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Materiais e sustentabilidade

4.1 Consumo de materiais e sustentabilidade

4.1.3 Materiais e sustentabilidade

Em 1987, a Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento (World Comission on Environment and Development), definiu que uma sociedade sustentável atende às necessidades do presente, sem comprometer a capacidade de as futuras gerações suprirem as suas próprias necessidades (Meadows et al., 2004, p.254). Desta definição, subentende-se desde já, a necessidade de preservar os recursos do planeta. No entanto, considera-se que o conceito de desenvolvimento sustentável assenta no equilíbrio de três vertentes: ambiental, económica, e social (Youngquist, 2000). Para Meadows et al., outras questões estruturais emergem no âmbito da sustentabilidade:

«A sustainable society would be interested in qualitative development, not physical expansion. It would use material growth as a considered tool, not a perpetual mandate. Neither for nor against growth, it would begin to discriminate among kinds of growth and purposes for growth. It could even entertain rationally the idea of purposeful negative growth, to undo excess, to get below limits, to cease doing things that, in a full accounting of natural and social costs, actually cost more than they are worth». (Meadows et al., 2004, p.255). O conceito de sustentabilidade é complexo e multifacetado; deter-nos-emos em considerar, apenas, alguns contributos considerados pertinentes no âmbito da prossecução de uma sustentabilidade ambiental, em particular no que respeita ao consumo de recursos, com o intuito de compreender como podemos utilizar os materiais de forma sustentável.

A utilização de qualquer recurso, envolve sempre algum tipo de impacto ambiental em cada uma das fases do ciclo de vida dos materiais, desde a extracção ou abate até à deposição final (Matthews et al., 2000, p.2). Uma condição essencial para a sustentabilidade ecológica, é a de que o consumo de recursos não ultrapasse o que a natureza pode fornecer; a sustentabilidade requer viver sob /dentro da capacidade regenerativa da biosfera (Wackernagel et al., 2002).

Os materiais derivam de recursos, classificados como renováveis ou não renováveis. Os renováveis são aqueles que se auto-regeneram, como a madeira, sendo que, se consumidos até à exaustão, podem tornar-se não renováveis. Os recursos não renováveis são formados durante longos períodos de tempo geológico, e incluem metais, minerais e materiais orgânicos (Matos e Wagner, 1998).

Herman Daly (1990)47 sugeriu três regras, que visam o consumo sustentado de materiais e

energia:

• A utilização de um recurso renovável não deve exceder a sua taxa de regeneração.

47 Daly, Herman (1990), Toward Some Operational Principles of Sustainable Development, Ecological Economics, 2, pp.1-6.

• A utilização de um recurso não renovável não deve exceder a taxa à qual se desenvolve de forma sustentada um substituto renovável.

• A taxa de emissões poluentes não deve exceder a capacidade de assimilação do ambiente. (Meadows et al., 2004, p.54 e 254 baseados em Herman Daly, 1990). Meadows et al. apresentam também alguns princípios que podem contribuir para um sistema sustentável; de entre estes, três estão directamente relacionados com o consumo de recursos:

• Minimizar a utilização de recursos não renováveis. • Prevenir a erosão dos recursos renováveis.

• Utilizar todos os recursos com uma eficiência máxima. (Meadows et al., 2004, pp.259-260).

Gardner e Sampat (1998) consideram que ainda não houve uma redução substancial na utilização dos materiais, essencialmente, por falta de intenção de o fazer: a mudança para uma economia baseada em serviços teve origem em factores económicos, e não no desejo de reduzir a utilização de materiais; melhoramentos ao nível da eficiência dos materiais, em especial a tendência para a leveza, também têm origem em questões económicas; e a reciclagem foi motivada pelo desejo de reduzir o desperdício, é uma iniciativa de correcção, do fim do ciclo de vida (“end-of-the-pipe”), e como tal tem um âmbito limitado. E, em todo o caso, os ganhos alcançados inadvertidamente, foram suplantados por crescentes níveis de consumo (Gardner e Sampat, 1998, pp.31-32).

O princípio de abordar o ciclo de vida dos produtos teve origem no início na década de 70 (Cooper, 2005). Existem diversas medidas que visam minorar o impacto da utilização de materiais /produtos, ao longo do seu ciclo de vida (Whiteley, 1993; Papanek, 1995; Gardner, 1998; Gielen, 1998; Datschefski, 2001; Ashby e Johnson, 2002; Meadows et al., 2004; Cooper, 2005). Entre estas, considera-se que a durabilidade dos bens /produtos é um pré-requisito à sustentabilidade (Ashby e Johnson, 2002; Meadows et al., 2004; Cooper, 2005). O aumento do tempo de vida útil dos produtos é fundamental para reduzir os fluxos de materiais; defende-se que um melhor design, possibilidade de reparação e reutilização dos produtos, são estratégias mais eficientes do que a reciclagem, na medida em que evitam voltar a processar os materiais para produzir novos produtos (Meadows et al., 2004, p.103). Gardner apresenta um sumário das diversas questões a considerar no âmbito de um consumo sustentável de materiais:

«A true materials makeover will require a rethinking of the structure and purpose of modern economies. Expectations of services, recycling, and efficiency will need to be completely overhauled, with low materials “throughput” (from extraction to use to waste) as a primary goal. Businesses will need to focus more on providing services, and less on producing goods. Recycling will need to be recast from an end-of-the-pipe waste solution to a front-end savings decision. Gains in materials and production efficiency will need to be monumental

rather than incremental, as they have been. And consumers will need to critically assess their consumption choices, drawing the line when purchasing patterns threaten to lower their quality of life. Whether such changes can lead to the ambitious materials reductions now being called for in Europe and other regions has not been proven. But the experience of several industries and economies that have rethought the role of materials from the ground up suggests that dramatic savings are possible.» (Gardner e Sampat, 1998, pp.32-33).