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A UC APA – Alter do Chão para a Região do Eixo Forte

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UM LUGAR PARA CONSERVAR

PRINCIPAIS CAUSAS LEVANTADAS

2.3.6 A UC APA – Alter do Chão para a Região do Eixo Forte

O levantamento do ISAM finaliza-se com três questões sobre a APA – Alter do Chão para as comunidades ouvidas, quais sejam:

1 – Se estas têm conhecimento da finalidade de uma APA?

2 – Quais as suas principais dúvidas sobre a APA – Alter do Chão? 3 – O que eles esperam com a APA?

Essas questões, tinham por finalidade, determinar até que ponto as comunidades estavam inteiradas sobre a criação da APA – Alter do Chão, subsidiando, desta forma, órgão ambiental municipal na construção da programação da Assembléia do Irurama, ao mesmo tempo em que indicava os caminhos que este deveria percorrer para construir uma sensibilização das comunidades frente a APA – Alter do Chão. As respostas às três questões citadas acima, foram agrupadas em função do que mais foi respondido e são apresentadas nos

QUADROS 13 e 14:

QUADRO 13: Finalidade da APA para as Comunidades da Região do Eixo Forte

• Serve para organizar as comunidades;

• Trazer segurança e benefícios para os moradores e levar o conhecimento a respeito da proteção da área;

• Proteção das comunidades contra a grilagem e atividades predatórias; • Para conservar a natureza para filhos e netos;

• Facilidade para acesso de financiamentos;

• Área que organiza de forma planejada para a proteção do ambiente e da área da comunidade;

• Serve para proteger os igarapés e evitar desmatamento; • É uma área fiscalizada;

• Tem conhecimento superficial – pouca participação nos primeiros eventos (06 comunidades – 35%);

• Ouviram falar pela primeira vez (02 comunidades – 17%); • Não sabem nada (01 comunidade – 6%).

Fonte: ISAM, 2005

Do QUADRO 13, o interessante a se destacar é que os comunitários, de uma forma geral, demonstraram certo conhecimento sobre a finalidade da APA, haja vista em suas

respostas aparecerem palavras-chave que determinam, em certa medida, os objetivos de uma APA, tais como: ‘organizar’, ‘conhecimento’, ‘proteção’, ‘conservar’, ‘fiscalização’. Por outro lado, se percebe também que ainda é muito grande o índice de comunidades que tem um conhecimento superficial, devido a pouca participação nos primeiros eventos (35%), ou que ouviram falar pela primeira vez (17%), ou ainda que não saibam de nada (6%). Isto demonstra quão árduo tem que ser o trabalho de sensibilização das comunidades para que se efetive a criação da APA. Se de fato a esfera governamental espera que a mesma tenha uma participação das comunidades, este trabalho deve ser intensificado, pois, principalmente, no que tange a APA, a sensibilização das pessoas que estarão em sua área e no entorno precisa ser pautada em conhecimento para que as mesmas se disponham a ajudar efetivá-la. Caso contrário, jargões como “a APA é coisa para inglês ver”, muito comum entre os críticos dessa categoria, realmente se concretizará.

A APA, como falou o companheiro do IBAMA é a unidade mais flexível que se tem, ou seja, diz-se que na APA pode tudo. Até um companheiro me disse num debate, num determinado dia, que a APA é um pouco um negócio, assim, para inglês ver. Faz que é mais não é, quando é já foi, tem essa característica. Mas, o companheiro do IBAMA falou um negócio importante, nós temos que zelar pelo meio ambiente, nós temos que zelar pelo recurso natural existente independente que esteja em APA e, se tiver na APA, ela tem normas, ela tem procedimentos que nós temos que cumprir, a comunidade começa a participar mais organizadamente (ASSEMBLEIA DO IRURAMA, 2005, p. 16).

E em resposta a este modo de pensar:

Ninguém foi criar a APA para inglês ver. Só por que a APA é uma categoria de áreas protegidas mais amena, onde são permitidas várias atividades econômicas, inclusive indústria é permitida dentro de uma APA, não quer dizer que é para inglês ver. Eu acho que é ao contrário até, você permite que continue tendo um desenvolvimento econômico de uma maneira em todos possam participar eu acho que até é mais possível a participação comunitária. Diferente de quando você começa a ser proibido de fazer um monte de coisa. Eu acho que a APA é uma das unidades de conservação mais difíceis de saírem do papel, mas se sair vai ser um, eu acho que é a que mais pode funcionar (ASSEMBLEIA DO IRURAMA, 2005, p. 53).

Desta forma, se percebe que a conscientização e o esclarecimento de dúvidas como as apresentadas no QUADRO 14 são importantes para que a APA não fique só no papel, evite- se conflitos e conquiste a participação dos principais interessados na conservação dos recursos naturais, aumentando assim, como visto no QUADRO 15 as suas expectativas. Só assim, a comunidade local vai se sentir responsável e disposta a atuar em prol da implantação e manutenção de uma APA. Tais esclarecimentos de dúvidas e motivação das comunidades, foi buscado pelos representantes do ISAM, com a realização da Assembléia do Irurama. Assembléia que tem como relevante à presença de todas as comunidades do Eixo Forte, na participação de 178 pessoas que saíram motivadas a conhecer mais sobre a APA – Alter do

Chão, impulsionar mudanças no Decreto que criou a APA, na qual a mais importante é sua ampliação para toda a região do Eixo Forte e, dar continuidade as ações relevantes para a implantação da APA – Alter do Chão: continuação da sensibilização das comunidades e preparação para a escolha do Conselho Gestor da APA, através de um Grupo de Trabalho, escolhido pelas comunidades, como ações imediatas.

