• Nenhum resultado encontrado

O sistema de ensino superior e a comunidade cient´ıfica portuguesa

No documento A investigação sobre turismo em Portugal (páginas 79-83)

3.3 Contexto portuguˆes de formac¸˜ao superior sobre Turismo

3.3.1 O sistema de ensino superior e a comunidade cient´ıfica portuguesa

No seu mais recente enquadramento (Lei n.o62/2007, de 10 de Setembro), o ensino superior

portuguˆes compreende entidades p´ublicas e privadas que tˆem como objectivo principal a qualificac¸˜ao de alto n´ıvel dos portugueses, a produc¸˜ao e difus˜ao do conhecimento, bem como a formac¸˜ao cultural, art´ıstica, tecnol´ogica e cient´ıfica. A rede de estabelecimentos existente configura um sistema bin´ario, composto por instituic¸˜oes de ensino:

Universit´ario, orientadas para a criac¸˜ao, transmiss˜ao e difus˜ao da cultura, do saber e da ciˆencia e tecnologia, atrav´es da articulac¸˜ao do estudo, do ensino, da investigac¸˜ao e do desenvolvimento experimental; e

Polit´ecnico, orientadas para a criac¸˜ao, transmiss˜ao e difus˜ao da cultura e do saber de natu- reza profissional, atrav´es da articulac¸˜ao do estudo, do ensino, da investigac¸˜ao orientada e do desenvolvimento experimental.

Embora abarque todo o territ´orio nacional, a actual composic¸˜ao da rede de ensino superior evidencia significativas assimetrias regionais (GPEARI/MCTES, 2008a): a Regi˜ao de Lisboa e Vale do Tejo representa por si s´o 40,4% das instituic¸˜oes13, enquanto as duas grandes ´areas

metropolitanas (Lisboa e Porto) ascendem aos 59,6% e o conjunto formado pelas regi˜oes de Lisboa e Vale do Tejo, Norte e Centro amplia aquele valor para uns expressivos 89,7%.

13Estabelecimentos com c´odigo institucional pr´oprio (identificativo junto da Direcc¸˜ao-Geral do Ensino Superior

(DGES)), i. ´e, n˜ao directamente dependentes de outro estabelecimento e incluindo os estabelecimentos de ensino superior militar e policial.

Tabela 3.1: Distribuic¸˜ao regional das instituic¸˜oes de ensino superior em Portugal

Sector Subsistema

Regi˜ao NUTS II P´ublico Privado Universit´ario Polit´ecnico Subtotal

Norte 8 40 17 31 48

Centro 9 15 9 15 24

Lisboa e Vale do Tejo 19 40 29 30 59

Alentejo 4 3 4 3 7

Algarve 1 3 3 1 4

Madeira 1 2 1 2 3

Ac¸ores 1 0 1 0 1

Total 43 103 64 82 146

Fonte: GPEARI/MCTES (2008a).

O car´acter “litoralizado” do pa´ıs afigura-se evidente em boa parte destas constatac¸˜oes: 81,5% dos estabelecimentos de ensino superior em Portugal situam-se nos distritos da faixa litoral entre Viana do Castelo e Set´ubal (inclusive) ou Faro, proporc¸˜ao que aumenta para os 84,4% no subsistema universit´ario ou para os 85,4% no sector privado; inversamente, a m´edia dos estabelecimentos localizados em ´areas ”interiores”(18,5%) ´e superada no subsistema po- lit´ecnico (20,7%) e pelo sector p´ublico (27,9%).

Tabela 3.2: Assimetria na localizac¸˜ao das instituic¸˜oes de ensino superior em Portugal

Sector Subsistema

Localizac¸˜ao P´ublico Privado Universit´ario Polit´ecnico Subtotal

“Litoral” 31 88 54 65 119

“Interior” 12 15 10 17 27

Total 43 103 64 82 146

Fonte: GPEARI/MCTES (2008a).

A um n´ıvel mais espec´ıfico, as assimetrias tamb´em marcam presenc¸a quando considerado o sector de iniciativa: por oposic¸˜ao ao sector p´ublico (cujos estabelecimentos p´ublicos mar- cam presenc¸a em todos os distritos e regi˜oes aut´onomas), a rede do sector privado n˜ao abrange cinco daquelas unidades administrativas (Castelo Branco, ´Evora, Guarda, Portale- gre e Ac¸ores). J´a quanto `a modalidade institucional adoptada, o subsistema universit´ario s´o n˜ao figura em trˆes unidades administrativas (Castelo Branco, Guarda e Portalegre), onde apenas o subsistema polit´ecnico se faz representar, atrav´es do sector p´ublico.

Tabela 3.3: Distribuic¸˜ao subregional das instituic¸˜oes de ensino superior em Portugal

Sector Subsistema

Subregi˜ao P´ublico Privado Universit´ario Polit´ecnico Subtotal

Aveiro 1 6 1 6 7 Beja 1 2 2 1 3 Braga 2 5 2 5 7 Braganc¸a 1 4 2 3 5 Castelo Branco 1 0 0 1 1 Coimbra 3 5 6 2 8 ´Evora 1 0 1 0 1 Faro 1 3 3 1 4 Guarda 1 0 0 1 1 Leiria 1 2 1 2 3 Lisboa 16 35 24 27 51 Portalegre 1 0 0 1 1 Porto 3 25 11 17 28 Santar´em 2 2 1 3 4 Set´ubal 3 6 5 4 9 Viana do Castelo 1 1 1 1 2 Vila Real 1 1 1 1 2 Viseu 1 4 1 4 5 Madeira 1 2 1 2 3 Ac¸ores 1 0 1 0 1 Total 43 103 64 82 146

Fonte: GPEARI/MCTES (2008a).

