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2.7 A Ilha de Santa Catarina

2.7.5 Legislação Florestal Municipal

Pelas características físicas da Ilha de Santa Catarina, de acordo com o artigo 2°. Do Novo Código Florestal, mais de 90% da sua vegetação pode ser considerada de “preservação permanente”, portanto, isenta de todo o tipo de exploração e de corte para qualquer finalidade, pois estão situadas: ao longo dos rios; nas nascentes dos rios, ao redor das lagoas, no topo dos morros; nas encostas com declividade de mais de 45 °.; e nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues. (CARUSO, 1999, p. 144).

Ainda conforme este mesmo autor, na Ilha existem três zonas que foram tombadas, e são de “preservação permanente”, de acordo com o artigo 5° deste mesmo Código. Estas zonas são:

a) o extremo sul, por pertencer ao Parque do Tabuleiro; b) a área que forma o Parque Municipal da Lagoa do Peri; c) a região do Parque Florestal do Rio Vermelho.

No município de Florianópolis, as APP’s, instituídas pelo Plano Diretor, abrangem grandes áreas de Floresta Ombrófila Densa da Ilha, as quais distribuem-se quase que exclusivamente nas encostas dos morros, e por isso, ela é beneficiada por este dispositivo legal de preservação, e assim, estão “de certa forma” protegidas por Lei. Além desse mecanismo legal, existe também, as Unidades de Conservação, e os atos detombamento.

[...] as APP’s, “são aquelas áreas necessárias à preservação dos recursos e das paisagens naturais e à salvaguarda do equilíbrio ecológico”, incluindo topos de morros e encostas com declividade igual ou superior a 46,6%, além de manguezais, dunas, etc. São áreas non aedificandi, sendo vedada nelas a supressão da floresta e das demais formas de vegetação [...]. (CECCA, 1997, p. 79).

Porém, conforme este mesmo autor, as APP’s não são um dispositivo legal de preservação totalmente eficiente, pois a Lei não protege a continuidade dessa floresta, ou seja, aquela que se encontra abaixo da cota de 100 m de altitude, ou em declividade inferior a 46,6%. Nesse caso, de acordo com o Plano Diretor, essas áreas são geralmente Áreas de Preservação com uso Limitado (APL’s), onde a ocupação e a retirada da vegetação são permitidas dentro de certos critérios restritivos.

Porém, vale ressaltar, que mesmo nas áreas legalmente protegidas, ocorrem invasões, pois não há fiscalização eficiente dos órgãos públicos competentes.

Se houvesse uma fiscalização eficiente e fossem aplicadas as penalidades do artigo 26 do Novo Código Florestal, haveria possibilidade de regeneração das florestas da Ilha, pois são “consideradas contravenções penais”: cortar, danificar ou destruir florestas de preservação permanente, causar danos a Parques Nacionais, Estaduais ou Municipais, bem como “impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação” (alínea g). Estas infrações podem ser vistas todos os anos nos meses de primavera e verão, principalmente quando são provocados fogos nos morros da Ilha, dentro mesmo do perímetro urbano da Capital, sob os olhos das autoridades encarregadas de fiscalizar o cumprimento da legislação florestal vigente. Pelo Novo Código Florestal, o fogo é proibido tanto nas florestas como “demais formas de vegetação” (artigo 27) sem a autorização do Poder Público. (CARUSO, 1999, p. 145).

De acordo com o Fórum da Agenda 21 Local do Município de Florianópolis (2000), a cobertura vegetal deste município, amplamente agredida, deve ser objeto de ações do poder público, da iniciativa privada e da sociedade civil organizada, visando ao controle e a fiscalização para coibir ações predadoras sobre as áreas de preservação permanente, a

recomposição florestal de áreas degradadas, principalmente das encostas, matas ciliares, mangues e dunas, e a implementação das Unidades de Conservação já criadas.

Foi em torno da Capela do Menino Deus, junto ao Hospital de Caridade, cuja foi obra iniciada em 1762, que iniciou-se o primeiro aglomerado de casas do Morro da Cruz, mais ou menos onde hoje está o morro do Mocotó. Hoje, o Morro do Mocotó é uma das áreas mais povoadas dos morros do centro da cidade, que continuam sendo povoados em ritmo acelerado e sem controle, apesar do seu aspecto legal.

A análise da evolução de ocupação do espaço urbano mostrou que as áreas de encostas da Ilha, que em sua maioria são legalmente protegidas, estão sendo invadidas. Dessa forma, as comunidades dos morros, formadas por meio de posse ilegal de terrenos, estão crescendo intensamente e desordenadamente.

Para Caruso (1999), as práticas de cortes nos morros para a instalação de loteamentos para a construção civil, resultam em as cicatrizes, que se abrem em vários recantos da Ilha, todos os dias, num desrespeito total à sua bela paisagem e acidentada topografia.

As organizações não governamentais, com o apoio do poder público e com recursos da iniciativa privada, devem implementar programas de educação ambiental para conservação das formações vegetais originais de Mata Atlântica e seus domínios. (FORUM AGENDA 21 LOCAL DO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS, 2000, p. 124).

