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2. AMBIENTE IN FOCO: noções essenciais ambientais

2.4 Alguns aspectos sobre a degradação ambiental

2.4.2 Vulnerabilidade: ambiental e humana

Para iniciar a reflexão quanto à vulnerabilidade ambiental, pertinente trazer a definição adotada pelo IPCC de 2014 o qual dispõe que:

Vulnerabilidade: A propensão ou predisposição para ser afetado(a) negativamente. A vulnerabilidade abrange uma variedade de conceitos e elementos, incluindo sensibilidade ou suscetibilidade a danos ou falta de capacidade para enfrentar ou se adaptar176.

Torna-se lógico o raciocínio a partir deste conceito que os países menos desenvolvidos e com dificuldade de acesso a boas medidas de segurança se encaixam no padrão de instabilidade. A United Nations Conference on Trade and Development177 é um órgão intergovernamental permanente estabelecido pela AGNU desde 1964, o qual é responsável, dentre muitas atribuições, por realizar análises e dar suporte aos países em desenvolvimento, mediando a integração econômica e dando assistência técnica com a finalidade da expansão do desenvolvimento inclusivo e sustentável. Para o presente trabalho, pertinente exaltar que, em seus relatórios sobre os “Países Menos Desenvolvidos” são repetidamente cadastrados os que têm as suas regiões afetadas com o maior número de desastres ambientais, pela falta de estrutura, exploração e ausência de políticas públicas de qualidade178.

A exemplo do último relatório da revisão de desastres ocorridos em 2019 onde pelo menos 396 desastres naturais foram relatados, com 11.755 óbitos e afetando 95 milhões de pessoas a um prejuízo de U$ 130 milhões. A nível regional, a Ásia foi o continente mais vulnerável, totalizando 40% de todos os desastres, o que representa 45% do total de mortes e 74% das pessoas atingidas por desastres em todo o mundo. O relatório

175 SWISS RE INSTITUTE. A fifth of countries worldwide at risk from ecosystem collapse as biodiversity

declines, reveals pioneering Swiss Re index. Tradução nossa. Disponível em < https://www.swissre.com/dam/jcr:4793a2c3-b50a-47c0-98df-ed6d5549fde8/nr-20200923-swiss-re- biodiversity-ecosystem-index-en.pdf> Tradução nossa. Acesso em 24 Set 2020

176 IPCC. Alterações climáticas 2014. Tradução nossa. Disponível em

<https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/2018/03/ar5_wg2_spmport-1.pdf> p. 5 Acesso em 06 jan. 2020

177 Website da United Nations Conference on Trade and Development. Disponível em

<https://unctad.org/en/Pages/publications.aspx> Acesso em 06 jan. 2020

178 NAÇÕES UNIDAS. The Least Developed Countries Report 2019. 2019, United Nations. Disponível

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destaca que “Quase metade do número total de pessoas afetadas localiza-se em 4 países em desenvolvimento”, e alerta para o fato que “Enquanto os custos econômicos são cada vez mais relatados, especialmente nos países desenvolvidos, os impactos humanos, incluindo as mortes, permanecem significativamente subestimados”179.

Cabe destacar que existem na comunidade internacional programas180 que buscam cooperar no alcance de medidas e estudos para encontrar respostas aos problemas ambientais através de avaliações de riscos ao ambiente e segurança, para desenvolver e fortalecer instituições de apoio em âmbito regional, além de incentivar políticas em âmbito nacional e internacional para abordagem das vulnerabilidades ambientais e humanas.

Michael Glantz traz a denominação “creeping environmental problems”181, em tradução literal: “problemas ambientais crescentes/rastejantes”, chamando atenção para o fato de que existem problemas ambientais globais e locais, e que alguns deles podem demorar um longo tempo para serem percebidos devido as consequências se apresentarem de forma lenta e gradual, enquanto outros podem demonstrar os efeitos negativos da degradação em um curto espaço de tempo (ex: desmatamento tropical). O que não pára de crescer são os números de problemas ambientais que aparecem ao longo do tempo: poluição atmosférica e aquática, aquecimento global, destruição da camada de ozônio, desertificação, desmatamento, seca, entre outros. Glantz, dessa forma, alude que: “Each is the result of long-term, low-grade, and slow-onset cumulative processes. Each is a creeping environmental problem”182. Muitas atividades violadoras do ambiente possuem variantes que resultam na perturbação ou degradação ambiental, sendo multidisciplinares nas causas e transfronteiriças nas consequências.

A vulnerabilidade humana diante de transgressões ambientais é percebida no momento em que a população demonstra fragilidade estrutural e incapacidade de adaptação aos efeitos degradantes no seu ambiente. “A sujeição de tais indivíduos e

179 CRED Crunch 58 - Disaster Year in Review (2019). Centre for Research on the Epidemiology of

Disasters – CRED. Tradução nossa. Disponível em <https://www.cred.be/publications>. Acesso em 06 jan. 2020

180 Conferir a parceria ENVSEC, a qual visa reduzir os riscos de segurança e aumentar a cooperação na

gestão de recursos naturais e ameaças ambientais na Ásia Central, Europa Oriental, Cáucaso do Sul e Europa do Sul. Disponível em <https://www.osce.org/oceea/446245> Acesso em 06 jan. 2020

181 GLANTZ, Michael H. «Sustainable development and creeping environmental problems in the Aral Sea

region» in: GLANTZ, Michael H. Creeping environmental problems and sustainable development in the Aral Sea basin. Cambridge: Cambrige Univerity Press. 2004. E-book: p. 4

182 Ibid.Tradução nossa: “cada um é o resultado de um processo cumulativo de longo prazo, baixo grau e

início lento. Cada um é um problema ambiental rastejante/crescente”. Para maiores informações, nota 1 da p.4, e-book.

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grupos sociais aos efeitos negativos da degradação ecológica irá agravar ainda mais a vulnerabilidade das suas condições existenciais, submetendo-as a um quadro de ainda maior indignidade (…)”183.

O cenário do movimento forçado de pessoas em detrimento de causas ambientais, como ver-se-á adiante, se torna cada vez mais preponderante nos debates acadêmicos, científicos e políticos, sendo estritamente positivo fomentar a consciência ecológica universal: nós precisamos, além de alcançar a informação, reconhecer o seu conteúdo, para assim, defendê-lo.

O Relatório do Milênio, de 2005, alertou para o movimento migratório de pessoas como resultado da relação homem-natureza. É importante falar de ambiente, exaustivamente, até que seja compreendido que:

Na ecologia, existe um ditado: 'você não pode fazer apenas uma coisa'. Em outras palavras, você não pode mudar um elemento de um ecossistema sem inadvertidamente ter um efeito em outros elementos desse ecossistema184.

E quanto mais ecossistemas são atingidos, mais propulsores são os danos sentidos diretamente na natureza e, inevitavelmente, na humanidade.

183 SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago. Direito Constitucional Ecológico: constituição,

direitos fundamentais e proteção da natureza. 6ª ed. ver. atul. e ampl. São Paulo: Thompson Reuters Brasil. 2019. p.101

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