O perfil trac¸ado por Jesu´ıno sobre a comunidade cient´ıfica portuguesa apontava para uma comunidade jovem e recente, evidenciando homogeneidade tanto nas suas origens e es- tratificac¸˜oes, como nos seus comportamentos, atitudes e expectativas. O estudo realizado colocava o pa´ıs na linha de fundo quando comparado com os seus cong´eneres internacionais e reflectia, segundo aquele, a posic¸˜ao semiperif´erica do pa´ıs, a que acrescia a falta de inves- timento na investigac¸˜ao, consequˆencia do parco desenvolvimento econ´omico verificado em d´ecadas anteriores. Ao reduzido n´umero de investigadores (particularmente nas empresas) em equivalˆencia a tempo integral (ETI) - quatro vezes inferior `a m´edia europeia, segundo o autor - somava-se o escasso investimento em investigac¸˜ao, em termos de proporc¸˜ao do produto interno bruto (PIB). Esta comunidade caracterizava-se igualmente por significativas assimetrias: se em termos institucionais a maior parte dos investigadores se concentrava nas universidades (82,4%), em termos geogr´aficos mais de 50% da amostra foi localizada na Regi˜ao de Lisboa e Vale do Tejo (contra uns meros 4,2% respeitantes ao agregado composto por Alentejo, Algarve e ilhas); por sexo, os homens representavam 64%, o que contribu´ıa para interpretar a persistˆencia de desigualdades na progress˜ao na carreira e no acesso `a coordenac¸˜ao e gest˜ao da ciˆencia, em desfavor das mulheres (Jesu´ıno, 1995).

No que `as pr´aticas cient´ıficas dizia respeito, o relativo isolamento dos cientistas portugue- ses manifestava-se numa menor dedicac¸˜ao `a investigac¸˜ao - em func¸˜ao da respectiva carga docente - quando comparados com alguns dos seus hom´ologos estrangeiros; j´a em termos de produtividade a apresentac¸˜ao de comunicac¸˜oes em encontros cient´ıficos representava a maior parcela (o dobro da publicac¸˜ao em revistas nacionais e o triplo da publicac¸˜ao em re- vistas internacionais). Concomitantemente, os modestos resultados ao n´ıvel das citac¸˜oes em trabalhos cient´ıficos internacionais14e uma escassa participac¸˜ao em conferˆencias inter-

nacionais atestavam uma saliˆencia pouco expressiva na comunidade cient´ıfica internacional. Al´em disso, a menor apetˆencia pela inovac¸˜ao reflectia-se na baixa prioridade atribu´ıda `as novas ´areas de pesquisa, reforc¸ada pela importˆancia atribu´ıda ao orientador cient´ıfico na proposic¸˜ao de projectos (s´o debelada no topo da carreira). J´a quanto ao clima de trabalho, a investigac¸˜ao constitu´ıa uma importante fonte de satisfac¸˜ao intr´ınseca, conjugada com a colaborac¸˜ao em equipa, a atmosfera informal e o elevado igualitarismo, representativos de pr´aticas de consulta e formac¸˜ao de consensos (Jesu´ıno, 1995).

Em termos de identit´arios, esta comunidade representava-se como um grupo sujeito ao exi- gente controlo pelos seus pares, para quem as motivac¸˜oes intr´ınsecas poderiam compensar a exiguidade das recompensas materiais ou “os particularismos a que est˜ao sujeitas as es- colhas e a falta de comunicac¸˜ao e transparˆencia que muitas vezes caracteriza as relac¸˜oes entre os membros” (Jesu´ıno, 1995: 184). Assumindo-se primordialmente como docentes universit´arios, revelavam uma tendˆencia acentuada para reconhecer maior cientificidade `a pr´opria ´area do que as restantes ´areas lhe atribu´ıam: num extremo, os inquiridos associados `as ciˆencias naturais e exactas reivindicavam para si maior pendor cient´ıfico em comparac¸˜ao com as restantes, de quem eram cr´ıticos; no outro, os que se representavam nas ciˆencias sociais e humanas concediam mais facilmente um estatuto cient´ıfico aos outros campos, n˜ao abdicando de reclamar para si uma cientificidade superior `a que as restantes ´areas lhe re- conheciam. Como resultado, esta comunidade apresentava-se como uma constelac¸˜ao de campos disciplinares com fronteiras mal definidas, onde a comunicac¸˜ao se processava so- bretudo no interior de cada disciplina, enquanto a comunicac¸˜ao interdisciplinar, porventura suficiente, era escassa.

14Com apenas 4,4% da amostra referindo mais de 100 citac¸˜oes, 1,5% com 75 a 100 citac¸˜oes e tamb´em 1,5%

3.3.2 Enquadramento jur´ıdico da formac¸˜ao p ´os-graduada em Portugal

No documento A investigação sobre turismo em Portugal (páginas 79-83)