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Desvio dos objetivos iniciais: o Bar Clube do Choro

Um dos objetivos do Clube, desde a sua fundação, foi a promoção de espetáculos de choro com grupos paulistanos que anteriormente tocavam nos quartinhos dos fundos ou nos quintais de suas casas. Essa atitude fazia parte da filosofia de trabalho do Clube, que se baseava no mote ‘vamos resgatar o choro das sombras’, isto é, tornar novamente visíveis na grande mídia os músicos e obras que estavam ‘escondidos’ ou

que não tinham o seu valor reconhecido pelo grande público. Esse resgate envolvia, entre outras ações, a busca de locais para a apresentação do repertório e dos músicos redescobertos pelo Clube.

Utilizando seus contatos profissionais e de amizade, Sergio Gomes da Silva e Oswaldo Luiz Vitta conseguiram inicialmente realizar shows no Auditório Vladimir Herzog, espaço do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, na Rua Rego Freitas. Outro espaço conquistado por eles foi o Bar do Instituto dos Arquitetos do Brasil, na Rua Bento Freitas. Logo em seguida vieram os bares Café Paris, Quincas Borba e Latino Americano. Alguns teatros, tais como o São Pedro, na Barra Funda, e o Teatro Municipal de São Paulo, também receberam espetáculos promovidos pelo Clube151.

Os membros do Clube trabalhavam de forma amadora e não visavam lucros com a promoção de espetáculos. Nos shows realizados em bares, toda a renda da bilheteria era utilizada para o pagamento dos músicos. Os valores arrecadados com as apresentações nos teatros eram utilizados na realização dos outros projetos do Clube, tais como a publicação do Urubu Malandro ou o lançamento do Lp de Armandinho Neves. Os fundadores do Clube faziam questão de ter um relacionamento de igual para igual com os músicos. Apesar dos diversos cargos e títulos da Diretoria, procurava-se um ambiente democrático e colaborativo, onde cada um contribuía com seu esforço pessoal buscando o bem comum.

Com a debandada de grande parte dos sócios na segunda metade de 1979, esse ambiente começou a se perder e os interesses pessoais passaram a se sobressair aos coletivos, o que levou à desagregação da diretoria e ao fechamento do Clube. Helton Altman152, que então era apenas um ajudante de produção no Clube, decidiu abrir um bar no bairro de Pinheiros e batizou-o de Bar Clube do Choro. Apesar do nome do bar e do fato de Altman ter sido sócio do Clube original, o Bar não era uma iniciativa da antiga diretoria. Seus objetivos eram bastante diferentes, assim como sua maneira de trabalhar. Altman tornou-se um empresário e hoje possui diversas casas noturnas nos bairros de Pinheiros e Vila Madalena.

151 Para informações detalhadas ver Capítulo II.

152 Helton Altman. Nascido em Belo Horizonte, formou-se em Economia pela Fundação Álvares

Penteado. Empresário do ramo musical, criou o Bar Clube do Choro e o Vou Vivendo, ambos no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Atualmente é dono de diversos bares na região da Vila Madalena. Disponível

O Bar Clube do Choro foi inaugurado em 1980, na Rua João Moura, 763, em Pinheiros. Para a inauguração, foi programada uma exposição de caricaturas de Miécio Caffé, retratando figuras da música popular brasileira, tais como Carmen Miranda, Elizete Cardoso e outros. O objetivo do Bar, no entanto, era o lucro financeiro. Os sócios fundadores consideraram sua criação um desvio da proposta inicial do Clube:

Enfim, o Helton fez uma exposição do Miécio, e acabou fazendo esse bar lá em Pinheiros, e o bar continuou. E muita gente acha, porque chamava Clube do Choro, que lá era o original. Cometeu alguns erros, usou o logo do Laerte sem permissão, os desenhos do Laerte pro Clube do Choro, que é aquele violão chorando, essa marca era do Laerte. Veja que nós tínhamos também o envolvimento de Laerte Coutinho, um caricaturista, músico, interessado...se você pegar gente dessa área, o Chico Caruso também freqüentava, você pega e vê que esses caras todos estão ligados. E aí se transforma o Clube do Choro. Muita gente confunde essa origem, porque transformaram o clube em um bar, então ele perdeu sua característica (VITTA, 2008).

