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Grandes objetivos: o Programa de Rádio, a Escola de Choro

O Clube do Choro sempre teve muitos objetivos – ou pretensões, como gosta de dizer Oswaldo Luiz Vitta, o ‘Colibri’. Desde o Movimento pela sua criação, o Clube visava à publicação de partituras, a compilação e organização de um acervo de músicas, depoimentos e partituras, a coleta de depoimentos de músicos e compositores e a produção de shows. O objetivo primordial, no entanto, era ‘tirar o choro das sombras’, isto é, divulgar e fazer com que o grande público tomasse contato com o gênero e com a produção de compositores desconhecidos, preferencialmente aqueles de São Paulo.

Levando em consideração que grande parte da diretoria do Clube era composta por jornalistas, o acesso a periódicos e revistas era bastante facilitado. Porém, o Clube procurava uma mídia que proporcionasse uma comunicação mais imediata com o grande público. Surgiu então a idéia de produzir um programa de rádio, ‘O Choro do Clube’. O programa traria toda semana informações sobre os principais acontecimentos da música instrumental em São Paulo e em outros estados. Também se propunha a divulgar as ações de diversos Clubes de Choro espalhados pelo Brasil, tais como os Clubes do Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasília. O programa traria toda semana um chorão, que daria um depoimento e, se o estúdio da rádio tivesse equipamentos para uma boa transmissão, apresentaria algumas músicas ao vivo. Caso contrário, seria tocada música previamente gravada, pertencente ao Departamento de Arquivo e Memória.

O programa possuía um caráter didático, procurando informar o público sobre compositores desconhecidos, intérpretes esquecidos e as polêmicas que surgiam no

meio musical, tais como a discussão entre setores progressistas e tradicionalistas do choro, que ocorreu no Primeiro Festival de Choro da Rede Bandeirantes. O roteiro do programa-piloto começa exatamente dizendo que os chorões ‘não devem nem podem esquecer os velhos mestres, mas também não devem se agarrar somente a eles; devem criar, produzir novos valores, descobrir novos horizontes’(Piloto do Programa de Rádio, 1977).

O programa continua com o locutor apresentando uma versão sintética da história do Clube do Choro. Fala-se sobre o espetáculo ‘Cem Anos de Chorinho’, que aconteceu no Teatro Municipal e em seguida são tocadas faixas gravadas durante esse show. O programa segue, entremeando falas do locutor, que continua contando a história do Clube, e depoimentos e músicas de Tia Amélia e Paulinho da Viola, ilustrando essa história e falando sobre a situação do choro após a fundação do Clube. A seguir o locutor fala sobre a primeira descoberta do Departamento de Arquivo e Memória, o violonista Armando Neves e sua obra. Para ilustrar, Geraldo Ribeiro interpreta ‘O Dono da Bola’, composição de Armandinho. Para finalizar o programa, são apresentadas faixas gravadas de grupos ligados ao Clube, tais como o Amapá e o Bendegó.

O programa deveria ir ao ar às terças-feiras, das 22 às 23.25 horas pela Rádio Gazeta de São Paulo. O contrato com a emissora seria firmado através da empresa Pragmática, que cuidou de sua elaboração e redação. Segundo esse contrato, a empresa pagaria cerca de Cr$ 18.000,00 (dezoito mil cruzeiros) à Rádio Gazeta pelo horário, podendo colocar comerciais de sua preferência nos intervalos do programa. A produção do programa se comprometeria a enviar todos os conteúdos para avaliação e censura prévia, com no mínimo 72 horas de antecedência. A produção ficaria a cargo dos jornalistas Oswaldo Luiz Vitta e Sergio Gomes da Silva, além do pessoal dos Departamentos de Arquivo e Memória, Publicações e Espetáculos.

Apesar das boas intenções de seus produtores, o programa não foi ao ar. O piloto do programa chegou a ser gravado, mas o Clube não conseguiu fundos para pagar o valor pedido pela emissora. Foram ainda redigidas mais duas propostas de programas, que seriam apresentadas mais tarde à Rádio Cultura e à Radio Globo. Por problemas semelhantes, esses programas também não foram ao ar. Restou o programa-piloto, cuja gravação está guardada no Acervo ‘Oswaldo Luiz Vitta’.

