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DESIGUALDADES NA APROPRIAÇÃO DO PIB PER CAPTA NO PAÍS

Nesta parte da pesquisa tentaCse mostrar como ocorrem as disparidades regionais, interCestaduais e intraCestaduais no quesito de apropriação da renda em 2004. Para atingir a este objetivo verificouCse como se distribuem os PIBs per capta de cada município em torno da média estimada pelo IBGE para o estado. Antes de entrar na discussão dos resultados encontrados em termos das desigualdades, vale lembrar que o PIB per capta estimado pelo IBGE para o Brasil em 2004 era da magnitude de R$ 9.729,10. As duas regiões mais carentes do Brasil, Norte e Nordeste, tinham os seus PIBs per capta posicionados abaixo deste valor. Para o Norte o IBGE estima um PIB per capta de R$ 6.499,78 para 2004, que representa 66,81% da média brasileira para aquele ano. Para o Nordeste a estimativa era de um PIB per capta de R$ 4.926,80, ou 50,64% do PIB médio brasileiro. Portanto, o Nordeste caracterizaCse também por ser a região de menor renda média de todas as regiões do Brasil, tendo essa renda alcançado apenas metade da brasileira em 2004. As regiões Sudeste, Sul e Centroeste possuem PIBs médios superiores à média do Brasil, sendo que o Sudeste apresenta a maior magnitude. Para o Sudeste o IBGE estimou para 2004 um PIB per capta de R$ 12.539,60. Ou seja, o PIB médio brasileiro representa 77,59% da média do Sudeste.

PassaCse agora para a análise das desigualdades brasileiras em termos de apropriação da renda gerada no País em 2004. Na Tabela 8 apresentaCse a síntese dessa desigualdade. Para o Brasil em 2004 o IBGE levantou informações do PIB per capta para 5.521 municípios. Pois bem, em 4.362 (79,01%) dos municípios brasileiros o PIB per capta era inferior à média do Brasil. A população do País que vivia nestes municípios cujos PIBs médios eram inferiores à média, representavam 62,39% da população brasileira e apropriavaCse de apenas 32,93% da renda total gerada no País naquele ano.

Na distribuição interCregional do PIB, observaCse que, na região Norte, em apenas 16 municípios o PIB supera a média brasileira. No Nordeste apenas um (1) município tem PIB médio maior do que o do Brasil. No Sudeste são 462 municípios, no Sul 605 e no Centroeste 134 municípios com PIBs per capta superiores à média do Brasil.

TABELA 8: Apropriação do PIB nos Municípios mais Pobres em Cada Estado em 2004. PIB Per capta 2004 MunicíC pios do Estado ou Região Municípios com PIB per capta abaixo da média do Estado ou Região População do Estado ou Região em População vivendo nos Municípios com PIB abaixo da média do estado (A) Renda apropriada nos municípios com PIB per capta abaixo da média do estado (B) IARmp ESTADO

(R$) TOTAL TOTAL (%) 2000 (%) (%) (B/A)

Acre 5.143,11 22 18 81,82 557.526 48,15 31,22 0,65 Amapá 6.796,42 16 11 68,75 477.032 34,17 27,23 0,80 Amazonas 11.434,12 62 60 96,77 2.812.557 47,63 11,34 0,24 Pará 4.991,94 143 101 70,63 6.192.307 59,09 33,12 0,56 Rondônia 6.238,11 52 40 76,92 1.379.787 44,32 33,19 0,75 Roraima 4.881,31 15 14 93,33 324.397 98,21 30,02 0,31 Tocantins 3.776,15 139 112 80,58 1.157.098 58,13 39,38 0,68 NORTE 6.499,78 449 418 93,10 12.900.704 72,48 42,20 0,58 Maranhão 2.748,06 217 185 85,25 5.698.650 68,60 46,36 0,68 Piauí 2.892,40 221 203 91,86 2.843.278 66,21 45,58 0,69 Ceará 4.169,80 184 173 94,02 7.430.661 62,46 35,85 0,57 R.G.Norte 5.369,87 166 142 85,54 2.776.782 54,50 29,24 0,54 Paraíba 4.165,25 223 205 91,93 3.443.825 63,26 41,92 0,66 Pernambuco 5.730,17 185 169 91,35 7.918.344 65,16 38,56 0,59 Alagoas 3.876,75 101 96 95,05 2.882.621 67,31 34,37 0,51 Sergipe 6.782,22 75 61 81,33 1.784.475 62,51 31,21 0,50 Bahia 6.350,07 415 384 92,53 13.070.250 88,64 51,62 0,58 NORDESTE 4.926,80 1.787 1.634 91,44 47.848.886 67,89 37,19 0,55 E.Santo 10.288,68 77 70 90,91 3.097.232 76,22 45,32 0,59 M.Gerais 8.770,60 853 736 86,28 17.891.494 62,11 36,38 0,59 R.Janeiro 14.638,72 91 71 78,02 14.391.282 85,22 55,53 0,65 S.Paulo 13.725,14 645 462 71,63 37.032.403 43,87 27,64 0,63 SUDESTE 12.539,60 1.666 1.356 81,39 72.412.411 59,65 36,72 0,62 Paraná 10.724,69 399 267 66,92 9.761.274 58,41 42,35 0,73 S. Catarina 12.158,95 293 205 69,97 5.356.360 58,23 40,79 0,70 R.G. Sul 13.320,29 467 302 64,67 10.187.798 65,37 45,14 0,69 SUL 12.080,90 1.159 786 67,82 25.305.432 69,04 50,42 0,73 Goiás 7.500,85 242 158 65,29 5.003.228 75,45 54,20 0,72 M.Grosso 10.161,52 126 80 63,49 2.504.353 81,60 61,66 0,76 M.Grosso Sul 8.944,96 77 37 48,05 2.078.001 68,45 53,67 0,78 CENTROESTE 10.393,60 445 311 69,89 9.585.582 74,60 54,57 0,73 BRASIL* 9.729,10 5.521 4.362 79,01 168.053.015 62,39 32,93 0,53 Fontes: Valores estimados a partir dos dados do Censo Demográfico de 2000; IBGE, 2006.

