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2.2 Cultura organizacional a caminho do caso do estudo

2.2.5 O poder nas organizações

A etimológica do vocábulo “PODER” vem do latim “POTERE”, que significa ter

por posse. Ilustrativo da diversidade semântica, que paira sobre o termo, é o rol extenso de seus significados. Em consulta ao dicionário Michaelis (http://michaelis), sobram denotações para a palavra PODER. Corresponde, desde uma simples faculdade, ou possibilidade, até a expressão de autoridade, domínio ou influência, concessão de permissão ou autorização, ou capacidade para fazer algo, ou força.

Afastando-se da semântica e inclinando-se para o campo sociológico, a palavra poder, segundo o pensamento Weberiano (1991), está relacionado à probabilidade de impor uma vontade em uma relação social estabelecida, mas que precisa ser diferenciado de dominação, representando uma possibilidade de se alcançar obediência para todas as ordens.

Robbins (2010) refere-se ao poder como a capacidade que „A‟ tem de influenciar

o comportamento de „B‟, de jeito que „B‟ atue com a vontade de „A‟. Weber (1991) concebe

que a noção de poder organizacional está alicerçada na estrutura hierárquica e nas relações entre os diferentes níveis e para Schein (2007) a principal atribuição do poder é a de salvaguardar a harmonia e o equilíbrio dentro da organização, representando o elemento central para que o lado controlador se destaque.

A diversidade conceitual, a multiplicidade de significados, os estudos disseminados em distintas áreas do conhecimento, por si só, comprovam a relevância do PODER para o universo das organizações e seja qual for o tamanho dela, a dimensão do poder estará presente e atuará nas relações, nutrindo aproximação, ou gerando afastamentos, desde a dimensão familiar, onde o poder dos pais ascende sobre os filhos, passando pela estrutura de uma empresa ou uma organização multinacional, uma comunidade local ou um país, uma instituição privada ou pública.

Imagina-se, então, a importância desse estudo para uma organização que tem em seus valores básicos e em sua estrutura hierarquizada a cultura do poder. Organização que representa o Estado com autorização de uso regular de poderes previstos na mais plena democracia, ou na absoluta tirania, onde a polícia é a própria manifestação desse poder.

Sousa (2009), em uma análise da cultura das organizações policiais, apresenta um estudo histórico sobre o poder, que abrange o século XX e o início do século XXI. Tal estudo orientou a elaboração do Quadro 06 e serviu para sistematizar o processo evolutivo dessa dimensão.

PODER

AUTOR ANO ESTUDO

Dwyer 1991 Como o humor reflete nas relações e na distribuição de poder nas organizações

Cotton 1994 Comportamento organizacional considerando a variável classe social como preditora do poder.

Clement 1994 Relação entre liderança, cultura e poder nas organizações. Pettigrew e

Mcnulty

1995 Identificação do poder da administração proporcionado por fatores contextuais e culturais.

Paz 1997 Relação de estrutura de poder com avaliação de desempenho nas organizações.

Vargas 1998 Identificação das configurações que melhor representam as relações de poder presentes na Embrapa.

Paz 1999 Investigação sob poder e justiça na organização

De Gilder 1999 Influência do uso do poder e das competências dos superiores nas respostas avaliativas e comportamentais dos subordinados.

Paz 2004 Poder e saúde organizacional Enns e Mc

Farlin

2005 Estudo sobre a influencia para compreender os processos mais usados pelos executivos para ganhar o apoio dos seus pares na implantação de

inovações.

Zhang 2006 Estudo de liderança na cúpula empresarial Colarelli,

Spranger, Hechanova

2006 Diferenças sexuais no poder e tentaram explicar a assimetria entre homens e mulheres na ocupação de cargos de alta gerência.

Mintzberg 1983 – 1992

Robusta teoria de poder organizacional.

Quadro 6 - Evolução do estudo do poder entre o final do século XX e o início do século XXI Fonte: Elaboração do autor com base em Sousa (2009)

Mintzberg estabelece que as relações de poder permeiem as organizações e também as inspiram, e é capaz de determinar o comportamento da organização, segundo uma dimensão de micro poder e uma dimensão de macro poder. O primeiro refere-se aos indivíduos na organização e envolve barganha, persuasão e confrontação entre os atores que dividem o poder. O segundo, diz respeito ao uso do poder pela organização sobre os outros,

que podem ser externos a organização, para negociar estratégias “coletivas” e do interesse da

organização (MINTZBERG, LAMPEL, QUINN e GHOSHAL, 2006).

Mintzberg (1983) apresenta uma configuração de poder fundamentada em seis categorias, assim constituídas:

EVOLUÇÃO do ESTUDO do PODER

CATEGORIA CONSIDERAÇÕES

Autocracia O poder concentra-se no chefe da organização, que define as metas. Configuração comum em organizações jovens, pequenas e de ambiente de fácil compreensão.

Instrumento As organizações servem de instrumentos para o alcance dos objetivos estabelecidos por um individuo ou grupo, composto por influenciados dominantes externos a organização.

Missionária O maior influenciador é a ideologia, responsável pela coalisão passiva. Há metas orientadas pela ideologia.

Meritocracia O poder se concentra nos especialistas com base nas habilidades e domínio do conhecimento e se nos constituem mais fortes influenciadores internos.

Sistema fechado ou autônomo

Os próprios membros são os controladores que se utilizam de padrões burocráticos para exercerem o controle interno.

Arena política É típica de organização em crise. Aumenta-se a atividade política e reduz as forças de integração.

Quadro 7 - Evolução do estudo do poder

Fonte: Elaboração do autor com base em Mintzberg (2006)

Fleury e Fischer (1992), ao analisar a cultura organizacional e a instrumentalização do poder, fixam a árdua tarefa de entender as organizações a partir desta dimensão, uma vez que, historicamente, o poder encontra-se centralizado nas mãos do proprietário da empresa, passando, por um processo de difusão para os membros definidos como influenciadores internos e depois para os externos.

Uma das atribuições do poder é reduzir as tensões e como a instituição investigada insere-se em uma organização policial, é importante a compreensão do poder e como ele se estabelece para solucionar as tensões, disciplinar as relações e encaminhar as decisões orientadas pelos fundamentos da hierarquia e da disciplina.

O caminho percorrido até aqui, passando pelo conceito de cultura e os valores, dos quais, o poder assume um papel relevante, tanto para disciplinar o funcionamento da organização, quanto para garantir a atuação junto à sociedade.

Além do entendimento do poder é necessário, ainda, a compreensão dos aspectos relacionados aos mitos, os ritos e os símbolos, que constituem antecedentes históricos da instituição.

Fleury e Fischer (1992) reconhecem uma correlação entre o poder, os mitos, ritos e simbolismos, considerados como poder invisível, já que exercem controle na dinâmica organizacional e influenciam o comportamento de seus membros. As autoras asseguram que para desvendar a cultura de uma organização é preciso mapear as relações de poder entre as categorias e entre as áreas da organização, analisando o processo de trabalho, as práticas administrativas, especialmente a Gestão e a Divisão de Pessoal.