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As teorias em torno do desenvolvimento são inspiradas nas sociedades ocidentais, onde sua visão vincula-se ao “paradigma humanismo ocidental”, entendendo que o desenvolvimento socioeconômico é instigado pelos progressos técnico-científicos, certificando o crescimento e o aperfeiçoamento dos valores humanos (ALMEIDA, 2012). Já a ideia de desenvolvimento sustentável surge como aquele capaz de garantir as necessidades das futuras gerações, como descrito pelo mesmo autor:

A noção de desenvolvimento sustentável tem como uma de suas premissas fundamentais o reconhecimento da “insustentabilidade” ou inadequação econômica, social e ambiental do padrão de desenvolvimento das sociedades contemporâneas. Esta noção nasce da compreensão da finitude dos recursos naturais e das injustiças sociais provocadas pelo modelo de desenvolvimento vigente na maioria dos países. Por meio da ação humana, o meio ambiente recebe dejetos resultante do processo produtivo social e econômico. Embora muitas vezes despercebido no âmbito da política econômica, o processo de descarte afeta a vida de uma sociedade e consequentemente a qualidade de vida das pessoas (FOLADORI, 2005; FERNANDES et al., 2008). Nesse ambiente de produção e consumo em massa, emerge o conceito de desenvolvimento

sustentável que ajuda a entender o contexto considerando que é preciso atender às necessidades atuais da sociedade sem comprometer as gerações futuras, fazendo um uso racional dos recursos naturais (SIEDENBERG, 2012).

Na visão de Siedenberg (2012), o desenvolvimento pode ser compreendido como um conjunto de teorias e estratégias das mais variadas esferas, como sociedade civil, Estado e mercado, envolvidas no desenvolvimento socioeconômico em busca de resultados concretos, rápidos, efetivos, eficazes e sustentáveis. Não adianta um desenvolvimento que tenha um viés exclusivamente econômico, em que, por exemplo, se entrega a outros países as riquezas minerais, deixando apenas degradação ambiental, trabalhadores doentes em sem proteção social, e que os lucros que aqui ficam sejam extremamente concentrados nas mãos de poucos (ACCIOLY; SÁNCHEZ, 2012). Isso não contribui para o bem comum, para a qualidade de vida da população (ALMEIDA, 2012).

Com isso, percebe-se que para que haja um desenvolvimento territorial sustentável se faz necessária a união de políticas que têm como propósitos o crescimento sustentável ou ecodesenvolvimento em nível territorial. Nas palavras de Oliveira e Souza-Lima (2006, p. 41), a região:

não pode ser vista apenas como um fator geográfico, mas como um ator social, como elemento vivo, do processo de planejamento. O Estado é quem estabelece as regras do jogo e a região é parte negociadora, que precisa se inserir nos mecanismos de decisão para fazer acordos, transações, dirimir conflitos.

Há no mundo um paradoxo, de um lado discursos de catástrofes, gritando por medidas urgentes e de outra, o sistema capitalista com sua gama de produtividade (SILVA, 2010) A sociedade, presa entre esses paradoxos, busca soluções para um desenvolvimento sustentável que atenda os pressupostos para minimizar os impactos gerados em consequência do crescimento da sociedade e todo o setor industrial que a envolve (OLIVEIRA, 2002). Observa-se que nas últimas décadas o meio ambiente vem surgindo como “um negócio na economia mundial: já se fala amplamente em ‘serviços ambientais’, contribuição de diferentes ecossistemas para o equilíbrio e funcionamento da natureza” (BUARQUE, 2008).

Norteados pelo risco ambiental, Fernandes et al. (2008) e Veiga (2006), destacam as principais preocupações ambientais para o direcionamento de um desenvolvimento sustentável, sintetizando-as em doze desafios, dos quais:

Quatro decorrem da destruição ou perda de recursos naturais: hábitat, fontes protéicas, biodiversidade e solos. Três batem em limites naturais: energia, água doce e capacidade fotossintética. Outros três resultam de artifícios nocivos: químicos, tóxicos, espécies alienígenas e gases de efeito estufa ou danosos à camada de ozônio. E os dois últimos concernem às próprias populações humanas: seu crescimento e suas aspirações de consumo (VEIGA, 2006, p. 171).

George Martine, em seu artigo publicado em 2007, salienta a preocupação que gira em torno do espaço que entrelaça a população com o desenvolvimento e o meio ambiente. No entendimento de Martine (2007): “os conceitos de capacidade de carga, pegada ecológica e espaço ambiental são úteis para fins de gerar consciência ambiental, mas não para diferenciar o mérito relativo de diferentes formas de ocupação do espaço para a sustentabilidade”.

