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2.2 Cultura organizacional a caminho do caso do estudo

2.2.8 Diagnóstico da cultura organizacional

O diagnóstico da cultura organizacional é sempre uma difícil empreitada, e quando se trata de uma organização policial, os desafios expandem-se, uma vez que a

“profissão policial descreve uma dinâmica própria, sem se preocupar se é entendida como

unitária ou fragmentada, existindo dificuldades em se delimitar, tanto o trabalho policial,

quanto a própria cultura da organização” (MONJARDET, 2012).

Entender a cultura em qualquer estudo que aborde o trabalho policial corresponde ao ponto sensível a ser enfrentado para investigar a função policial.

A análise da cultura profissional dos policiais é calcanhar de Aquiles de toda pesquisa sobre polícia. O exercício é obrigatório, como a revisão da literatura o comprova. Qualquer que seja o objeto inicial da pesquisa e a precisão de sua delimitação [...], o relatório da pesquisa sempre traz uma exposição sobre a cultura profissional. (MONJARDET, 2012, p. 162).

Como uma das dimensões do estudo refere-se à gestão de risco e de pessoas, o conhecimento da cultura permitirá ampliar as possibilidades de discussão sobre a missão, as metas, a visão e a estratégia da organização na busca de melhores resultados e eficiência, sem descuidar da integridade de seus servidores.

Schein (2007) confirma o entendimento acima ao mencionar que “se quisermos tornar uma organização mais eficiente e eficaz, devemos entender o papel da cultura na vida

organizacional”, que exige a adoção de método esquadrinhado e orientado para a construção

de um modelo definidor das características da organização (RUSSO, 2010).

No caso do estudo, adotou-se um modelo apresentado por Russo (2010), intitulado de OCP (Organizational Culture Profile), com adaptação na versão revisada por James Sarros et al (2005); que encerra um prático modelo para distinção das organizações, com minúcias referentes à confiabilidade (reflete o modelo utilizado) e a validade (fundamentada em teoria sólida), além de ser fidedigno (reproduz aplicações por outros pesquisadores).

O modelo proposto remete à origem dos estudos organizacionais, onde os teóricos versavam sobre o controle, a hierarquia e a burocracia das organizações, enquanto que os atuais modelos, denominados de enfoque pós-sistêmico e contingencial, não definem a atuação da organização, mas procura com os meios disponíveis, analisá-la considerando variáveis do ambiente, situacionais e das pessoas envolvidas.

O modelo original OCP contemplava um conjunto de 110 valores, que foi reduzido para 54, depois para 40 e, na revisão proposta por Sarros, chegou-se a 28 valores agrupados em 7 fatores. Os valores foram ajustados para a realidade do setor público, considerando realidades como o controle, a hierarquia, o foco, etc. (RUSSO, 2010), conforme ilustra o Quadro 9.

FATORES VALORES

COMPETITIVIDADE FOCO NA REALIZAÇÃO

ÊNFASE EM QUALIDADE

DISTINÇÃO – SER DIFERENTE

SER COMPETITIVA4 RESPONSABILIDADE

SOCIAL

SER REFLEXIVO-CAUTELOSA SOBRE SUAS AÇÕES

BOA REPUTAÇÃO

SER SOCIALMENTE RESPONSAVEL

CLARA FILOSOFIA DE ORIENTAÇÃO

APOIO FOCO EM EQUIPES

COMPARTILHA INFORMAÇÕES LIVREMENTE

FOCO EM PESSOAS

COLABORAÇÃO

INOVAÇÃO INOVAÇÃO

RAPIDEZ EM OBTER VANTAGEM DAS OPORTUNIDADES

CORRER RISCOS/OUSAR

4

A categoria ser competitiva, por falha quando da elaboração do formulário, não integrou a pesquisa e sua da a sua ausência durante as análises. Uma vez que tal categoria tem pouca aplicação para o setor público, o comprometimento da ausência foi considerado menor, diante dos dados coletados.

ASSUMIR RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL

RECONHECIMENTO JUSTIÇA

OPORTUNIDADE PARA CRESCIMENTO PROFISSIONAL

MAIOR REMUNERAÇÃO PARA ALTO DESEMPENHO

RECONHECIMENTO PARA ALTO DESEMPENHO

DESEMPENHO EXPECTATIVA POR DESEMPENHO

ENTUSIAMO PARA O TRABALHO

FOCO EM RESULTADOS

SER MUITO ORGANIZADA

ESTABILIDADE ESTABILIDADE/CONSTÂNCIA

SER CALMA

GARANTIA DE EMPREGO

BAIXO CONFLITO Quadro 9 - OCP Revisado – dimensões e valores

Fonte: Russo (2010)

Outros modelos existem (HOFSTEDE, 2005; SCHEIN, 2007; Trompenaars, 1994) e que permitem o diganóstico da cultrua. Robbins (2010), por exemplo, relaciona sete características fundamentais para definir a essência de uma organização, conforme sintetizado Quadro 10.

CULTURA ORGANIZACIONAL SEGUNDO ROBBINS

CARACTERÍSTICA DEFINIÇÃO

INOVAÇÃO O grau em que os funcionários são estimulados a serem inovadores e a assumir riscos

ATENÇÃO AOS DETALHES

O grau em que se espera que os servidores demonstrem precisão, análise e atenção aos detalhes.

