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E DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA RELATIVA A EMITENTES

No documento COMISSÃO DO MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS (páginas 103-112)

CMVM 2008

I - Introdução

1. O presente documento descreve sinteticamente os procedimentos gerais de supervisão com vista à determinação da prestação de esclarecimentos e divulgação de informação privilegiada relativa a emitentes.

2. A divulgação destes procedimentos é vantajosa para os emitentes e para os investidores. Os primeiros passam a ter conhecimento preciso dos seus comportamentos esperados relativamente à divulgação da informação privilegiada. Por sua vez, os investidores passam a saber o percurso que, em regra, é seguido pela autoridade de supervisão tendo em vista garantir a imediata divulgação, em termos completos, verdadeiros, actuais, claros e objectivos da informação privilegiada relativa aos emitentes, contribuindo-se, assim, para a clarificação da informação em que baseiam as suas decisões de investimento.

3. Ressalva-se, porém, que os procedimentos gerais constantes do presente documento não constituem uma regra mecânica ou absoluta. Representando uma orientação geral, eles são compagináveis com as adaptações e os procedimentos específicos que sejam ditados pelas circunstâncias de cada caso concreto.

II - Condições de Activação Interna dos Procedimentos

4. Os procedimentos abaixo descritos devem ser desencadeados quando se verifique uma das três seguintes situações:

(i) Detecção de variações anormais nos preços ou nas transacções;

(ii) Publicação de notícia ou rumor que se considere relevante de per si (e que não corresponda a informação privilegiada já divulgada);

(iii) Rumor que circule no mercado, ainda que em circuitos restritos, de que a CMVM tenha conhecimento.

5. Para o efeito de (i) deve considerar-se que existe uma anormalidade nos preços e transacções desde que os preços correntemente praticados ou os volumes não sejam explicados, nem pelas cotações de partida, nem pela evolução histórica recente do activo, nem pela variação entretanto ocorrida noutros activos, nem pela informação divulgada ao mercado pelo emitente.

6. As situações (ii) e (iii) devem apenas contemplar as notícias e os rumores relativos a casos que previsivelmente sejam materialmente relevantes e que respeitem a situações tidas a priori como enquadráveis no conceito de informação privilegiada, considerando-se para este efeito, pelo menos, as seguintes:1

performance operacional; alterações no controlo e acordos relativos ao controlo; alterações nos órgãos de administração, supervisão e fiscalização; alterações nos auditores externos ou qualquer outra informação relacionada com a actividade do auditor; operações envolvendo o capital próprio, a emissão de obrigações e a emissão de valores mobiliários que dêem direito a adquirir ou subscrever outros valores mobiliários; decisões de emitir ou diminuir o capital social; aquisições, splits

e spin-offs; compra ou alienação de interesses accionistas ou outros activos

relevantes ou ramos da actividade da empresa; reestruturação ou reorganização que tenha efeito nos activos, passivos, situação financeira, proveitos ou custos da empresa; decisões relativas a programas de buy-back ou transacções em outros instrumentos financeiros admitidos à cotação em bolsa; alterações nos direitos das acções cotadas; declaração de falência; disputas legais; revogação ou cancelamento de linhas de crédito por um ou mais bancos; dissolução ou verificação de causa de dissolução; alterações no valor dos activos; insolvência de devedores relevantes; redução do valor dos activos imobiliários; destruição física de mercadorias não seguras; novas licenças, patentes e registo de marcas; diminuição ou aumento do valor da carteira de activos financeiros; diminuição no valor de patentes, direitos ou activos intangíveis devido à inovação do mercado; recepção de ofertas de aquisição para activos relevantes; inovações em produtos ou processos; responsabilidades incorridas por produtos vendidos ou por impactos ambientais causados; alterações nos resultados esperados ou perdas; ordens recebidas dos clientes, seu cancelamento e alterações importantes; retirada ou entrada em novas áreas de negócio; alterações na política de investimento do emitente; data ex-dividend, alterações na data de pagamento de dividendos ou no montante dos dividendos; alterações na política de dividendos.

1

Segue-se o documento Level 3 – Second set of CESR guidance and information on the common

operation of the Directive to the market. Vd., mais desenvolvidamente, o documento “Entendimentos da CMVM sobre a Divulgação de Informação Privilegiada por Emitentes: Conceitos, Linhas de Orientação, Exemplos e Condutas a Adoptar”, 2008.

III - Passo 1: Procedimentos Preliminares

7. A CMVM desencadeia o procedimento de imediato após a ocorrência de uma das situações descritas no n.º 4, verificando internamente se existe informação privilegiada entretanto divulgada pelo emitente que justifique as situações detectadas.

8. Além disso, sempre que entenda adequado, a CMVM contacta os intermediários financeiros que se encontram mais activos no valor mobiliário em causa, de modo a indagar sobre potenciais explicações para as anormalidades detectadas em termos dos preços e/ou das quantidades transaccionadas.