Outro objetivo perseguido pelo clube desde a sua fundação foi a Escola de Choro. O Clube acreditava que o choro era um gênero de música popular brasileira da

maior importância e que deveria ser preservado. Para isso, não bastava gravar shows e depoimentos, era preciso que as novas gerações conhecessem e tocassem choro. Porém, o Clube nasceu dentro do Sindicato dos Jornalistas. Segundo o Colibri, era o espaço possível, pois oferecia vantagens aos jornalistas e uma secretária sempre presente, cuidando dos assuntos administrativos (VITTA, 2008). Ainda assim, não era o espaço adequado, uma vez que o Clube dividia as dependências com outros eventos do Sindicato. Com a mudança para a sede própria na Al. Jaú, 2000, a idéia da Escola de Choro ganhou novo impulso. A sede precisava de nova pintura e algumas reformas; assim que estas fossem terminadas começaria a instalação da Escola. Devido a problemas financeiros e de organização, a escola não aconteceu na Al. Jaú. O Clube mudou-se para a Rua Conselheiro Carrão, no Bixiga, e junto com ele foi a idéia de fundação da escola.

A inauguração estava prevista para o mês de agosto de 1979. O engenheiro Gilberto Périgo foi encarregado de contabilizar o material necessário para o início das atividades. Ele calculou que a escola necessitaria de um piano, dois violões, dois bandolins, dois violões de sete cordas, uma flauta transversal, um clarinete, dois pandeiros, instrumentos de percussão diversos, palhetas e cordas, material escolar e equipamentos de som, totalizando cerca de Cr$ 240.000,00. Além do dinheiro para a compra dos instrumentos, seriam ainda necessários cerca de Cr$ 140.000,00 para pagar os salários de diretores, professores e cachês de músicos convidados.

Périgo foi também o responsável pelo projeto geral da escola. O ensino dos instrumentos se daria informalmente, isto é, seguindo a tradição de aprendizado dos chorões. Durante as primeiras aulas, os alunos iriam observando os professores e imitando-os, até que aprendessem os rudimentos do instrumento. Essas aulas seriam complementadas com aulas teóricas e de percepção musical, oferecendo uma formação mais completa ao músico. A escola pretendia ter uma linha de trabalho bastante abrangente, o que permitiria ao aluno a escolha de seus caminhos artísticos:

...esta Escola deverá ensinar música de uma maneira totalmente nova; deverá colocar o aluno diante das diversas tradições, ensinando-as em paralelo, obrigando-o a absorvê- las e deixando a seu critério, a partir de certo ponto, a escolha de seu caminho. Outra não poderia ser a forma. Como poderíamos ensinar algo que ainda não foi codificado? Como poderíamos almejar evoluções se optássemos por uma qualquer tradição? (Projeto da Escola de Choro, 1979).

Outro ponto que seria um diferencial da Escola era o ensino coletivo. O aluno passaria por aulas individuais de instrumento, que seriam complementadas pela prática de conjunto. Essa prática se daria na formação de grupos e regionais, para que o aluno saísse da escola habituado a tocar com outros músicos, preparando-o para a vida profissional. Em muitas escolas tradicionais, a prática de grupo é relegada a um plano inferior no currículo de ensino. O resultado dessa forma de agir é um músico solista, com boa afinação e construção melódica, mas que não sabe acompanhar outros músicos ou tocar em conjunto.

Além da prática em conjunto, o aluno participaria ainda de aulas abertas com músicos de grande experiência. O Clube acreditava que o iniciante poderia aprender muito através da observação de outros músicos durante a sua prática. Para isso, seriam organizadas aulas-show com nomes consagrados, que seriam convidados a tocar na Escola de Choro. O Clube acreditava que essas aulas promoveriam um intercâmbio de idéias entre os músicos, trazendo inovação ao Choro e, dessa forma, contribuindo para a sua preservação.

A escola contaria ainda com um bazar onde seriam vendidas gravações em cassete dos shows produzidos pelo Clube, discos e livros, além de material de pesquisa sobre compositores esquecidos na mídia. Em reportagem do jornal O Estado De São

Paulo de 21/06/1979, Colibri diz que um bom exemplo de compositor de uma obra riquíssima e que estava esquecido era o multi instrumentista Garoto, cuja vida e composições estavam sendo pesquisadas pelo Departamento de Arquivo e Memória.

