apesar de partir de uma proposta muito similar àquelas que tinham sido desenvolvidas até então, o estudo de Gosselin e Grisé (1990) é muito citado entre aqueles que levantaram e analisaram a produção científica sobre o tema. Isto porque os resultados do estudo, de acordo com os autores, representaram uma adaptação inovadora à demanda profissional, familiar, social e pessoal, pois desafiaram as definições existentes sobre empreendedorismo. Os pesquisadores, inicialmente, aplicaram questionário junto a 400 mulheres (gerentes e/ou donas do próprio negócio) na cidade de Quebec e, posteriormente, entrevistaram

detalhadamente 75 delas, com o intuito de conhecer os seus “traços” pessoais e as características de suas organizações, suas experiências anteriores, seus critérios para avaliar o sucesso e suas visões a respeito do futuro de suas empresas. A pesquisa revelou que as mulheres preferiam um modelo de negócio pequeno e estável a fim de preservar sua qualidade de vida e não comprometer a vida familiar; não reconheciam a fase empreendedora como transitória em suas vidas; e buscavam constantemente o reconhecimento para o que faziam. Aliás, a busca por reconhecimento foi uma das constatações de Alvarez e Meyer (1998), ao pesquisar mulheres que tinham uma carreira em grandes empresas e optaram por montar seu próprio negócio. O estudo detectou que essas mulheres tornavam-se empresárias, sobretudo porque as grandes corporações não permitiam que elas utilizassem melhor suas habilidades.

O caráter comparativo, descritivo e quantitativo continuou predominando entre as pesquisas sobre a mulher empreendedora. No entanto, alguns pesquisadores tentaram não se prender apenas a pesquisas de cunho quantitativo. Stevenson (1990), por exemplo, argumentou que um dos problemas metodológicos associados com as pesquisas a respeito de mulheres empreendedoras era o fato de seus métodos concentrarem seu interesse nos aspectos quantitativos dos fenômenos, negligenciando as explicações sobre os eventos dentro de situações concretas. Por conta disso, propôs a adoção de métodos qualitativos de investigação, pois entendia que a melhor maneira de desvendar as relações na esfera da mulher empreendedora era entrevistá-la e deixá-la explanar sobre seus relacionamentos.

O trabalho de Sexton e Bowman-Upon (1990), por exemplo, tentou não se restringir à mera descrição e buscou avançar para uma contribuição senão teórica ao menos crítica e reflexiva. Através de um estudo comparativo entre gêneros e do estabelecimento de “características psicológicas” de empreendedores, os pesquisadores estudaram 105 mulheres e 69 homens nos

Estados Unidos. Os estudiosos concluíram que homens e mulheres possuíam comportamento similar em vários aspectos. Contudo, com relação à disposição para correr riscos, as mulheres apresentavam alta resistência (o que não comprometia nem sequer impedia o crescimento de suas firmas). Os autores verificaram que até existiam algumas diferenças gerenciais relacionadas ao gênero. No entanto, as poucas diferenças existentes eram usadas abusivamente com fins de estereotipagem sexual.

Adotando uma abordagem quantitativa, ao utilizar análise de regressão múltipla, Leahy e Eggers (1998) detectaram que as mulheres empreendedoras eram mais focadas nas tarefas, ao contrário do que se imaginava, o que contrariava a crença estereotipada de que as mulheres eram mais voltadas para as pessoas. A pesquisa de Leahy e Eggers (1998), de certa forma, sugeriu que muitos estudos podiam estar carregados de estereótipos que apontavam nas mulheres determinadas habilidades como se fizessem parte da sua “essência”.

Enquanto algumas pesquisas concluíram que homens e mulheres, não obstante suas diferenças possuíam comportamentos similares (FAGENSON, 1993; SCHWARTZ, 1976; SEXTON; BOWMAN-UPON, 1990; SEXTON; KENT, 1981), outros trabalhos afirmaram que eles eram “naturalmente” diferentes. O trabalho de White e Cox (1991), como muitos (ALDRICH et al., 1989; CARTER, 1989; CROMIE; BIRLEY, 1992; GOSSELIN; GRISÉ, 1990; NEIDER, 1987; SMITH; MCCAIN; WARREN, 1982), defendeu que as mulheres eram diferentes dos homens. Eles creditaram a diferença entre homens e mulheres ao que denominaram de independence of thought. Ou seja, argumentaram que, essencialmente, as mulheres além de possuir identidade de gênero, portavam um estilo criativo e político próprios. Tais características influenciavam o comportamento feminino e as tornavam diferentes dos homens.

No entanto, ao que parece, a maioria dos estudos que indicava diferenças entre homens e mulheres, apontava dissimilaridades mais

conjunturais e contingenciais do que de personalidade propriamente dita. Fasci e Valdez (1998), por exemplo, detectaram que os empreendimentos geridos por homens possuíam uma lucratividade maior do que aqueles geridos por mulheres. As diferenças, portanto, não eram no modo de ser desses indivíduos, mas no resultado da empresa em função de variáveis conjunturais e contingenciais. Coleman (1998) não verificou discriminação nas instituições financeiras no processo de tomada de empréstimo quanto ao gênero, mas sim quanto ao porte do empreendimento e ao seu tempo de existência. Assim, como na maioria das vezes as mulheres estavam à frente de micro ou pequenas empresas de pouca idade, elas acabavam não sendo contempladas com crédito bancário.

