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Diagnóstico dos principais ecossistemas florestais da Ilha de Santa Catarina

2.7 A Ilha de Santa Catarina

2.7.3 Diagnóstico dos principais ecossistemas florestais da Ilha de Santa Catarina

“A Ilha de Santa Catarina tem sido palco de intervenções humanas desde épocas pré- históricas. Os primeiros vestígios da ocupação humana apontam para cerca de 500 anos” (CECCA, 1996 apud RODRIGUES, 1997, p. 441).

De acordo com Caruso (1990), até 1748, data da chegada da primeira leva açoriana, a cobertura vegetal da Ilha não havia sofrido nenhum dano significativo. A partir de então, as áreas periféricas à capital e o interior da Ilha foram sendo gradativamente ocupados. Apesar do êxodo rural, muitos braços permaneceram na terra haja visto que a farinha de mandioca se tornou o principal produto de exportação da Ilha de Santa Catarina durante quase todo século XIX. Além do desmatamento para a agricultura praticado com derrubada, seguido pela queima, percebe-se a retirada intensa de madeira. Assim, a exploração da madeira durante a

colonização, e os desmatamentos para a agricultura, foram, inicialmente, os principais responsáveis pelo impacto sobre a vegetação. Tal situação seria ainda agravada por outras atividades, como o corte de madeira para a construção de engenhos, de moradias e de mobiliário, lenha para uso doméstico de engenhos, olarias, curtumes e caieiras, e, finalmente, o desmatamento para a ocupação urbana.

Ainda conforme o autor, posteriormente, com o declínio da agricultura na Ilha, as florestas iniciaram lento processo de regeneração espontânea e muitas áreas originais foram recuperadas, mas, continuaram expostas à outra ameaça ainda mais danosa – a expansão urbana acelerada – a qual, significa uma ocupação definitiva dos ambientes. Dessa forma, se forem somadas as reduções das áreas ocupadas pela vegetação original, constata-se que a Ilha perdeu para a agricultura e urbanização mais de 75% da sua cobertura vegetal nativa.

Enfim, a ação antrópica e os impactos sofridos ao longo dos séculos, foram a principal causa do amplo declínio dos ecossistemas da Ilha de SC, e a partir daí, a sua paisagem natural passou a se modificar progressivamente.

Hoje, as ameaças e a destruição ainda continuam eminentes, principalmente as que são provenientes da ganância e do autoritarismo do poder.

Com relação à Floresta Ombrófila Densa, que é o foco principal do estudo de caso, a principal ameaça é então, a expansão urbana, principalmente, nos bairros periféricos, sob a forma de loteamentos e ocupações ilegais ou não. Aliado a isto, conforme Cecca (1997), existe também o problema da exploração mineral, representado basicamente pelas barreiras de extração de argila e pedreiras de granito, contribuindo diretamente com a destruição da vegetação e indiretamente com a ocupação ilegal e desordenada das encostas, através do aproveitamento das estradas e desmatamentos feitos para a exploração.

No caso das florestas quaternárias da Ilha, que quase foram totalmente destruídas, as suas áreas de ocorrência foram inicialmente ocupadas pela agricultura e por áreas de pastagens, e posteriormente, também, pela ocupação humana.

Caruso (1983) afirma que as formações secundárias ou florestas secundárias, até poderão se assemelhar em fisionomia à mata original ou floresta primária, porém, jamais serão as mesmas, pois, a sua cópia aproximada somente se obterá em longo prazo - entre 80 a 120 anos.

Por outro lado, mesmo as áreas remanescentes, que não foram desmatadas totalmente, sofreram extração seletiva das maiores árvores de valor econômico, e devido a esta exploração, não mais apresentam uma “mata primária” realmente típica.

Para Fischer (1987), a floresta é o resultado de um trabalho de milhões de anos da natureza, onde micro e macro seres, competem permanentemente sob leis naturais, compondo a cadeia alimentar e energética. Porém, se esse equilíbrio é rompido, seja pelo desaparecimento de um ser vivo - ave, inseto, fungo, bactéria, alga, ou um vegetal superior – ou mesmo por fatores físicos naturais, a floresta sofre perdas e, imediatamente, começa o processo do reequilíbrio. Este processo poderá levar dezenas, centenas e mesmo milhares de anos, e depois desse reequilíbrio, a floresta poderá não mais se assemelhar à floresta anterior. Entre um processo e outro, muita coisa se perde, e a floresta não vai exibir mais a grandeza intocada de outrora, ou seja, ela não será mais totalmente nativa.

Já com relação às restingas na Ilha, conforme CECCA (1997), a pressão sobre este ecossistema é muito grande, em função de interesses econômicos. O seu desmatamento deu-se pelas derrubadas para a agricultura e a abertura de pastos. A principal ameaça ainda é a expansão urbana, na forma de ocupações ilegais ou não, loteamentos e balneários. Devido à sua localização, junto ao mar, aumenta a pressão das invasões devido à especulação imobiliária e à valorização dos terrenos pelo turismo. Até o ano de 1978, esta vegetação teve 22,4% de área desmatada pela forte influência das atividades antropogênicas, o que resulta no desequilíbrio do ecossistema e no desaparecimento de espécies da fauna e da flora local.

Todas as principais restingas da Ilha (Naufragados, Pântano do Sul, Lagoinha do Leste, Armação, Morro das Pedras, Rio Tavares e Campeche, Joaquina, Praia Mole, Rio Vermelho, Santinho e Ingleses, Ponta das Canas, Canasvieiras, Jurerê e Daniela) apresentam problemas de preservação, em diferentes níveis de gravidade, relacionados com processos de ocupação, legal ou ilegal.

Ironicamente, agora a natureza insular da Ilha – um dos fatores responsáveis pela diversidade de ambientes – apresenta-se como um problema, uma vez que dificulta a recolonização natural pela fauna, e representa sérias limitações físicas naturais à sua ocupação humana. Os limites impostos pela insularidade, ou seja, pela fragilidade do ambiente insular, devem ser seriamente considerados, sob pena de alcançarmos um quadro futuro irreversível de degradação ambiental e portanto, de deterioração da qualidade de vida na Ilha de Santa Catarina. (CECCA, 1997, p. 74-75).

2.7.4 Perspectivas dos Principais Ecossistemas Florestais da Ilha de Santa