Na mesma reportagem, o jornalista pede ajuda para conseguir estruturar melhor a escola. Essa ajuda deveria vir da Secretaria Estadual de Cultura, que entraria com quase a metade do valor do investimento, além do pagamento dos músicos que dariam as aulas abertas. Porém, esse auxílio não chegou e o projeto da escola não saiu do papel. Ainda que não de forma organizada, pode-se dizer que em certa medida o Clube conseguiu realizar o objetivo de ensinar choro. O produtor e violonista Swami Jr., que na época do Clube tocava no grupo Choro Roxo, disse em entrevista para o Jornal

Brasil Atual que sua grande escola de música brasileira foi o Clube do Choro. Swami estava iniciando sua carreira quando fundou o Choro Roxo; aprendeu muitas coisas na prática, e as oportunidades de contato com músicos mais experientes proporcionadas pelos shows do Clube foram muito importantes e equivaleram a uma escola informal. O jornalista Oswaldo Luiz Vitta considera que essa ‘escola informal’ foi uma das grandes realizações do Clube do Choro de São Paulo:

As coisas mais importantes foram: o legado deixado para os músicos jovens na época, e a lista é grande, é interessante você ouvir essas pessoas para saber até onde influenciou. Quando eu converso com elas eu sinto cada vez mais o quanto foram importantes aqueles dois anos mágicos, em que estivemos aglutinados. (...) Tem um texto do Gilberto falando sobre como deveria ser organizada a Academia do Choro, a escola do Choro, tá tudo ali. Foi pensado. Não foi executado porque hoje quem tem que cumprir isso são as escolas. De alguma forma as escolas de música têm que contemplar isso (...) A Escola? Não fizemos, mas plantamos coisas que deram frutos (VITTA, 2008).

O depoimento de Colibri mostra que, apesar de não cumprir totalmente o objetivo de fundação da escola de choro, o Clube plantou sementes que viriam a dar resultados posteriormente. Sem as ações do Clube no final da década de 1970, provavelmente os músicos não teriam se organizado entre 1977 e 1979. O cenário musical continuaria semelhante ao que era antes, isto é, cada grupo de choro tocando em seu quartinho dos fundos, sem contato com outros e completamente invisíveis para a mídia e o grande público. A movimentação e a aglutinação causadas pelo surgimento do Clube fizeram com que o Choro passasse a ser conhecido e divulgado, o que levou muitos jovens a se interessarem por ele. Através do contato com os chorões antigos, esses jovens aprenderam e fizeram o gênero evoluir, tirando-o da condição marginal em que se encontrava.

O resultado dessas ações pode ser sentido hoje em dia na proliferação de grupos de choro atuantes em São Paulo. Espaços como o bar Ó do Borogodó92, em Pinheiros e Tocador de Bolacha93, na Vila Madalena, são pontos tradicionais do choro paulistano. O Auditório Ibirapuera94 abre espaço para o choro quase todos os meses do ano, promovendo shows de Danilo Brito, Hamilton de Hollanda, Choro Rasgado95, entre outros. Diversas escolas, como a ULM96, têm cursos de choro, freqüentados por um grande número de alunos. O Conservatório de Guarulhos promove todas as terças-feiras sua roda de choro, aberta aos alunos e pessoas da comunidade. Muitos dos professores

92 Bar especializado em música brasileira. Fica na Rua Horácio Lane, 21, em Pinheiros. 93 Bar da Vila Madalena especializado em choro. Rua Patizal, 72.

94 Auditório construído dentro do Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Além de shows, abriga uma escola

de música para crianças carentes.

95 Grupo de choro formado pelo multi instrumentista Alessandro Penezzi, pelo flautista Rodrigo Y Castro

e pela percussionista Roberta Valente.

