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Desmistificando o ENEM como uma política de avaliação, numa

3. UM OLHAR CRÍTICO DO ENEM A PARTIR DOS PROTAGONISTAS DE

4.2 Desmistificando o ENEM como uma política de avaliação, numa

PROFESSORES E GESTORES DA ESCOLA PÚBLICA

A análise documental, realizada para estabelecer o contraponto entre o discurso oficial e a prática pedagógica da escola, contribuiu para subsidiar e orientar a análise e interpretação dos dados obtidos na escola, a partir de um cenário mais amplo. Na intenção de valorizar a escola como locus de estudo, serviu-se das vozes dos alunos e alunas, professores e gestores envolvidos com a política estudada, porque acredita-se em sua relevância.

Reveste-se de máxima importância a voz de um aluno, de uma aluna adolescente, de um adulto-jovem, de um trabalhador ou trabalhadora pertencente à escola pública, em término da Educação Básica, momento em que deve tomar uma decisão a respeito da continuidade de seus estudos, iniciando sua profissionalização.

Ressalte-se a voz dos professores que, na condição de mediadores, junto aos alunos e aos gestores têm a capacidade de captar significados desta política advindos dos alunos, dos pais, dos próprios pares e da escola.

Gerou-se uma expectativa bastante alta com relação à voz dos gestores pela sua posição na organização da escola, já que eles viabilizam a implantação e implementação da política e, em última instância, são os que a operacionalizam, a executam e, por isso, são capazes de senti-la mais de perto e de avaliá-la. Por meio deles é que se pode flagrar a articulação entre a escola e o órgão do sistema estadual e a escola e o Inep/MEC de forma direta.

As vozes dos alunos, dos professores e gestores, em um primeiro momento, coletadas em separado, foram analisadas e apresentadas de forma articulada, calcadas em três eixos a saber, 1.º eixo: a compreensão do Enem enquanto política nacional de avaliação que se concretiza nos Estados, Municípios, nas Escolas tendo como horizonte suas finalidades; 2.º eixo: o Enem na escola abrangendo as fases de divulgação, inscrição, preparação e resultados; finalmente no 3.º eixo, o Enem e o currículo com seus processos de ensino-aprendizagem. A partir destes eixos emergiram categorias de conteúdo que, apoiadas em teoria requerida, buscam capturar o significado das respostas, e assim dimensionar as repercussões, sejam elas positivas ou negativas, levando-se em conta as perguntas norteadoras.

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Do 1º eixo: a compreensão do Enem, na voz dos alunos, professores e gestores, quanto as suas principais finalidades, desdobraram-se as seguintes categorias: a avaliação do desempenho do aluno concluinte ou egresso; avaliação do sistema (ensino médio, escola e currículo); articulação do ensino médio com o ensino superior; a preparação para o vestibular; a auto–avaliação.

Avaliação do desempenho do aluno concluinte ou egresso do Ensino Médio é a finalidade precípua do Enem. A proposta do Exame é a de avaliar o desempenho do aluno concluinte ou egresso do Ensino Médio, através de uma matriz de competências e habilidades, geradora das questões a fazerem parte da Prova, que é o instrumento utilizado.

As respostas dos alunos quando interpelados a respeito do motivo para fazer o Enem, revela três pontos de vista como a razão principal, apontam a testagem, a avaliação e a análise de conhecimentos. Na percepção dos alunos o “testar” aparece, recorrentemente. É oportuno destacar que os professores apresentam o mesmo entendimento.

Concordam com a voz dos alunos, a respeito do Enem ter a finalidade de

“testar” se os alunos estão preparados para o vestibular, acrescentando, ainda, o

verificar, dando conta que o Exame não é, propriamente, uma avaliação.

Uma das vozes dos docentes amplia este entendimento e coloca que o Exame deveria ter o papel de “avaliar a formação como suporte para a relação aluno- sociedade”. Destaca a formação e não o desempenho do aluno, colocando esta formação, a serviço da relação aluno-sociedade, demonstrando preocupação com uma avaliação mais plena e com a inserção do aluno na sociedade.

A autora MILDNER (2002, p. 51) nega o Enem como uma situação de avaliação de resultados educacionais, afirmando-o de forma decisiva, como verificação desses resultados. Considere-se que a voz dos alunos e professores contemplam o “testar” que eqüivale à verificação, à medida conceitos mais restritos

que avaliação.