Enquanto o Clube original tinha um perfil de pesquisa e revitalização cultural, o Bar era um empreendimento comercial. Os shows, que muitas vezes haviam acontecido no Sindicato dos Jornalistas ou na sede da Al. Jaú em formato de roda, com a participação de chorões veteranos e iniciantes, passaram a ter formato comercial, com horários definidos e cachês fixos para os músicos. Muitos deles, precisando de trabalho, aceitaram tocar no Bar:

Ele (Helton) tinha muitos contatos do Clube, muita gente do grupo antigo tocou lá, mas aí muitos músicos já estavam dispersos, alguns não gostaram, outros ganharam até dinheiro. Podem até reclamar, mas ganharam dinheiro. E o Helton virou um empresário da noite, até hoje ele é empresário da noite, criou o Vou Vivendo, que virou um espaço de choro e música brasileira... (VITTA, 2008).

Grande parte dos músicos ligados ao Clube do Choro inicial, no entanto, não gostaram da proposta do empresário. Esses músicos sentiam-se parte do Clube do Choro, sentiam que o Clube era um lugar onde podiam encontrar os amigos, tocar, conversar e trocar experiências uns com os outros, numa espécie de sociabilidade particular do choro. Tal fenômeno que não acontecia no Bar, que era apenas um lugar para se apresentar e ganhar dinheiro. Sentindo falta de um ambiente propício à prática de sua música, recusaram-se a se apresentar no Bar, voltando para seus ‘quartinhos dos fundos’:

ele monta aquele troço na João Moura, sem falar comigo nem com o Colibri, nós fomos lá na inauguração, mas era muito caro! Tinha lá uma exposição do Miécio Caffé, nós

estávamos completamente desambientados (...) O nome era Clube do Choro, mas era um nome fantasia, os chorões não se sentiam num clube, os músicos não podiam nem beber lá porque era muito caro, era tudo muito chique (SILVA, 2007).

Devido ao seu perfil amadorístico e à sua maneira peculiar de organizar shows e comemorações, o Clube do Choro era um espaço de encontro de amigos, um local de congraçamento, voltado à pesquisa e à prática de música instrumental. Essa forma de trabalho criou um forte vínculo entre músicos e jornalistas, que se perdeu com a criação do Bar. Enquanto no Clube os músicos e os jornalistas que programavam os shows eram amigos, no Bar as relações passaram a ser exclusivamente comerciais, e o empresário tornou-se chefe dos músicos. A antiga diretoria, assim como alguns grupos ligados ao Clube, acreditaram que essa mudança foi uma exploração do trabalho que vinham desenvolvendo há dois anos:

Esse cara simplesmente se aproveitou do nosso trabalho como uma oportunidade comercial. Diferente da gente. Quando alguém ligava lá no jornal pra pedir algum grupo pra tocar em festa, algum lugar, a gente arrumava, e não cobrava, não dava uma de agenciador, a gente era jornalista, não vivia disso. E ele não, quando ele montou o bar, ele tinha uma grana para pagar os músicos, então ele era o PATRÃO dos músicos! E ele agenciava os músicos (SILVA, 2007).

Outro ponto que irritou os antigos membros do Clube e criou grande ressentimento entre eles e Altman foi a apropriação indevida do logotipo do Clube e da figura do Urubu Malandro, ambos criados pelo cartunista Laerte Coutinho. Laerte foi um dos sócios fundadores do Clube e colaborou com a parte gráfica dos programas de apresentações e do jornal Urubu Malandro enquanto a associação existiu. O logotipo do violão com uma lágrima, símbolo do Clube, apareceu pela primeira vez na capa do Livro de Ouro do Movimento, em 1976; o Urubu surgiu em 1977, no programa do show ‘O Choro do Clube’. As duas figuras foram criadas para o antigo Clube do Choro. No entanto, não foram registradas como propriedade do desenhista ou da entidade. Aproveitando-se desse fato, o empresário se apropriou de ambas e utilizou a figura do violão como símbolo e logomarca do Bar. O Urubu apareceu em programas de shows e em convites de aniversário. Essa utilização não foi autorizada por Laerte. Algum tempo depois, em 1983, o Bar lançou a chamada ‘Primeira Rua do Choro’ de São Paulo. Conforme foi discutido no Capítulo II, o Clube já havia criado uma Rua do Choro em

maio de 1978, para a comemoração de seu primeiro aniversário, em frente à sede da Al. Jaú, 2000. O empresário utilizou-se novamente de uma idéia do antigo Clube como se fosse sua, fato que transformou a irritação inicial entre ele e os membros fundadores do Clube em animosidade:

E ele usou, a idéia da Rua do Choro não vai dizer que é dele, a Rua do Choro é idéia do Sergio Gomes. Fechou a rua, é Rua do Choro. Está registrado. Não vamos criar polêmica, mas ele usou muito da experiência que ele teve com a gente, de ver tudo o que a gente fazia. Sempre de forma amadorística, só que ele fez e virou um empresário da coisa (VITTA, 2008).

Helton Altman, por sua vez, afirmou, em depoimento ao site Tablóide Digital153, que sua intenção, quando criou o Bar, era dar continuidade ao trabalho do Clube, criando um espaço que abrigaria a nova sede da instituição:

Em 7 de abril de 1980, sua paixão pela melhor música instrumental brasileira o levava a transformar o "Clube de Choro" - que havia nascido quatro anos antes (quando o boom nacional por este ritmo deslanchado a partir do espetáculo "Sarau" atingia várias cidades) - num ambiente de endereço fixo. Com o afastamento do presidente-fundador do clube, o maestro Benjamin Silva Araújo (1900-1985) da sede da entidade - premiada por inúmeras dificuldades de sobrevivência - Helton, com sua visão jovem, entendeu que para os ideais sonoros de prestigiar a mais autêntica música brasileira não soçobrarem frente às dificuldades econômicas, tornava-se indispensável uma sustentação empresarial. E o "Clube do Choro" ganhava uma estrutura, "mas sem perder as características afetivas"154.

De acordo com a visão do empresário, o bar não era um mero investimento. Ele daria continuidade ao ambiente de sociabilidade e congraçamento criado pelo Clube original, as tais ‘característica afetivas’ destacadas no texto. Porém, tais ideais não se realizaram. O Bar tornou-se um empreendimento comercial e os antigos membros do Clube afastaram-se, decepcionados e ressentidos.

153 Tablóide Digital: 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Milarch. Site: www.milarch.org 154 Artigo: Helton, vivendo para promover a melhor MPB. Disponível em www.milarch.org/artigo/helton-

Isaías do Bandolim e César no Bar Clube do Choro (1981). Fonte: Acervo ‘Guta do Pandeiro’.

Se por um lado a criação do Bar foi uma experiência negativa para os membros do Clube original, para alguns músicos foi uma oportunidade de trabalho e de divulgação de sua obra. Apesar de trabalhar com muito afinco nos projetos da associação, os jornalistas e outros envolvidos não eram profissionais de pesquisa ou de agenciamento de shows, fato que limitava suas atividades. Enquanto no antigo Clube as pessoas trabalhavam em prol do choro simplesmente porque gostavam de fazer isso, a criação do Bar representou uma modificação significativa no cenário musical da cidade, que passou a não mais admitir iniciativas amadoras. Helton Altman tornou-se um empresário da música, um profissional, figura que não existia anteriormente ou que estava começando a aparecer nas relações entre músicos e o seu público. Se na década de 1970 era possível que jornalistas agendassem shows para grupos de choro em bares da cidade unicamente por serem amigos dos donos desses locais, hoje em dia isso não acontece mais. Existem empresas e agentes especializados na divulgação dos artistas e no agendamento de espetáculos. Muitos músicos vivem exclusivamente de seu trabalho acompanhando cantores ou se apresentando em bares da cidade. O mercado musical paulistano profissionalizou-se. Nesse cenário, a presença do antigo Clube do Choro não se sustentaria, devido ao próprio perfil de seu trabalho.

