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3. DESLOCAMENTO HUMANO POR CAUSAS E ALTERAÇÕES

3.4 Deslocados Ambientais

3.4 Deslocados Ambientais

Iniciamos este tópico registrando a nossa proposta para um conceito de deslocados ambientais: deslocado ambiental deve ser considerado todo o indíviduo que de forma compulsória deixa o seu local de origem e/ou habitação, ultrapassando fronteiras ou não, de forma provisória ou permanente, por não existir mais condições ambientais para habitabilidade e segurança à sua própria vida devido às multifatoriais causas de degradação e mudanças severas no ambiente (incluindo as alterações climáticas), sejam elas motivadas por força humana ou natural. Para a identificação do deslocado que migra por causas ambientais dentro do seu próprio país, pode ser utilizada, também, a expressão “deslocado interno ambiental”.

Por ‘condições ambientais para habitabilidade e segurança’ propomos o entendimento de que quando o sistema ambiental do local de moradia dos indivíduos não suprir as necessidades básicas de segurança à sua vida, por exemplo, acesso a água potável, disposição de recursos naturais para cultivo e proveito para manutenção do seu sustento, condições para a garantia da sobrevivência da vida humana e tudo que exponha o indivíduo à situação degradante de sobrevivência, estará o ambiente sem condições para habitação.

Na seara dos deslocados internos ambientais, registra-se um gráfico que dispõe sobre o “Total de novos deslocamentos anuais desde 2003 (Conflito e violência) e 2008 (Desastres)”270:

270 IDMC. Norwegian Refugee Council. People displaced by disasters. Disponível em:

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Para corroborar, a OIM aponta quatro cenários que podem ocorrer as migrações humanas por mudanças ambientais: i) “migração nos estágios menos avançados de mudança ambiental gradual”, a qual normalmente ocorre de forma temporária ou circular e interna, na busca por melhoria de condições de vida; ii) “migração em estágios avançados de mudança ambiental gradual”, quando a degradação ambiental é persistente e destrói os meios de habitabilidade e sobrevivência no local, causando uma migração permanente dos indivíduos; iii) “migração devido a eventos ambientais extremos”, ocorre o deslocamento humano em alta escala por desastres naturais e industriais, muitas vezes tornando impossível o retorno ao local, sendo permanente, interna ou transfronteiriça e mobilidade de um número alto de indivíduos; iv) “migração causada por desenvolvimento de larga escala e conservação da terra”, indústrias extrativistas, projetos de de infraestrutura, podem deslocar populações inteiras do seu local, por interferir no manejo dos recursos e seu destino (o que ocorre com muitos grupos indígenas), sendo realocados temporária ou permanentemente271272.

3.4.1 Deslocados climáticos: o deslocamento humano forçado pelas mudanças do clima

“A influência humana no sistema climático é clara e as recentes emissões antropogênicas de gases de efeito estufa são as mais altas da história. Mudanças climáticas recentes tiveram impactos generalizados em sistemas humanos e naturais”.273

“O aquecimento do sistema climático é inequívoco e, desde a década de 1950, muitas das mudanças não têm precedentes ao longo de décadas a milênios. A atmosfera e o oceano aqueceu, a quantidade de neve e gelo diminuiu e o nível do mar subiu”.274

O Relatório do IPCC de 2012 definiu a mudança climática como “alterações no clima identificadas na variabilidade das suas propriedades e que existe por um período extenso, normalmente décadas ou mais” 275. Quanto às causas: “Mudanças climáticas

271 IOM. Discussion Note: Migration and the Environment. MC/INF/288. 94th session, 1 Nov. 2007, item

8, p. 2-3.

272 Cf sobre “deslocados ambientais motivados”: BOGARDI, Janos et al. Control, Adapt or Flee:How to

face Environmental Migration. UN. Intersections. Bornheim: United Nations University, nº.5, maio de 2007. p.28-29.

273 IPCC. Alterações climáticas 2014. Tradução nossa. p. 2 Synthesis Report. 274 Ibid Tradução nossa. p. 2 Synthesis Report.

275 IPCC. Managing the Risks of Extreme Events and Disasters to Advance Climate Change Adaptation

Special Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. 2012. p. 5. Disponível em: <https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/2018/03/SREX_Full_Report-1.pdf> Acesso em 26 mar. 2020

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podem ser devidas a processos internos naturais ou forçantes externos, ou a mudanças antropogênicas persistentes na composição da atmosfera ou em uso da terra”276. As variações causadas por essas mudanças geram efeitos degradantes na humanidade a medida que torna o ambiente natural impossibilitado ou reduzido em prover uma via de sobrevivência nele. O manejo irresponsável de meios tecnológicos, substâncias degradantes, exploração ilegal de recursos naturais, ausência de fiscalização em atividades de alto indíce de poluição, dentre outros fatores, aceleram as extremas alterações climáticas que refletem em deterioração e desastres277 ambientais.

A relação entre o risco, vulnerabilidade e capacidade de adaptação e resiliência às mudanças climáticas aponta que as populações com os índices mais altos de instabilidade nos setores sociais, políticos e econômicos são as que mais sofrem com as consequências das variações do clima. Enquanto ocupam o topo da lista como países com insegurança alimentar exponencial, por exemplo, são eles os que menos contribuem para o aumento da mudança climática e emissão de gases estufa278. Esse é o resultado da

desigualdade ambiental: as populações mais vulneráveis são as vítimas dos danos provenientes das atividades degradantes realizadas por países desenvolvidos econômico, social e politicamente. E essa discrepância entre quem causa e quem sofre o dano, geralmente, têm em sua essência interesses econômicos dos que se beneficiam da atividade degrandante ambiental. Ver-se-á no próximo capítulo projetos que visam a proteção dos que se deslocam pelos fatores do clima.

3.5 A mudança no cenário da migração humana em decorrência da degradação ambiental