Avaliação do sistema (ensino médio, escola e currículo), foi uma finalidade não prevista.

No ano de 2003, o MEC vem a público anunciar que através do Enem será possível avaliar o sistema graças à base de dados já conseguida. Extrapola-se desta sua finalidade inicial, qual seja a de avaliar o desempenho do aluno concluinte e do

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egresso, assim como o objeto de avaliação que passa a ser o sistema incluindo a Escola, o Ensino Médio e até o Currículo.

Os alunos entendem que se trata da avaliação referente ao Ensino Médio e não mencionam o Ensino Fundamental, nem se referem à Educação Básica. Isto é até compreensível, já que o Exame pouco valoriza os conteúdos relativos ao Ensino Fundamental, pelo fato da Educação Básica ser um conceito recente para eles. São capazes de perceber que através do seu desempenho individual, pode-se estar fazendo a avaliação do 2º Grau e, até mesmo, comparando a qualidade da escola pública com a escola particular. No bojo desta comparação pode estar presente o espírito de competição e a necessidade de afirmação da qualidade da escola e do aluno da rede pública. A escola e o aluno sofrem um processo de desqualificação, tanto pela mídia, quanto pelos próprios responsáveis pelos processos seletivos das Instituições do Ensino Superior. É importante esta percepção, porque traz à tona o uso dos resultados que, no caso do Enem, cogitava sua extensão para a escola e o sistema.

Os professores apontam a possibilidade do Exame servir como um

diagnóstico para os alunos. Acrescentam que o Enem pode levantar as falhas

servindo de ferramenta, de instrumental para o diagnóstico desta feita para o Sistema, pois aponta dados do Ensino Médio, no país. As conseqüências destas percepções levam ao controle e à regulação do sistema, relativas ao Ensino Médio. Constataram respostas expressando a dimensão político-ideológica do Exame entre elas: a necessidade de “ser debatido”, de “ler as entrelinhas, não saber o que foi feito com os dados, se realmente houve melhora e a comparação com as demais políticas”. Estas vozes

demonstram que há, ainda resistências e a adesão não é total, além de inferir-se que as políticas de avaliação não têm sido objeto de discussão e, consequentemente, não existe um canal de participação, da escola com o Inep/MEC.

Os gestores, ora apresentam uma fala bastante articulada à fala dos professores que captam a dimensão ideológica da política, ora repetem e concordam com o discurso governamental. Dizem que o Enem é forma de acompanhamento do trabalho nas escolas, reconhecendo nesta política o controle externo das instituições, sua regulação pela via de desempenho dos alunos, ou seja, sua repercussão, extrapolou a finalidade inicial, a de avaliar o desempenho dos

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concluintes e dos egressos. Isto quer dizer que o controle da escola abrange tempos distintos: o atual e um tempo anterior, sem que haja limites, no caso dos egressos.

Destaca-se uma opinião além das perguntas do questionário dos professores, quando houve a colocação de que “os professores se resguardaram, pois sendo avaliação do Ensino Médio, pudessem ser responsabilizados ao mesmo tempo em que passaram a refletir sobre a avaliação do seu próprio trabalho”. Esta preocupação é legitimada pela afirmação de MILDNER (2002, p. 76) que “o Enem, e não os Concursos Vestibulares, vem assumindo paulatinamente e sistematicamente a função reguladora e de controle social e educacional com base em Verificações de Resultados Educacionais realizadas, unificadamente, no nível social”.

A articulação do ensino médio com o ensino superior a partir da oferta de alternativa e ou de complementação para o processo seletivo de admissão ao Ensino Superior. Esta finalidade do Enem foi utilizada como um dos carros-chefe desta política. Por esta avaliação externa do desempenho do aluno concluinte ou egresso do Ensino Médio, haveria a democratização do acesso do aluno da escola pública ao Ensino Superior nas Instituições Públicas.

Na voz dos alunos, o Enem é realizado para verificar se está apto para o vestibular, se tem base, se está preparado. Estabelecem, na seqüência, uma ligação direta da função

do Exame ligada ao vestibular, e não propriamente ao Ensino Superior, mostrando que o vestibular, ainda assume uma importância superdimensionada. Não mostram uma alta expectativa com relação aos benefícios que possam auferir, utilizam-se das expressões “ajudar um pouco, pontuar, contribuir, desempate”.

