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3.3 Factores que influenciam a inovação

3.3.3 Design de materiais

A maioria do desenvolvimento de materiais tem origem numa necessidade técnica, e não em motivos de design industrial (Ashby e Johnson, 2002, p.41). Por outro lado, a maior parte dos novos materiais surge através da comercialização da investigação, pelo que o seu desenvolvimento é guiado pela ciência (Ashby e Johnson, 2002, p.161). Entre as implicações para o design distinguem-se: o facto de a informação disponível ser essencialmente técnica, o que não é suficiente para o design; o facto de a informação ser muito específica – ciência e engenharia de materiais – e de alguma informação não ser acessível aos profissionais de design; e ainda, o facto de a informação acerca dos novos materiais ser divulgada por entidades interessadas na sua divulgação, pelo que a informação, ainda que séria, é por vezes incompleta (Ashby e Johnson, 2002, pp.161-162).

No entanto, considera-se que a investigação de materiais, orientada no passado para aplicações militares e aeroespaciais, está agora mais direccionada para o consumidor. Ainda assim, no âmbito do design de produtos, distinguem-se dois desafios: colmatar o lapso de informação encontrado por designers de produtos que pretendem utilizar novos materiais, e ultrapassar a dificuldade em os mesmos designers estimularem os fornecedores a desenvolverem materiais com os atributos pretendidos (Ashby e Johnson, 2002, p.161); portanto, a elaboração de informação adequada à profissão, e a participação desta no design de materiais.

Salienta-se ainda o seguinte:

«The attributes that bear on industrial design are far harder to find … the need is for visual and tactile attributes – those that help create the associations and perceptions of a product.» (Ashby e Johnson, 2002, p.162).

Também Rognoli (2003) observa que não existe falta de informação acerca da engenharia dos materiais, mas que existe necessidade de investigar a expressão estética e valores dos materiais. Defende-se, inclusive, que num projecto de design, ainda que se considere o desempenho técnico dos materiais, a prioridade são as suas propriedades estéticas e sensoriais (Rognoli, 2003, pp.132-133). Ashby e Johnson distinguem 4 dimensões dos materiais; técnica, ecológica, estética e cultural:

«…a material has many dimensions: a technical dimension, the one seen by the engineer; an eco-dimension, that seen by the environmentalist; an aesthetic dimension, the one encountered by the senses of sight, touch, hearing; and a dimension that derives its features from the way in which the material is perceived, its traditions, the culture of its use, its associations, its personality.» (Ashby e Johnson, 2002, p.169).

3.4 Conclusão

Como exposto, a inovação é um processo complexo, e em que intervém uma multiplicidade de factores. Se por vezes os novos materiais criam novas áreas de aplicação, em muitas situações, são utilizados em substituição de materiais estabelecidos, incitando a competitividade e inovação.

Que factores influenciam a inovação, substituição, competitividade e difusão dos materiais? Que barreiras e incentivos se identificam?

Entre os factores que têm suscitado a inovação distinguem-se: a evolução do conhecimento acerca das propriedades dos materiais, e de tecnologias para a sua caracterização e processamento; a competitividade entre os materiais, na medida em que incita desenvolvimentos mútuos; o interesse económico em obter materiais a custos inferiores e /ou com desempenhos melhorados; a colaboração entre ciência e tecnologia dos materiais, através duma optimização e orientação da investigação para as aplicações. Entre os incentivos, destacam-se as questões ambientais, através da introdução de legislação que visa minorar o impacto ambiental dos materiais.

Identificam-se outros factores que constituem barreiras à inovação: os elevados tempos de desenvolvimento dos materiais e tecnologias; os custos inerentes ao seu desenvolvimento; a regulamentação e políticas; e, diversos aspectos sócio-culturais.

Conclui-se, portanto, que a utilização dos materiais depende de diversos factores: ao nível dos materiais – como disponibilidade, propriedades, tecnologias, custo, estética, e valores e significados transportados; ao nível do contexto /ambiente económico, político e sócio-cultural; e ao nível das aplicações e /ou indústrias em questão.

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Materiais e ambiente – desempenho ambiental da madeira

Considera-se que as questões ambientais são um aspecto importante a considerar, no âmbito da substituição entre materiais: segundo Burrows e Sanness (1999), este é um dos factores que tem contribuído para a substituição da madeira por outros materiais. Como um recurso renovável, entre outras características, a madeira é considerada uma melhor alternativa ambiental; no entanto, identifica-se a existência de publicidade ambiental enganosa a respeito dos outros materiais, enquanto por parte das indústrias da madeira existe pouca comunicação, essencialmente devido à fragmentação do sector. Ainda que a madeira seja percebida como o material com menor impacto ambiental, defende-se que a publicidade das outras indústrias tem manipulado esta percepção em seu favor, explorando a sensibilidade dos consumidores acerca da desflorestação, de que constitui um exemplo o slogan ‘Save a tree, use PVC’, e omitindo os sérios problemas inerentes às outras indústrias (Burrows e Sanness, 1999).

Actualmente, considera-se importante utilizar a madeira em substituição de outros materiais, dados os seus benefícios ambientais, sendo esta questão consensual na literatura revista. Segundo Gielen (1995), apesar de a madeira ter sido substituída por outros materiais, é provável que a tendência de utilização de materiais que utilizam recursos fósseis (directa ou indirectamente) cesse, devido à implementação de políticas ambientais que visam reduzir as emissões de gases com efeito de estufa; e, neste contexto, defende-se que a madeira terá um papel importante (Gielen, 1995). Portanto, depois de a madeira ter sido substituída por outros materiais (factores diversos, eventualmente também ambientais mais recentemente), deparamo- nos agora com o desafio de inverter esta situação, substituindo outros materiais por madeira.

Em primeiro lugar, no ponto 4.1, procurar-se-á esclarecer quais as principais questões ambientais, como os materiais contribuem para esses problemas, e como consumir estes recursos de modo sustentável.

Como é que os materiais contribuem para os problemas ambientais? Como consumir os recursos materiais de forma sustentável?

Em 4.2, caracteriza-se o desempenho ambiental da madeira, face ao de outros materiais; são discutidas as principais questões, e apresentados os resultados de diversos estudos comparativos, demonstrando a supremacia das qualidades ambientais da madeira.

A madeira é uma alternativa sustentável? A madeira é a melhor alternativa ambiental?

De seguida, em 4.3, expõem-se os resultados de alguns estudos acerca da percepção ambiental da madeira; discute-se ainda as percepções das florestas e de algumas indústrias.