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4.2 Desempenho ambiental da madeira

4.2.1 Florestas

4.2.1.1 Desflorestação

Actualmente existe pouco mais de metade da área florestal original, e apenas 20% desta área é considerada como não perturbada (“frontier forest”) ou primária. Exceptuando a Rússia, a Europa foi um dos continentes amplamente afectados, perdendo quase toda a sua floresta original; na Suécia e Finlândia, menos de 5% da área florestal é primária, e nos restantes países, estas florestas foram perdidas na totalidade; exemplos destes países são Portugal, Espanha, França, Reino Unido, Irlanda, Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Dinamarca, Alemanha, Suíça, Áustria, Itália, Grécia, Polónia, Estónia, Republica Checa, Hungria, Bulgária, Roménia, e antiga Jugoslávia. Cerca de metade destas florestas encontram-se na Rússia, no Canadá e no Alasca (Bryant et al., 1997).

Há cerca de 5000 anos a Europa encontrava-se coberta, quase por completo, por florestas; no entanto, à medida que a civilização e agricultura se moveram para norte, teve início o processo de desflorestação; nos anos tardios da Idade Média, muitos países tinham menos de 10% da sua área florestal (Nabuurs et al., 2003 baseados em Mather, 199048). As áreas desflorestadas foram ainda mais degradadas por diversas actividades, nomeadamente a agricultura e a pastorícia, bem como pela erosão provocada pelo vento. Posteriormente, no final do século XIX e início do século XX, com o desenvolvimento da agricultura intensiva, muitas áreas degradadas deixaram de ser necessárias, pelo que foram florestadas (Nabuurs et al., 2003 baseados em Karjalainen et al., 199949).

Como demonstrado por Perlin (1989), ao longo da história, as diversas civilizações, desde a Mesopotâmia à colonização da América do Norte, revelaram-se incapazes de gerir os recursos

48 Mather, A. S. (1990) Chapter 3. Historical perspectives on forest resourse use. In: Global Forest Resourses, pp. 30-57. Timber Press, Portland. OR.

49 Karjalainen, T., Spiecker, H., Laroussinie, O. (1999) Causes and Consequences of Accelerating Tree Growth in Europe. EFI Proceedings 27. European Forest Institute, Joensuu, Finland.

florestais de modo sustentável. Com o desenvolvimento das civilizações, o consumo de madeira cresceu substancialmente, pelo que no auge de diversas civilizações, a madeira era essencialmente um recurso escasso. Considera-se ainda, que a escassez deste recurso contribuiu para a queda de antigas civilizações (Perlin, 1989); e talvez o mesmo não tenha sucedido na Europa no início da Revolução Industrial, devido ao desenvolvimento de alternativas de combustível em substituição.

No entanto, segundo Farrell et al. (2000), já desde a Era Pré-Cristã, existe algum conhecimento em como gerir as florestas de modo sustentável; as técnicas de silvicultura eram conhecidas, mas só no final do século XVIII é que o conhecimento científico começou a ser mais amplamente aplicado; defende-se que isso só foi possível através de uma mudança de paradigma, em que as florestas terão deixado de ser vistas como um aborrecimento ou um horror pagão, e começaram a ser percebidas como o centro de produção de madeira, uma fábrica biológica (Farrel et al., 2000). A desflorestação é ainda um problema actual em diversas regiões do planeta; no entanto, já se identificam algumas medidas que visam o consumo sustentado deste recurso.

4.2.1.2 Florestas – global

Actualmente, a área total de floresta do planeta é de quase 4 biliões de hectares, cerca de 30% da área total de terra. A área florestal continua a decrescer, mas a uma taxa inferior, cerca de 13 milhões de hectares por ano. As maiores perdas registaram-se em África e na América do Sul; na Europa a área florestal continua a crescer, ainda que mais lentamente. As florestas primárias50 correspondem a cerca de 36% da área total, no entanto, são perdidos ou modificados cerca de 6 milhões de hectares por ano (FAO, 2006).

As florestas têm diversas funções, globalmente distribuídas da seguinte forma: a área florestal designada para a conservação da diversidade biológica tem aumentado desde 1990, e corresponde actualmente a cerca de 11,2% do total de floresta; a área total designada para a protecção do solo e água é de cerca de 9,3%; 3,7% do total está designado para a função de serviços sociais; cerca de 33,8% da área florestal não tem uma única função primária, é gerida para propósitos múltiplos; e, cerca de 34,1% da área total está designada primeiramente para a produção de produtos de madeira e outros, mas as funções de produção encontram-se em mais de metade da área florestal (FAO, 2006).

Estima-se que a quantidade de madeira removida em 2005 seja de cerca de 3,1 biliões de metros cúbicos; no entanto, este valor deverá ser superior, na medida em que existe madeira recolhida de modo informal e ilegal (em especial para utilização como combustível) que não é

50 As florestas primárias são definidas como florestas de espécies nativas em que não se verificam

indicações claras de actividades humanas, e em que os processos ecológicos não se encontram significativamente perturbados (FAO, 2006).

contabilizada. Esta taxa de remoção é semelhante à registada em 1990, e corresponde a cerca de 0,69% do total em crescimento51. Do total de madeira removida, cerca de 50% é utilizada como combustível. O valor da remoção de madeira tem decrescido em termos reais, e o valor de outros produtos florestais tem aumentado (FAO, 2006).

