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Ciclo do desenvolvimento de Rondônia: da Borracha, Estrada de Ferro, e Extração Mineral (1960) Extração Mineral (1960)

3.2 O processo de desenvolvimento territorial x colonização de Rondônia .1 A ocupação do Estado de Rondônia

3.2.2 Ciclo do desenvolvimento de Rondônia: da Borracha, Estrada de Ferro, e Extração Mineral (1960) Extração Mineral (1960)

Até os anos de 1960 a população e as atividades agrícolas de Rondônia estavam circunscritas às margens dos rios navegáveis e da lendária Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM). Ambas as áreas, de colonização contemporânea ao ciclo da borracha, estão situadas ao norte do estado. Nestas paragens existia uma agricultura de subsistência e a criação de pequenos animais que geravam algum excedente consumido pelos dois únicos núcleos urbanos existentes: a capital do território, Porto Velho e Guajará-Mirim, sede do segundo município, ambas situadas

nos pontos extremos da via férrea. Esta última, na fronteira com a Bolívia, de onde provinha o suprimento de proteína animal à população da capital, através EFMM (SOUZA et al. 2008).

A construção da ferrovia visava ligar as bacias do Rio Guaporé, Mamoré e Beni às navegações livres dos Rios Madeira e Amazonas, até alcançar o Oceano Atlântico, contornando o trecho de 19 cachoeiras existentes entre Guajará-Mirim e Santo Antonio, hoje a cidade de Porto Velho, criando condições para exploração, transporte e comercialização das riquezas minerais e florestais da região (DANNEMANN, 2006).

A exploração extrativista da borracha proporcionou grande desenvolvimento às cidades de Manaus e Belém. Como de costume, as vantagens econômicas não chegavam ao trabalhador primário – o seringueiro. Eram desfrutadas pelos patrões, pelos intermediários do sistema, principalmente pelos encarregados da comercialização. A regra era os seringueiros na mata, isolados dos centros comerciais, explorados ao extremo, sempre dependentes do seringalista, mal alojados, mal remunerados. Já os seringalistas, instalados em Manaus e Belém, obtinham altos lucros assumindo a organização da exploração, transporte e comercialização dos produtos de regra destinados à exportação (OLIVEIRA, 2010).

Segundo Oliveira (2010), a conclusão da Ferrovia Madeira Mamoré em 1912 coincidiu com a crise do principal produto econômico da região, a queda do preço da borracha no mercado internacional. Os altos custos de extração do látex da Amazônia inviabilizavam sua exportação, frente à oferta da borracha produzida a baixo custo nos seringais cultivados nas colônias inglesas da Àsia, destacando-se a Malásia e Cingapura.

A atividade econômica mais significativa era o extrativismo da borracha e da castanha-do-pará, como regra as principais atividades econômicas com valor de exportação para toda Região Amazônica. Esses dois produtos, complementados secundariamente pelo comércio de peles de animais silvestres, concentravam as trocas comerciais compreendidas entre a região do Alto Madeira/Mamoré/Guaporé e Rio Abunã e as praças de Manaus e Belém (SOUZA et al. 2008). Para Oliveira (2010), a ferrovia chegou tarde para a borracha dos seringais nativos nacionais e bolivianos, considerando, assim, o fim do primeiro ciclo econômico, da borracha.

Outro ciclo econômico no estado foi o mineral com a descoberta de jazidas de cassiterita no norte de Rondônia durante os anos de 1950. Representa um dos

motivos essenciais da construção da estrada Cuiabá-Porto Velho, única ligação terrestre de toda a Amazônia ocidental ao centro do país. Teve início sob o governo Kubitschek e termina em meados dos anos de 1960 (LEAL, 1984 apud COY, 1988).

Segundo Souza et al. (2008, p.16), na década de 1960, com a descoberta de minério de estanho, e na década de 1970 a descoberta de ouro no leito do Rio Madeira, inicia-se um novo ciclo econômico em Rondônia. [...] Nessa década também ocorre um grande fluxo migratório para a região, facilitada pela abertura da BR-364, elevando a demanda por alimentos de primeira necessidade. As atividades mineradoras foram responsáveis pelas primeiras levas significativas de imigrantes, após um período de estagnação de mais de 50 anos, transcorridos desde a construção da ferrovia em 1912 até o período áureo da extração da borracha nativa.

O próximo ciclo econômico está relacionado com a ocupação e colonização do Estado pela implantação de projetos do Governo Federal através do INCRA como gestor.

