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Nos dois itens anteriores, foi feita uma caracterização do Estado e da Ilha de Santa Catarina, e nesse item e no próximo, respectivamente – Florestas de Encosta e Florestas Urbanas – será tratada mais especificamente, o tipo de floresta que caracteriza o ambiente estudado.

2.8.1 As Encostas e a questão ambiental

As encostas constituem uma forma de relevo básica, presente em qualquer parte da superfície terrestre e, portanto, têm sido analisadas exaustivamente pelos geomorfólogos. Além disso, afetam diretamente as atividades humanas, tais como, agricultura, construção de rodovias e ferrovias, expansão urbana, mineração, atividades de lazer etc. Dessa forma, seu estudo tem grande importância, porque o mau uso das encostas pode provocar riscos aos seres humanos e às atividades econômicas. (GUERRA, 2003, p. 193).

Ainda de acordo com este mesmo autor, as encostas podem variar bastante em forma, comprimento e declividade, de um local para o outro e, algumas vezes, até mesmo, num mesmo local, devido a diferenças geológicas, pedológicas, geomorfológicas e climáticas.

Poesen (1984, apud GUERRA, 2003) mostrou que nos solos situados em encostas com maiores declividades formam-se menos crostas e, conseqüentemente, a água se infiltra com maior facilidade, havendo menor escoamento superficial. E, é da combinação das características das encostas, em conjunto com a ação climática, que o uso e manejo do solo nessas superfícies, podem causar sérios impactos em termos de erosão, e de movimento de massa, ou seja, a ação antropogênica pode detonar processos geomorfologicos acelerados e catastróficos. Ao mesmo tempo, a ação do homem, pelo uso e manejo adequados, pode retardar ou até mesmo impedir que estes processos ocorram.

Segundo Goudie & Viles (1997, apud GUERRA, 2003), a erosão acelerada ocorre onde os humanos interferem nesse equilíbrio, iniciando pela remoção da cobertura vegetal e

continuando pelo uso e manejo inadequado das atividades agrícolas, urbanização, mineração e outras atividades econômicas.

Assim, o desmatamento e a ocupação desordenada das encostas têm causado uma série de conseqüências danosas, e a desertificação de grandes áreas pode ser, a médio e em longo prazo, uma das conseqüências mais difíceis de reversão.

Devido ao fato de grande parte da superfície terrestre ser formada por encostas, sua ocupação desordenada tem causado uma série de impactos negativos, não só nas encostas (erosão e movimento de massa), mas também em outras áreas, como o assoreamento de rios, lagos, reservatórios, baías etc., com o material oriundo dessas áreas degradadas. O assoreamento se dá pelo transporte de sedimentos para o rio, proveniente das encostas, bem como pelo lixo. (GUERRA, 2003, p. 216).

2.8.2 Aspectos gerais das florestas de encosta da Ilha de Santa Catarina

Todas as formações vegetais da Ilha de Santa Catarina enquadram-se no Domínio da Mata Atlântica, e a Floresta Pluvial da Encosta Atlântica, também chamada de Floresta Ombrófila Densa, é um dos seus ecossistemas associados. Esta ocorre nas encostas situadas ao longo do Oceano Atlântico, e tendo como importantes características, a grande densidade de ocupação, a relação direta com altos índices pluviométricos, e com os aspectos de sombreamento e de densidade.

Assim, é importante ressaltar que as denominações - Floresta Pluvial da Encosta Atlântica ou Floresta Ombrófila Densa – são apenas nomenclaturas diferentes, que se relacionam à mesma formação florestal, sendo que, ambas expressam características geográficas e/ou ecológicas que condicionam a sua existência, e são usadas para classificar a vegetação da Ilha de Santa Catarina. Conforme Caruso (1990), a Floresta Pluvial da Encosta Atlântica é encontrada na Ilha de Santa Catarina, cobrindo os maciços cristalinos antigos, de topografia acidentada e parte das planícies quaternárias (ainda com vegetação de transição), em contato com as formações litorâneas.