Se em princípio, para os professores não há perdas, os ganhos apontados são gerais: “utilização de resultado, pontuação, beneficiar-se de alguma forma”. Demonstra-se com isto que permanece a expectativa da conquista da vaga pelo aluno da escola pública.

Percebem os gestores que, apesar do Enem, há “discriminação com relação à alunos de escola pública, havendo um afunilamento no vestibular”, eqüivale dizer, que a seletividade ainda está bastante presente, “requerendo uma política sedimentada séria para o Ensino Fundamental e Médio”. Esta fala expressa a necessidade de políticas regulares,

bem intencionadas, comprometidas com a qualidade do Ensino Fundamental e Médio, como etapas articuladas da Educação Básica, a qual repercute, positivamente como um todo, e não políticas pontuais desarticuladas, dependentes da linha política do governo central.

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Aos alunos foi perguntado qual(is) o(s) Curso(s) pretendido(s) e se este(s) era(eram) concorrido(s) e, neste ponto, ocorreram algumas surpresas. Eles não possuem uma idéia exata da situação do seu curso, são capazes de responder sim ou não, mas poucos sujeitos sabiam a relação candidato-vaga. Relevante foi a resposta de um sujeito “depende qual seu conceito de concorrência”, e isto foi possível

constatar quanto a alguns cursos que foram colocados, nas duas situações. Não se apreenderam aqui, questões significativas quanto ao gênero, pois os Cursos se distribuíram quase que igualmente, com pequeno destaque para algumas áreas das engenharias, a mecatrônica por exemplo, que ficou restrita aos alunos e a dança, que foi escolha feminina.

Aproximaram-se as questões: “na sua opinião, o Enem ajuda na conquista de uma vaga na instituição, e se conhecem qual é a forma de aproveitamento nas instituições onde se pretende prestar Vestibular. Interessantes respostas foram obtidas no grupo de alunos que responderam afirmativamente. Dentre eles destaca- se: “ajuda bastante, conta pontos, mais chances, nota maior no Enem prevalecerá, ajuda, para desempate, serve como referência, para reavaliar, aceitam como vestibular, mostra uma certa base do que aprendi, anula o vestibular ser for maior (chance)”. As respostas revelam que os alunos

sabem que há uma relação entre o seu desempenho na prova para que haja ganhos. Alguns, equivocadamente, acreditam que uma nota do Enem, mais alta, prevalecerá sobre a do vestibular, ou ainda o anula e por isto, significa uma chance. É apresentado também como substituto do Vestibular.

O grupo de respondentes que escolheu como alternativa “o não”, apresenta a seguinte argumentação: “até agora eles não usaram o Enem, para garantir alguma vaga; porque as pessoas não lembram de usá-lo, ou porque não atingiram a nota mínima, enfim, nunca ouvi falar de alguém que tenha passado no vestibular pelo Enem; apenas desempata, porque acho que não fui bem e nem sabia o número para poder usar; porque as faculdades que pretendo prestar vestibular não aderiram ao Enem; porque ambos são muito concorridos e um empate é difícil de acontecer; o Enem é conhecimentos gerais, no vestibular são questões diferentes; porque nunca ouvi nenhuma divulgação de alguém que já passou no vestibular através do Enem”.

Este grupo de sujeitos que nega a contribuição do Enem na conquista da vaga apela para distintas razões: desde o desconhecimento da forma de sua utilização (nota de corte); o fato de não saber o número da inscrição, até a descrença por não terem dados palpáveis de uso do Enem com sucesso. Outras razões são apontadas: tendo a condição de desempate, considerada como hipótese

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pouco plausível; o fato da instituição não ter aderido ao Enem e até mesmo pelo motivo do Enem e do Vestibular fazerem cobranças diferentes.

Interessante foi a constatação de que a maioria dos alunos diz não conhecer ou não ter certeza sobre a forma de aproveitamento do Enem na(s) instituição(ões) onde pretende realizar o processo seletivo. (Vide Quadro 5 no apêndice)

MILDNER (2002, p. 50) apresenta “o Enem enquanto na significação de modalidade alternativa ou complementar aos Concursos Vestibulares, no mesmo patamar que os Concursos Vestibulares, ou seja, com mecanismo classificatório e sistema seletivo, o que re-fortalece o já sofrido “fracasso” e “sucesso” escolar de uma prática pedagógica vigente, fundamentalmente classificatória e seletiva”.

