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2. PROJETO DE INTERVENÇÃO

2.1. Diagnóstico de situação

O diagnóstico de situação pretende identificar a situação-problema e descrever a situação sobre a qual se pretende intervir e alterar (Ruivo, Ferrito & Nunes, 2010). Neste sentido, foi realizada uma reflexão sobre a observação e participação nas práticas de cuidados no próprio contexto profissional, com o intuito de identificar problemas que carecessem da intervenção de um enfermeiro especialista para a sua melhoria. Os problemas identificados foram validados com a enfermeira responsável e restante equipa de enfermagem, no sentido de perceber quais as suas necessidades e o que teria mais impacto em termos de resultados positivos para o serviço, uma vez que, conforme refere Ruivo, Ferrito & Nunes (2010), o trabalho de projeto pretende a análise e resolução de problemas em equipa. Deste modo, foi identificada uma prática não satisfatória no que respeita à prestação de cuidados de enfermagem à pessoa com RHTA. De forma a sustentar do ponto de vista teórico o problema identificado, foi mapeada a evidência científica

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Posteriormente o Decreto-Lei nº 115/2013 de 07 de Agosto vem acrescentar que o objetivo não é desvalorizar o conhecimento ou opô-lo à noção de competência, mas sim que ambos possam coexistir no processo de aprendizagem e desenvolvimento profissional.

sobre o tema, com o intuito nortear a implementação de estratégias e intervenções eficazes para a melhoria da qualidade dos cuidados nesta área de intervenção.

O projeto é um plano de trabalho que pretende resolver e/ou estudar um problema que preocupa os interveninente que nele irão participar logo, para que se criem respostas de qualidade, é importante mobilizar os recursos humanos, já que estes constituem um elemento fundamental para a mudança numa instituição (Ruivo, Ferrito & Nunes, 2010). Por esta razão, e por se tratar de uma temática pouco explorada e algo desvalorizada pelos profissionais de saúde, sobretudo na área da oncologia, foi realizada previamente uma sondagem de opinião junto da equipa de enfermagem daquele contexto para averiguar a pertinência do tema do projeto de intervenção (Apêndice I). De uma maneira geral, os resultados da sondagem de opinião demonstraram que a dificuldade na prestação de cuidados à pessoa com RHTA e a necessidade de trabalhar e aprofundar conhecimentos sobre este tema era unânime e transversal a todos os elementos da equipa de enfermagem, vindo a maioria das respostas apoiar as necessidades anteriormente identificadas (Apêndice II).

O contexto profissional submetido a este diagóstico de situação e onde foi levada a cabo a implementação do projeto é um HDO de uma Unidade Hospitalar de referência na região do sul do país, pertencente ao Grupo II7 (Portaria n.º 82/2014 de 10 de Abril), com uma área de inluência de 16 concelhos e que abrange um população de cerca de 450.000 habitantes, um número que pode triplicar nas épocas de maior afluência de turismo [dados retirados do site oficial desta instituição, 2018]. Por questões de confidencialidade, a instituição será de agora em diante mencionada como Unidade Hospitalar D. Este HDO é considerado um serviço de oncologia de nível III8 de acordo com o relatório da Rede Nacional de Especialidade Hospitalar e de Referenciação de Oncologia Médica (Miranda et al., 2015). Neste nível de cuidados, os serviços de oncologia devem garantir a

7 Classificação segundo os critérios de categorização dos serviços e estabelecimentos do Serviço Nacional

de Saúde, de acordo com a natureza das suas responsabilidades e quadro de valências exercidas, bem como o seu posicionamento na rede hospitalar (Portaria n.º 82/2014 de 10 de Abril).

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Serviços de Oncologia - “O terceiro nível, unidades de oncologia, corresponde à tipologia mais básica, com um serviço de Oncologia Médica, com o mínimo de três especialistas, e que deve assegurar consultas multidisciplinares locais para a patologia mais frequente (pelo menos mama, cólon e próstata). Nos casos em que não se justifique a formalização de uma consulta multidisciplinar, pela raridade local da patologia ou pela inexistência de meios técnicos ou humanos críticos para a decisão, devem estes serviços estabelecer formas de afiliação. Estas unidades devem ter capacidade de internamento a cargo, ou seja, internamento em serviço próprio ou em outro serviço, mas com a tomada a cargo dos doentes pela Oncologia Médica, e ter circuitos de atendimento não programado e de urgência estabelecidos” (Miranda et al., 2015, p.20-21).

existência de um oncologista em permanência para determinar o tratamento, avaliar o doente e discutir com a equipa multidisciplinar questões relacionadas com a prestação de cuidados; a equipa de enfermagem deve estar preparada para colaborar nesta prestação de cuidados, intervir na educação do doente sobre os efeitos do tratamento e ter treino adequado na administração parentérica de terapêutica citotóxica e monitorização de efeitos adversos e reações; deve ainda ter assegurado a existência de equipamento de segurança adequado, nomeadamente, oxigénio, equipamento de ressuscitação de emergência, equipamento para administração de terapêutica endovenosa, entre outros (Coordenação Nacional para as Doenças Oncológicas, 2009).

Neste HDO, a administração de quimioterapia e imunoterapia pelas vias oral, endovenosa, intravesical e subcutânea é efetuada exclusivamente por enfermeiros, segundo a prescrição prévia do oncologista. Apesar de não ser possível contabilizar o número de RHS que ocorreram no serviço, uma vez que não são devidamente notificadas na sua totalidade, é perceptível que estas surgem cada vez com maior frequência. No passado, o fármaco que provocava uma RHS era descontinuado de imediato e, se possível, o doente iniciava uma linha de tratamento subsequente. Desde há cerca de um ano e meio, o serviço conta com a colaboração da equipa clínica de Imunoalergologia da mesma instituição, que avalia, diagnostica e acompanha estes doentes, caso seja possível manter a terapêutica. A equipa de enfermagem colabora com a equipa clínica de imunoalergologia em todos os procedimentos necessários relativos ao doente que teve RHTA (testes cutâneos, provas de provocação e protocolos de dessensibilização). Após reflexão sobre a realidade do serviço, e tendo em conta os cuidados de enfermagem destacados anteriormente no enquadramento conceptual após consulta da evidência científica sobre esta temática, foram detetados variados problemas no serviço, relacionados sobretudo com a inexistência de normalização de procedimentos na abordagem das RHTA, a carência de formação por parte da equipa de enfermagem e a subnotificação das RHTA como eventos adversos.

Avaliando as necessidades do serviço relativamente a esta temática e sendo a evidência científica bastante clara no que respeita ao papel do enfermeiro perante as RHTA, foi desenvolvida a questão de investigação “Quais os cuidados de enfermagem à pessoa com reação de hipersensibilidade à terapêutica

antineoplásica em contexto de hospital de dia?”, que serviu de ponto de partida para a elaboração do projeto e norteou todo o seu desenvolvimento.

No sentido de avaliar as condições relativas à implementação do projeto no serviço foi também utilizada como ferramenta de diagnóstico uma análise SWOT (Apêndice III).