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Para melhor entender a anatomia dos mecanismos das políticas de avaliação de abrangência nacional, como é o caso do Enem, entendeu-se como necessário num primeiro momento, mapear os documentos e instrumentos utilizados e que constam no apêndice. Em um segundo momento, verificou-se como ocorre a operacionalização no estado, envolvendo os gestores do Enem, a SEED e suas unidades descentralizadas, denominadas Núcleos Regionais de Educação/PR – NREs, e as escolas. Finalmente, caracterizou-se o processo de articulação entre a SEED e as Instituições de Ensino Superior Públicas.

2.3.1 A Escola Pública de Ensino Médio e a SEED-PR

Na operacionalização do Enem, na sua etapa de execução, estava prevista a participação das Secretarias de Educação Estaduais que com sua infra-estrutura física e de recursos humanos viabilizariam desde a divulgação nas escolas, até a orientação e a inscrição e, finalmente, a aplicação dos exames. Para tanto, houve o envolvimento do nível central, assim como as unidades descentralizadas denominadas Núcleo Regional de Educação/PR - NRE. Desde a implantação desta política, a SEED/PR tem funcionário responsável pelo Enem, junto ao Departamento de Ensino Médio.

Inicialmente, coube a SEED apoiar a divulgação quando foram chamados os meios de comunicação do Estado. Esta, ficou responsável pela sistematização das informações no momento da Inscrição, já que havia a isenção através da SEED, para os alunos da escola pública, que não podiam pagar o valor total da inscrição.

Ficaram ainda a cargo da Secretaria s relatórios referentes à aplicação do exame com o registro dos eventuais problemas, elaborados a partir dos relatórios que os Núcleo Regional da Educação - N.R.E. encaminhavam. Hoje com as inscrições via escola, e agências do correio, e com as isenções para todos os alunos da rede pública, pouca informações passam pela SEED-PR .

Na SEED-PR, cabe à equipe responsável pelo Sistema de Avaliação do Paraná-AVA/PR acompanhar as políticas de avaliação como um todo. Sendo assim, foi chamada a participar do Seminário de Apresentação do Enem junto à comunidade educacional do Estado (SEED) e da comunidade acadêmica (UFPR) no

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ano de implantação do Exame. Da mesma forma, esta equipe (AVA) no final de 2002 participou do Seminário de Avaliação em Brasília, quando foram tratados assuntos envolvendo o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes - PISA, O Enem, e ENCCEJA. Informam que o Enem vem mantendo a mesma orientação e que em razão do modelo utilizado são mínimas as alterações que vem sendo realizadas11

. Esta equipe constata que a participação da SEED no Enem foi diminuindo, na medida que a taxa de inscrição para os alunos da rede pública foi sendo, gradativamente, retirada (desde a isenção da metade, para alguns, até a isenção total).

No período inicial em que a SEED isentava os alunos da rede pública, ela mantinha o controle sobre o número de alunos participantes. Agora, a SEED teve reduzida a sua participação à colocação dos observadores, por ocasião da realização dos Exames. Estes observadores não são remunerados, ao contrário do Coordenador Estadual e das outras funções. Isto reduziu ainda mais a participação, considerando que a não remuneração pode significar descompromisso do observador, que segundo a equipe, traz informações rotineiras. A Coordenação Estadual tem ficado a cargo do IBGE, instituição com a qual o Enem faz parceria/convênio, juntamente com a CESGRANRIO e a Fundação Getúlio Vargas. A SEED-PR, na condição de mantenedora não tem pleno direito a dados específicos, em separado, pois há uma exigência de participação de 90% dos alunos da rede, sendo que igual critério vale para as escolas. No entanto, mesmo perfazendo este total a SEED-PR e ou escolas podem não conseguir o Relatório com os dados específicos.

Levantou-se junto à equipe do AVA se estava havendo continuidade na participação do Núcleo de Articulação do Ensino Médio - NAEM. Constatou-se que a equipe do AVA esteve presente em duas ou três reuniões, e não foi mais convocada pela Universidade.

11 A época da realização de evento, no final de dezembro e mudança de governo a alternância de partido trouxe cautela com relação aos encaminhamentos, de modo geral. No que tange ao ENEM foi entregue o documento básico, a exemplo do que vem sendo distribuído anualmente. ( sem a data de 2003)

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2.3.2 Articulação com o Ensino Superior

Hoje, a articulação aparece, como uma política explícita, pois as passagens de um nível para outro, ou mesmo as passagens entre etapas de um mesmo nível se constituem problemas sobejamente conhecidos, mas nunca verdadeiramente trabalhados.