QUADRO 14: Principais Dúvidas sobre a APA – Alter do Chão

• Proibição do uso dos recursos naturais (extrair açaí, plantar, caçar) • Traz desenvolvimento ou impedimento?

• Se pode ser administrada pelo governo Estadual ou Federal

• Vantagens quanto a administração Federal, Estadual ou Municipal • Número total de comunidades da APA – Alter do Chão

• Existência do Projeto de Lei

• Vantagens, benefícios e forma de organização de uma APA • Se facilita a regularização de terras

• Diferença de APA e assentamento na legalização das terras • Se assentamento pode estar dentro de uma APA

• Atividades que podem ser feitas na APA

• Se pode ter utilização por família (O morador continua dono da terra?) • Se a comunidade pode escolher estar ou não na APA

Fonte: ISAM, 2005

QUADRO 15: A Expectativa das Comunidades do Eixo Forte com Relação a APA

• Sensibilização, mobilização das comunidades do Eixo Forte; • Organização das comunidades;

• Envolver todas as comunidades do Eixo Forte; • Mais esclarecimento sobre APA;

• Benefícios para os moradores e garantias dos direitos; • Continuidade do projeto pelo governo municipal;

• Fortalecer grupo gestor da comunidade para ter autonomia; • Fortalecer a AMEIFOR para orientar e contribuir com a APA; • Ampliar representação das comunidades na AMEIFOR; • Melhorar ações de fiscalização ambiental;

• Reflorestamento obrigatório para quem causar desmatamento; • Ter projetos para a melhoria da vida dos moradores;

• Propiciar titulação de terra definitiva aos comunitários;

• Garantir infra-estrutura e serviços (estradas, energia, transporte, educação); • Melhoria nas políticas públicas;

• Preservação das áreas das comunidades;

• Preservação dos rios, igarapés e lagos (ações urgentes de recuperação); • Trabalho junto aos banhistas para o cumprimento da legislação ambiental; • Envolver banhistas nas discussões.

Todas as informações que foram aqui expostas tiveram a finalidade de apresentar a região do Eixo Forte e as visões que os membros das comunidades dessa região têm sobre a mesma e sobre o processo de criação da APA Alter do Chão. A forma como foram abordadas tais informações está simplificada e colocada de modo descritivo para atender os objetivos de apresentar a respectiva região, sua realidade e a sua forma de organização. Com isso, muitas questões como os conflitos fundiários, de organização comunitária e políticos não estão aprofundados. Esta foi uma opção frente à temática aqui abordada e frente à dificuldade de encontrar materiais consistentes que viabilizassem tal discussão. Portanto, a opção foi antes por identificar e descrever os processos que dizem respeito à criação da APA – Alter do Chão do que os demais temas que neste estudo são apenas citados e reconhecidos.

No próximo capítulo, serão apresentadas as origens e os caminhos do processo de criação da APA – Alter do Chão. O interessante é que, como a maioria das UC’s, criadas no Brasil, irá se perceber que a APA – Alter do Chão, em sua criação, segue em processo lento. Isto de forma nenhuma pode ser visto como algo totalmente negativo, pois a estratégia de criação de UC’s como uma política ambiental requer participação, aceitação e comprometimento de todos os setores envolvidos, o que requer tempo, paciência e vontade daqueles que estão dispostos a ver uma UC implantada, gerando benefícios e avanços na relação sociedade-natureza. Ser uma política de médio e longo prazo não minimiza seu valor, desde que isso tenha o objetivo de realmente implantá-la. A grande questão, como se verá mais adiante, é que nem sempre, no que tange à criação de UC’s, o processo se dá de forma harmônica, com interação dos setores envolvidos.

Na maioria dos casos, a ‘demora’ em criar ou implantar representa descaso, falta de capacidade e/ou falta de prioridade. Com o processo de criação da APA – Alter do Chão não foi diferente, em um dado momento, isso tudo aconteceu. Contudo, como todo processo democrático, existem aqueles que não desistem e, aqui, algumas lideranças comunitárias foram esses atores, persistiram e fazem com que, mesmo com altos e baixos, a continuação do processo de criação da APA saia do papel, com a participação do maior número daqueles que estão envolvidos diretamente. Um exemplo que as UC’s de Uso Sustentável, e mais especificamente as APA’s, enquanto uma política pública ambiental pode ser vista diferentemente do convencional que é ser uma ação inteiramente das esferas governamentais. Um exemplo de que esta política começa a ser vista como alternativa, por parte das populações tradicionais, que não impede o bem-estar e a busca do desenvolvimento local.

CAPÍTULO III

A CRIAÇÃO DA APA – ALTER DO CHÃO:

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