96 Universidade Livre de Música Tom Jobim. Escola de música do governo estadual de São Paulo,

dessas escolas foram freqüentadores do Clube do Choro, o que indica que a ‘escola informal’ teve efetividade. Fora de São Paulo, as ações mais significativas são promovidas pelo Clube do Choro de Brasília97, que possui uma escola de choro, e pela Escola Portátil de Música98, no Rio de Janeiro. A Escola Portátil tem cerca de 500 alunos, que se reúnem todos os sábados em uma enorme roda de choro, apelidada por eles de ‘Bandão’. Todas essa iniciativas estão formando um novo perfil de chorão que atuará no mercado musical: músicos profissionais, com formação acadêmica e conhecimentos teóricos avançados. Esse músico com novo perfil permitirá que o gênero se renove cada vez mais e conquiste o espaço merecido na mídia. Trataremos dos reflexos das ações do Clube no cenário paulistano com mais detalhes no Capítulo IV.

97 Clube de choro fundado na segunda metade da década de 1970. Após um período em que esteve

fechado, foi reestruturado e abriga a Escola de Choro Raphael Rabello, desde 1998. Até o final de 2008 a escola deve ganhar sede própria, desenhada pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

98 Criada em 2000, funciona no campus da Uni-Rio, no bairro da Urca. Tem vinte e três professores e

cerca de 600 alunos. Produz um programa de rádio, ‘Escola Portátil no Ar’, todas as terças-feiras, pela Rádio Nacional.

CAPÍTULO III

O DEPARTAMENTO DE ARQUIVO E MEMÓRIA

3.1. Conhecer o passado para garantir o futuro

A primeira diretoria do Clube do Choro, eleita em 1977, contava com um conselho executivo, um conselho administrativo e com alguns departamentos específicos para cada função que o Clube procurou desempenhar dentro do cenário musical paulistano. Entre eles, havia o departamento de publicações, dirigido por Sergio Gomes e encarregado do material jornalístico que o Clube produzia; o departamento de espetáculos, que sob a direção de Marcelo Galberti produzia os shows com os grupos afiliados ao Clube; o departamento de divulgação e o departamento jurídico, entre outros. Cada departamento contava com voluntários que se dispunham a realizar as tarefas necessárias para o funcionamento do Clube. Todo o trabalho era feito de maneira informal e colaborativa, sendo que um membro de certo departamento poderia atuar livremente em todos os outros. O Clube não possuía grandes recursos financeiros ou patrocínio estatal e precisava contar com seus sócios, fossem eles jornalistas, músicos, admiradores do choro ou entusiastas, para manter suas atividades:

Uma reunião, uma associação, uma confraternização, um jeito de misturar as qualidades das pessoas, um dínamo que multiplica energias (...), a prova de que o homem é social, humano e tem sonhos do futuro, um lamber a cria todo dia, um clube. Não é apenas soma, pois multiplicação é uma espécie de dividir: cada um faz um pouco, todos naquilo que gostam, cada um oferecendo o que pode (...) Um Clube contra a dispersão, o desânimo, a descaracterização de nossa cultura, vale dizer de nosso Povo. É só um Clube do Choro, nada mais do que isso. É tudo isso (ARAÚJO, 1977)99.

Entre todas essas seções e divisões, estava o Departamento de Arquivo e Memória, encarregado de coletar material sobre choro, realizar entrevistas com músicos, pesquisar compositores e músicos paulistanos esquecidos pela mídia, entre outras atividades. Esse Departamento parece ser o grande diferencial entre o Clube do Choro de São Paulo e os outros clubes criados no mesmo período em outras cidades do país. Ainda que esses clubes promovessem a pesquisa, ela não era o seu foco principal

99 Benjamin Silva Araújo, Presidente do Clube do Choro de São Paulo em 1977. Programa do espetáculo

de atuação. A prioridade do Clube do Choro do Rio de Janeiro, por exemplo, era a produção de shows, conforme informa o jornalista Juarez Barroso, na reportagem O

Clube do Choro, publicada no Jornal do Brasil em 07 de julho de 1975:

Os velhinhos vão se reunir, curtir a música do seu tempo, do tempo dos seus pais. Uma presença certa será, por exemplo, a de uma veneranda senhora de seus 20 anos (pouco mais, pouco menos), chamada Beth, flautista do conjunto de Beth Carvalho. Com ela, um cavaquinho, um violão de sete cordas, tudo aí na faixa dos 20 anos. Aparecerão também alguns aprendizes, é certo, que deles ninguém pode se livrar, e afinal de contas são esforçados. Uns caras chamados Abel Ferreira, Altamiro Carrilho, José Menezes, César Faria, Dino, Copinha, que já assopram ou arranham razoavelmente seus instrumentos – clarinete, violão, flauta (...) Brincadeira à parte, é com o máximo prazer que este locutor anuncia a fundação do Clube do Choro, entidade que funcionará brevemente, aproveitando a noite livre de uma de nossas chamadas casas noturnas (BARROSO, 1975).

