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III. Metodologia de intervenção/investigação

3.3. Técnicas de intervenção/investigação

Posto isto, e após ter sido este o caminho a percorrer, foi necessário definir as técnicas e os instrumentos de recolha de dados mais adequados e pertinentes para atingir os objetivos a que nos propúnhamos. Pardal e Correia (1995) consideram as técnicas como “um instrumento de trabalho que viabiliza a realização de uma pesquisa, um modo de se conseguir a efectivação do conjunto de operações em que consiste o método, com vista à verificação empírica” (p.48). A recolha de dados é um procedimento lógico da investigação empírica ao qual compete selecionar técnicas de recolha e tratamento da informação adequadas, bem como controlar a sua utilização para os fins especificados. As técnicas são conjuntos de procedimentos bem definidos destinados a produzir certos resultados na recolha e tratamento da informação requerida pela pesquisa.

Neste sentido, as técnicas utilizadas na pesquisa centraram-se, especialmente na análise documental, na observação não participante e na entrevista não estruturada ou aberta. Os instrumentos centraram-se em registos autobiográficos, diário de bordo dos dias de intervenção, mas contamos ainda com os diários elaborados pela minha mãe, elaborados ao longo do meu período de doença e de hospitalização.

Segundo Caulley (1981) “a análise documental busca identificar informações factuais nos documentos a partir de questões ou hipótese de interesse” (Lüdke & André, 1986, p.38). Entende-se com isto que a análise documental pode-se constituir numa técnica valiosa de abordagem de dados qualitativos, na medida em que pode complementar as informações obtidas por outras técnicas e descobrir aspetos novos de um tema ou problema. Desta forma, procuramos informações referentes à caraterização da Instituição, ao seu historial, os valores e à sua missão, porque o investigador ao “mostrar interesse por vários documentos (...) põe um conjunto de actores e colegas de olho alerta para documentos potencialmente úteis” (Stake, 2007, p.85).

Para além da análise documental, a observação não participante constituiu um dos instrumentos básicos para a recolha de dados na nossa investigação qualitativa (Ludke e André, 1986), pois é uma técnica que utiliza os sentidos de forma a obter informação de determinados aspetos da realidade. Consideramos pertinente a escolha desta técnica porque capta os momentos em si mesmos, sem recurso a qualquer documento ou testemunhos. O ato de observar é um ato aberto, um ato in loco e in vivo, pelo que “é um processo que inclui a atenção voluntária e a inteligência, orientado por um objectivo final ou organizador e dirigido a um objecto para recolher

Em algumas situações de recolha de dados no contexto hospitalar (Hospital do Porto), tornou-se pertinente esta técnica de observação direta não participante, porque não existiu qualquer tentativa de participar como membro do grupo ou do contexto em se enquadra. Ao longo de todo o estágio a principal intenção consistiu em “passar despercebida”, para que a minha presença (elemento externo) não fosse exercer uma influência direta sobre os fenómenos em estudo. Tentei observar e compreender a situação “por dentro”, testemunhando os comportamentos sociais das crianças e dos seus cuidadores, sem lhes alterar o seu ritmo normal. Todavia, e como teremos oportunidade de explicitar ao longo do presente relatório, esta postura de observação não participante não se opõe à minha intervenção, nem ao meu papel de mediadora.

A entrevista não estruturada é uma técnica “utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito” permitindo-nos “desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam coisas do mundo” (Bogdan & Bilken, 1994, p.134). Com estas entrevistas não estruturadas pudemos recorrer a conversas do tipo formais ou informais o que nos permitiu obter informações de acordo com os objetivos delineados.

Através deste instrumento, inquirimos alguns os cuidadores dos doentes que estavam (à data da realização do estágio) em regime de Internamento do IPO do Porto e Hospital do Porto, bem como os meus próprios pais, uma vez que já foram os cuidadores aquando da minha fase de doença. As entrevistas não estruturadas, tantas vezes informais, permitiram uma maior proximidade com os cuidadores e compreender quais os comportamentos que os cuidadores detêm após as atividades desenvolvidas ao longo do processo e, principalmente, quais as mudanças (ou não mudanças) na vida destes em relação aos conflitos encontrados ao longo da presente investigação.

