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Perspectiva(s) da formac¸˜ao p´os-graduada

No documento A investigação sobre turismo em Portugal (páginas 76-79)

3.2 Evoluc¸˜ao da formac¸˜ao superior sobre Turismo

3.2.2 Perspectiva(s) da formac¸˜ao p´os-graduada

No desenvolvimento da formac¸˜ao p´os-graduada sobre Turismo8 ´e poss´ıvel discernir a in-

fluˆencia de um conjunto multidisciplinar de ciˆencias sociais, reflectindo igualmente a evoluc¸˜ao verificada em ´areas afins, como o Lazer, o Recreio e – ainda que a um nivel menos expres- sivo – a Hospedagem.

Isso mesmo atesta o caso britˆanico, onde o Turismo surgiu, nos finais da d´ecada de 1960, como objecto de estudo da Geografia (Universidade de Edimburgo), Planeamento Regional

5Com mais de um terc¸o dos cursos denominados de “Gest˜ao do Turismo” (Airey e Johnson, 1998: 3).

6Na sua maioria sedeados em departamentos de gest˜ao, servic¸os, hospedagem, hotelaria e catering (Airey e

Johnson, 1998: 3).

7Focalizados nas oportunidades de carreira ou nas perspectivas de emprego (Airey e Johnson, 1998: 4). 8Por mero crit´erio de simplicidade de abordagem, a formac¸˜ao p´os-graduada identifica-se aqui com os programas

e Urbano (Universidade de Birmingham) ou Sociologia (Universidade de Westminster), en- tre outras. No entanto, oferta de formac¸˜ao p´os-graduada espec´ıfica sobre Turismo remonta apenas ao in´ıcio da d´ecada de 1970 – no seio de departamentos que albergavam a gest˜ao hoteleira e de catering9, nas universidades de Strathclyde e do Surrey (1972) – antecipando

cerca de 15 anos a correspondente formac¸˜ao inicial. J´a na d´ecada de 1980, a procura desta modalidade de formac¸˜ao superior – `a altura considerada pelos decisores como priorit´aria no combate ao desemprego entre os mais qualificados – foi substancialmente impulsionada pela disponibilizac¸˜ao de avultados incentivos financeiros governamentais. Contudo, a retirada de tais apoios no in´ıcio da d´ecada de 1990 – reflexo de uma menor premˆencia do desemprego graduado na agenda pol´ıtica nacional – incitou as instituic¸˜oes `a procura de alternativas de financiamento, o que culminou numa reorientac¸˜ao generalizada para o recrutamento de alu- nos estrangeiros (Airey, 2005: 15; Botterill e Gale, 2005: 469-71).

J´a na d´ecada de 1990, a continuac¸˜ao do crescimento da oferta formativa p´os-graduada sobre Turismo na Gr˜a-Bretanha ´e atribu´ıda `a criac¸˜ao de unidades ou departamentos acad´emicos numa renovada comunidade universit´aria10, ao significativo investimento no recrutamento de

pessoal docente na ´area do Turismo e ao desenvolvimento de recursos educativos para o estudo do Turismo, conduzindo a uma praticamente inevit´avel e “natural” extens˜ao da capaci- dade instalada ao n´ıvel p´os-graduado. Apesar da dificuldade na sua contabilizac¸˜ao precisa, Flohr estimou uma oferta composta por 81 de cursos em funcionamento em 42 instituic¸˜oes no ano lectivo de 1999/2000 (Botterill e Gale, 2005: 471-2; Flohr, 2001: 506).

Na Europa Ocidental o aparecimento da formac¸˜ao p´os-graduada em diversos locais – como Roma e Turim, na It´alia, ou Aix-en-Provence, em Franc¸a – foi contemporˆaneo do verificado no Reino Unido, embora revele um car´acter distinto, herdeiro de uma corrente tradicional de estudos sobre o Lazer11. No decurso do p´os-guerra, v´arios pa´ıses lanc¸aram-se em projectos

modernistas de Lazer, subsidi´arios da construc¸˜ao de uma sociedade melhor, donde resulta- riam alguma investigac¸˜ao aplicada e um interesse acrescido pelo processo de planeamento do tempo de lazer. A sua conjugac¸˜ao com uma abertura, nestes pa´ıses, do ensino superior a novas ´areas facilitou a entrada dos estudos sobre o Lazer e o Turismo (Botterill e Gale, 2005: 470; Dartnall e Store, 1990: 51).