3.2.3 Ocupação das Terras/Produção Agrícola - 1970 a 1990 - Programas de Colonização do Estado: PICs, PAD e os NUARs

Os agricultores e suas famílias vieram para Rondônia e com o incentivo e apoio governamental, instalaram-se nos lotes demarcados pelo INCRA. Já no primeiro ano retiram a cobertura florestal de uma fração do terreno para o plantio de arroz, feijão e milho para suprir as necessidades de alimentação da família e geração de algum excedente. Antes, porém, vendem para as serrarias a madeira de valor comercial existente nos lotes (SOUZA et al. 2008).

Os primeiros projetos de colonização do estado foram implantados nas décadas de 1970 e 1980, com apoio do INCRA que realizou a implantação de projetos oficiais de colonização nas terras do então Território Federal de Rondônia.

A partir de 1970 o Governo Federal implanta Projetos de Colonização em Rondônia, gerenciados pelo INCRA alterando a maior parte da estrutura de posse e uso da terra por meio da substituição de grandes áreas de seringais nativos por um novo contexto fundiário, inserindo a “fronteira agrícola” no sistema produtivo nacional com grande incentivo para a pecuária bovina (FIATEC, 2007).

De acordo com o Fórum de Implementação das Ações do Território Central de Rondônia (FIATEC), os principais fatores que caracterizaram o tipo de ocupação que ocorreu em Rondônia entre 1970 e 1990 - maior crescimento populacional -, foram:

 O aumento da ocupação rural pela atividade agropecuária, refletindo o abandono do padrão típico Amazônico que era característico até 1960, provocando uma explosão da exploração predatória do extrativismo vegetal com corte raso das florestas para o preparo da área e exploração de madeiras de lei (madeiras nobres);

 Formação de um eixo econômico ao longo da BR-364, na parte central do Estado, com a perda da importância da ocupação ribeirinha. Ganham importância as cidades surgidas em função dos Projetos de Colonização, como Ouro Preto do Oeste, Cacoal, Jaru, Rolim de Moura e Ariquemes;

 Avanço sobre o Vale do Guaporé, no sentido de Costa Marques via, BR-429, com o surgimento de novos núcleos populacionais;

 A partir de 1985, inverte-se o fluxo com os migrantes, que passam a procurar mais as áreas urbanas e a ocupação no setor secundário e terciário da economia;

 A área ocupada com imóveis rurais que correspondia, em 1970, a 7% atinge em 1991 cerca de 57% da área territorial de Rondônia.

A atuação do INCRA no processo de colonização em Rondônia na década de 1970 deu-se por meio da implantação dos projetos: Projeto Integrado de Colonização (PIC), Projeto de Assentamentos Dirigidos (PAD) e Projeto de Assentamento (PA), em diversas regiões do território rondoniense, dando origem ao desenvolvimento das vilas e povoados (FIATEC, 2007).

No PIC, o processo de assentamento era feito pelo INCRA, sendo de sua responsabilidade a distribuição de terras, a implantação de infraestrutura, de administração, realização de assentamentos e titularização dos beneficiários, promover a assistência técnica, o ensino, a saúde e a previdência social, a habitação rural, a empresa cooperativa, o crédito e a comercialização.

No PAD, o colono deveria ter um pouco de conhecimento agrícola, e experiência com crédito bancário. Esta colonização tinha como objetivo a integração do Oeste ao resto do país e era uma saída para o governo federal retirar as pessoas do Sul e Sudeste que se encontravam sem terras (AMARAL, 1994).

Nos projetos do PAD, o INCRA assumiu responsabilidades de organização territorial e implantação da infraestrutura. Selecionou e assentou os beneficiários e

os parceleiros desses projetos, que deviam ser mais especializados que um trabalhador sem terra; precisa ter um mínimo de conhecimento agrícola e ao mesmo tempo, algum recurso financeiro e experiência quanto à obtenção de crédito bancário. (INCRA, 1984).

Os principais projetos no processo de colonização do Estado de Rondônia, no período de 1970 a 1980, segundo o relatório do INCRA (1984), foram os Projetos Integrados de Colonização – PICs:

Projeto Integrado de Colonização Ouro Preto, criado em 19 de junho de 1970: é composto por cinco setores designados por POP: 1, 2, 3, 4, 5.