Os estudos de FAMBRINI (2002, p.79).) “negam que o Enem possa ser uma modalidade alternativa ou complementar aos processo seletivos para cursos de alta e média procura como é caso da PUC-SP que tem 29 cursos oferecidos nesta condição. Desse modo, entende-se que o Enem não apresenta impacto algum para os estudantes oriundos da rede pública, que podem em algum momento vislumbrar a possibilidade de ingressar em algum dos cursos/turnos/instituições no Processo Seletivo Unificado da PUC-SP em 2002” .

Estudos mais recentes de FELIPE (2004, p. 193), envolvendo as Universidade Públicas de São Paulo (USP, UNESP e UNICAMP), concluem que a utilização do Enem no processo seletivo varia de acordo com a procura dos cursos, nos mais concorridos o uso do Enem é menor do que nos com baixa concorrência. Em relação aos beneficiados coloca que o Enem está contribuindo para um aumento (mesmo que seja mínimo) nas notas dos candidatos (UNESP) e limita aos cursos de baixa procura. Constata que o Enem proporciona ganhos quase na mesma proporção, tanto para os alunos que cursaram o Ensino Médio na Pública, como para aqueles que cursaram em Escolas Particulares. Em algumas situações o Enem contribui ainda mais para a elitização das Universidades Públicas, quando favorecem os alunos provenientes de Escolas Privadas. Afirma que o Enem, não está causando impacto, na democratização do acesso aos alunos de Escola Pública à USP, UNESP, UNICAMP.

Os diferentes estudos citados, revelam que as repercussões do Enem para a conquista da vaga são, praticamente, nulas, tanto nas escolas públicas, como particulares.

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Preparação para o vestibular. Esta foi uma finalidade não prevista pelos gestores do Enem, mas presente, principalmente nas vozes dos alunos e professores.

O Enem, que visa contribuir, ser uma alternativa para os processos seletivos, transformou-se em uma preparação para o vestibular, fato que não estava previsto explicitamente, repercutindo como uma nova finalidade. Esta nova finalidade é um ganho, mas um ganho menor, pode-se dizer de segunda categoria. Talvez seja interessante para o Ensino Superior, o qual certamente teve diminuído o número de alunos de 1ª e 2ª séries e de concluintes do Ensino Médio que fazem o vestibular, somente para ver como é. O fato se deve ao elevado nível de exigência, tensão e cobrança que os vestibulares têm ocasionado.

A mídia já registrou esta nova função que o Enem vem assumindo de ”preparação para”, vide reportagem intitulada “Colégios dão aulas preparatórias ao Enem” (GAZETA DO POVO, 26/08/2000).

Dentre a voz dos alunos afirmando que o Enem pode ajudar na conquista de uma vaga na Instituição de Ensino Superior destaca-se “já ter um certo conhecimento de como vai ser o vestibular” reaparecendo, aqui, a função de preparação.

Na voz dos professores, esta questão está presente quando colocam que, na sua opinião, o Enem por não influenciar na aprovação ou reprovação do aluno na escola, é feito com tranqüilidade. Infere-se, portanto, que em razão de não haver perdas, a adesão, a participação no Exame, serve à tarefa de preparação, que é colocada de forma explícita por outros professores.

Os professores, principalmente, de uma das Unidades dizem não fazer nenhum tipo de preparação de seus alunos para o Enem. Os que a realizam o fazem através dos exercícios nos livros didáticos; há aqueles que aplicam testes dos Exames anteriores, e outro docente que afirma que alguns professores o fazem individualmente. Relembre-se que os livros didáticos do Ensino Médio das diferentes matérias que fazem parte do Exame, passaram a trazer as questões do Enem, o que tem servido de propaganda/marketing para as editoras.

Ressalte-se o caráter de “preparação para” que a pergunta referente ao uso das questões do Enem com os alunos, bem como a aplicação do mesmo tipo de questões junto a eles, revelou através das vozes dos professores: “para que se sintam capazes, porque pretende mostrar a eles que as questões não são difíceis, mas que exigem muita atenção na parte de interpretação, porque desse modo eles podem se familiarizar com o processo”.