A sociedade abriga variados sujeitos, os quais ocupam espaços iguais ou não. Dentre esses sujeitos encontram-se àquele que lida diretamente com os recursos naturais, o produtor rural. Para Batalha (1995) e Soto (2002), o agricultor tem significativa importância nos canais de distribuição dos alimentos, cabendo ao poder público a responsabilidade de implementação de programas educativos. Dentre outros, destacam-se aqueles que estimulam a lavagem e a devolução das embalagens vazias, por parte dos usuários e a responsabilidade da indústria nesse processo (logística reversa), e aqueles direcionados à fiscalização e ao licenciamento ambiental, dentre tantos outros de cunho ambiental.

No ambiente rural, além das embalagens de agrotóxicos, encontram-se outros materiais obtidos na produção agropecuária brasileira e excesso de materiais danosos ao meio ambiente e ao ser humano, onde muitas vezes o próprio produtor não tem conhecimento de quanto tóxico é o produto que está usando. Bochner (2007) afirma que, da maioria dos casos de intoxicação com agrotóxicos no Brasil, os agrotóxicos de uso agrícola apresentam os maiores coeficientes de incidência na região Sul, o que chama atenção para suas causas associadas à conscientização quanto ao seu uso intensivo.

Políticas ambientais5 estão sendo construídas, no entanto ainda há muitos problemas e obstáculos a serem vencidos (REDIN; SILVEIRA, 2012), dentre os quais se destacam: a aplicação fragilizada das legislações ambientais, a não integralização entre as políticas, a ambiguidade nas ações dos Estados, a não priorização política na questão ambiental e conceitos de gestão ambiental ainda muito ligados ao setor privado. É necessária a ruptura com o raciocínio econômico, orientando por um pensamento de um mundo sem ecossistema, externalizando o meio ambiente (OLIVEIRA, 2002).

5 As políticas ambientais brasileiras emergem a partir da década de 80 (REDIN; SILVEIRA, 2012) para dirimir

conflitos socioambientais, harmonizando interesses e preservando o meio ambiente. Dentre as políticas públicas ambientais vigentes, nacionais e internacionais, destacam-se: Política Nacional do Meio Ambiente, resoluções do Sistema Nacional do Meio Ambiente, resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente, Programa Nacional de Educação Ambiental, Agenda 21, Carta de Belgrado, Política Nacional de Recursos Hídricos e Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, Política Nacional de Resíduos Sólidos, Código de Águas, Novo Código Florestal, Programa de Apoio à Conservação Ambiental e Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais, Política Nacional da Biodiversidade, Estatuto da Cidade, entre outros (REDIN; SILVEIRA, 2012; LITTLE, 2015; MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2015).

Para que haja uma política ambiental eficiente, é preciso criar algumas condições de internalização dos custos da degradação provocados pelos agentes econômicos. Portanto, afirma Romeiro (2012, p. 66):

A ação do Estado se faz necessária apenas para corrigir essa falha de mercado6 (grifo nosso), seja por meio da privatização, seja por meio da precificação dos recursos naturais. Uma vez corrigidas essas falhas, de modo a garantir a correta sinalização econômica da escassez relativa desses serviços ambientais, a dinâmica de alocação intertemporal de recursos com base em avaliações custo-benefício tenderia a se processar de modo eficiente, não havendo problema de incerteza e de risco de perdas irreversíveis.

Não há dúvidas que o sistema capitalista é contribuidor por parte do problema ambiental que nos encontramos. As relações sociais capitalistas com o meio ambiente mostram sua lógica econômica perigosa: a busca pelo lucro um uma tendência ilimitada, diferente das antigas sociedades que limitavam sua produção em conformidade com suas necessidades. Como destacam Accioly e Sánchez (2012, p. 9):

Em nome da necessidade imposta por dramáticas privações materiais ou em nome das “boas intenções” de solucionar a problemática da fome ou do desemprego, as soluções ecológicas são deixadas de lado, dando espaço e força às soluções anti- ecológicas. Da mesma forma, seguimos recebendo indústrias poluidoras, devastando nossas florestas para fornecer matéria-prima a preços “competitivos” no mercado internacional, expropriando povos indígenas e ribeirinhos para construir hidrelétricas (consideradas como fontes “limpas” de energia) e rodovias.

Algumas teorias, como as neoclássicas e a keynesiana, traduzem a ideia de que o homem tem necessidades ilimitadas, todavia, segundo Foladori (2005) a verdade não pode ser visto sobre esta ótica. A racionalidade instrumental presente nas ações das empresas capitalisatasé orientada pela expectiva do resultado (lucro) (COMPARATO, 2011) e não a satisfação das necessidades humanas, o que produz uma crise ambiental, pois as práticas do uso e gestão dos recursos naturais geram altos índices de poluição (FOLADORI, 2005). Pelo entendimento de Sachs (1982; 2007) em torno de uma nova concepção de crescimento econômico, capaz de minimizar os impactos ambientais negativos e a serviço de metas socialmente desejáveis (SIQUEIRA; SANTOS; MACIEL, 2011), inclui-se o debate sobre consciência ambiental.

6 Romeiro (2012) entende que o meio ambiente é visto como falha de mercado em razão de ser um bem público,