ORIENTAÇÃO PARA OS RESULTADOS

O grau que os dirigentes focam mais os resultados que as técnicas e os processos empregados para os eu alcance

FOCO NA PESSOA Grau em que os gestores consideram o efeito do resultado sobre as pessoas dentro da organização.

FOCO NA EQUIPE É o grau em que as atividades de trabalho são mais organizadas em torno das equipes que de indivíduos

AGRESSIVIDADE E o grau em que as pessoas são competitivas e agressivas, em vez de tranquilas.

ESTABILIDADE É o grau em que as atividades organizacionais enfatizam a manutenção do status quo em vez do crescimento.

Quadro 10 - Características essenciais da cultura organizacional Fonte: Elaborado pelo autor com base em Robbins (2010)

Os valores estão entre os poucos conceitos sociopsicológicos que têm sido adotados com sucesso por quase todas as disciplinas das ciências sociais e de gestão e correspondem às crenças organizacionais generalizáveis e duradouras sobre o desejo pessoal e social de modos de conduta. (RUSSO, 2010, p. 29).

Russo (2010) destaca que o modelo OCP, utilizou como instrumento de pesquisa um questionário com a escala de Rensis Likert, com o objetivo de minimizar vieses na interpretação, aplica os valores validados recorrendo ao uso da técnica Q-sort.

Embora para a avaliação da cultura, são apresentados modelos de diagnóstico qualitativo, a aplicação de um modelo híbrido (RUSSO, 2010) levaria a uma melhor assertividade, reduzindo interpretações equivocadas, onde o nível da análise (população) e a metodologia empregada (ferramentas analíticas recorridas para suportar a análise) afetam a interpretação dos dados.

Para Russo (2010), independente do modelo escolhido, é imprescindível que ele seja fundamentado em teoria sólida e testado empiricamente; possa ser reproduzido e reflita o modelo utilizado. Para tanto, o autor sugere a sequência de cinco passos para o diagnóstico da cultura (2010), conforme o fluxograma apresentado na Figura 02.

Figura 2 - Etapas para o diagnóstico de cultura organizacional Fonte: Adaptado pelo autor baseado em Russo (2010)

A primeira etapa refere-se à definição da amostra (uma parte da população com grau de confiança), que permitirá proceder às generalizações. A amostra pode ser probabilística ou não probabilística. No primeiro caso, todos os indivíduos da população têm uma probabilidade para serem escolhidos, segundo os critérios: aleatório, estratificado e amostra conglomerado. As amostras não probabilísticas são obtidas por conveniência, intencional ou do tipo bola de neve. O Quadro 11 ilustra as classificações e os tipos de amostras.

AMOSTRA PROBABILÍSTICA

TIPO DE AMOSTRA CARACTERÍSTICA

Aleatório simples (com ou sem reposição)

 Todos têm probabilidades conhecidas e iguais para seleção  Aplicada para um conjunto de indivíduos para seleção  Utilização de ferramentas de sistema

Estratificado  A população é organizada em subpopulações ou estratos mutuamente excludentes e coletivamente exaustivos

 Seleção aleatória

 Elementos homogêneos para o mesmo estrato  Elementos heterogêneos para estratos diferentes

Conglomerado (cluster)  A população é organizada em subpopulações ou estratos mutuamente excludentes e coletivamente exaustivos para a seleção

 Coleta de informações da seleção  Nova seleção aleatória

AMOSTRA NÃO PROBABILÍSTICA

TIPO DE AMOSTRA CARACTERÍSTICA

Conveniência  Conveniência do pesquisador

 Pouca confiança

 Menor custo, rápida e simples.  Útil em pesquisas exploratórias  Não permite generalizações

Intencional ou julgamento  Amostra obtida pelo julgamento do pesquisador a partir de casos típicos da população e com boa representatividade

 Custo baixo e rápida amostragem

 Não permite amplitude para as inferências

Bola de Neve (snowball)  Seleção de um grupo inicial para entrevistas que indicam outras pessoas com as mesmas características da população-alvo

 Para estimativa de características raras na população

 Potencializa a possibilidade de achar a característica desejada  Baixo custo

Quadro 11 - Tipo de amostras

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Russo (2010)

No caso da unidade do estudo, constam 345 servidores, entre peritos criminais (199), agentes de polícia (113) e 33 distribuídos entre agentes penitenciários, técnicos, carreira de apoio, administrativos e outros, conforme o Quadro 12.

INSTITUTO DE CRIMINALÍSTICA - IC – POLÍCIA CIVIL DO DISTRITO FEDERAL - PCDF -

CARGO QUANTITATIVO CEDIDOS EFETIVO (Q-C)

PERITO CRIMINAL 178 21 199

AGENTE DE POLÍCIA 113 00 113

CARREIRA DE APOIO 28 0 28

OUTROS 05 0 5

TOTAL 324 21 345

Quadro 12 - Distribuição de servidores no instituto por cargo Fonte: SISCOD. Elaborado pelo autor

A definição da amostra, o instrumento de coleta de dados, o tratamento e o relatório são apresentados no tópico que tratou da metodologia.