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Perspectivas tem´aticas

No documento A investigação sobre turismo em Portugal (páginas 64-66)

2.3 Condic¸˜ao da investigac¸˜ao contemporˆanea sobre Turismo

2.3.2 Perspectivas tem´aticas

No curso dos ´ultimos anos, v´arios autores debruc¸aram-se sobre a investigac¸˜ao desenvolvida em (sub)´areas muito concretas do Turismo. Os resultados que agora se ilustram atestam n˜ao s´o realidades e evoluc¸˜oes distintas, mas tamb´em as saliˆencias tem´aticas e metodol´ogicas patentes e antecipadas.

Ladkin, por exemplo, reconheceu seis temas no conjunto da investigac¸˜ao realizada sobre os gestores hoteleiros: trabalho de gest˜ao; carreiras; caracter´ısticas de personalidade; respon- sabilidades funcionais, qualificac¸˜oes e competˆencias; mulheres como gestoras hoteleiras; e temas emergentes. Constituindo um acervo consider´avel sobre a natureza e caracter´ıstica da profiss˜ao e o tipo de pessoas que a desempenham, nomeadamente as mais bem suce- didas, aquela autora observou reduzida interacc¸˜ao entre as diferentes linhas de pesquisa, cujas abordagens variavam significativamente (teoria vs. pr´atica). Como temas a considerar futuramente, sugeriu: a an´alise da forma como capacidades e competˆencias s˜ao desenvolvi- das e acumuladas; a mobilidade como factor de sucesso; ou as barreiras `a progress˜ao das mulheres na carreira (Ladkin, 1999: 167, 187-8).

Relativamente ao turismo urbano, Pearce alertou para a necessidade de uma abordagem mais sistem´atica, compreendendo diferentes escalas: apesar da utilidade do contributo pres- tado pelos estudos de n´ıvel local (na identificac¸˜ao de caracter´ısticas urbanas e na integrac¸˜ao de temas), esta escala de an´alise revela-se insuficiente para desvendar todas as complexi- dades do turismo urbano, sendo poss´ıvel considerar diversas tipologias de bairros tur´ısticos e redes interligac¸˜ao comuns, em termos dos respectivos factores causais, estrutura e funci- onamento. Complementarmente, a quase inexistˆencia de trabalhos baseados em locais con- cretos sinaliza a escassez de pesquisa ao n´ıvel micro, enquanto a focalizac¸˜ao nas conex˜oes entre os n´ıveis regional, nacional e internacional ressalta duas tipologias de estudo, uma mai- oritariamente funcional e outra mais te´orica. Propondo uma perspectiva mais ampla e inte- grativa da investigac¸˜ao do turismo urbano, o autor defende mais esforc¸o no sentido da s´ıntese dos estudos existentes, da definic¸˜ao de abordagens de pesquisa envolvendo diferentes me- todologias, da utilizac¸˜ao e combinac¸˜ao de diferentes fontes de dados e na interpretac¸˜ao dos resultados mediante diferentes ´opticas (Pearce, 2001: 940-1). Quanto `a definic¸˜ao de uma agenda investigativa pr´opria, Edwards et al. salientam a ˆenfase colocada pelo sector tur´ıstico

nos assuntos que melhor servem os seus interesses, enquanto os assuntos relacionados com os impactos – predominantes entre acad´emicos – s´o s˜ao reconhecidos no que se refere `a identificac¸˜ao dos benef´ıcios do Turismo para as comunidades locais (Edwards et al., 2008: 1049).

No campo da Hospedagem ´e reivindicada uma pausa para reflex˜ao – ap´os o significativo pro- gresso verificado nas ´ultimas d´ecadas – que possibilite: aferir o verdadeiro valor cient´ıfico dos resultados obtidos; precaver a emulac¸˜ao de investigac¸˜ao e a perpetuac¸˜ao de conhecimento; desligar da focalizac¸˜ao no funcionalismo e da dedicac¸˜ao ao mundo do trabalho; estabele- cer uma clara (embora n˜ao ortodoxa) definic¸˜ao e uma delimitac¸˜ao do ˆambito do campo de estudos; fomentar o n´ıvel de coerˆencia interna; situar a Hospedagem como um campo de estudos especializado num ˆambito investigativo mais vasto; e contribuir para a definic¸˜ao de futuras agendas investigativas. Do debate em curso, resultavam as seguintes conclus˜oes: a precis˜ao na definic¸˜ao era suficientemente liberal no sentido da investigac¸˜ao da Hospedagem simultaneamente enquanto neg´ocio e fen´omeno cultural; a filosofia de investigac¸˜ao articu- lada contemplava a Hospedagem como um campo de estudos distinto, situado num ambiente dinˆamico, sist´emico e multidisciplinar de ciˆencias sociais; adequada capacitac¸˜ao dos inves- tigadores em termos formativos, de sensibilidade metodol´ogica e experiˆencia; e conjugac¸˜ao dos factores anteriores na construc¸˜ao de um enquadramento conceptual v´alido (Morrison, 2002: 167-8).

J´a no que se refere ao ecoturismo, Weaver e Lawton salientaram trˆes macro-temas na corres- pondente publicac¸˜ao cient´ıfica durante a d´ecada anterior: segmentac¸˜ao e expans˜ao17desta

´area, na sequˆencia de um quase consenso sobre o seu teor nuclear; tentativa de discer- nimento sobre os impactos do ecoturismo; e contraste Norte-Sul (bem como entre pa´ıses desenvolvidos e pa´ıses em vias de desenvolvimento) na bibliografia. Complementarmente, notaram a escassez de representac¸˜ao de temas como: o greenwashing18; as acc¸˜oes e a

influˆencia institucional; o controlo de qualidade e os indicadores associados; o correspon- dente sector econ´omico; e a influˆencia de ambientes externos. Da´ı resultava uma literatura assim´etrica e fragmentada, desprovida de partilha da informac¸˜ao entre os diferentes t´opicos (at´e mesmo dentro de cada t´opico) e carecendo de estudos longitudinais ou pesquisa sobre resultados de investigac¸˜ao emp´ırica precedente. Ainda que o ecoturismo denotasse alguma “adolescˆencia”, n˜ao se entrevia a´ı qualquer crise de credibilidade ou legitimidade (Weaver e Lawton, 2007: 1175-6).

17Considerando produtos, instalac¸˜oes, actividades e mercados (Weaver e Lawton, 2007: 1175).

18Conceito relacionado com a fal´acia promocional que visa a veiculac¸˜ao de um suposto sentido ambientalista,

Quanto ao turismo desportivo, a inexistˆencia de uma perspectiva epistemol´ogica unificada e a reflexividade, auto-cr´ıtica e responsividade evidenciadas pelos investigadores que lhe s˜ao dedicados s˜ao exaltados como indicadores de uma maturidade crescente deste campo, a par de outros sinais complementares19. Para o futuro, esse processo poder´a comportar al-

gum “desconforto” em func¸˜ao da coexistˆencia de perspectivas e ideias concorrentes, bem como uma reflex˜ao relativamente `as forc¸as e fraquezas desta ´area de pesquisa em resposta a cr´ıticas e desafios externos (Weed, 2009: 625-6).

Afigura-se, deste modo, poss´ıvel concluir de uma evoluc¸˜ao quantitativa e qualitativa da in- vestigac¸˜ao mais especializada sobre Turismo, acompanhada por uma sensibilidade para as quest˜oes metodol´ogicas, na revis˜ao do passado recente e correspondente projecc¸˜ao futura.

No documento A investigação sobre turismo em Portugal (páginas 64-66)