IAR = Índice de Apropriação da Renda, sendo: 0 < IARmp ≤ 1

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FazendoCse agora a análise das desigualdades dentro de cada região observaCse que em 418 dos 449 municípios da região Norte, para os quais o IBGE contabilizou os respectivos PIBs médios em 2004, ou seja, em 93,10% dos municípios dessa região, o PIB per capta era inferior à média regional. No Nordeste foram contabilizadas informações para 1787 municípios. Um percentual de 93,10% destes, tinha PIBs médios abaixo da média regional. No Sudeste o IBGE levantou informações para 1666 municípios. Deste total, 1356 ou 81,39% tinham PIB per capta inferior ao PIB médio da região. Na região Sul foram pesquisados 1159 municípios, dos quais 786 (67,82%) tinham PIB per capta inferior à média da região. Na região Centroeste foram levantados 445 municípios, dentre eles 311 (69,89%) tem PIB per capta abaixo da média regional.

Na região Norte 72,48% dapopulação sobrevive em municípios cujo PIB per capta é menor do que a média da região. Esta população apropriaCse de 42,20% da renda regional. No Nordeste este percentual é de 67,89% da população vivendo em municípios com PIBs médios abaixo da média regional. Este contingente apropriaCse de 37,19% da renda gerada na região. No Sudeste, algo como 59,65% da população vivia, em 2004, em municípios cujos PIBs per capta eram inferiores à média da região, e apropriavamCse de 36,72% de toda a renda regional daquele ano. No Sul e Centroeste, os percentuais das populações vivendo em municípios cujos PIBs per capta posicionamCse abaixo das médias regionais são de respectivamente: 69,04% e 74,60%. Nestas duas regiões os percentuais apropriados da renda destes contingentes de população eram de respectivamente: 50,42% e 54,57%. (Tabela 8).

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Desagregando as análises para nível dos estados, observaCse que seguem, como não poderia ser diferente, os patamares de assimetria e de desigualdades das regiões. IniciaCse constatando que nos Estados da região Nordeste estão concentrados os estados que apresentam os menores PIBs per capta. Dentre estes estados, observaCse que o Maranhão (R$ 2.748,06), Piauí (R$ 2.892,40), Alagoas (R$ 3.876,75), Paraíba (R$ 4.165,25) e Ceará (R$ 4.169,80) lideram o ranking dos estados do Brasil com menores PIBs per capta em 2004. Tocantins, que fica na região Norte, cujo PIB per capta era de R$ 3.776,15, situaCse entre os estados brasileiros com piores indicadores de renda média em 2004. (Tabela 8).

Com maiores PIBs per capta posicionamCse o Rio de Janeiro (R$ 14.638,72), São Paulo (R$ 13.725,14), Rio Grande do Sul (R$ 13.320,29) e Santa Catarina (R$ 12.158,95). Ou seja, comprovaCse mais uma vez uma verdadeira hegemonia dos estados do Sudeste e do Sul no ranking dos melhores PIBs médios do Brasil. Uma constatação desconcertante, que sinaliza para o tamanho das desigualdades interCestaduais que prevalecem no Brasil, no que concerne à apropriação do PIB per capta, é aquela que mostra que o PIB médio do Rio de Janeiro (o maior do Brasil) equivale a 5,3 PIBs médios do Maranhão, que é o menor do Brasil.