9. Após estes procedimentos, a CMVM faz uma análise das circunstâncias concretas do caso, e:

(i) Se concluir que o caso não tem nem é passível de ter impacto material ou que os preços ou níveis de transacção anormais verificados se baseiam exclusivamente nas expectativas dos investidores e em informação que já é pública, dará por concluído o procedimento, sem mais diligências adicionais;

(ii) Se, pelo contrário, os resultados das diligências efectuadas não permitirem concluir naquele sentido, passar-se-á à fase seguinte (Passo 2).

IV - Passo 2: Procedimentos subsequentes A) Esclarecimentos pelo emitente e/ou terceiro

10. A CMVM contactará o representante do emitente para as relações com o mercado e/ou o terceiro legalmente obrigado a prestar esclarecimentos (pe, um investidor) com o fim de indagar o seu ponto de vista sobre a circunstância que desencadeou o procedimento.

11. No caso de o representante para as relações com o mercado necessitar de efectuar consultas internas, deverá responder de forma completa, total e inequívoca à CMVM no prazo que esta lhe fixar, tendo em conta as circunstâncias do caso (Prazo para Esclarecimento da CMVM).

12. Passar-se-á de imediato para o “Passo 3” (n.ºs 17 e ss.), no caso de a CMVM não conseguir:

* Contactar o representante para as relações com o mercado em prazo razoável;

* Contactar o terceiro legalmente obrigado a prestar a informação ou obter junto dele os esclarecimentos necessários no prazo de 15 minutos.

B) Informação Preliminar ao Mercado

13. Se entender que tal é necessário para assegurar o bom funcionamento do mercado, a CMVM pode determinar desde logo, ainda antes de recebidos os esclarecimentos, a divulgação de informação ao mercado num prazo que fixe para o efeito. Neste caso a CMVM pode informar os investidores de que contactou o emitente e/ou o terceiro legalmente obrigado a prestar informação e lhes ordenou a publicação de um comunicado no prazo fixado.

C) Hipóteses Quanto aos Esclarecimentos

14. Nos esclarecimentos prestados pelo emitente e/ou o terceiro legalmente obrigado a prestá-los, além do que mais seja solicitado pela CMVM, e sem prejuízo do completo esclarecimento da situação em termos consentâneos com a legislação em vigor, a entidade emitente e/ou o terceiro devem indicar inequivocamente qual, das seguintes hipóteses justifica, em seu entender, o facto que deu origem ao procedimento:

• H1): trata-se da difusão prematura, parcial ou distorcida de um evento real (ocorrido ou em curso);

• H2): trata-se de uma notícia ou um rumor sem fundamento em um evento real (ocorrido ou em curso) ou que seja conhecido pelo emitente,

pelo que nada do que aconteceu ou está em curso na vida da empresa nem qualquer facto que seja do seu conhecimento poderá justificar a circunstância que deu origem ao procedimento;

• H3): trata-se de uma anormalidade nas cotações ou nos volumes de

transacção sem fundamento em um evento real (ocorrido ou em curso) que não seja já totalmente conhecido do público, pelo que se deve considerar que as transacções de mercado são exclusivamente baseadas

na informação já disponível e nas expectativas dos investidores. D) Decisão da CMVM

15. Obtidos, analisados e avaliados os esclarecimentos obtidos, a CMVM decidirá por uma das hipóteses seguintes:

(i) Dá por findo o procedimento, sem diligências adicionais, se concluir que o caso não tem impacto material ou que os preços ou níveis de transacção anormais verificados se baseiam exclusivamente nas expectativas dos investidores e em informação que já é pública, como, em regra, sucederá, nomeadamente, na hipótese H3) prevista no ponto anterior;

(ii) Caso se verifiquem as hipóteses H1) e H2) do ponto anterior, pode determinar, se não o tiver feito anteriormente (n.º 13), ao emitente e/ou ao terceiro legalmente obrigado a prestar informação que emita um esclarecimento ao mercado2, fixando-

lhes para o efeito um determinado prazo, de acordo com as circunstâncias do caso (Prazo para Emissão de Esclarecimento ao Mercado). Tal pode ocorrer:

a) Sem suspensão da negociação do valor mobiliário.3 Neste caso a CMVM

pode, se os interesses dos investidores o justificarem, informar o mercado, através do seu sítio da Internet, de que determinou a prestação de esclarecimentos pelo emitente e/ou terceiro e o prazo em que estes os devem prestar;

b) Com suspensão da negociação do valor mobiliário, diligenciando a CMVM, junto da entidade gestora do mercado, essa suspensão ou determinando-a ela própria. Neste caso, a CMVM informa o mercado, através do seu sítio da Internet de que determinou/solicitou a suspensão da negociação à entidade gestora do mercado bem como a prestação de esclarecimentos pelo emitente e/ou terceiro e o prazo em que estes os devem prestar.

