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Os produtores rurais e seus filhos, quando questionados sobre a aquisição e uso de agrotóxicos em suas propriedades rurais, embora apresentem preocupação quanto aos malefícios do seu uso indiscriminado, consideram como extremamente necessários para conquistar maior produtividade na lavoura. Argumentaram que a plantação sem o uso de agrotóxico é inviável para o cultivo em grande escala.

Nas palavras dos Entrevistados:

Esses tempos nós fazia, agora não fizemo mais! [Não dá produtividade?] Não, não dá! (E1P )

Não... até nos tivemo teste [...] Não dá resultado! É prejuízo! É prejuízo! (E2P )

Ah... alguma vez, algum pedaços [cultivo sem uso de agrotóxico]... mas acontece poco. Agora, uns ano pra cá, tá pior que antigamente, sabe? Precisa mais veneno! Tá criando mais bicho [...] e o soja adoece mais fácil. Tá criando mais bicho, sabe? E o soja adoece mais fácil. Entrou outro bichos ali! Terminou um, mas entrô otro! Que nem o mato... inço, é? Terminó um, mas entrô otro. Agora com esses veneno que tem aí, [...] a gente aplica veneno e fica limpo que nem isso aqui [mostra o chão da casa]. Não tem! Mata tudo! Problema sabe o que que tem, também esses veneno aí? É que mata até os passarinho! Mata até os passarinho! Perdiz, mais um poco, você não acha mais na lavora! É que come o bichinho envenenado, né? E ela morre. Tá aparecendo outro bicho agora. [...] Quati. Lá fora tem um bando de quati! Nunca teve quati! Apareceu um bando de quati agora! Aquilo lá come tudo, sabe? Come tudo. [...] Lá fora tinha avestruzes,[...] eu gostava dos avestruzes! Ele não faz nada! As vezes tinha trinta, quarenta lá na lavora! Desapareceu! Eu acho que tem as capivaras, sabe? E elas comem os ovo lá! Comem os ovo e terminaram, e eles foram embora! Sumiram! (E3P ).

É que daí tem que lavrá, [cultivo sem uso de agrotóxico] tem que coisa [...] que nem a gente aqui, não tem junta de boi prá lavrá. (E4M )

Entretanto, alguns produtores realizam o cultivo sem o uso de agrotóxico. Aqueles que tiveram resultado, continuam realizando a prática, porém esta é realizada para plantações menores ou em hortas, para consumo próprio, onde todos os entrevistados realizam tal prática sem o uso de agrotóxico:

Não, não... a genste não usa agrotóxico [quando questionado sobre a horta]! Tem tudo estufa! [...] Só pra lavora! [uso de agrotóxico somente para a lavoura]Só pra lavora! (E1P )

Já! Pra silagem [quando questionado se deu certo]. Ô! Nós temo adubo dos suíno, né! A gente passa na roça [...] Milho vem mais bonito, o capim vem mais bonito... (E6F ).

É... fizemo alguma coisa, grandes não! Porque a área não e muito grande. A questão de mão de obra, coisa e tal! Mas dá! Tem algumas técnicas que dá pra utilizar sim, dá pra produzir sem agrotóxico (E7F ).

Quanto às novas práticas exigidas pelo Novo Código Florestal (BRASIL, 2012 ), os produtores rurais relataram que algumas práticas estão sendo realizadas por exigências da legislação brasileira quanto à produção animal e ao controle de mata nativa, tanto por reserva

legal quanto para área de proteção hídrica. Em contrapartida relatam ainda que são realizadas práticas à margem da lei, como por exemplo: o mau manejo de descarte dos dejetos na criação de animais para consumo próprio ou na pequena criação não vinculada à empresa específica, desrespeito à metragem estabelecida em lei para delimitar área de preservação permanente em faixa marginal de qualquer curso d’água, desrespeito ao montante de 20% de sua área para cobertura de vegetação nativa no caso de pequenas propriedades que já produzem em cima da terra e não querem diminuir, descarte irregular de embalagens de agrotóxico e lixo. A Figura 6 mostra algumas dessas práticas irregulares observadas in loco.

Figura 6 – Práticas que demonstram ações de não-consciência Embalagens vazias de defensivo agrícola encontradas

em propriedade rural

Local onde armazenam as fezes dos animais; criação de gado de leite

Compactação do solo por pisoteio de gado não confinado

Erosão do solo em lavoura

A pesquisa aponta que produtores rurais estão em uma variável de consciência ambiental, em que muitas vezes praticam atitudes positivas e outras ainda estão vinculadas a velhos hábitos. A composteira para animais mortos e local apropriado para o descarte de fezes de animais, por exemplo, ainda é um problema nas regiões exploradas na presente pesquisa. Aqueles que possuem criação para corte, principalmente de ave e suínos, possuem todas as exigências estabelecidas pela legislação, porém os produtores rurais que possuem animais para consumo próprio, o descarte dos dejetos e animais mortos não lhe é dado o mesmo destino.

