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COMUNICAÇÃO À CMVM, DEFESA DO MERCADO E PROCEDIMENTOS INTERNOS DE ORGANIZAÇÃO

6. Dever de segredo

A comunicação realizada fica sujeita a segredo. Os intermediários financeiros e as sociedades gestoras de mercados e de sistemas, bem como os seus colaboradores, estão obrigados a segredo quanto à comunicação de operações suspeitas, bem como quanto a qualquer informação relacionada com a mesma. Este dever de segredo não obsta a que a pessoa que realiza a comunicação transmita a informação a outros colaboradores da mesma entidade, designadamente aos seus superiores hierárquicos, a pessoas responsáveis por áreas de supervisão ou de controlo do cumprimento ou a outros membros do órgão de administração, cujo contributo possa ser relevante para essa decisão. Todos os que tenham conhecimento da comunicação da operação ficam sujeitos ao dever de segredo sobre tal facto.

A lei impõe também a confidencialidade da identidade da pessoa que subscreve a denúncia e da entidade para quem trabalha. Este regime de segredo só pode ser quebrado por determinação judicial, nos termos previstos no Código de Processo Penal, e o cumprimento de tal dever não dá origem a responsabilidade (nos termos e condições dos n.ºs 5 e 6 do art. 382.º).

7. Comunicação de operações e dever de abstenção

Os intermediários financeiros e as sociedades gestoras de mercados e de sistemas têm um dever de defesa de mercado que implica que se abstenham de participar em operações ou de praticar actos susceptíveis de pôr em risco a regularidade do funcionamento, a transparência e a credibilidade do mercado (artigo 311.º, n.º 1 do CdVM e art. 35.º do Dec.-Lei n.º 357-C/2007, de 31 de Outubro).

Para cumprimento deste dever é, ainda, imposto um especial dever de análise de ordens e operações, cujas características se possam reconduzir, designadamente a uma das situações descritas no n.º 3 do artigo 311.º. Estas situações não representam por si só comportamentos manipuladores, constituindo apenas um conjunto de indícios que justifica uma análise reforçada das ordens, das ofertas ou das operações em causa.

No caso de, após a análise, o intermediário financeiro concluir que as ordens ou operações são susceptíveis de pôr em risco a regularidade de funcionamento, a transparência ou a credibilidade do mercado, deve abster-se de praticar quaisquer actos que possibilitem a sua concretização.

O elenco do n.º 3 do artigo 311.º do CdVM é, assim dirigido ao cumprimento do disposto do n.º 1 do mesmo artigo.

Pode, todavia, esta análise coincidir – por ter como objecto os mesmos factos – com a que deverá ser realizada para efeito de comunicação à CMVM de operações suspeitas, nos termos do artigo 382.º do CdVM.

Neste caso, concluindo o intermediário financeiro que as suspeitas são fundamentadas, deverá adoptar um de dois comportamentos:

A operação ainda não se concretizou e para a concretizar é essencial

a intervenção do intermediário financeiro. Nesta circunstância o intermediário financeiro deve abster-se de realizar a operação, nos termos do n.º 1 do artigo 311.º, sob pena de violação do dever de defesa do mercado e de o facto poder ter relevância criminal.

A operação já se concretizou, tendo sido os indícios detectados a

posteriori. Neste caso o intermediário financeiro deve comunicar imediatamente os factos à CMVM, nos termos do disposto no artigo 382.º,

O cumprimento dos deveres de abstenção e de comunicação de operações suspeitas pode justificar a não execução das ordens do cliente, fundamentando desse modo um caso de incumprimento lícito da execução da operação.

A comunicação de operações suspeita que não seja efectuada de má fé traduz- se no cumprimento de um dever legal e, por isso, não pode fundamentar uma pretensão indemnizatória por eventuais danos sofridos por terceiros

8. Procedimentos internos de organização

Os intermediários financeiros e as sociedades gestoras de mercados e sistemas devem definir políticas e procedimentos de detecção e comunicação de operações suspeitas de práticas abusivas ou de detecção de actos susceptíveis de pôr em risco a regularidade do funcionamento, a transparência e a credibilidade do mercado.

Além da definição de procedimentos deverão ainda sensibilizar os seus colaboradores para a importância e cumprimento dessas políticas e procedimentos.

O dever de detecção de ordens ou operações que possam configurar práticas de abuso de mercado ou de actos susceptíveis de pôr em risco a regularidade do funcionamento, a transparência e a credibilidade do mercado deverá estar cometido não só aos colaboradores directamente envolvidos na área de recepção e execução de ordens, mas também ao compliance officer nos termos previstos na lei.

Os intermediários financeiros e as sociedades gestoras de mercados ou sistemas devem instituir procedimentos internos que permitam:

A) Formar e treinar os seus colaboradores para que estes sejam capazes de reconhecer actos susceptíveis de pôr em risco a regularidade do funcionamento, a transparência e a credibilidade do mercado ou sinais que razoavelmente indiciem práticas abusivas, nomeadamente, sinais de abuso de informação privilegiada ou de manipulação de mercado constantes elenco descrito no ponto 4 deste documento e nas tipologias descritas no documento Manipulação do Mercado, CMVM, 2008 (disponível em www.cmvm.pt);

B) Assegurar que os seus colaboradores sabem o que fazer quando detectam sinais que razoavelmente indiciem práticas abusivas ou

actos susceptíveis de pôr em risco a regularidade do funcionamento, a transparência e a credibilidade do mercado;

C) Assegurar que os seus colaboradores sabem o que, a quem e como comunicar os sinais detectados;

D) Assegurar que as suas políticas e procedimentos internos obrigam os seus colaboradores a cumprir as suas obrigações de detecção e comunicação de sinais que razoavelmente indiciem práticas abusivas e os obriguem a abster-se de praticar ou participar em actos susceptíveis de pôr em risco a regularidade do funcionamento, a transparência e a credibilidade do mercado;

E) Assegurar a fiscalização, nomeadamente, através do compliance

officer, e auditoria do cumprimento dos deveres de actuação e

conduta dos seus colaboradores, quer na detecção e comunicação de sinais que razoavelmente indiciem práticas de abuso de mercado, quer na abstenção de prática de actos susceptíveis de pôr em risco a regularidade do funcionamento, a transparência e a credibilidade do mercado;

F) Assegurar que os sistemas informáticos utilizados adoptam filtros, sinais de alerta e outros mecanismos visando detectar práticas de abuso de mercado e actos susceptíveis de pôr em risco a regularidade do funcionamento, a transparência e a credibilidade do mercado. Os parâmetros definidos deverão ser reavaliados periodicamente;

G) Adoptar procedimentos sistematizados de análise a priori e a

posteriori de amostras representativas de ordens recebidas e de