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Procedimentos da coleta dos dados

4 MÉTODO E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

4.4 Procedimentos da coleta dos dados

Neste estudo, recorreu-se, como técnica, ao relato de história de vida das empresárias. Para Chizzotti (2010, p. 101), a história de vida é um relato retrospectivo da experiência pessoal de um indivíduo relativo à “fatos e acontecimentos que foram significativos e constitutivos de sua experiência vivida”. Paulilo (1999), ao destacar a importância da pesquisa qualitativa para os estudos interpretativos, defende ainda que a história de vida não só permite captar o que acontece na interseção do individual com o social, como também possibilita potencialmente ao narrador, no processo de retrospectiva, uma compreensão mais aprofundada do momento passado.

A história de vida, portanto, foi adotada como técnica de pesquisa para compreender a ação empreendedora de mulheres, uma vez que é “uma excelente técnica” para revelar “o cotidiano, o tipo de relacionamento entre os indivíduos, as opiniões e valores e, através dos dados assim obtidos, é possível construir um primeiro diagnóstico dos processos em curso” (QUEIROZ, 1988, p. 34-35). Em outros termos, optou-se pelo método estudo de caso e pela técnica de história de vida, no presente estudo, porque as histórias de vida das empresárias imiscuem-

se com suas empresa. Assim, estudou-se o caso das empresas pela história de vida das empresárias.

Como as narrativas envolviam lembranças, memórias e recordações, é certo que avanços e recuos, fantasia e idealização permearam o processo de exposição. Thompson (1971) adverte que as entrevistas de história de vida trabalham com memória e, portanto, com seletividade, o que faz com que o entrevistado aprofunde determinados assuntos e afaste-se de outros. No entanto, como diz Bosi (1994), o que interessa quando se trabalha com história de vida é a narrativa da vida de cada um e da maneira como ele a reconstrói. Becker (1994) acrescenta que, na história de vida, a história valorizada é a história própria da pessoa, nela são os narradores que dão forma e conteúdo às narrativas, à medida que interpretam suas próprias experiências e o mundo no qual vivem. A história de vida foi desta forma, considerada um instrumento privilegiado para a análise e interpretação, pois incorpora experiências subjetivas mescladas a contextos sociais. Ademais, o uso desta técnica de pesquisa se tornou possível pelo fato consciente de que o dever das ciências sociais não é primeiramente classificar, mas compreender o fenômeno social.

Após a seleção dos casos, foi primeiramente mantido um contato telefônico com as empresárias. Nesse instante, foi explicado brevemente o objetivo do contato e solicitado um momento para que a pesquisadora expusesse o objetivo da pesquisa e os seus procedimentos. Durante o primeiro contato pessoal, explicitou-se o objetivo do estudo, pormenorizou-se a forma como seria realizada a pesquisa e enfatizou-se a sua importância. Também nessa ocasião as empresárias receberam e assinaram um termo de compromisso que continha o objetivo e a metodologia da investigação; informava que as entrevistas seriam gravadas e posteriormente transcritas para análise de seu conteúdo; assegurava o anonimato dos informantes; comunicava que a participação dos sujeitos seria

voluntária e livre de qualquer forma de remuneração; e explicitava que os dados da pesquisa seriam utilizados para fins científicos e acadêmicos (ANEXO A).

Na primeira etapa da pesquisa de campo, utilizou-se um roteiro semiestruturado (ANEXO B) para orientação da pesquisadora. Nessa etapa, foi adotada a técnica de história de vida. Tal estratégia visou obter informações detalhadas ligadas à própria história da pessoa entrevistada, à sua trajetória como empresária e, inclusive, a aspectos relacionados à sua ação empreendedora e gerencial em seu cotidiano laboral. As questões não foram levantadas diretamente às empresárias e a entrevista foi iniciada, na maioria das vezes, pedindo-se à empresária que contasse um pouco da sua história pessoal, desde a infância. À medida que a pesquisadora vislumbrava a possibilidade e a pertinência de se introduzir alguma questão que remetesse aos objetivos da pesquisa, tal pergunta era colocada de forma a deixar a entrevistada sempre livre. Aliás, uma das estratégias adotadas nesta pesquisa foi a de deixar a entrevistada bastante à vontade para expor suas ideias, pensamentos e emoções. Quando foram observadas situações em que a empresária omitia ou evitava tratar de algo relevante para o estudo, posteriormente e em momento apropriado, o assunto era abordado indiretamente.