Usando as palavras de Oswaldo Luiz Vitta, o Clube aconteceu no final da década de 1970 e foi uma experiência absolutamente amadora, ‘no sentido de amar’

(VITTA, 2008) a música instrumental brasileira, fato que não invalida sua existência. O Clube gerou interesse pelo gênero e ajudou a revitalizá-lo. Através desse ‘amadorismo’ e do esforço pessoal de cada um de seus membros, abriu espaço para a criação do espaço profissional que a música paulistana vive nos dias de hoje. Provavelmente o próprio Helton Altman tivesse enveredado por outros caminhos sem a experiência adquirida como membro do Clube. Se a associação não tivesse existido e trabalhado ativamente durante seus dois anos de vida, o cenário musical da cidade poderia ser diferente. Talvez o choro não tivesse tido tanta força em São Paulo sem o mapeamento que redescobriu cerca de quarenta grupos em 1976.

Não se pode precisar se as mudanças teriam sido para melhor ou para pior sem a presença do Clube, mas, em retrospecto, pode-se observar a importância de suas ações. O Clube do Choro contribuiu para que o gênero recuperasse um espaço perdido nos palcos da cidade; ajudou a resgatar um repertório que raramente era tocado; elevou a auto-estima de músicos esquecidos e contribuiu para a profissionalização de outros. Por fim, ajudou indiretamente na criação de espaços comerciais que serviram posteriormente aos músicos de choro, proporcionando trabalho a eles. Ainda que tenha encerrado suas atividades de forma melancólica, foi uma iniciativa válida, que sobreviveu na memória daqueles que participaram dele, no material produzido por seus membros e na convivência informal, voltada para o lazer e para a sociabilidade, que ainda existe entre os músicos de choro:

Se fosse hoje, guardadas as proporções, a gente poderia ser profissional dessa área. Na época não deu pra ser, porque não dava para conciliar. Simplesmente isso. A gente usava os finais de semana (...) Mas no balanço geral, foi maravilhoso, mágico mesmo, porque aglutinou muita gente, e as pessoas se envolveram também (...) hoje em dia eu vejo espaço para resgatar tudo aquilo e colocar a história no seu devido lugar. Isso também precisa. Muita gente pesquisa o choro em São Paulo e se esquece disso. Nós destacamos violonistas, bandolinistas de primeira, e hoje tem muita gente de qualidade. Na casa do João Macacão, no aniversário dele, eu vi um pouco do Clube do Choro, pintou um clima lá. Tinha um molequinho olhando o cavaquinista do João tocar, espelhando, imitando, é assim se que aprende, vendo o cara que sabe tocar dando soluções pra acordes e tal. Aquilo para mim é o Clube do Choro (VITTA, 2008).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho procurou investigar o Clube do Choro de São Paulo e as ações realizadas por seus membros em seus dois anos de funcionamento, entre 1977 e 1979. Durante esse tempo, o Clube promoveu shows, resgatou ‘das sombras’ compositores paulistanos que não tinham espaço na mídia, criou um Departamento de Arquivo e Memória que coletou mais de quarenta horas de gravações de música e depoimentos, lançou um disco em homenagem ao violonista Armandinho Neves e pretendeu criar uma Escola de choro e um programa de rádio sobre música instrumental brasileira, entre muitos outros objetivos. Focamos a pesquisa nas ações do Clube para tentar responder às questões que surgiram a partir do material encontrado, que foi denominado Acervo ‘Oswaldo Luiz Vitta’. Ele indicava que o Clube havia sido bastante ativo durante seu funcionamento, portanto buscou-se descobrir os reflexos dessa atividade no cenário musical da cidade.

As questões que surgiram no início da pesquisa foram: quem eram os membros do Clube? Porque essas pessoas se reuniram, no final da década de 1970, com objetivo de preservar um gênero musical que estava há muito tempo longe das grandes mídias? A resposta passa por uma multiplicidade de fatores: primeiramente, os músicos precisavam de espaço para divulgar seu trabalho, mas ele era negado pela Tv e pelo rádio, e praticamente não existiam na cidade de São Paulo lugares onde se pudesse ouvir choro ao vivo. Ele estava confinado às reuniões em casas de amigos e admiradores ou então ao ‘quartinho dos fundos’.