Esta vegetação apresenta uma fitofisionomia típica do sul do país, ou seja, conforme Struminski (2001), é originalmente uma formação complexa, bastante densa e fechada, com predomínio de árvores providas de largas e densas copas, e também abundante em trepadeiras, bromélias e orquídeas epífitas ou terrestres, que cobrem os troncos e o solo, formando, o conjunto todo, uma cobertura arbórea densa e fechada, e um ambiente úmido e pouco iluminado, com um microclima do interior bastante uniforme.

Strumisnki (2001) diz que a Floresta Atlântica revela um aspecto aparentemente caótico, embora uma análise cuidadosa mostre que os vegetais estão organizados e distribuídos em

vários níveis (estratos ou sinúsias).

Com relação à composição dos principais estratos da Floresta Pluvial da Encosta Atlântica da Ilha de Santa Catarina, segundo pesquisas realizadas por Veloso e Klein (1961; 1978, apud CARUSO, 1990) sobre a Floresta Atlântica do Sul do Brasil, nessa região distinguem-se diversos estratos, sendo que as fanerófitas compreendem três grupos ou estratos principais:

- Macrofanerófitas – constituído por árvores que alcançam 30 metros ou mais de altura; - Mesofanerófitas – formado por árvores médias ou pequenas árvores com altura média de 9

metros;

- Nanofanerófitas - com arbustos de até 3 metros de altura; - Estrato Herbáceo - formados por plantas lenhosas.

Para Caruso (1990), na Ilha de Santa Catarina, a Floresta Pluvial apresenta os estratos acima mencionados, porém, é realmente muito difícil distinguir os diferentes estratos e as espécies que pertencem a cada estrato; para Klein (1961, apud CARUSO, 1990), a distribuição da composição dos diferentes estratos é bastante complexa, em virtude da presença de pequenas árvores dos estratos superiores que ocorrem sempre em estratos inferiores e entre os diferentes estratos, tornando assim, a distinção dos estratos bastante difícil.

Por outro lado, as alterações na vegetação primária da floresta, levam ao aparecimento de estágios sucessionais secundários, que tendem a reconstituir o ambiente original, caso não sejam novamente perturbados. O tempo necessário para alcançar níveis ao menos semelhantes aos da mata original, varia muito de acordo com a intensidade de utilização do solo e mesmo das suas condições originais.

Dessa forma, a vegetação classificada como Floresta Secundária, é fisionomicamente semelhante à Floresta Primária, e é um tipo florestal resultante da sucessão vegetal, após o abandono das atividades de exploração local.

Conforme Struminski (2001), as diferentes fases de sucessão vegetal podem ser caracterizadas da seguinte forma:

- 2.ª / 3.ª fase de sucessão (capoeirinha) – é o estágio inicial de ocupação, caracterizado por espécies herbáceas e arbustivas pioneiras. Compõe-se de um número reduzido de espécies, sendo que emergem esporadicamente representantes da floresta original através de rebrotas;

- 4.ª fase de sucessão (capoeira) - podem ser avistados exemplares de espécies arbóreas que suportam bem a luz do sol, de ciclo de vida curto e rápido crescimento, que formarão

associações densas e homogêneas, com árvores que em média apresentam 10 a 15 metros de altura;

- 5.ª fase de sucessão (capoeirão / floresta secundária) - surgem condições de microclima e solo favoráveis à instalação de outras espécies arbóreas, formando um dossel com cerca de 15 a 20 metros e dois estratos um pouco mais definidos. Os capoeirões evoluem para as “florestas secundárias”, associações mais complexas, equilibradas e duradouras, com estratos de espécies dominantes e outro com espécies dominadas (na sombra das demais) que representam a última fase da sucessão secundária e que são fisionomicamente semelhante à Floresta Primária.

Enfim, a vegetação típica das encostas da Ilha, é a Floresta Pluvial da Encosta Atlântica, a qual, representa toda a vegetação dos morros da Ilha de Santa Catarina.