Naqueles casos em que a entrevista se prolongava por muito tempo, foi proposto às informantes que se retomasse em outro dia para que a mesma não se tornasse demasiadamente exaustiva e não comprometesse a qualidade do trabalho em função do cansaço. Nos encontros posteriores, tentou-se seguir o roteiro que foi adotado na primeira entrevista, porém, acrescentou-se a ele questões que já tinham sido abordadas e que não ficaram devidamente esclarecidas e também se inseriram pontos que ainda não tinham sido tocados por falta de tempo e/ou oportunidade. Tais pontos e questões foram definidos após a escuta da entrevista anterior. Tendo em vista que, no relato de suas histórias pessoais, as entrevistadas reviveram emoções passadas, em pelo menos

um dos casos, a narrativa foi interrompida por alguns instantes, mas a entrevistada preferiu dar continuidade ao relato alegando que recordar aqueles episódios e trazer aquelas emoções estava lhe fazendo bem, pois ela estava exteriorizando sentimentos adormecidos que, na sua visão, mereciam ser expressos e revividos. Ademais, sempre que algum aspecto não se mostrava devidamente nítido, buscavam-se mais explicações a respeito da situação, inclusive quando era o caso, solicitavam-se mais detalhes. De um modo geral, as entrevistadas mergulharam de fato nas suas histórias, reviveram emoções e trouxeram suas interpretações pessoais a respeito de fatos de seu passado. Com isso, os relatos, as experiências e o ponto de vista do sujeito foram levados em conta para a compreensão da questão investigada.

Num outro momento, foi realizada uma entrevista com roteiro semiestruturado junto a funcionários, clientes, amigos, parentes que trabalharam diretamente com as empresárias ou que, de alguma forma, se relacionaram com elas (ANEXOS C, D e E). Essas pessoas foram indicadas pela empresária e, assim como ela, tiveram sua identidade preservada. Essas entrevistas ora aconteceram no ambiente de trabalho, ora na residência dos informantes. A entrevista versou principalmente sobre questões que revelavam a percepção dos atores sociais a respeito da empresária e do seu cotidiano laboral, ou seja, solicitou-se que esses sujeitos falassem da empresária como patroa, amiga, mãe, irmã etc.; que contassem como eles percebiam as suas relações com os funcionários, fornecedores e concorrentes; que discorressem a respeito da forma como elas tomavam as decisões e conciliavam trabalho e família, que indicassem as facilidades e dificuldades que elas enfrentavam e apontassem suas habilidades. Acredita-se que a entrevista possibilitou uma maior interação entre o pesquisador e o pesquisado, pois, como afirma Richardson (1999, p. 207), ela tem “o caráter, inquestionável, de proximidade entre as pessoas, que proporciona as melhores possibilidades de penetrar na mente, vida e definição dos

indivíduos”. Além disso, a entrevista permitiu “obter informações acerca do que as pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como acerca das suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes” (GIL, 1996, p. 113).

Tanto o roteiro da entrevista realizada com as empresárias para obtenção do relato de história de vida quanto o roteiro da entrevista feita com os demais atores sociais foram testados previamente. O primeiro foi testado em 28 de junho de 2009 com a empresária do Agronegócio Tropical (AT) ou Empresa A. Depois do primeiro encontro que durou aproximadamente 1 hora e 30 minutos, a pesquisadora inseriu algumas modificações no roteiro e uma semana depois deu continuidade à entrevista, que retomou algumas questões que não ficaram devidamente esclarecidas e também trouxe aqueles outros elementos que não haviam sido contemplados na primeira versão do roteiro. Desse modo, a entrevista com as demais empresárias já não sofreu modificações. O roteiro da entrevista realizada com os demais agentes foi testado com dois dos informantes do AT: poucas modificações foram realizadas. O relato de história de vida e as entrevistas com os demais atores sociais totalizaram 28 horas e 52 minutos de coleta de dados, conforme pode ser verificado no Quadro 1.

Quadro 1 Quantidade de horas destinadas a entrevistas – Vitória da Conquista – 2009