Assim, os atos de tombamento, a determinação de Áreas de Preservação Permanente (APP’s) pela legislação de zoneamento municipal, e as Unidades de Conservação (UCs), estão dentre os vários procedimentos legais de proteção florestal da Ilha de SC, porém, as UCs estão entre os mais importantes, pois têm como objetivo principal, preservar e restaurar a diversidade dos ecossistemas naturais, e podem ser instituídas no âmbito federal, estadual ou municipal.

Enfim, as áreas legalmente protegidas da Ilha de Santa Catarina, ou seja, os espaços naturais protegidos por lei federal, estadual e/ou municipal, entre as quais, estão incluídas as Unidades de Conservação (UCs), foram divididas em categorias, as quais, foram definidas em conformidade com:

- Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC - Lei nº 9985/00;

- Sistema Estadual de Unidades de Conservação da Natureza - SEUC - Lei nº 11986/01;

- Decreto Federal que regulamenta o SNUC - nº 4340/02 e; - Especificidades da legislação municipal local.

Muitas das florestas que hoje ainda restaram na Ilha, ainda existem porque se encontram representadas por alguma das suas categorias. Porém, em seu estado atual, e na sua maioria, as UCs da Ilha não estão cumprindo com todos os seus objetivos reais, e nem estão desempenhando a sua função de contribuir para a conservação dos recursos naturais, uma vez que a legislação ambiental se mostra confusa e ineficaz.

A legislação conservacionista, além de determinar categorias nem sempre adequadas ou duplicar normas idênticas a determinadas áreas, na sua maioria são ineficazes. Quando ocorrem ações dos setores públicos ou privados para este fim, estas privilegiam a fiscalização, sendo raras e tímidas as ações que visem o uso adequado das áreas protegidas, seja para visitação ou seja através do seu aproveitamento econômico ambientalmente sustentável. Os setores públicos responsáveis pela gestão ambiental, seja a nível municipal, estadual ou federal, ainda são tecnicamente frágeis e compreendem o papel das áreas naturais protegidas para o desenvolvimento da sociedade. A política predominante, alimentada pelo setor privado, privilegia o interesse dos grupos mais fortes. Os setores da comunidade civil ainda carecem de organização, normalmente atendo-se a ações de cunho paternalista e reivindicatório. (HAUFF, 1997, p. 65).

Assim, como diz Cecca (1997), é importante que este procedimento de delimitar áreas naturais e decretá-las de preservação seja revisto. No momento,existe a necessidade de mais políticas públicas ambientais que possam gerir as complexas demandas da sociedade, com suas implicações de ordem sócio-ambiental.

Somente a criação de Unidades de Conservação não basta para assegurar o patrimônio natural e cultural de uma nação. Não e suficiente assegurar uma diversidade de categorias de manejo que viabilizem múltiplas oportunidades de aproveitamento sustentável se não se implementar o efetivo manejo para a conservação dos recursos nela existentes. Acima da quantidade de Unidades de Conservação prevalece a qualidade do que se conserva e a qualidade do processo de gestão. (FARIA, 1997 apud QUEIROZ et al., 2002, p. 406).

Para Queiroz et al. (2002), em comparação, as Unidades de Conservação da Ilha de Santa Catarina, sob a gerência do IBAMA mostram melhor efetividade de manejo do que aquelas que estão sob administração estadual e municipal. Como é o caso da Estação Ecológica Carijós, que apresenta uma melhor gestão, seguida pela Reserva Biológica Marinha do Arvoredo e pela Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé.

Ainda para este mesmo autor, a maior parte das UC’s da Ilha não possui plano de manejo instituído, e as principais ameaças ainda são a expansão urbana e a ocupação irregular; em contrapartida, apresentam aspectos positivos quanto ao isolamento e ao administrador, isto é, a maioria das UC’s apresenta áreas silvestres contíguas ou afastadas em até 5 km, e a maioria dos administradores têm nível superior e atuação ativa dentro da unidade. Porém, em conjunto, as UC’s apresentam deficiências que não proporcionam uma base sólida para o manejo efetivo, o que dificulta o alcance dos objetivos propostos para as áreas. Dessa forma, todas as UC’s da Ilha necessitam de um maior empenho dos órgãos ambientais responsáveis,

e apoio da sociedade no sentido de que possam assegurar efetivamente a conservação do patrimônio natural e cênico da Ilha.

[...] mesmo as UC’s estando resguardadas no plano legal, este mecanismo continua ineficaz na proteção do patrimônio natural pela falta de planos de manejo. Disso resulta fiscalização ineficiente, ausência de recursos para investimentos nas UC’s e crescimento urbano sem planejamento em entorno das áreas protegidas, constituindo uma permanente ameaça sobre as áreas de conservação. Atualmente, prevalece a quantidade de UC’s sobre a qualidade do que se conserva e do processo de gestão. (QUEIROZ et al., 2002, p. 412).