Por fim, recorremos aos diários de bordo. O diário de bordo é um “espaço narrativo de pensamentos” (Zabalza, 1994), mas também um instrumento de avaliação importante para mim, enquanto investigadora, na medida que me permitiu registar as atividades, as reflexões e os comentários sobre o dia-a-dia passado na Casa da Associação e no Hospital do Porto. Os diários de bordo são interpretados como uma metodologia de investigação, pois são narrativas de relatos de experiências vividas onde se mostra as dificuldades vividas pelos participantes, bem como a forma como estas são resolvidas (Ponte, 1998). É uma forma privilegiada de escrever, descrever e refletir sobre os problemas que vão surgindo e a forma de os conseguir superar, o que permite

criar o hábito de pensar nas próprias práticas, nos atos e de pensarem a própria evolução. Para Hernández (1986, citado por Zabalza, 1994)

o valor instrumental deste método reside na sua capacidade de reproduzir a vivência concreta dos casos através da experiência acumulada; quer dizer, significa a formulação consciente do devir social por parte dos sujeitos. Pretende-se com ele destacar o valor da própria história da pessoa ou do grupo social” (p.84).

A estrutura do diário de bordo foi construída pela investigadora, para que fosse possível através da observação, registar (descrever e refletir) alguns aspetos relativos ao dia-a-dia dos cuidadores das crianças hospitalizadas, assim como contratempos e desafios profissionais que pudessem acontecer. Mostraram ser um instrumento fundamental, uma vez que nele mencionei as intervenções de mediação que realizava com os cuidadores, mas também das melhorias que podia ter para uma intervenção futura. Estes diários de bordo foram preenchidos num momento de introspeção daquilo que sucedeu durante o dia, de forma tranquila e reflexiva. Com este instrumento foi-me dada a possibilidade de ter voz e expressão, mostrando aquilo que é sentido assim como as minhas experiências.

A recolha de dados é um procedimento lógico da investigação empírica ao qual compete selecionar técnicas de recolha e tratamento da informação adequadas, bem como controlar a sua utilização para os fins especificados. Assim, após essa recolha é necessário organizar, analisar e interpretar os dados, dando voz a esses dados de forma a espelhar a(s) realidade(s) observadas. Neste processo de tratamento dos dados, recorremos à análise de conteúdo dos dados qualitativos como são as entrevistas e os próprios diários de bordo, já que o seu “objetivo é a busca do sentido ou dos sentidos de um documento” (Gomes Campos, 2004, p.611).

Para Bardin (2011) a técnica da análise de conteúdo é definida como sendo um “conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens” (p.47). A utilização desta técnica engloba três fases fundamentais: pré-análise, conclusão, onde se inclui a exploração do material e tratamento dos resultados e, por fim, a interpretação. Estas fases são importantes para uma reflexão sobre o projeto levado a cabo (Bardin, 2011, p.47).

Na análise de conteúdo incluímos o diário que foi escrito por um dos meus cuidadores (mãe) durante o tempo que me encontrava em fase de tratamentos e hospitalizada. Aquando a elaboração do meu plano de estágio, e depois de saber qual seria o meu tema de estudo, a minha mãe disse-me que desde o dia que lhe foi dada a notícia que eu tinha uma leucemia, que começou a escrever como era passado o meu dia-a-dia durante todos os internamentos que tinha no IPO do Porto. Este diário vem completar e mostrar outra visão, da minha autobiografia, uma vez que é uma narrativa de um dos meus cuidadores, e por isso vai dar para fazer uma comparação com a perspetiva atual dos outros cuidadores.

IV. Apresentação e análise dos resultados