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6. Considerações finais

6.1. Dialogando com critérios de Governança Corporativa

A observação que se fez pelas entrevistas, análise de atas, regimentos e julgados está em

consonância com artigo de opinião no site da Bovespa que diz que o Brasil já passou pela

fase dos "conselhos de compadres", mas ainda conta com muitos "conselhos de

notáveis", com objetivos mais institucionais do que propriamente de criação de valor e

diretrizes inovadoras para companhia. Para o autor, ainda que tenhamos assistido nos

últimos anos uma crescente tentativa de profissionalização dos conselhos de

administração em algumas companhias, aumentando a presença de executivos

independentes que têm um envolvimento construtivo e contribuem para a realização dos

resultados da empresa, a dinâmica dos trabalhos ainda não é satisfatória

340

.

De acordo com Alexandre de Miceli, “o conselho de administração é o órgão central da

governança corporativa”

341

, e deveria “atuar como um guardião de valores da

organização, promovendo a criação sustentável de valor de maneira a assegurar sua

perenidade e sucesso no longo prazo”

342

.

Como se viu no item 2 deste trabalho, a lei estabelece algumas funções dos conselheiros.

Mas o papel dos conselheiros não se restringe ao texto legal. Ao longo dos anos

atribuíram-se ao conselho as funções de monitoramento da atuação da alta gestão, de

“geração de relatórios de qualidade para o público externo”

343

e de formulação de

políticas corporativas, que em tese melhorariam o desempenho da companhia e suas

relações.

O aumento no papel dos conselheiros, no entanto, recebe críticas, visto que os conselhos

se reúnem somente entre 6 e 12 vezes no ano, em média, e dedicam pouco do seu tempo

à organização, como podemos observar inclusive pela análise das atas do item 3, que

mostrou uma média de aproximadamente 11 atas anuais, e um nível de abstenções

relativamente alto de conselheiros, se consideramos o número de reuniões que eles têm

de participar em um ano.

340 VASCONCELLOS, Paulo Conte. O conselho de administração ideal de uma empresa. Disponível em: http://www.bmfbovespa.com.br/pdf/CiasListadasArtigo3.pdf. Acesso em 30/10/2015.

341 SILVEIRA, Alexandre de Miceli, Governança corporativa no Brasil e no mundo, 2ª ed., São Paulo: Elsevier,

2015, pp. 147.

342 SILVEIRA, Alexandre de Miceli, Governança corporativa no Brasil e no mundo, 2ª ed., São Paulo: Elsevier,

2015, pp. 147.

343 SILVEIRA, Alexandre Di Miceli, Governança corporativa no Brasil e no mundo, 2ª ed., São Paulo: Elsevier,

De qualquer forma, existe, de acordo com Di Miceli, um certo consenso sobre sete

objetivos centrais que um conselheiro efetivo deveria idealmente perseguir, conforme os

princípios das boas práticas de governança corporativa: “(i) estratégia (assegurar que a

organização adote a estratégia adequada), (ii) gestão de risco (garantir que os executivos

identifiquem e respondam de forma apropriada aos riscos aos quais está exposta), (iii)

caráter ético na alta gestão (zelar para que os valores e princípios éticos estejam sempre

presentes no dia a dia e nas decisões dos negócios), (iv) avaliação de desempenho

(certificar-se de que a empresa adote métricas adequadas para a avaliação de

desempenho), (v) investimentos (avaliar em profundidade as premissas adotas em

matérias relativas aquisições e projetos de investimento), (vi) remuneração e sucessão

(promover um sistema de incentivos adequado, plano sucessórios de lideranças (de curto

e longo prazo) e ambiente meritocrático) e (vii) transparência e comunicação (assegurar

que as informações financeiras e não financeiras para os públicos externos sejam de

elevada qualidade)”

344

.

Ao mesmo tempo, para que o papel do conselho seja exercido da melhor maneira

possível, com base nessas práticas, faz-se necessária uma análise quanto à composição

do órgão

345

e suas dinâmicas internas. Assim, Di Miceli cita quatro atributos para um

conselheiro ideal: “(i) independência intelectual, (ii) qualificação técnica, (iii) tempo para

se envolver com a organização e (iv) integridade”

346

.

Nesse sentido, os códigos de boas práticas de governança destacam a importância de um

número significativo de conselheiros independentes no órgão (“idealmente compondo a

maioria”

347

), por serem “considerados os mais bem posicionados para tomar decisões

344 SILVEIRA, Alexandre de Miceli, Governança corporativa no Brasil e no mundo, 2ª ed., São Paulo: Elsevier,

2015, pp. 150.

345 Segundo Paulo Conta Vasconcellos: “1) Será que os conselheiros estão conscientes de suas

responsabilidades e dos desafios da empresa? 2) Os conselheiros conhecem bem as variáveis-chaves do desempenho da empresa e os riscos envolvidos? 3) O conselho tem dedicado tempo considerável para discutir os objetivos de longo prazo da empresa e as estratégias para atingi-los? 4) O conselho periodicamente revisa a estrutura organizacional, o desempenho dos executivos, a política de Recursos Humanos e analisa a necessidade de eventuais mudanças para o futuro? 5) O conselho recebe no momento apropriado as informações para ter certeza que está no controle da empresa e dos executivos? 6) O conselho tem tempo e conhecimento suficientes para analisar e tomar decisões difíceis? 7) Os conselheiros têm independência para tomar decisões? Se a resposta for negativa para algumas destas perguntas, é melhor pensar em criar um novo conselho.” (VASCONCELLOS, Paulo Conte. O conselho de administração

ideal de uma empresa. Disponível em: http://www.bmfbovespa.com.br/pdf/CiasListadasArtigo3.pdf. Acesso em 30/10/2015.)

346 SILVEIRA, Alexandre de Miceli, Governança corporativa no Brasil e no mundo, 2ª ed., São Paulo:

Elsevier, 2015, pp. 150.

347 SILVEIRA, Alexandre de Miceli, Governança corporativa no Brasil e no mundo, 2ª ed., São Paulo:

imparciais visando ao melhor interesse de longo prazo da companhia”

348

, e também

porque, em tese, não têm conflitos de interesse como os conselheiros externos e

internos.

Ainda segundo Di Micelli, “Deve-se destacar que a ausência de vínculos formais com a

gestão e com os controladores não assegura necessariamente uma postura

independente do conselheiro”

349

. Esta deve ser calcada na atuação ética, transparente e

ética.

Por fim, dentro do funcionamento do conselho, temos de dar destaque ao presidente,

que “assegura que os temas relevantes estão na pauta, que os conselheiros recebam

informações precisas, completas e em tempo adequado para as deliberações, e que

todos participem ativamente a fim de contribuir ao máximo para a organização”

350

. Além

disso, “cabe a ele ainda proporcionar a devida prestação de contas para os acionistas,

incluindo abertura de um canal continuo para a comunicação”

351

.

Idealmente, para garantir a “independência em relação à gestão diária, é essencial que

os cargos de diretor-presidente e de presidente do conselho sejam ocupados por pessoas

diferentes e sem vínculos diretos entre si”

352

.

Uma boa síntese é a de que o conselho de administração deve estiver alinhado com as

melhores práticas de governança corporativa, com uma clara definição de seu papel,

pessoas com expertise variada e processos que garantam uma estrutura apropriada.