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Empreendedorismo: panorama mundial e nacional

4 MÉTODO E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

5.1 Empreendedorismo: panorama mundial e nacional

Diversos pesquisadores (BROCKHAUS, 2000; FILION, 1999b; JULIEN, 2010; SCHUMPETER, 1982, 2002) que investigam o fenômeno do empreendedorismo discutem sua importância, ressaltando sua contribuição para o crescimento econômico de uma nação. Em todo o mundo, é possível identificar ações, de cunho público e/ou privado, que manifestam interesse em compreender o movimento do empreendedorismo e também de fomentá-lo. A compreensão, portanto, a respeito do impacto positivo da implantação de novos empreendimentos e do empreendedorismo na economia tem levado muitas nações a direcionar esforços no sentido não só de entender como de apoiar o fenômeno.

Desde que foi criado, em 1997, o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) liderado pelo Babson College e pela London Business School, muito embora busque compreender o fenômeno do empreendedorismo principalmente como a prática de abertura de empresa, vem avaliando o empreendedorismo em vários países de todos os continentes, criando para tanto indicadores comparáveis entre os países participantes. De um modo geral, os relatórios

emitidos pelo GEM argumentam que o empreendedorismo interfere na prosperidade econômica e que um país sem altas taxas de criação de novas empresas corre o risco de estagnação econômica. O GEM, assim, tem estabelecido uma relação entre empreendedorismo e desenvolvimento.

Com exceção do primeiro ano (2000) em que participou da pesquisa do GEM – quando obteve uma Taxa de Atividade Empreendedora (TEA45) de 21,4 – a TEA brasileira tem girado em torno de 12. Isso quer dizer que a cada 100 brasileiros, 12 realizam alguma atividade empreendedora. Em 2008, o Brasil ocupou a 13ª posição no ranking mundial de empreendedorismo. Pela primeira vez, o Brasil ficou fora do grupo dos dez países com as maiores taxas. A relativa queda de posição ao longo dos anos (Tabela 2) sugere, por sua vez, a natureza dinâmica do empreendedorismo e sua íntima interdependência com os grandes fatores do desenvolvimento nacional.

De acordo com o Relatório do GEM (2008), essa mudança se deve principalmente à alteração no conjunto de países participantes da pesquisa GEM (2008) e não significa necessariamente uma piora relativa do Brasil. Países como Bolívia, Angola, Macedônia e Egito participaram da pesquisa do GEM pela primeira vez em 2008 e ocuparam posições entre os dez países com as maiores taxas de empreendedorismo. A TEA brasileira de 2008 ficou próxima das taxas

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Segundo o GEM (2002) esta medida parece englobar todos os tipos de atividade empreendedora em um país: taxa de empresas nascentes; taxas de novos empreendimentos (de até 42 meses de idade); taxa de atividade empreendedora motivada por oportunidade; taxa de atividade empreendedora motivada por necessidade; índice de atividade empreendedora para homens; índice de atividade empreendedora para mulheres; esforços empreendedores com a expectativa de criar novos nichos de mercado; esforços empreendedores com a expectativa de criar 20 ou mais empregos em 5 anos; esforços empreendedores com a expectativa de exportar bens e serviços para fora do país; esforços empreendedores com expectativa de criar novos nichos de mercado e criar 20 ou mais empregos; índice de empreendimentos de alto impacto (esforços empreendedores de alto potencial com a expectativa de criar novos nichos, produzir novos empregos e de exportar bens e serviços). O índice TAE reflete a taxa de todas essas atividades que parecem estar normalmente presentes ou ausentes.

apresentadas pelo Uruguai (11,90), Chile (13,08) e México (13,09). Não obstante a queda no ranking, o Brasil continua com uma TEA superior à média dos países pesquisados pelo GEM: 10,48%. A TEA média brasileira de 2001 a 2008 é de 12,72% contra uma TEA média dos demais países de apenas 7,25%. Isso reforça, segundo o GEM (2008), que o Brasil é um país de alta capacidade empreendedora e que na média entre 2001 e 2008 o brasileiro foi 75,58% mais empreendedor que os outros.

