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DESENVOLVIMENTO E APA'S: UMA RELAÇÃO ANTAGÔNICA?

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A RELAÇÃO ENTRE DESENVOLVIMENTO E APA’S: UMA INSPIRAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COM

4.3 DESENVOLVIMENTO E APA'S: UMA RELAÇÃO ANTAGÔNICA?

O final da subseção 4.2.3 já responde o questionamento contido no título desta seção. Com os avanços e mudanças que vem ocorrendo no pensamento científico e nas ações que dizem respeito às questões ambientais em nível global e local, e, mais especificamente, o pensar a criação e implantação de APA’s como estratégias de preservação e/ou conservação do meio ambiente, o antagonismo entre desenvolvimento e APA’s pode ser considerado inexistente ou passível de inexistência. Isto por que quando se fala em relação sociedade- natureza fica claro que no início, meio e fim desta relação está a necessidade de bem-estar do ser humano e, portanto, a sua busca por uma qualidade de vida sustentável.

Partindo deste ponto de vista e do que foi discutido até aqui “[...] torna-se necessário superar o conceito de que só é possível conservar uma área se ela estiver à margem do desenvolvimento [...]” (CÔRTE, 1997, p. 43). No Brasil, o SNUC está aí para mostrar que é possível aliar conservação e desenvolvimento. Um desenvolvimento que tenha por base a sustentabilidade dos recursos, a participação local e o respeito ao meio natural, cultural e social. Sabemos que, na prática, esta tarefa é árdua e exige tempo, capacitação, habilidade, liderança e vontade política de todas as esferas sociais envolvidas. Como diz Foladori (2001, p. 107): “A essência mesma do ser humano é a transformação da natureza mediante o trabalho”. Mas, essa transformação pode vir a ser pensada a partir de ações que se baseiam na sustentabilidade como propõe Sachs (1993) quando discorre sobre as cinco dimensões do desenvolvimento sustentável, citadas anteriormente. Pois, é fato que a transformação da natureza não está dissociada das demais relações sociais, econômicas, políticas e culturais que o ser humano enquanto ser social precisa estabelecer.

Na sua relação com a natureza e com as demais variáveis citadas acima, uma outra conotação tem que estar em evidência, as ‘suas escolhas’. São elas que o levarão a transformar qualquer uma dessas relações de forma racional e que o leve a ter benefícios que somados com a escolha dos demais membros da sociedade se configure em bem-estar e qualidade de vida. Isso não quer dizer que não temos a compreensão que ações voltadas a um desenvolvimento com esse perfil não seja complexo. Ao contrário, sabemos que um

desenvolvimento pautado nessas aspirações tem um nível de complexidade quer seja pensada globalmente ou localmente. A situação fica mais complexa ainda, quando pensamos o desenvolvimento, nestes termos, para UC’s de Uso Sustentável dentro da Amazônia. Simonian (2000, p. 30-31), neste sentido, chama a atenção para o desenvolvimento sustentável:

A questão do desenvolvimento sustentável nas áreas de reserva da Amazônia aponta para uma realidade bastante contraditória. De um lado, tem-se as demandas acerca da implementação de políticas e ações públicas voltadas para a sustentabilidade dos recursos, da economia e da organização social em áreas de reserva na Amazônia (Conselho, 1998), e de outro, perspectivas de natureza destrutiva, notadamente o manejo negativo dos recursos naturais (Simonian, 1999b, c, 1998ª). [...] Ao longo deste processo, destaca-se o alcance limitado dos programas e projetos voltados para o desenvolvimento sustentável nas reservas.

Aqui se tem a demonstração de que a noção de desenvolvimento pode ser apenas utilizada como um conceito figurativo, sem resultados concretos no que diz respeito ao avanço de políticas e/ou ações em prol do bem-estar social. Com freqüência isso é uma realidade de regiões como a Amazônia com baixo nível de desenvolvimento devido, dentre outras coisas, as escolhas e opções feitas desde o momento de sua ocupação até hoje, quanto ao seu desenvolvimento. Mas, por outro lado, isso não é motivo para deixarmos de acreditar na possibilidade de novas alternativas de desenvolvimento.