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No que se refere a alterações no seu plano de trabalho, a partir do Enem, um professor respondeu sim, mas apenas porque caem no vestibular

Retoma-se BARRIGA (2000, p.76)., que alerta sobre as inversões que o Exame enquanto instrumento realiza: de problemas sociais a pedagógicos, de métodos a exame, de problema conceitual de ordens diversas em problema técnico. Reafirma que “todas estas inversões trazem a traição que se pretende designar a este instrumento. Estas traições giram desde as diversas fraudes que se realizaram em relação ao exame (copiar do companheiro, levar anotações para o exame)”.

Lembre-se do rigor que a instituição responsável pela aplicação do Enem, utiliza para evitar a fraude e validar o Exame. Torna-se uma verdadeira “operação de guerra”. BARRIGA (2000, p.76).coloca ainda, “até as formas muito mais sutis mas não menos eficazes, tais como dar a aula em função do Exame preparado, elaborar cursinhos para identificar as formas de resolver com acertos um Exame objetivo, fotocopiar diversos Exames em função de quem já os resolveu e dele se lembra”. Considera estes fatos uma perversão das relações pedagógicas e isto foi possível constatar através das falas dos alunos, professores, gestores e até com a participação interessada das editoras.

Referenciar a Auto-avaliação, foi uma das finalidades utilizadas inicialmente para conquistar a adesão dos alunos e dos pais que se ressentem de dados de referências externas à escola.

Na voz dos alunos, a finalidade de auto-avaliação aparece com pouca força, o que está indicando que não houve repercussões neste aspecto.

A avaliação formadora para HADJI (2001, p. 102-103), tem como primado a auto-avaliação que expressa uma dupla vontade: a primeira de privilegiar a regulação da ação de aprendizagem, em uma relação à constatação dos efeitos produzidos por esta ação, a auto-regulação, o auto-controle; a segunda expressa a vontade de desenvolver atividades de meta-cognição. Coloca a auto-avaliação enquanto auto-regulação contínua, e não sob suas formas, que correspondem a “efeitos” de autonotação e autobalanço .

É bom que se destaque a condição de auto-regulação contínua que este autor atribui à auto-avaliação, portanto um processo e não um momento pontual como a situação do Exame do Enem.

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É sabido que se pode designar, por meio desse termo, um processo mental interno pelo qual um sujeito toma consciência dos diferentes aspectos e momentos de sua atividade cognitiva. Por meio desse processo, o sujeito toma distância em relação aos conteúdos envolvidos pelas atividades cognitivas em andamento. Por isso, a metacognição é sinônimo de atividade de autocontrole refletido das ações e condutas do sujeito que aprende. Ela é ordem da conceptualização refletida, e implica uma tomada de consciência, pelo sujeito, de seu próprio funcionamento. Compreende-se seu papel no êxito das aprendizagens, pelo aumento do autocontrole e da diminuição da regulação externa do professor (2001, p. 103).

Conforme MILDNER (2001, p. 56), a primeira função declarada do Enem, a da auto-avaliação, parece sugerir, talvez pretensiosamente, que o Enem configura uma espécie de “teste vocacional”, o qual, por sua vez, há de funcionar como um instrumento de “auto-seleção”, pelo menos .

2º eixo: a percepção do Enem na escola de Ensino Médio. Este é o

momento, o espaço da execução da política. Constata-se o modo como ela é apresentada, por quem, quais são as vozes mais fortes no interior da escola. Verifica-se ainda como esta política se incorpora na vida da escola, como se desdobra em etapas, que atravessam o ano letivo. Este momento revela também, as articulações com o sistema Estadual e o Federal na figura do Inep/MEC.

Entre as vozes dos professores ligadas à dimensão política, constata-se a preocupação com o uso dos dados: “não sabe, o que foi feito com os dados”, e uma dúvida

“se realmente houve melhora”. Esta fala nos remete à utilização dos dados gerados a partir do Enem, sua transparência para a comunidade escolar, sua publicitação, o que aponta para a necessidade de acompanhamento da avaliação externa, que embora se apresente como um “olhar isento” pode estar fora do nosso alcance. Demonstra, ainda, a dúvida com relação à melhora da qualidade, que daria sentido à avaliação numa perspectiva formativa, ou seja, o aperfeiçoamento do nível de ensino nas escolas públicas.