Historicamente, a articulação entre o Ensino Superior e o Ensino Médio tem sido objeto da legislação sobre o vestibular, desde a década de 70, mas pouco se fez, e menos ainda foi cobrado. Havia dispositivos, na legislação, destinando o excedente dos recursos obtidos a título de taxa de inscrição, para ser utilizado em ações de articulação entre o Ensino Médio e o Ensino Superior.

Mesmo havendo potencial, nesta política do Enem, para reestabelecer esta articulação ela é de origem externa, é imposta de cima para baixo, daí perder força com as escolas, principalmente da rede pública, que vivenciaram políticas mais progressistas, na maioria dos Estados, pelo menos durante uma década (meados de 80/90). Ressalta-se que as escolas participaram ativamente na construção das políticas públicas e agora se sentem apenas executoras destas políticas, como já ocorreu na década de 70.

Havia expectativas por parte dos responsáveis pela política do Enem que este exame geraria uma mudança de metodologia, a partir do tipo de questões apresentadas na prova, a exemplo do que ocorre com os processos seletivos. Porém, entende-se que esta política é apenas coadjuvante, concorrente da política maior proposta nas Diretrizes Curriculares do Ensino Médio, que embora implantada em 1998, concomitante ao Enem, já vinha defendendo os mesmos pressupostos.

É oportuno ressaltar que a Fundação CESGRANRIO encarregada da aplicação e correção em nível nacional, utiliza as mesmas estratégias que se usa na aplicação do “Concurso Vestibular”, e ate o mesmo rigor. Utiliza-se dos espaços físicos das Instituições de Ensino Superior, inclusive de seus professores e funcionários. Isto vai assegurar ao Enem a legitimidade de que ele necessita para ser considerado como componente dos processos seletivos mais concorridos, que são os das Universidades Federais e Estaduais.

Em termos de Paraná, faz-se necessário retomar tanto a trajetória das políticas públicas relacionadas ao ensino médio, quanto as mais recentes a título de contextualização.

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O fato de ser extinto o Ensino Profissionalizante no Paraná, antes mesmo da edição da Lei de Diretrizes e Bases, em fins de 1996, abalou a já frágil identidade do Ensino Médio, agora a 3ª etapa da Educação Básica, com oferta apenas da Educação Geral. Constatava-se que os alunos tinham uma dupla aspiração: à de continuidade e a de terminalidade com as quais conviveram desde a década de 70, embora com diferentes intensidades, em um ou outro pólo. A partir destas alterações, o princípio da terminalidade ficou condicionado para além do término do Ensino Médio de Educação Geral, nos poucos cursos profissionalizantes de Pós- Médio que foram implantados.

E o que dizer da aspiração de continuidade, se esta é condicionada à obtenção de sucesso nos processos seletivos das Instituições Públicas Estaduais e Federais, cada vez mais concorridos e dependentes de preparação em cursinhos? Eis que surge uma possibilidade de facilitar o acesso ao Ensino Superior, através do Enem que passa a compor o processo seletivo. Ocorre que a forma de pontuar o Enem, neste processo, é determinada pelas instituições.

No caso da UFPR já foi pontuada como a 10º nota, agora esta é apenas critério de desempate, o que está desestimulando os alunos da escola pública a realizarem-no, mesmo com a gratuidade das inscrições, que inicialmente era um óbice à participação. O critério de desempate considera a nota do Enem da parte objetiva e tem como condição que o outro candidato tenha indicado o aproveitamento da nota do Enem.

Sabe-se que parte significativa dos alunos das escolas públicas só faz o processo seletivo na Federal e nas Estaduais, porque os pais já sabem de antemão que não poderão arcar com o ônus da formação superior, numa instituição particular. Nem todos têm conhecimento sobre o Fundo de Financiamento para os Estudantes de Ensino Superior - FIES, e estes recursos não seriam suficientes para todos, ou ainda, mesmo que o conseguissem teriam um custo, que embora mínimo, inviabilizaria sua manutenção12. A partir de 2005, com a implantação do ProUni com

“vagas-bolsa” nas Escolas Particulares a situação se altera havendo mais possibilidades.

No Estado do Paraná foi criado pela primeira vez em 1998, um Núcleo de Articulação entre o Ensino Médio e o Ensino Superior/UFPR - NAEM, com o objetivo

12 Só a partir do 2º semestre de 2004 o FIES retirou a exigência de fiador para se conseguir o benefício, o que estava a dificultar a aprovação para parte dos candidatos.

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de potencializar e operacionalizar esta política, explorando entre outras, novas possibilidades de articulação, que no entendimento de políticas mais críticas devem ter mão dupla. O formato de Núcleo de Articulação parece de fácil implantação, porém, considerando a história pregressa dessas políticas de articulação, pode ter vida curta, passado o entusiasmo inicial. (Vide quadro 5 no apêndice)

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3 UM OLHAR CRÍTICO DO ENEM, A PARTIR DOS PROTAGONISTAS DE