Ainda que em tom de brincadeira, a reportagem dá um indício do direcionamento principal do Clube do Choro carioca: a produção de espetáculos, ‘aproveitando a noite livre de uma de nossas casas noturnas’. Outros trechos da reportagem ainda dão conta que o Clube do Choro do Rio não possuía estatuto ou sede fixa e não há citação sequer uma vez das palavras pesquisa ou resgate, o que nos leva a crer que essas atividades não eram consideradas prioritárias para os fundadores daquele Clube, ainda que ‘curtir a música do tempo dos seus pais’ possa ser uma forma de resgate.

Alguns membros fundadores, entre eles o percussionista Guta do Pandeiro100, consideram que as ações do Departamento de Arquivo e Memória foram as mais importantes realizações do Clube do Choro:

Ah, o Clube do Choro foi o primeiro passo (...) pra resgatar a tradição de uma música que até então estava esquecida, que isso era a função do Clube do Choro, acho que a função primordial. A inicial foi isso. Não foi ‘resgatar das sombras’, não é assim que a gente colocava? ‘Vamos resgatar das sombras’, isso e aquilo, então, resgatar o que? A parte da cultura musical brasileira que até então tinha sido deixada de lado pelos meios de comunicação (SIMÃO, 2009).

O Clube do Choro de São Paulo interessou-se por pesquisar músicos e compositores paulistanos desde antes de sua fundação, quando ainda era apenas um

100 Guta do Pandeiro. Gustavo Simão, nascido em 1945 em São Paulo, SP. Desde criança acompanhava as

festas de família tocando instrumentos de percussão adaptados. Tornou-se pandeirista do conjunto Entre Amigos. Atuou ao lado de músicos como Márcia e Eduardo Gudin, Jotagê Alves, Isaías e seus Chorões, entre outros. Atualmente vive na cidade de Socorro, interior de São Paulo. Grava para o site Choromusic (www.choromusic.com), que comercializa songbooks e playbacks de música instrumental brasileira e atua esporadicamente em grupos de choro de São Paulo.

Movimento. O Manifesto do Movimento, lançado em 1976 na casa do cartunista Laerte Coutinho, já dava conta das ações de pesquisa que o Clube promoveria, quando estivesse em funcionamento:

...todos que, de alguma forma, aceitem o desafio de ‘resgatar o choro das sombras’ podem se entrosar com o Movimento que pretende: localizar todos os conjuntos que existem no Estado, organizar apresentações públicas de sua arte, reunir, em fita, tudo que já foi editado em disco, editar um ‘Caderno’ trimestral com partituras, entrevistas e reportagens relacionadas à música brasileira, editar uma ‘Revista Musical’ em cassete (mensal), editar discos, providenciar o re-encontro dos conjuntos e dos músicos que resistiram esse tempo todo, além de facilitar o seu acesso aos artistas da nova geração (vice-versa)101.

De acordo com o Manifesto, a organização de shows era apenas um dos objetivos dos membros do Clube. Outros objetivos citados, tais como a produção de entrevistas e reportagens, edição de partituras e criação de uma ‘Revista Musical’ eram atividades que dependiam de pesquisa para a sua realização. Alguns fatores poderiam explicar essa tendência do Clube do Choro paulistano. Primeiramente, a grande quantidade de jornalistas envolvidos em sua fundação e posteriormente durante o período de seu funcionamento. Os principais sócios fundadores eram os jornalistas Oswaldo Luiz Vitta e Sergio Gomes, além de nomes como Luiz Nassif, Paulo Markun, Maurício Kubrusly102, Silvia Penteado103 e Érica Knapp104; além disso, a primeira sede oficial do Clube funcionou dentro do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo. Um dos trabalhos fundamentais da profissão de repórter é a pesquisa e a busca de pessoas ou histórias que estão originalmente escondidas. O simples fato de o Clube ter sido fundado por jornalistas pode ter levado a essa vontade de conhecer e resgatar os