Apesar de estudos tratarem de diferenças entre os gêneros, Fisher, Reuber e Dyke (1993) argumentaram que as pesquisas realizadas até então não conseguiam identificar e, sobretudo, explicar as diferenças entre empreendedoras e empreendedores. Na visão das autoras, as teorias feministas podiam contribuir para a compreensão das pesquisas que estudavam mulheres empreendedoras. Na ocasião, elas trabalharam com duas perspectivas: a do feminismo liberal e a do feminismo social. Por um lado, o feminismo liberal admitia que as mulheres estivessem em desvantagem em relação aos homens, em função da discriminação e/ou de fatores contingenciais que as privaram de recursos essenciais, como educação e experiência na área de negócios. Por outro, o feminismo social reconhecia que existiam diferenças entre homens e mulheres. No entanto, tais diferenças eram frutos de um processo de socialização diferenciado que cada um vivenciava ao longo de sua vida. O artigo representou um avanço na produção acadêmica sobre o tema porque não se limitou a apenas apresentar resultados, mas sugeriu a adoção das lentes da teoria feminista para interpretar o fenômeno do “empreendedorismo feminino”.

Um pouco mais tarde, Hisrich et al. (1997) apoiaram-se nas visões teóricas do feminismo liberal e do feminismo social e investigaram a existência

de fatores que interferiam no desempenho de empreendimentos geridos por mulheres, uma vez que, até então, os estudos buscavam basicamente identificar esses fatores a partir de análises meramente quantitativas (ALLEN; CARTER, 1996; CARTER, 1989). Os pesquisadores concluíram que tanto o feminismo social quanto o liberal se aplicavam ao contexto do empreendedorismo. No entanto, eles sugeriram que o “empreendedorismo feminino” fosse estudado separadamente da atual teoria de empreendedorismo, tendo em vista que variáveis internas e externas demonstraram a existência de similaridades e diferenças de gênero.

O estudo de Fagenson (1993) também representou um avanço, assim como as pesquisas de Buttner e Rosen (1988), Sexton e Bowman-Upon (1990) e Watkins e Watkins (1983), ao apontar a existência de uma estereotipagem de gênero no mundo empresarial. Não obstante a sugestão de muitos estudos de que o tipo de indivíduo que se tornava empresário era, psicologicamente, diferente daquele que se tornava gerente e de que as mulheres também eram diferentes, Fagenson (1993), ao comparar o sistema de valores pessoais de 255 homens e mulheres gerentes e empreendedores, detectou que o gênero dos indivíduos, ao contrário da carreira, pouco influenciava seus sistemas de valores.

Dolinsky, Caputo e Pasumarty (1994) introduziram e combinaram os elementos cor e gênero no estudo do empreendedorismo na década de 1990. Até então as pesquisas não tinham estudado a variável cor entre as mulheres empreendedoras. Os autores constataram que as mulheres negras estavam mais distantes do empreendedorismo, se comparadas às mulheres brancas. Eles analisaram a diferença nos padrões longitudinais das taxas de emprego desses grupos, no período entre 1967 a 1989, nos Estados Unidos, e concluíram que a dificuldade histórica de acesso a crédito devia ser um dos motivos que, potencialmente, explicaria a baixa participação da mulher negra na condição de empresária. Mais recentemente, outras pesquisas têm sido realizadas com a

finalidade de estudar o gênero, a raça e a cor dos indivíduos que empreendem (FULLER-LOVE; LIM; AKEHURST, 2006; LERNER; MENAHEM; HISRICH, 2005; PIO, 2007a, 2007b).

De um modo geral, os estudos voltaram-se para a análise de variáveis que envolviam o universo feminino no campo do empreendedorismo. Zapalska (1997), por exemplo, ao pesquisar um total de 150 empreendedores e empreendedoras nos três maiores centros urbanos da Polônia, procurou saber se as empresárias possuíam as características empreendedoras requeridas para apresentar desempenho efetivo como empreendedoras. Os resultados mostraram que as empreendedoras possuíam as “características” requeridas para o “sucesso” como: agressividade, positividade, determinação, habilidades de comunicação, habilidades de liderança, autonomia, ambição, responsabilidade, inovação, criatividade, tendência para correr riscos, prontidão para a mudança, baixa necessidade de apoio e falta de sentimentalismo. Ou seja, as mulheres empreendedoras apresentavam as “características” tidas como masculinas e femininas identificadas na literatura como de empreendedores prósperos. Zapalska (1997), no entanto, ressaltou que numerosos estudos associavam mais frequentemente as “características do empreendedor de sucesso” com o comportamento masculino, sugerindo que as mulheres só teriam sucesso como empreendedoras se exibissem essas características, sobretudo, as apontavam como mais frágeis e mais emocionais do que os homens. Não obstante as constatações contrárias de outros estudos, a pesquisadora verificou que as mulheres polonesas investigadas demonstraram possuir o “perfil” e as habilidades empreendedoras necessárias ao sucesso e eram muito semelhantes