Relativamente aos EUA, o desenvolvimento verificado nas primeiras d´ecadas do s´eculo XX

9Ainda que cedendo ao estrangeirismo, opta-se aqui pela manutenc¸˜ao do termo original em inglˆes, porquanto a

correspondente traduc¸˜ao no sentido de restaurac¸˜ao se revela insatisfat´oria `a veiculac¸˜ao do conceito inerente.

10Entretanto libertada dos constrangimentos do planeamento centralizado (estatal) da oferta (Botterill e Gale,

2005: 471).

11Ideologicamente empenhada na educac¸˜ao das massas laborais acerca e para o Lazer e na prevenc¸˜ao de

´e tribut´ario da corrente europeia supra-referida, em mat´eria de estudos sobre o Lazer, e da emergˆencia da Educac¸˜ao F´ısica, o que se traduziu na criac¸˜ao de departamentos univer- sit´arios de Sa´ude, Educac¸˜ao F´ısica e Recreio. Embora presente em universidades como as do Hawai ou do Massachussets, na d´ecada de 1960 a formac¸˜ao p´os-graduada na ´area do Turismo (ou “viagens”, como era ent˜ao mais comum) tinha uma express˜ao muito reduzida, frequentemente limitada a algumas disciplinas de opc¸˜ao. Somente na d´ecada de 1990 ´e que os departamentos respons´aveis pelo ensino do Turismo, criados no nexo Sa´ude/Recursos naturais/Recreio, adoptariam o Turismo na respectiva denominac¸˜ao (Botterill e Gale, 2005: 470-1).

Contrastando com a dimens˜ao da oferta formativa inicial atr´as referida, a oferta formativa p´os-graduada brasileira caracteriza-se pela escassez, n˜ao excedendo cinco mestrados e dois doutoramentos entre 2003 e 200412, desta feita concentrados no sector p´ublico (`a semelhanc¸a

do padr˜ao verificado na oferta p´os-graduada a n´ıvel nacional). A explicac¸˜ao para esta situac¸˜ao parece residir no facto das instituic¸˜oes de ensino superior p´ublicas daquele pa´ıs congrega- rem a grande maioria dos docentes habilitados com p´os-graduac¸˜oes, afirmando-se assim mais habilitadas `a prossecuc¸˜ao da investigac¸˜ao e formac¸˜ao tamb´em ela p´os-graduada (Leal e Padilha, 2005: 127-8; Ramos e Garcia, 2006: 5-6).

Noutros pa´ıses ainda, como a Alemanha ou a Eslov´enia, o Turismo somente marca presenc¸a enquanto mat´eria de estudo de cursos de especializac¸˜ao inferiores ao mestrado, dirigidos aos profissionais do sector que ambicionem a progress˜ao na carreira ou a quem vise um doutoramento, centrando-se por isso em conte´udos curriculares relevantes para um contexto vocacional (Freyer et al., 2005: 188-9; Mihalic, 2005: 247). Em Espanha, Vera Rebollo as- sinalou tanto a novidade dos cursos de p´os-graduac¸˜ao (in´ıcio da d´ecada de 1980), como a desadequac¸˜ao da oferta, maioritariamente de especializac¸˜ao abaixo do mestrado e orientada para a gest˜ao hoteleira (Vera Rebollo, 1995: 18-20).

A prop´osito dos estudos p´os-graduados sobre Turismo, Botterill e Gale projectam trˆes tendˆencias a considerar no futuro pr´oximo, no que se refere a (Botterill e Gale, 2005: 475-9):

- Crescimento e consequˆencias decorrentes, traduzidas na disponibilidade de corpo do- cente qualificado, nos crit´erios de aferic¸˜ao da qualidade empregues e no efeito “norma- tivo” do financiamento com base na avaliac¸˜ao;

- A importˆancia global do Turismo e seu estatuto enquanto objecto de estudo, evidente na crescente proeminˆencia econ´omica e social que ressalta as tens˜oes entre uma per-

12Verificou-se aqui inexequ´ıvel uma medida consistente, com Ramos e Garcia (2006: 5) a referirem trˆes mestrados

formatividade economicista baseada na comodificac¸˜ao do ensino e a tradicional e muito estimada colegialidade acad´emica; e

- Internacionalizac¸˜ao (da sala de aula), que comporta uma possibilidade de desafio `a si- tuacionalidade (branca, de classe m´edia, masculina, angl´ofona, ocidental) do curr´ıculo p´os-graduado, ainda que questione igualmente as relac¸˜oes e os processos fundamen- tais ao ensino neste n´ıvel.

3.3 Contexto portuguˆes de formac¸˜ao superior sobre Turismo

No documento A investigação sobre turismo em Portugal (páginas 76-79)