O Clube passou a promover cerca de três a quatro espetáculos por semana, o que fez com que os chorões conquistassem o tão sonhado espaço para apresentações. Isso fez com que o gênero adquirisse uma visibilidade maior, o que chamou a atenção das mídias e tornou o choro muito popular no final da década de 70. Os Festivais de Choro

Brasileirinho e Carinhoso aconteceram em 1978 e 1979, aproveitando o chamado ‘renascimento’ ou ‘boom’ do choro, isto é, a redescoberta do gênero pela mídia. Esses Festivais não foram realizações do Clube, mas provavelmente sem a movimentação criada pelos shows promovidos por ele, os produtores da Tv Bandeirantes não teriam pensado em abrir espaço para o choro naquele momento. Em segundo lugar, existia um interesse muito grande, por parte dos jornalistas fundadores do Clube, de preservar a música e a cultura brasileira. Conforme foi descrito no Capítulo I, Sergio Gomes da Silva e outros jornalistas eram militantes do PCB e seguiam a ideologia do Partido, que

buscava a preservação das culturas particulares como uma forma de combate à invasão dos produtos culturais estrangeiros e à globalização, que começava a surgir no final dos anos 70. A união de jornalistas e músicos atendia aos interesses de ambos: os jornalistas possuíam o poder de divulgação do choro nos meios de comunicação em geral; os músicos, por sua vez, necessitavam dessa divulgação e desse espaço na mídia. Por outro lado, sua prática, calcada na música tocada ‘de ouvido’ e com características populares, era uma síntese da cultura particular procurada pelos membros do Clube que seguiam as orientações políticas do PCB.

A partir das observações sobre a interação entre músicos e jornalistas, procuramos responder às novas questões que surgiram: o Clube provocou mudanças no cenário musical paulistano e nas carreiras dos músicos envolvidos? A resposta é positiva, pois o Clube conseguiu conquistar espaços para a prática e divulgação do choro, tais como o Café Paris, os bares Quincas Borba, do IAB e Latino Americano. Ainda que o bar seja considerado por alguns chorões como um espaço inadequado para a prática do gênero, o fato é que não existiam na cidade, naquela época, locais onde o público pudesse ouvir choro. O Clube convidou grupos e organizou shows semanais nesses bares, criando novos hábitos de escuta entre seus freqüentadores e abrindo brechas para a popularização do gênero. Alguns desses locais mantiveram sua programação de choro mesmo após o fechamento do Clube. O maior exemplo desse fenômeno foi o conjunto Entre Amigos, que tocou por cerca de oito anos no Quincas Borba. Assim como eles, diversos outros grupos mantiveram uma movimentada agenda de shows após a sua passagem pelo Clube.

Além dos bares, o Clube abriu espaços inusitados para a prática do choro, realizando espetáculos no Teatro Pixinguinha, Teatro Bandeirantes, Teatro Municipal de São Paulo e Teatro São Pedro. Neste último, realizou uma série de concertos com nomes como Paulinho Nogueira, Zimbo Trio e Eduardo Gudin, além de grupos de choro tradicionais, tais como o Pacífico, o Atlântico e o Entre Amigos.

A ocupação de locais que antes não estavam disponíveis para o choro, fossem bares ou teatros, aponta para uma modificação intensa no cenário musical da cidade. Essa movimentação criou oportunidades de trabalho e trouxe mudanças também nas carreiras dos músicos ligados ao Clube do Choro. Guta do Pandeiro, integrante do conjunto Entre Amigos, diz que sua atuação modificou-se depois que ele entrou em contato com o Clube (SIMÃO, 2009). O conjunto ensaiava em um estacionamento no bairro de Santo Amaro, mas quando se associou ao Clube, fez seu primeiro show

profissional no Teatro Municipal, passou a tocar todas as semanas no Quincas Borba e travou conhecimento com outros músicos, entre eles Waldir Azevedo, Paulinho da Viola e a cantora Márcia, com quem Guta excursionou durante vários anos. Outros músicos, que estavam apenas iniciando suas atividades artísticas, consideram que sua permanência no Clube foi enriquecedora para suas vidas e suas carreiras. É o caso do produtor Swami Jr., que em entrevista ao jornalista Oswaldo Luiz Vitta para o programa