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Desenvolvimento(s) da formac¸˜ao inicial

No documento A investigação sobre turismo em Portugal (páginas 74-76)

3.2 Evoluc¸˜ao da formac¸˜ao superior sobre Turismo

3.2.1 Desenvolvimento(s) da formac¸˜ao inicial

Embora seja poss´ıvel remontar as origens da formac¸˜ao tur´ıstica `a abertura da Escola de Ho- telaria de Lausanne (Su´ıc¸a) em 1893 ou `as universidades de Zagreb (Cro´acia) ou Cornell (EUA) – j´a nas d´ecadas de 1920 e 1930, respectivamente – a formac¸˜ao superior sobre Tu- rismo n˜ao se concretizou sen˜ao na d´ecada de 1960, nos EUA: inicialmente incorporada nos curriculade gest˜ao hoteleira – indiciando uma func¸˜ao instrumental – rapidamente permeou programas e departamentos de Gest˜ao, Recreio e outras ciˆencias sociais ou cognatas (Ja- fari, 1990: 37; Vukonic, 1995: 4; Johnson, 1998: 74). Em meados da mesma d´ecada emerge tamb´em no Reino Unido, agora no seio da Geografia e da Economia1, para se extender, j´a

no in´ıcio da d´ecada de 1980, a outras disciplinas sociais e humanas, como a Antropologia ou a Gest˜ao (Botterill, 2002: 71; Botterill et al., 2002: 284)

N˜ao obstante, a formac¸˜ao inicial espec´ıfica nesta ´area s´o surgiria no Reino Unido em me- ados da d´ecada de 1980, nos institutos de Bournemouth, Northumbria e South Glamorgan (ano lectivo 1986/1987), tendo evolu´ıdo de duas formas bem distintas: enquanto as universi- dades mais provectas tenderam a incorpor´a-lo como uma especialidade ou subconjunto das disciplinas com cr´editos j´a bem firmados na tradic¸˜ao acad´emica (Economia, Geografia ou Antropologia), os estabelecimentos polit´ecnicos (promovidos `a condic¸˜ao de “universidades novas” a partir de 1992) desenvolveram uma oferta formativa t´ecnica e aplicada, assim res- pondendo `a carˆencia por profissionais qualificados (Airey, 2005: 15; Botterill e Gale, 2005: 470; Flohr, 2001: 509).

Durante a d´ecada de 1990, o desenvolvimento desta oferta formativa ficou marcado por (Ai- rey, 2005: 16-8):

- extens˜ao curricular al´em do dom´ınio vocacional, devida quer `a crescente percepc¸˜ao para a necessidade da formac¸˜ao para responder `a multiplicidade de efeitos relaciona- dos com o desenvolvimento tur´ıstico, quer `a mobilizac¸˜ao de acad´emicos e investigado- res de ´areas cada vez mais diversas; e

- popularidade conseguida pela formac¸˜ao complementar sobre Turismo ao n´ıvel do en- sino secund´ario (16-18 anos).

Entre os factores que favoreceram esta evoluc¸˜ao contam-se (Airey e Johnson, 1998: 8): - a pol´ıtica educativa, visando a expans˜ao do ensino superior e a sua orientac¸˜ao vocaci-

onal;

1Denotando uma evoluc¸˜ao similar `a do Lazer e do Recreio, primeiro pela Geografia, logo seguida pela Sociologia

- a percepc¸˜ao do Turismo como um sector em crescimento e gerador de emprego; - a modularidade dos programas de estudo, menos dispendiosos de instituir comparati-

vamente com outras ´areas cient´ıficas e disciplinas mais estabelecidas; e

- a popularidade granjeada pelos cursos sobre Turismo junto dos potenciais estudantes.

As evoluc¸˜oes registadas na Austr´alia e na Nova Zelˆandia denotam similaridades com a ocor- rida no Reino Unido2, nomeadamente no que se refere `a natureza institucional de acolhi-

mento. Os anos mais recentes ficam, contudo, caracterizados pela reduc¸˜ao e progressiva especializac¸˜ao da oferta formativa australiana, depois da proliferac¸˜ao verificada na d´ecada de 1990, enquanto que a oferta formativa neo-zelandesa vem evidenciando uma expans˜ao mais moderada (King e Craig-Smith, 2005: 115-7).