Tabela 2 Evolução da TEA no Brasil (2000-2008)

Ano TEA Posição no ranking Quantidade de países participantes

2000 21,4 1º 21 2001 14,2 5º 29 2002 13,5 7º 37 2003 12,9 6º 27 2004 13,5 7º 34 2005 11,3 7º 35 2006 11,7 10º 42 2007 12,7 9º 40 2008 12,0 13º 60

Fonte: Elaborado a partir dos Relatórios do GEM (2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008)

Contudo, resta saber a razão que leva os indivíduos a abrir uma empresa. Desde 2001, a pesquisa do GEM tem apresentado duas medidas para o empreendedorismo: as taxas de empreendedorismo por necessidade ou por oportunidade. De acordo com o GEM (2002), essas taxas possibilitam verificar se os motivos que levam as pessoas a montar um negócio decorrem do aproveitamento de oportunidade ou se estão relacionados à falta de opções no mercado de trabalho. Essa distinção, além de trazer novos elementos para a compreensão do fenômeno do empreendedorismo, evidencia sua complexidade e auxilia no entendimento do papel que o empreendedor, seja por necessidade ou por oportunidade tem nos diferentes contextos nacionais.

A taxa de empreendedorismo por oportunidade reflete, segundo o Relatório do GEM (2008), o “lado positivo” da atividade empreendedora nos países. Em 2008, a Bolívia obteve a maior taxa de empreendedorismo por oportunidade (20,95) e a Colômbia a maior taxa de empreendedorismo por necessidade (10,15). No Brasil, em 2008, foram registrados dois empreendedores por oportunidade para cada empreendedor por necessidade. Não se chegou ainda à próspera razão norte-americana ou francesa, que apresentam quase sete ou pouco mais de oito pessoas empreendendo por oportunidade, respectivamente, para cada pessoa empreendendo por necessidade. Mas nem por isso o quadro brasileiro é desalentador, uma vez que já manifestou uma proporção inversa de dois para um.

Segundo o Relatório do GEM (2008), no caso brasileiro, aqueles que montam seu próprio negócio, motivados pela oportunidade – seja pelo desenvolvimento de novos produtos, processos ou serviços, seja pela abertura de novos mercados, ou pela adaptação de conceitos novos para o mercado local – subiu de 38,5%, em 2007, para 45,8% em comparação com o número de indivíduos que alegam estar empreendendo simplesmente porque não encontram outra opção para auferir renda.

Embora muitos economistas (DOSI, 1988; FREEMAN; PEREZ, 1988; MARSHALL, 1982; NELSON; WINTER, 1982; PENROSE, 1959; SCHUMPETER, 1982, 2002), por mais de um século, tenham afirmado que o empreendedorismo é uma das mais importantes forças dinâmicas capazes de moldar a paisagem econômica de um país, as causas e os impactos desse fenômeno até hoje são ainda muito mal compreendidos. Dessa forma, não seria prudente sugerir que a atividade empreendedora por si só seja capaz de fomentar o desenvolvimento econômico de um país. Contudo, ela indica que alterações na estrutura econômica e nos processos de mercado, que contribuem para o crescimento, podem ocorrer mais rapidamente quando um setor empreendedor

está disposto a implantar mudanças. Existem novos e crescentes indícios que parecem confirmar a percepção de que o nível de atividade empreendedora local tem uma relação estatisticamente significativa com os níveis subsequentes de crescimento econômico. É importante olhar essas constatações com certa cautela, já que são necessários alguns anos para se identificar os reais mecanismos causadores desse fenômeno.