Empresária Informantes Total

Empresa A ou AT 2h 47min 3h 47min 6h 34min

Empresa B ou IEA 2h 24min 4h 23min 6h 47min

Empresa C ou AAA 6h 00min 3h 31min 9h 31min

Empresa D ou CEG 3h 16min 2h 44min 5h 20min

Total 14h 27min 14h 25min 28h 52min

Outro instrumento de coleta de dados, que visou dar mais validade ao estudo, foi a observação não participante. A observação do tipo não participante permitiu que a pesquisadora atuasse como um espectador atento, apenas

observando e registrando as ocorrências que interessavam ao seu trabalho. Godoy (1995) afirma que a observação tem um papel essencial no estudo de caso qualitativo, pois procura apreender aparências, eventos ou comportamentos. Ou ainda, aqueles que optam por abordagens de caráter qualitativo estudam as coisas em seus ambientes de origem, tentando entender ou interpretar os fenômenos em termos dos significados que as pessoas dão aos mesmos. Daí, infere-se que a observação não participante constitui-se uma técnica que descreve a rotina e os momentos problemáticos do contexto observado, e, potencialmente, apreende o significado que os sujeitos dão aos fenômenos sociais. Além disso, a observação não participante pode captar aspectos das relações sociais que permeiam o cotidiano laboral e que nem sempre são percebidos através de outras técnicas de coleta de dados.

Como cada segmento empresarial possui suas peculiaridades, os procedimentos da observação não participante foram diferentes. Nas escolas, a observação não participante aconteceu por cinco dias consecutivos. No caso do Instituto Educacional Amarelinha (IEA) ou Empresa B, a observação aconteceu após o retorno das aulas, entre os dias 20 e 24 de julho de 2009, nos turnos matutino e vespertino e no dia 21 de julho e 3 de agosto de 2009 no turno noturno. No primeiro período, acompanhou-se a rotina da empresa e da empresária. Nos encontros noturnos, participou-se, apenas como espectadora, de um mutirão entre as professoras para confecção de souvenirs que seriam distribuídos posteriormente às avós e de uma reunião coordenada pela diretora e assessorada pela coordenadora pedagógica e orientadora educacional, que visava orientar a equipe quanto aos procedimentos da festa em homenagem ao dia dos pais, que aconteceria no final de semana seguinte. Na Creche-escola Girassol (CEG) ou Empresa D, a observação aconteceu entre os dias 8 e 11 de setembro de 2009 nas instalações da escola, durante os dois turnos, quando também se observou a rotina da empresa e da empresária, e no dia 19 de setembro de 2009,

no turno vespertino, no parque ecológico da empresa, localizado nas imediações da cidade. Nessas ocasiões, os pais e as crianças são convidados para uma tarde de lazer coordenada pela empresária e sua equipe.

No caso dos agronegócios, a dinâmica foi diferente, pois a pesquisadora só se deslocou para as fazendas em companhia das empresárias. No caso do Agronegócio Tropcial (AT) ou Empresa A, foram três deslocamentos. O primeiro para conhecimento da propriedade e das suas instalações, em 17 de julho de 2009. O segundo para assistir à colheita do café e seu processo de beneficiamento, em 24 de agosto de 2009. O terceiro para acompanhar o serviço de orientação de poda das plantas, em 14 de setembro de 2009. Já no Agronegócio Arara Azul (AAA) ou na Empresa C, aconteceu uma visita à Cooperativa para acompanhar a empresária num processo de recepção/armazenagem de café, em 20 de agosto de 2009. Um acompanhamento em um curso sobre secagem de café ao lado da empresária e de seu gerente, em 25 de agosto de 2009. Por último, uma visita à propriedade depois da colheita, ocasião em que se teve, inclusive, a oportunidade de entrevistar três trabalhadores, em 3 de outubro de 2009.

Na verdade, as observações, cada qual com sua particularidade, permitiram que se realizassem visitas de reconhecimento, observações da rotina de trabalho, observações de reuniões, observações feitas por ocasião da realização das entrevistas, observações em programações e atividades recreativas. Tanto nas viagens, em companhia das empresárias, quanto nas conversas informais, nos corredores e pátios das escolas, a pesquisadora teve a oportunidade de conversar com as empresárias a respeito de assuntos que, de alguma forma, contribuíram para um maior conhecimento a respeito delas e de suas relações, e também observar a forma como elas se dirigiam aos funcionários, clientes e prestadores de serviços. Em todas essas ocasiões, a

pesquisadora registrou em um diário de campo os eventos observados e sua percepção.

Vale ressaltar que a pesquisa documental foi mais profícua no caso das empresas do setor de educação infantil, pois essas instituições possuíam e disponibilizaram seu acervo fotográfico, suas atas de reunião, contrato social, materiais publicitários e reportagens publicadas em revistas e jornais a respeito da empresária e da empresa. Tais documentos não estavam organizados, porém, serviram como uma rica fonte de dados porque forneceu subsídios que, de certa forma, complementaram a análise dos casos. Salienta-se que, para preservar a identidade dos informantes, as fotos consultadas não foram expostas neste trabalho.