J´a no Brasil, o desenvolvimento neste n´ıvel formativo evidencia dissimilitudes significativas relativamente aos casos europeu e norte-americano: surgido em 1971 atrav´es de um curso espec´ıfico3(e n˜ao como m´odulo de cursos noutras ´areas), precedeu a oferta na ´area da hos-

pedagem, surgida somente em 1978 (Leal e Padilha, 2005: 125). O acentuado crescimento verificado nos ´ultimos anos ficou a dever-se, maioritariamente, `a expans˜ao do sector privado, consonante com idˆentica evoluc¸˜ao sucedida `a escala nacional (Ramos e Garcia, 2006: 5).

`A semelhanc¸a do sucedido com o pr´oprio Turismo, a evoluc¸˜ao da respectiva formac¸˜ao su- perior inicial pode reputar-se, em termos num´ericos, nada menos que fenomenal. No Reino Unido, o crescimento da oferta formativa inicial atingiu os 142% em apenas quatro anos, pas- sando dos 31 cursos em 19964 para os 75 em 2000 (Botterill, 2002: 71). Na Austr´alia, o

crescimento foi igualmente expressivo, passando de 15 cursos em 1989, para 32 em 1995 e 95 em 2004 (King e Craig-Smith, 2005: 115). J´a no Brasil, a oferta total de cursos de formac¸˜ao inicial em 2005 foi estimada em 697, quando em 1994 eram apenas 41 (Ramos e Garcia, 2006: 5). Embora representando uma medida indirecta, Xiao reportou, relativamente `a China, um crescimento significativo do n´umero de instituic¸˜oes superiores com cursos de Turismo, de 102 em 1993, para 192 em 1997 (Xiao, 2000: 1053).

Ainda que projectando um ponto de vista britˆanico, Airey atribuiu o significativo crescimento da oferta formativa sobre Turismo a uma conjugac¸˜ao de factores (Airey, 2005: 13-5):

- ao dram´atico crescimento do pr´oprio Turismo, sobretudo a partir da d´ecada de 1960;

2Ainda que a australiana a preceda, datando do in´ıcio da d´ecada de 1970 nas universidades de Victoria e Que-

ensland (King e Craig-Smith, 2005: 115).

3Na Faculdade de Turismo do Morumbi, em S˜ao Paulo (Leal e Padilha, 2005: 125).

- `a expans˜ao da oferta formativa superior sobre Turismo, em particular a de cariz vocaci- onal; e

- `a intensa concorrˆencia entre instituic¸˜oes de ensino superior no recrutamento de alunos, em func¸˜ao de alterac¸˜oes nos enquadramentos financeiro e regulamentar.

A rapidez e a escala da expans˜ao desta oferta formativa despertou, no Reino Unido, inter- rogac¸˜oes quanto `a solidez e ao rigor acad´emico dos respectivos conte´udos curriculares, ali- mentando o debate a prop´osito da adequabilidade do estudo do Turismo ao n´ıvel da formac¸˜ao inicial e uma apreens˜ao relativamente `a efectiva capacidade de assimilac¸˜ao pelo mercado de trabalho, al´em de uma tens˜ao entre as vertentes acad´emica e vocacional dos programas de estudo (Airey e Johnson, 1998: 8; Airey, 2005: 19).

Com base na an´alise da oferta formativa inicial sobre Turismo, Airey e Johnson salientaram a correspondente natureza vocacional, alicerc¸ada numa orientac¸˜ao para a gest˜ao empresarial, quando considerados a denominac¸˜ao5, a localizac¸˜ao intra-institucional6 ou ainda os objec-

tivos declarados7 (Airey e Johnson, 1998: 3-4). Middleton e Ladkin j´a haviam destacado o

predom´ınio feminino na candidatura entre 1993 e 1995, de 75% contra 25% de homens (Mid- dleton e Ladkin, 1996: 5).

No desenvolvimento do ensino tur´ıstico, Airey alerta para dois tipos de riscos a considerar (Airey, 2005: 22): a continuidade de um perfil demasiado vocacional, pouco mais do que um reflexo do mundo do trabalho; e a ruptura com o sector associado, um dos seus principais fundamentos.

No documento A investigação sobre turismo em Portugal (páginas 74-76)