A discussão feita por Irving [2002] sobre desenvolvimento sustentável e participação demonstra bem que, com as mudanças e avanços das ciências sociais e naturais no que diz respeito à relação sociedade-natureza se pode ver “uma luz no fim do túnel” quando a questão é desenvolvimento sustentável:

A concepção de Desenvolvimento Sustentável implica um novo paradigma do pensar as sociedades humanas segundo uma nova ética de democratização de oportunidades e justiça social, percepção das diferenças como elemento norteador de planejamento, compreensão da dinâmica de códigos e valores culturais e compromisso global com a conservação de recursos naturais (IRVING, [2002], p. 69).

Esse novo paradigma do desenvolvimento, portanto, passa a perceber a urgência e o compromisso com a conservação dos recursos naturais. Mais ainda, se há um compromisso, então, o ser humano como ser pensante e racional é o que deve assumir o mesmo. E, aí o desenvolvimento como liberdade, a outra categoria conceitual aqui utilizada, se soma ao desenvolvimento sustentável para fortalecer o entendimento da participação do ser humano nas escolhas de estratégias pertinentes para efetivar esse compromisso. Se em um dado momento e/ou circunstância são as UC’s de Uso Sustentável, como as APA’s, as escolhidas como estratégias capazes de dar respostas a este compromisso, então, elas em nenhum momento, podem ser consideradas contrárias a esse processo. Elas fazem parte desse processo

e, dependendo das escolhas do ser humano, vão possibilitar um avanço do desenvolvimento no local onde esta será implantada.

O que irá estar por trás do processo de operacionalização do desenvolvimento sustentável é vontade política de planejar e efetivar as ações para sua realização; a relação local-global no que tange aos países em desenvolvimento e desenvolvido; e, a educação que será o principal instrumento que possibilitará a aquisição das capacidades do ser humano para fazer suas escolhas como bem atesta Sen (2002). Este raciocínio também pode ser visto em Irving [2002] que vê na participação democrática o principal elemento capaz de fazer com que esta nova alternativa de desenvolvimento possa passar de possibilidade para a realidade. Para ela:

O compromisso participativo em projetos de desenvolvimento possivelmente representa o caminho de maior sustentabilidade com relação à garantia de continuidade do processo e aos impactos indiretos nem sempre mensuráveis dele decorrentes (IRVING, [2002], p. 72).

O compromisso de participação da sociedade como descreve Irving [2002] não isenta os demais setores da sociedade na construção desta nova alternativa de desenvolvimento como já foi dito anteriormente. Para Ferreira; Ferreira (1995) ao se pensar um novo desenvolvimento tem que se reconhecer que, a alternativa do Estado ser o condutor majoritário desse processo está descartada. Para estes autores pensar desenvolvimento e, fazer sua gestão, só será possível se tal processo for compartilhado entre Estado, sociedade civil, setor privado e comunidades locais. Desta forma, “[...] a busca de estilos de desenvolvimento não-tradicional só poderia ser alcançada sob regimes de democracia participativa, que garantissem a criatividade e a gestão autônoma da sociedade” (FERREIRA; FERREIRA, 1995, p. 29).

Todas essas argumentações, em prol de um ‘novo desenvolvimento’ fundado em categorias conceituais como desenvolvimento sustentável e desenvolvimento como liberdade servem para se perceber que não há antagonismo entre desenvolvimento e APA’s se considerarmos estas como estratégias capazes de fortalecer o processo de desenvolvimento nos parâmetros aqui discutidos. É por isso que a educação e a participação se tornam base fundante desta nova concepção que relaciona APA e desenvolvimento. Isto porque as UC’s, de Uso Sustentável como as APA’s, nesta nova posição têm que ser conhecida, entendida e aceita como tal pela sociedade e por quem às terá próximas ou como parte efetiva de seu cotidiano. Entender e perceber a APA como uma estratégia de desenvolvimento, então, é o desafio de quem vive, gerencia, estuda e/ou atua próximo ou dentro da mesma. Hoje se pode dizer que com os avanços que tiveram e continuam ocorrendo no mundo e no Brasil, principalmente no que tange leis, estudos científicos, eventos e acordos internacionais e o

advento de ONG’s que atuam nas UC’s, de um modo geral, e a favor destas, o pensar , por exemplo, APA’s e desenvolvimento como algo relacional é um fato que, poderá ser disseminado mais facilmente. O mais difícil se está conseguindo, a sua aceitação por todos os membros e esferas da sociedade, onde se reconhece as UC’s de Uso Sustentável como uma possível estratégia de desenvolvimento.

4.4 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COM LIBERDADE NA APA – ALTER

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