Porém, mesmo as áreas que não foram ocupadas definitivamente por algum tipo de uso do solo - como as áreas urbanas - encontram-se nos diferentes estágios de regeneração, acima citados, ou seja, capoeirinha, capoeira ou capoeirão. No caso do último estágio, que é o mais avançado em termos de reprodução, existe um maior número de árvores de médio e grande porte, e pode se assemelhar em fisionomia à mata original.

2.8.3 Situação atual das florestas de encostas da Ilha de Santa Catarina

Dois séculos e meio depois, a Ilha de Santa Catarina se transformou num lugar provavelmente irreconhecível para aqueles navegantes, embora ainda seja uma Ilha muito cara aos naturalistas. As grandes planícies deram lugar às construções, os rincões impenetráveis se tornaram facilmente acessíveis, a bruma sumiu [...]. (RODRIGUES & NAKA, 2000, p.15).

Os impactos sofridos pela vegetação da Ilha ao longo dos tempos - causados principalmente, pelos desmatamentos para a agricultura - reduziram drasticamente as florestas originais da Ilha.

Hoje, muitas áreas se encontram em processo natural de regeneração - o que podemos observar por meio das grandes áreas de florestas secundárias que cobrem a maioria das encostas da Ilha - e restam apenas alguns fragmentos da Floresta Pluvial da Encosta Atlântica com suas características originais.

Assim, a cobertura vegetal original da Ilha, restringe-se apenas às partes mais altas e inacessíveis das encostas, como é o caso dos morros das regiões da Lagoa do Peri, Ribeirão da Ilha e Maciço da Costeira, localizados no sul da Ilha, e do Monte Verde, Ratones e Costa da Lagoa, no norte.

Conforme Cecca (1997), outro fator impactante que passou a ameaçar novamente os ecossistemas naturais da Ilha, foi o crescimento urbano, o qual, foi resultado das políticas sociais, econômicas e urbanas implantadas na Ilha, com a concentração maciça de empresas e serviços públicos. Assim, o crescimento urbano acelerado, foi o principal responsável pela ocupação desordenada do espaço natural da Ilha, principalmente, em função dos projetos públicos e dos loteamentos privados, assim como, pelas ocupações de população de baixa renda, principalmente em áreas de encostas. Estes fatores, contribuíram significativamente para a diminuição dos remanescentes de Mata Atlântica, assim como, o incremento da indústria do turismo, associada à construção civil. O tipo de ocupação desencadeada pela urbanização é muito mais danoso que as atividades anteriores, pois, não permite nenhum tipo de regeneração das condições originais constituindo, dessa forma, um comprometimento definitivo dos ambientes naturais.

Assim, a demanda de matéria-prima, energia e espaço da Ilha de Santa Catarina, têm provocado cada vez mais o esgotamento das suas florestas de encosta, e as últimas matas primárias existentes, protegidas ou não, estão sendo destruídas. Os loteadores clandestinos agem nas brechas da falta de fiscalização, comercializando e vendendo lotes.

Atualmente, o crescimento urbano acelerado, decorrente da divulgação excessiva pela mídia, em nível nacional, referente à qualidade de vida na Ilha de SC, reflete na contínua e desmedida ocupação desordenada dos seus espaços naturais, passando a promover contínuos impactos e a destruição dos seus ecossistemas florestais. Assim,o maior desafio no momento, é conciliar o crescimento populacional à manutenção da qualidade de vida, e à preservação das suas florestas.

2.9 As Florestas Urbanas

As Florestas Urbanas são espaços raros de ambientes naturais em meio de aglomerados urbanos, e são importantes para a garantia da qualidade de vida do cidadão, pois propiciam uma série de benefícios. Entre os benefícios, podemos citar, a qualidade do ar, a qualidade dos recursos hídricos, espaço para lazer e de relaxamento, e também, para desenvolver a consciência ecológica por meio de atividades de Educação Ambiental e pesquisa científica.