2

Sendo caso disso, este esclarecimento pode, inclusivamente, consistir na informação ao mercado pela empresa ou pelo terceiro de que não conhece qualquer fundamento para a situação que desencadeou o procedimento.

3

Os Procedimentos constantes deste documento, quando envolvam a tomada de medidas sobre a negociação, deverão ser solicitados e articulados com a entidade gestora do mercado. Para este efeito, quando se utilizar a expressão “suspensão da negociação”, quer-se referir a suspensão ou outra medida de efeito semelhante adequada ao caso que possa ser adoptada pela entidade gestora, como a consolidação de ofertas.

E - Impossibilidade de Esclarecimento Antes do Início da Sessão de Bolsa

16. No caso de o procedimento ter sido desencadeado antes do início da sessão de bolsa e de, até esta se iniciar, a CMVM não conseguir obter os esclarecimentos, por razões não imputáveis à entidade emitente ou a terceiro, será diligenciada/determinada a suspensão da cotação nas situações em que, atentas as circunstâncias concretas do caso, seja previsível que a notícia ou o rumor venha a ter impacto relevante nas cotações.

Esta suspensão pode ter lugar mesmo antes de desencadeado o contacto com o representante para as relações com o mercado ou o terceiro (n.ºs 10 e ss).

V - Passo 3: Aviso Público de Determinação Urgente de Prestação de Informação 17. A CMVM pode emitir um Aviso Público de Determinação Urgente de Prestação de Informação, designadamente quando, por causa que não lhe seja imputável, não consiga contactar, num prazo razoável, a entidade emitente ou o terceiro ou não tenham sido prestados por estes, no prazo fixado, os esclarecimentos devidos ou publicada a informação solicitada, com os requisitos exigidos pelo artigo 7º do Código dos Valores Mobiliários.

18. A Determinação é notificada ao emitente e/ou ao terceiro a que respeite. O Aviso Público, que inclui o conteúdo da Determinação, deve ser feito através do site da CMVM.

19. Este Aviso Público poderá ser precedido de suspensão da cotação, aplicando-se a este respeito, com as devidas adaptações, o referido no Passo 2 (n.º 15).

VI - Passo 4: Levantamento da Suspensão da Negociação e Abertura de Processos 20. Nos casos em que tenha ocorrido a suspensão da negociação, a CMVM solicitará à entidade gestora do mercado o seu levantamento, designadamente:

a) Após a entidade emitente ter informado o público de forma legalmente adequada

ao retomar do normal funcionamento do mercado, podendo fixar uma hora para o reinício da negociação que conceda aos investidores um período não inferior a 10 minutos para análise e assimilação da nova informação;

b) Quando, mostrando-se incumpridos pelo emitente ou por terceiro os prazos

fixados para a prestação de informação ou de esclarecimentos ou uma ou outros não tenham sido prestados de forma legalmente adequada, a continuação da suspensão se mostre desproporcionada tendo em conta os interesses dos investidores.

21. A CMVM publicará um aviso no seu site da Internet sobre a hora ou sessão em que se prevê o levantamento da suspensão da negociação.

22. Adicionalmente, no caso previsto no n.º 20-b), a CMVM emitirá um alerta os investidores de que não foi possível, por razões que não lhe são imputáveis, obter a informação solicitada e recomendará particular cuidado nas decisões de investimento ou desinvestimento.

VII - Passo 5: Abertura de Processos

23. Qualquer que seja a fase ou passo em que o procedimento se encontre, sempre que se conclua que:

- Existem indícios de omissão de difusão de um evento real ou deste ter sido objecto de difusão prematura, parcial, distorcida ou de qualquer outro modo desconforme com o disposto no artigo 7º do Código de Valores Mobiliários, a CMVM dará início a outros procedimentos destinados a investigar, nomeadamente, a eventual prática de abuso de mercado;

- Existem indícios de se ter tratado de difusão de rumor ou de falsa notícia com o intuito de manipular o mercado, a CMVM dará início a procedimentos destinados a investigar e verificar essa eventual prática; - Os emitentes ou terceiros não prestaram os esclarecimentos necessários

nos prazos determinados, a CMVM abrirá os competentes processos sancionatórios.

PROCEDIMENTOS GERAIS DE SUPERVISÃO

COM VISTA À DETERMINAÇÃO

DA PRESTAÇÃO DE ESCLARECIMENTOS

E DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA

RELATIVA A EMITENTES

FLUXOGRAMA DE PROCEDIMENTOS

CMVM 2008

Procedimentos de Supervisão de Informação Privilegiada

No documento COMISSÃO DO MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS (páginas 103-112)