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AnalisaCse a seguir os percentuais dos municípios de cada estado cujos PIBs médios estão abaixo da média do PIB estadual. Esta avaliação nos remete à constatação de que mais uma vez as desigualdades se processam de forma mais visível nos estados das regiões Norte e Nordeste. Com efeito, os estados brasileiros com maiores desigualdades no que se refere aos seus municípios possuindo PIB per capta inferior à média estadual são os seguintes: Amazonas tem 96,77% dos seus municípios com PIB per capta inferior à média do estado; Alagoas tem 95,02% dos seus municípios nesta condição; Ceará tem 94,02% de seus municípios com PIB per capta inferior à média do estado; Roraima (93,33%); Bahia (92,53%); Paraíba (91,93%) e Paraíba com 91,86% dos seus municípios possuindo PIB per capta inferior ao PIB médio estadual. Com menores percentuais de municípios com PIB per capta inferior à média dos estados estavam os estados de Mato Grosso do Sul (48,05); Mato Grosso (63,49), Rio Grande do Sul (64,67), Goiás (65,29) e Paraná (66,92).

Por outro lado, os estados brasileiros que apresentaram os maiores percentuais das suas populações vivendo nos municípios cujos PIBs per capta eram inferiores às médias dos estados foram: Roraima (98,21%); Bahia (88,64%); Rio de Janeiro (85,22%); Mato Grosso (81,60%); Espírito Santo (76,22%) e Goiás (75,45%). Por outro lado, os estados brasileiros que tiveram os menores percentuais das respectivas populações vivendo nos municípios de PIBs per capta inferiores às médias estaduais foram: Amapá (34,17%); São Paulo (43,87%); Rondônia (44,32%); Amazonas (47,63%) e Acre com 48,15%.

No que se refere à parcela da renda bruta estadual apropriada pelos municípios de PIB per capta abaixo da média estadual, observaCse que as melhores performances ficaram nos seguintes estados: Mato Grosso (61,66%); Rio de Janeiro (55,53%); Goiás (54,20%); Mato Grosso do Sul (53,67%) e Bahia (51,62%). Os cinco estados cujos municípios com PIBs per

capta inferiores à média do estado apresentaram as menores apropriações da renda bruta do estado foram: Amazonas (11,34%); Amapá (27,23%); São Paulo (27,64%); Rio Grande do Norte (29,24%) e Roraima (30,02%).

Na última coluna da Tabela 8 apresentaCse o que estamos chamando nesta pesquisa de Índice de Apropriação da Renda nos municípios cujos PIBs per capta são inferiores às médias dos respectivos estados (IARmp). Este índice afere a relação entre o percentual da renda

apropriada nos municípios, cujos PIBs per capta são menores do que as médias dos respectivos estados, e o percentual da população que vive nos municípios em que o PIB médio era inferior à média estadual. Este índice deve variar entre zero e um. Quando assume valores próximos de zero sinaliza para uma apropriação mais desigual da renda nos municípios de menores PIB per capta do estado. Quanto mais próximo de um (1) significa uma melhor participação na renda bruta do estado das populações que vivem nos municípios cujos PIBs per capta são inferiores à média estadual. Ou seja, este índice deve alcançar valor máximo quando o percentual da população que vive nos municípios de PIB per capta menor do que a média do estado for de 50% e esta população apropriarCse de 50% da renda bruta do estado. Em síntese podeCse escrever:

0 < IARmp ≤ 1

Segundo este indicador, observaCse que as melhores situações estão nos estados de Amapá, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Paraná. Os estados com os piores índices de apropriação da renda dos municípios com PIB per capta inferior à média do estado são: Amazonas, Roraima, Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte, Pará, Ceará e Bahia.

Nas regiões Nordeste com IARmp = 0,55 e Norte com IARmp = 0,58 encontramCse as

piores situações em termos de apropriação da renda nos municípios que possuem os PIBs per capta inferiores às médias regionais. Para o Brasil a estimativa é de um IARmp = 0,53, o que

confirma a nossa hipótese da grande desigualdade na apropriação da renda que prevalece no Brasil, em que 62,93% da população que sobrevive nos municípios brasileiros com PIB per capta menor do que a média nacional, apropriaramCse de apenas 32,93% da renda do País em 2004. (Tabela 8).

As conclusões que se retira das evidencias apresentadas na Tabela 8 são de que as desigualdades intraCestaduais acontecem de forma mais ou menos homogênea em todos os estados brasileiros, embora constateCse que em alguns a situação seja mais critica. Mas a conclusão generalizada das evidencias mostradas na Tabela 8 é a de que moramos num País soberbamente desigual também no que concerne à apropriação da renda. E esta é uma posição observada em todos os estados e regiões brasileiras. O diferencial entre estados e regiões é

acerca do grau dessas desigualdades, que em alguns casos (os listados na tabela 8 e discutidos no texto) a situação se torna mais difícil. Há portanto, um grande desafio e um grande caminho a percorrer. E isto fica mais claro quando observamos a evolução no tempo desses indicadores sociais e econômicos, que complementam as análises feitas até aqui, e que servirão para consolidar o conhecimento de que o Brasil é de fato um grande fosso de desigualdades econômicas e sociais. No capítulo seguinte discutiremos a evolução dos indicadores sociais no Brasil e a sua dinâmica neste começo de milênio.