• Nenhum resultado encontrado

Diário de Bordo

Nome : Sandra Daniela Silva

Data: Segunda, 26 de Fevereiro de 2018

Experiência/atividade/situação: Conversa com a mãe da Rafaela (Casa da Associação)

Objetivos de observação do dia:

Observação

A Dra. Antonieta veio-me avisar que a Associação tinha acolhido uma nova família, e que quando eu quisesse já poderia ver onde é que elas se encontravam e tentar falar tanto com a mãe, como com a menina. Explicou-me que já era uma adolescente, e que por isso poderia ainda estar na fase da negação. Subi ao 1º piso, e quando cheguei lá pressenti que estivesse alguém na cozinha, entrei e estava uma senhora a cozinhar. Apresentei-me, e perguntei onde se encontrava a sua filha, na qual ela me respondeu que estava na sala de refeições a almoçar. Cheguei à sala das refeições, e vi uma menina sentada a comer, e sentei-me ao lado dela. Voltei a apresentar-me, e perguntei como é que ela se chamava e que idade tinha. Fiquei a saber que tinha 15 anos, e que era de Monção. No início parecia estar um bocado mais envergonhada, mas depois foi respondendo sempre às minhas perguntas com simpatia enquanto almoçava. Aproveitei para lhe perguntar há quanto tempo é que ela estava na casa da Associação, e ela disse-me que era nova e que só há pouco tempo lhe tinham diagnosticado o problema de saúde. “Disseram-me que tinha um linfoma de Hodking e que ia ter de fazer os tratamentos no Porto. Fiquei logo triste por ir para tão longe”. Enquanto dizia isso, explicou que o que a deixava pior era saber que ia ficar longe dos amigos e não puder continuar a ir às aulas. Expliquei-lhe que poderia continuar a falar com os amigos á distância, e que para as aulas também iria encontrar uma solução, uma vez que no IPO existe uma professora que continua a ajudar os alunos no que eles precisem. A R. disse-me: “Sim... Mas não é bem a mesma coisa, gostava muito de estar com eles nos intervalos. Tenho amigas que gosto mesmo muito, e sei que vai ser complicado me virem visitar”. Disse que percebia o que ela estava a dizer, mas para não se

preocupar com isso porque depois também ia conseguir ir a casa e nesses momentos aproveitava para estar com os amigos e matar as saudades todas. Durante alguns minutos, a R. aproveitou e teve a explicar-me como funcionava a dinâmica da casa para quem estava lá hospedado, falou do mapa de tarefas que todas as famílias tinham que obedecer, assim como o horário para frequentar determinados espaços da casa. Consegui reparar que a R. se estava a começar a ambientar, e que não desgostava do sítio que iria ter de viver nos próximos tempos, indo só mencionado as saudades que iria sentir da sua família. Passado algum tempo, a mãe da R. sentou-se ao nosso lado na mesa, e perguntou o que é que já tínhamos estado ali a conversar. Eu expliquei à mãe que a R. já nos tinha contado qual era o seu problema de saúde, e que para ela o mau disso tudo era não estar próxima das pessoas que mais gostava. A mãe respondeu: “Claro que entendo a minha filha... É combinado. Somos de Monção, não sei se ela já lhe disse! Nunca tinha vindo ao Porto, foi a primeira vez, e teve que ser logo desta forma”. Perguntei se a R. era filha única, ou se tinha mais irmãos, e a mãe disse que tinha mais 2 filhos em casa que estavam com o pai: “Isto custa... Eles estarem tão longe de nós”. Expliquei à mãe e à R. que a distância iria ser sempre um problema durante todo o tempo que ela estivesse em tratamento, mas que não podiam deixar que isso as afetasse e que tinham de conseguir ser fortes em todos esses momentos que sentissem saudades mais apertadas. “Sei que para quem está desse lado é mais difícil, compreendo que seja tudo uma novidade e que ainda não esteja preparada para o que vem aí. Mas só quero que saiba, que vai puder contar com a ajuda de todos os profissionais tanto da Casa da Associação como do IPO” disse-lhe. A mãe disse que ainda tinha algumas preocupações sobre a doença, que a R. só tinha feito alguns exames e ainda nem sequer tinha começado os tratamentos, e que era difícil entender muitas das coisas que ela iria ter de passar: “Os médicos falam como se nós percebêssemos do assunto. Dizem- nos que vão dar esta ou aquela medicação, mas nós não conhecemos, não sabemos nada. Limitamo-nos a acenar com a cabeça, e a deixar estar. Porque são eles os profissionais, não nós”. Ainda havia um certo desconhecimento sobre a doença que a filha tinha, mas ao mesmo tempo muito interesse em tentar perceber tudo e um respeito por todos os profissionais. “Tem sido importante comunicar com outras pessoas, partilhar os nossos anseios, temores e expectativas com os pais de outros meninos e meninas. Aqui na casa temos essa possibilidade, já nos cruzamos com outras famílias e isso é bom”. Aproveitei para dizer à mãe que isso era muito bom, que é importante que os cuidadores se consigam auxiliar e apoiar uns aos outros, mas para nunca se esquecer que “cada caso, é um caso”. Ao longo da conversa a mãe

mencionou a importância da Casa da Associação, e o quanto isso iria ser uma mais valia para ela e para a sua filha, uma vez que eram de tão longe e iria ficar complicado estar sempre a fazer viagens tão cansativas. Passado um pouco, deixei a R. e a mãe à vontade, para que pudessem descansar e voltei para a minha sala.

Contratempos

(problemas, dificuldades, inseguranças, dúvidas…)

Desafios profissionais

(tomadas de decisão, planos, (re)formulações, reflexões, novos conhecimentos, mudanças…)

Registo autobiográfico