A respeito, os entrevistados afirmaram que:

Olha, eu tenho um problema muito sério lá, junto com essa água aí, tem um vizinho quem tem tambo de leite e tem aquela sanga [onde joga os dejetos] tudo por cima! (E1P)

É... pelo o que eu sei é feito um buraco e enterrado, né? Aqui em casa já morreu umas quantas criação e o [...] com o trator faz o buraco, coloca em cima e enterra! (E5F)

Pelo o que eu tô sabendo, acho que não! Que nem aqui, o que a gente trabalha aqui [criação de suíno]. a gente tem tudo coberto, tudo certo, né? Mas, pelo o que eu vejo assim, eu nunca vi! Um cara ali, se morreu uma galinha, alguma coisa ir lá e [...] fazer a compostera [...] Tem casos que jogam lá, puro assim! Só pros bicho comé! Daí fede, dá aquele tumulto de bicho. Daí fica ruim. (E6F )

Olha, que eu sei, alguma coisa do bovino de leite, que o pessoal tá fazendo. Dentro de até pela essa questão dos próprios financiamentos, [...]. Mas de suíno é muito poco, porque na nossa região, aqui nos vizinhos, é só para consumo, mesmo [...] não são... [E não chegam a fazer compostera?] Não! Acho que não! Bovino de leite acho que alguma propriedade começo a fazê, mas não sei [...] como que está isso de fato. Eu sei que algumas propriedade fizeram, porque tiveram uma questão de financiamento. Foram financiar e precisariam ter essa questão do meio ambiente resolvidas. E aí é que eles se obrigaram a fazê. (E7F )

Outro problema visualizado pelos produtores rurais é o lixo doméstico e embalagens de agrotóxicos descartadas irregularmente por terceiros, enfatizando que em sua propriedade as embalagens de agrotóxicos são armazenadas e descartadas adequadamente. Os problemas com o lixo são desde o não recolhimento pela Prefeitura, como a falta de lugar apropriado para seu depósito e infrações ocorridas por vizinhos que descartam lixo e embalagens de agrotóxico em sangas e fontes hídricas. Nas palavras dos produtores rurais:

Que nem esses dias lá, nós tava na lavora, lá no armazém, sabe? É que a lavora é numa parte alta lá. Daí ali tem uma esquina, uma encruzilhada, que vai para Ibirubá, Panambi, daí ali naquela encruzilhada parou uma camionete e começou a colocar lixo.[...] Daí nós gritamos de lá de cima! Mas o cara continuou botando! Não quis nem sabe! Não quis sabe, botô o lixo, pego depois e foi embora. Sabe o que que aconteceu daí? O lixo vai tudo pro cano da água que tem ali! A gente não viu quem é que era! Nós gritamo lá de cima, mas não conseguimo vê! [...]. E sabe o que que tinha? Tinha embalagem de veneno. E foi tudo na água. Eu fui pra tentar pegar a placa [...], o cara já tinha se mandado. (E3F)

Então, tem uns que ainda não usam [depósito feito para recolhimento do lixo]! Fica queimando plástico, fica queimando lixo, filtro de trator quando tu coisa né? Tem gente que ainda não se convence! (E4P)

O pessoal já tá mais consciente. É claro que também é um poco porque alguns sofreram multas, né? Penalidades. Porque o município hoje aqui é autônomo na questão ambiental. [...] Mas eu acredito que ainda precisaríamos evolui mais, principalmente nesta questão do lixo, né? A questão do lixo, ainda é muito difícil, porque aqui no nosso interior não há recolhimento de lixo. Então, muitas vezes se criou campanhas, a própria Secretaria da Agricultura, o Meio Ambiente criou a campanha, incentivou o agricultor a guardar as sacas de sacarias, embalagens e tal, menos os agrotóxicos, porque as próprias empresas fumageiras já fazem isso bastante, porque elas tem uma certa obrigatoriedade. Mas depois, fazia isso uma vez, daí o agricultor continuava guardando, mas daí ninguém recolhia. Daí eles acabavam tendo um estoque grande no galpão, ficava lá e daí eles acabavam fazendo o que? Botaram num monte e tacaram fogo! Porque não tinha quem vinha recolhê, né! Então... até tem uma empresa aqui hoje, que às vezes ele passa assim, dependendo da titulação ele passa pra recolhê. Então o pessoal acaba cedendo essas coisas assim que ele tem interesse. Mas ainda é muito fraco. Porque as pessoas guarda e depois não tem quem recolha! (E7F)

A água é um bem ambiental valorizado pelos entrevistados, embora haja ainda ações de danos ambientais como mencionado anteriormente. A maioria menciona a importância de sua preservação, demonstrando preocupação ao relatarem casos em que a mesma não é conservada, tanto no ambiente rural como no urbarno, assim relatado por E3p:

A sujeira que tem na cidade faz parte do meio ambiente. Esses rio aí tudo poluído? Tava vendo esses dia aí em São Paulo. Tava descendo uma espuma branca do prédio no rio lá [Rio Tietê]. Depois fica que nem o Rio dos Sinos.14

Produtores rurais relatam além de práticas de poluição por lixo e embalagens de agrotóxico, ações de danos ambientais com a retirada irregular da água de sangas para irrigação, bem como drenagem de banhados também para irrigação. Apontam que muitos rios estão secando, onde antes havia grande quantidade de peixes e volume de água, hoje apresentam volume muito reduzido e muitas vezes, sem a presença de peixes. Nas indagações dos produtores rurais:

Porque tem gente que planta sempre perto da sanga, sabe? [...] Até um lageadinho que corre ali tem mato [...] foi respeitado o mato. [...] Na nossa lavoura não tem banhado. Agora, esses cara aí que secam esses banhado aí, sabe? Isso aí é brabo, né? Dimui a água. Eu tava vendo esses dia, lá em Santo Antônio Prado. Lá conhecia umas sanga lá, quando eu era criança, tinha oito, nove ano... tinha uns lageadinhos assim, a gente ia lá pesca, tinha jundiá embaixo das pedra. Hoje não tem mais nem água! Não tem mais, só tem as pedra! Secô! Dois lugar lá, dois rio lá que conhecia sanga lá, seco! A água está diminuindo mesmo! (E3P)

O desmatamento mencionado como problema nas respostas do questionário aplicado aos discentes, nas entrevistas foi relatado como uma prática não mais existente por sua proibição. Entretando, a prática de “empurrar o mato de volta”, ou seja, desgalhar as árvores

14

O entrevistado refere-se ao desastre ambiental ocorrido no Rio dos Sinos e que matou a maioria dos seus peixes. O desastre ambiental foi retratado na reportagem de Rodrigo Cavalheiro, publicada no jornal estadual Zero Hora, em 26 de outubro de 2006.

que estão avançando na lavoura, é vista como prática rotineira e que não causa danos ambientais, como retratado no estrato do discurso de E4p:

Não, desmatamento aqui ninguém faz! Ninguém mais faz. Quase não tem mais mato. E sabe que é proibido. Agora, empurrá mato pra dentro, eu já vi, né! [...] Eles diz que [...] cada ano, cada veiz o mato vem pra dentro, então a gente vai empurrando ele de volta. Isso aí não estragaria em nada o meio ambiente. Agora, derrubá árvore assim, mato assim, ninguém derruba! Aqui, na nossa região, não! As práticas apontadas pelos produtores rurais entrevistados revela que estas apresentam graus de maior ou menor intensidade de consciência ambiental em suas ações. Algumas denunciam seus próprios atos, outras associadas a terceiros que não pertencentes ao grupo familiar que reside na propriedade rural.

O Quadro 5 a seguir apresenta essas ações divididas em práticas que revelam consciência ambiental e aquelas que apresentam a falta de consciência ambiental por seus praticantes.

Quadro 5 – Práticas realizadas pelos produtores rurais e que geram danos ambientais.

Práticas de consciência ambiental

Não derrubam árvores

Aumentar a produtividade das áreas consolidadas Cadastramento do CAR (Cadastro Ambiental Rural) Horta sem uso de agrotóxicos

Entrega de embalagens de agrotóxico vazias em local adequado Respeita as áreas de reserva legal

Favorável ao Novo Código Florestal

Preocupação com o lixo doméstico; destino adequado Preocupação com as águas

Práticas de não- consciência

ambiental

Drenagem de banhado para irrigação de lavoura Descarte de esgoto doméstico dentro de sanga Descarte de fezes de gado de leite em sanga

Impossibilidade de produção sem uso de agrotóxico pela atividade não dar lucro Depósito de embalagens vazias de agrotóxico em céu aberto

Descarte de embalagens vazias de agrotóxico em água corrente (sanga, canalização, rios) Depósito de lixo em beira de estrada

Criação de animais em pequenas propriedades junto às nascentes

Compra de terras improdutivas de preservação ambiental para compensar os danos praticados ao meio ambiente na sua propriedade produtiva

Código Florestal como ameaça

Crítica ao CAR como forma de punição ao agricultor

Desgalho de árvores de reserva legal que estão avançando para a lavoura

Gado criado solto, sem controle e/ou local com potencial para “dejetos” orgânicos contaminantes

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Nota-se que as práticas de não-consciência ainda predominam em detrimento às práticas de consciência ambiental. Os produtores rurais ainda estão associando o seu interesse ambiental a fatores relacionados à linha de produção construída pela perspectiva da racionalidade instrumental, a qual movimenta a economia mundial e determina a estrutura das

organizações industriais. Assim, as práticas ruralistas induzem pensar o desenvolvimento sustentável moldado por leis que obrigam o produtor e punem o infrator do dano ambiental.