Existem diferenças substanciais entre os vários continentes, quanto ao âmbito de utilização da madeira removida. De acordo com dados observáveis (aproximados), o continente africano utiliza mais de 80% da madeira removida como uma fonte de combustível, sendo a restante utilizada para fins industriais; na Ásia esta proporção é de cerca 50%; na América do Sul, cerca de 40% da madeira é e utilizada como combustível; na América do Norte e Central a utilização de madeira como combustível é apenas de cerca de 12%; na Europa é cerca de 17%; na Oceânia, é inferior a 20%. De um modo geral, os países desenvolvidos utilizam menos madeira como combustível. É ainda possível observar, aproximadamente, os totais de madeira removida em 2005, em cada continente: em África cerca de 650 milhões de metros cúbicos, na Europa cerca de 675, na América do Norte e Central cerca de 825, na América do Sul cerca de 400, na Ásia cerca de 370, e na Oceânia cerca de 70 milhões de metros cúbicos (FAO, 2006).

4.2.1.3 Florestas – Europa

A Europa tem uma área florestal vasta, cerca de 1004 milhões de hectares, e que representam cerca de 47% da área terrestre do continente; no entanto, a distribuição desta área pelos diversos países é muito desigual. Cerca de 80% da área total encontra-se na Rússia, onde as florestas representam mais de 50% do território. Na Finlândia e Suécia a área florestal é de cerca de 68% do território, e, na Islândia e em Malta, esta quantidade é de apenas 1%. Em Espanha a área florestal ocupa mais de 50%, na Áustria e Grécia mais de 45%, em Portugal e Itália mais de 35%, na França, Suíça e Alemanha cerca de 30%, e na Holanda e Reino Unido cerca de 10% (MCPFE e UNECE/FAO, 2003).

Cerca de 70% das florestas europeias estão classificadas como semi-naturais, e cerca de 27% consideram-se não perturbadas pelas actividades humanas, sendo estas localizadas em regiões remotas ou de difícil acesso. Os restantes 3% correspondem a plantações. Cerca de 11,7% da área florestal europeia está protegida, e tem as funções de conservação da diversidade biológica e de manutenção de processos biológicos naturais. No entanto, a saúde e vitalidade das florestas ainda se encontra num estado crítico, em consequência, nomeadamente, dos níveis de poluição atmosférica (MCPFE e UNECE/FAO, 2003).

O desenvolvimento da área florestal europeia é positivo, registando-se um crescimento anual de cerca de 0,08%, a que correspondem 2287 milhões de metros cúbicos. Este crescimento

51 ‘Growing Stock’ no original, definido como o componente vivo da árvore (MCPFE e UNECE/FAO,

registou-se em todos os países, com excepção da Federação Russa. O componente vivo das árvores também aumentou, em cerca de 620 milhões de metros cúbicos por ano, e de um modo geral, a área de florestas em idade jovem é também superior. Na Europa, cerca de 85% das florestas estão disponíveis para fornecimento de madeira; o total de madeira produzida é de cerca 444 milhões de metros cúbicos, incluindo troncos, madeira para combustível, e polpa; este total europeu representa cerca de 13% do total mundial. A contribuição do sector florestal para o Produto Interno Bruto é significativa em diversos países Europeus (MCPFE e UNECE/FAO, 2003). Binder et al. (2004) expõem uma situação na Suíça, em que a área florestal de uma região está sub utilizada. Numa avaliação efectuada ao desenvolvimento das florestas suíças, registou-se que a saúde e estabilidade da floresta, bem como a produção de madeira, se têm desenvolvido de modo negativo; a distribuição das idades das árvores está em desequilíbrio, a floresta está a envelhecer, limitando o desenvolvimento sustentável da floresta, na medida em que as funções de protecção e produção desta se encontram ameaçadas (Binder et al., 2004 baseados em Brändii, 199952). Daqui compreendemos que a gestão florestal sustentável implica a renovação da floresta,

e que as funções produtivas desta têm um papel importante. É claro que isto se aplica apenas a regiões que tenham sido desflorestadas, como em quase toda a Europa, e não a florestas milenárias e a espécies ameaçadas.

A região discutida era originalmente uma área totalmente florestada; no final do século XVIII já só havia árvores em locais de difícil acesso, e em 1850 restava apenas 16% da área florestal inicial. O processo de reflorestação teve início em 1836 por acção de uma organização não governamental, e em 1877, o governo suíço implementou a sua política florestal (Binder et al., 2004 baseados em Ettlinger, 200153). Um dos factores que contribuíram para a recente sub utilização e consequente ameaça da sustentabilidade desta área florestal é a acentuada descida dos preços da madeira, que tem limitado a competitividade da sua exploração e produção nesta região (Binder et al., 2004).

Na Europa, em cerca de 80% da área florestal, existem planos de gestão ou linhas de orientação; estes planos e orientações contribuem para a gestão sustentável das florestas, mas não a garantem; de um modo geral não foi avaliado e não é conhecida a qualidade e nível de implementação destes planos (MCPFE e UNECE/FAO, 2003).

52 Brändli, U.-B. (1999), Nachhaltigkeitskontrolle im Schweizer Wald. In: Brassel, P., Brändli, U.-B. (Eds.), Schweizerisches Landesforstinventar. Ergebnisse der Zweitaufnahme 1993-1995. Haupt. Bern, Wien, pp.358-

374.

53 Ettlinger, P. (2001), Entwicklung und Behandlung der Wälder in Appenzell Ausserrhoden.