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COMUNICAÇÃO À CMVM, DEFESA DO MERCADO E PROCEDIMENTOS INTERNOS DE ORGANIZAÇÃO

3. Sinais de alerta

Apresentam-se seguidamente um conjunto de sinais, quer para o abuso de informação, quer para a manipulação de mercado, que devem desencadear a análise legalmente exigida, por forma a decidir se a situação em causa apresenta suspeitas de crime contra o mercado que justifique a respectiva comunicação à CMVM.

O elenco de sinais não é nem exaustivo, nem determinante da existência de crime contra o mercado, constituindo apenas um ponto de partida para a análise a levar a efeito pelo intermediário financeiro.

Abuso de informação e manipulação de mercado

Concentração anormalmente elevada de operações num determinado instrumento financeiro (estando, por exemplo, envolvidos um ou mais investidores qualificados com ligações ao emitente ou alguém com um particular interesse no emitente);

Repetição não usual de operações entre um pequeno número de clientes durante um certo período de tempo;

Concentração anormalmente elevada de operações e/ou ordens num só cliente ou em diferentes contas de instrumentos financeiros do mesmo cliente ou num número limitado de clientes (especialmente se estes estiverem relacionados uns com os outros).

Abuso de informação

O cliente abre conta e dá imediatamente ordem para execução de uma operação significativa ou, no caso de um cliente não qualificado, dá inesperadamente uma ordem para operação de uma grande quantidade de um determinado instrumento financeiro, especialmente no caso de insistência do cliente no sentido de que a ordem é muito urgente e deve ser executada antes de um momento por ele especificado;

O comportamento do cliente ao nível das decisões de investimento é incoerente com o comportamento anteriormente manifestado e com o seu perfil (ex: tipo de instrumento financeiro em que investe, quantidade investida, tempo de manutenção de participação adquirida);

O cliente solicita especificamente a imediata execução da ordem independentemente do preço a que possa ser executada;

Operações significativas por parte de accionistas com participações qualificadas e outros insiders do emitente antes do anúncio de informação privilegiada;

Manipulação de mercado

Ordens ou operações sem outra justificação aparente que não seja a de fazer subir ou descer o preço do instrumento financeiro ou de aumentar a quantidade, particularmente no caso de a operação ser executada perto do momento em que se forma o preço de referência;

Ordens que, em virtude da quantidade sobre que incidem em comparação com o mercado para o instrumento financeiro em causa, terão um impacto significativo sobre a oferta, a procura ou o preço daquele instrumento financeiro, particularmente no caso de as ordens serem dadas perto de um momento de formação de preço de referência;

Ordens ou operações que aparentem ter como objectivo fazer subir o preço de um instrumento financeiro nos dias que antecedem a emissão de um derivado com ele relacionado;

Ordens ou operações que aparentem ter como objectivo manter o preço de um instrumento financeiro nos dias que antecedem a emissão de um derivado com ele relacionado, quando a tendência do mercado seja de descida;

Ordens ou operações que aparentem ter como objectivo manter o preço do activo subjacente abaixo do preço de exercício de instrumento derivado relacionado, na data da maturidade do instrumento derivado;

Ordens ou operações que aparentem ter como objectivo modificar o preço do activo subjacente por força a que ultrapasse o preço de exercício de instrumento derivado relacionado, na data da maturidade do instrumento derivado;

Ordens ou operações que aparentem ter como objectivo modificar o preço de liquidação de um instrumento financeiro derivado, quando este preço é usado no cálculo das margens;

Ordens ou operações que aparentem ter como objectivo a modificação do valor de uma posição, sem aumento nem diminuição da mesma;

Ordens ou operações que aparentem ter como objectivo fazer subir/descer o preço médio ponderado da sessão ou de um determinado período da sessão; Ordens ou operações que aparentem ter como objectivo fixar um preço de mercado, quando a liquidez do instrumento financeiro ou a profundidade do livro de ofertas não é suficiente para permitir a formação de um preço durante a sessão (a menos que as regras de mercado ou as práticas de mercado aceites e declaradas como tal pela autoridade de supervisão permitam essas operações);

Operações que ultrapassem sistematicamente os limites de variação de preços definidos;

Operações que modificam o spread bid-ask do livro de ofertas, quando esse

spread é factor determinante do preço das operações;

Ordens significativas dadas momentos antes do leilão de abertura/fecho e cancelamento das mesmas alguns segundos antes de o livro de ofertas ser fechado para a realização do leilão, de forma a que o preço de abertura/fecho seja mais alto ou mais baixo do que seria sem a inserção e retirada dessas ofertas, desde que este cancelamento não seja motivado/justificado por divulgação de informação ao mercado.

4. A quem se comunicam as operações suspeitas?

A comunicação de operações suspeitas é dirigida à autoridade de supervisão. Pode acontecer que a autoridade de supervisão competente para supervisionar o mercado onde estão admitidos à negociação os instrumentos que são objecto das transacções suspeitas não seja a do país onde o intermediário financeiro tem a sua sede. Por isso, houve necessidade de esclarecer qual a autoridade de supervisão destinatária da comunicação.

A solução comunitária adoptada (e reflectida no n.º 2 do artigo 382.º do CdVM) é a de que o intermediário financeiro comunica as operações suspeitas à

autoridade de supervisão do país onde tem a sua sede ou onde a sua sucursal

está estabelecida, independentemente do mercado ou sistema onde os valores estejam admitidos à negociação ou do local de onde as ordens foram dadas. É à autoridade que recebe a comunicação que cabe depois reencaminhá-la para a autoridade que seja a competente para a instrução do processo, em função do mercado ou da origem das ordens.

Assim, só estão obrigados a comunicar à CMVM operações suspeitas os intermediários financeiros e sociedade gestoras de mercados ou de sistemas com sede estatutária, administração central ou sucursal em Portugal (artigo 382.º, n.º 2, do CdVM).