Estão localizados no Município de Ji-Paraná, a 320 km de Porto Velho, com via de acesso pela BR-364. Em 07 de abril de 1971, a CEPLAC passou a atuar na área para implantação da cultura cacaueira e em janeiro de 1975, a Assistência Técnica Rural (ASTER) e a Companhia Brasileira de Armazenamento (CIBRAZEM) passaram a ter participação efetiva no desenvolvimento das tarefas peculiares. A partir de 1972, a Superintendência da Borracha (SUDHEVEA) também se instalou na área para promover o desenvolvimento do sistema cooperativista. Em 18/03/1972 foi criada a Cooperativa Integral de Reforma Agrária (CIRA/PICOP);

Projeto Integrado de Colonização Ji-Paraná, criado em 16.06.1972: foi implantado efetivamente em julho de 1972. O projeto é composto por cinco setores: Ji-Paraná; Abaitará; Rolim De Moura; Prosperidade e Tatu, com localização nos municípios de Cacoal e Pimenta Bueno, a 460 km de Porto Velho, tendo como via de acesso a BR-364. A partir de 1975, outros órgãos passaram a ter participação efetiva no desenvolvimento das tarefas peculiares, entre eles: ASTER, CEPLAC, SEAC e CIBRAZEM, sendo com via de acesso pela BR-364 e RO-399, a 100 km da cidade de Vilhena.

(Relatório do INCRA, 1984). Em 01/10/1977, a CIBRAZEM foi instalada na área com a construção de um armazém tipo estrutural, com capacidade de armazenagem para 40.000 sacas e, em 1978, a ASTER passou a ter participação efetiva no desenvolvimento;

Projeto Integrado de Colonização Padre Adolpho Rohl criado em 20.11.75, foi desmembrado do PIC Ouro Preto. O projeto está localizado nos municípios de Ariquemes e Ji-Paraná, cuja sede administrativa encontra-se a 280 km de Porto Velho. Tem como via de acesso a BR-364.

Em 1974, a CEPLAC passou a atuar na área para implantação da lavoura cacaueira, e a ASTER, em janeiro de 1975, começou a ter participação efetiva no desenvolvimento das tarefas peculiares e a CIBRAZEM, em 05.11.1977, instalou-se na área com a construção de um armazém; e Projeto Integrado de Colonização Sidney Girão criado em 13 de agosto de 1971: com a implantação efetiva em abril de 1972, na área matriculada em nome da União, sob o n° 31, no cartório de registro de imóveis de Guajará Mirim, no ano de 1978. Em 1972, foram assentadas as primeiras famílias. O projeto localiza-se às margens da BR-425, em Abunã e Guajará Mirim, na faixa de fronteira com a República da Bolívia, entre os parques indígenas Lages e Ribeirão. Em janeiro de 1975, a ASTER passou a atuar na área e a CIBRAZEM em 21.08.77 instalou-se com a construção de um armazém.

Na consolidação dos PICs, outro quadro institucional se fez necessário para suprir as necessidades dos assentados: a realização de um desenvolvimento rural integrado, que atenderia no mínimo as necessidades fundamentais dos camponeses. Esse apoio foi realizado na instalação de Núcleos Urbanos de Apoio Rural (NUAR), que são pequenas localidades urbanas dentro do espaço rural no curto raio de ação para um total de cerca de 1.000 famílias de camponeses (COY 1988).

No início, foi prevista a instalação de 39 NUARs. Entretanto, os planos foram limitados aos 20 NUARs realizados até 1984. O NUAR é, portanto, fundado sobre a ideia de melhorar as condições de vida da população rural, aperfeiçoando assim a infraestrutura rural e intensificando a assistência do governo aos assentados.

É nesses núcleos urbanos que o Estado instala as assistências médicas e sanitárias com um posto de saúde, e outras infraestruturas como uma escola primária e um armazém da CIBRAZEM.

Pela falta de assistência proposta pelo Governo, de condições mínimas de vida e infraestrutura para o escoamento de produção nos NUARs, muitos colonos abandonaram e/ou venderam suas propriedades, deixando a região. Foram se estabelecer em outros projetos de assentamentos.

É importante resaltar que uma das pré-condições para ter a propriedade da terra (forma/legal) em Rondônia era a obrigatoriedade de desmatar 50% da área pretendida, quer a pretensão fosse em assentamentos oficiais do INCRA quer tenha sido em áreas de posse. Nesse processo, até os anos de 1990, foram assentados ou se fixaram por conta própria, aproximadamente, 100 mil famílias, em Rondônia.

“Os assentamentos de famílias implementados pelo INCRA nos PICs e nos PDA, eram lotes pequenos de aproximadamente 500 hectares, desenvolviam principalmente a agricultura (SOUZA et al. 2008, p. 20)”.

Motivado pelo processo de ocupação acelerado no estado de Rondônia, e com uma visão de crescimento do território de forma ordenada, no decorrer da década de 1980, o governo federal implanta, em nível nacional, um programa de desenvolvimento para atender, principalmente, o Norte e Nordeste do País com o Programa Integrado de Desenvolvimento da Região Noroeste do Brasil (POLONOROESTE), pelo Decreto nº 86.029 de 27 de junho de 1981.