Após algumas ressalvas, é possível concluir que o empreendedorismo pode ser visto como um mecanismo colaborador para o crescimento e ajuste econômico em quaisquer tipos de economias, sejam elas de países desenvolvidos, em transição ou em desenvolvimento. Saliente-se ainda que, frente aos inúmeros negócios que surgem a cada dia, a mulher também tem desempenhado um papel muito importante. De acordo com o GEM (2008), nos últimos anos, entre os países pesquisados, o Brasil vem se situando numa boa posição, no que tange à igualdade de participação dos gêneros na gestão de empreendimentos (Tabela 3). Em 2007, as mulheres representaram 52% dos empreendedores, invertendo uma tendência histórica, quando considerado o período 2001-2007. Pode-se observar com mais clareza essa inversão quando se destaca o ano de 2001, quando os homens representavam 71% dos empreendedores (GEM, 2008). Com efeito, o desenvolvimento econômico de várias localidades favoreceu-se com a atuação dessas mulheres. Isso reforça a necessidade de se procurar compreender melhor as várias questões de gênero que perpassam o empreendedorismo. Afinal de contas, a participação de mulheres nesse segmento traz consigo uma série de impactos sociais, políticos, econômicos e culturais que ultrapassam a simples geração de emprego e renda no Brasil.

Tabela 3 Empreendedores iniciais por gênero no Brasil, 2001-2008 EMPREENDEDORES INICIAIS

Período Homem (%) Mulher (%)

2001 70,9 29,1 2002 57,4 42,4 2003 53,2 46,8 2004 56,6 43,4 2005 50 50 2006 56,2 43,8 2007 47,6 52,4 2008 52,7 47,3 2001-2008 55,57 44,4

Fonte: Elaborado a partir dos Relatórios do GEM (2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008)

De acordo com o IBGE (2008a), na atualidade as mulheres representam estatisticamente aproximadamente 44,4% das Pessoas Ocupadas (PO), 53,5% da População em Idade Ativa (PIA) e 45,5% da População Economicamente Ativa (PEA). Esses dados apontam para um crescimento da presença das mulheres na esfera econômica: na última década a distribuição da PEA feminina, em âmbito nacional, sofreu um aumento de 3,2 pontos percentuais. Na Região Metropolitana de Salvador, por exemplo, as mulheres equivalem a 41% dos empregos ocupados (Tabela 4). De acordo com o Anuário do Trabalho (DIEESE, 2008a), o maior crescimento da participação feminina, entre 2002 e 2006, foi registrado em microempresas, quando, em nível nacional, passaram de 39,6% para 41,3% da mão de obra formal. Ainda segundo o DIEESE (2008a), a participação feminina cresceu nesse período em todos os setores empresariais. Não se trata apenas de episódios de ingresso no mercado de trabalho para complementar a renda familiar, trata-se, sobretudo, de uma mudança social de grandes proporções, pois envolve transformações nas expectativas de vida pessoal, nas relações familiares, nas demandas por serviços públicos.

Tabela 4 Distribuição dos ocupados por porte da empresa, segundo sexo – Região Metropolitana de Salvador – 2007 (em%)

Porte da empresa Homens Mulheres Total (1) (2)

Micro e Pequena 55,6 44,4 100,0

Média 68,7 31,3 100,0

Grande 65,4 34,6 100,0

TOTAL 59,0 41,0 100,0

Fonte: DIEESE (2008b)

Notas: (1) Inclui apenas os indivíduos que declararam o tamanho da empresa em que trabalham

(2) Ocupados da indústria, da construção, do comércio e do setor serviços (exclusive administração pública e serviços domésticos)

O ingresso da mulher no mercado de trabalho, de fato, não se dá apenas na condição de empregada, mas também de empregadora. Com efeito, o desenvolvimento econômico de várias localidades, inclusive de Vitória da Conquista, favoreceu-se com a atuação dessas mulheres. Infelizmente, não se dispõe, no município e na região, de dados e estatísticos que comprovem o impacto dos empreendimentos geridos pelas mulheres para a economia local e regional. Mas elas predominam em determinados segmentos empresariais, como o da educação infantil, 46 e se apresentam em setores como o do agronegócio, 47 tradicionalmente dominado por homens.