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A DIDÁTICA COMO TEORIA E TÉCNICA DA INSTRUÇÃO E DO ENSINO: COMO A

No documento Apostila Did_geral 2015 (páginas 35-43)

A história da Didática explica como foi se configurando o aparecimento do ensino no decorrer do desenvolvimento da sociedade, da produção e das ciências, como uma forma de atividade sistematizada e planejada, intencional, dedicada à instrução.

Segundo Haydt (2002), desde a antiguidade até por volta do século XIX, a prática escolar predominante era do tipo passivo e receptivo. Aprender estava mais ligado ao que conhecemos como memorizar do que compreender. Considerava-se o ser humano mais como uma massa de modelar, pois o professor tinha a possibilidade de transformar o indivíduo naquilo que ele quisesse. Desde a Grécia antiga, com Aristóteles era processada essa concepção, muito semelhante ao que foi teorizado muito mais tarde, século XVII, como a teoria da Tabula Rasa. Para o filósofo inglês John Locke (1632 – 1704), todas as pessoas ao nascer o fazem sem saber de absolutamente nada, sem impressões nenhumas, sem conhecimento algum. Então todo o processo

do conhecer, do saber e do agir é aprendido pela experiência, pela tentativa e erro, o homem nasce como se fosse uma "folha em branco".

Durante séculos o estudo dos textos literários, da gramática, da História, da Geografia, das ciências físicas e biológicas caracterizou-se pela recitação de cor. O importante é que o aluno reproduzisse palavras mecanicamente, frases, tudo decorado, sem importancia da reflexão e da compreensão.

Como primeiras manifestações de ensino e de Didática, não devemos deixar de citar a contribuição do Filósofo Sócrates (século V a.C.). Para ele, o saber não era algo que alguem de fora (mestre) pudesse transmitir. O conhecimento é uma descoberta que a própria pessoa realiza. A função do mestre, segundo Sócrates (citado por Haidt, 2002) é apenas ajudar o discípulo a descobrir, por si mesmo, a verdade. Ele inclusive se comparava com a profissão de sua mãe, que era parteira, dizendo que ela não dava a luz às crianças, mas as ajudava a nascer, como ele fazia com seus discipulos em relação ao conhecimento.

Seu método chamava-se ironia e funcionava em duas etapas. A

primeira chamada de refutação, momento que ele levantava objeções sobre

as opiniões manifestadas pelos discipulos, até quando este admitisse sua própria ignorância e se dissesse incapaz de definir o que anteriormente havia dito conhecer tão bem. A segunda etapa chamada maiêutica, momento que o discipulo admitia que nada sabia e, partindo do conhecido para o desconhecido, do mais fácil para o mais difícil Sócrates vai conduzindo, por meio de perguntas, um diálogo capaz de induzir a descoberta do conhecimento pelo interlocutor. Conta-se que ele foi capaz de fazer com que um escravo descobrisse noções de geometria utilizando este método. Ele afirmava que os mestres deveriam ter paciência com os erros e dúvidas de seus discípulos, pois é a partir disso que eles poderiam progredir.

Quase dois mil anos depois nascia o pai da Didática. João Amós Comênio (1592-1670), um pastor protestante, escreveu a primeira obra clássica sobre Didática, a Didactica Magna.

Segundo Libâneo (1990), Comênio foi o primeiro educador a formular a idéia da difusão dos conhecimentos a todos e criar princípios e regras de ensino. Comênio desempenhou uma influência considerável não apenas porque desenvolveu métodos de instrução mais rápidos e eficientes, mas também porque desejava que todos deveriam usufruir dos benefícios do conhecimento. O sistema de produção capitalista já influenciava a organização da vida social, política e cultural de sua época. Sua Didática, com idéias avançada para sua época e que não contrapunham as idéias conservadoras da nobreza e do clero, se pautava nos seguintes princípios:

 A finalidade da educação é conduzir a felicidade eterna com Deus. Todos os homens merecem a sabedoria, a moralidade e a religião, porque todos, por natureza, são parte dos desígnios de Deus. Assim, a educação é um direito natural de todos.

 Por ser parte da natureza, o homem deve ser educado de acordo com seu desenvolvimento natural, dentro de suas capacidades de conhecimento. Portanto, a tarefa principal da Didática é estudar tais características e os métodos de ensino coerentes que correspondam a estas fases.

 A assimilação dos conhecimentos não se dá instantaneamente. Por isso, o ensino tem um papel decisivo na percepção sensorial das coisas. O conhecimento deve ser adquirido a partir da observação das coisas e dos fenômenos, utilizando e desenvolvendo sistematicamente os órgãos dos sentidos.

 O método intuitivo consiste numa observação direta pelos órgãos dos sentidos, das coisas, para o registro das impressões na mente do aluno. Primeiramente as coisas, depois as palavras. O planejamento de ensino deve obedecer ao curso da natureza infantil; por isso devem ser ensinadas uma de cada vez, somente o que a criança possa aprender e partindo do conhecido para o desconhecido.

Apesar da grande novidade destas idéias naquela época, Comênio não escapou de algumas crenças comuns, naquele momento histórico, sobre ensino. Mesmo partindo da observação e da experiência sensorial, manteve o caráter da transmissão do ensino; ainda que tendo procurado adaptar o ensino às fases de desenvolvimento infantil, o método funcionava de forma única, a todos os alunos. Outra coisa é a supervalorização da percepção sensorial. Sabemos que as percepções podem nos enganar e também que já existe uma gama de conhecimentos sensoriais que não necessitam ser reaprendidos.

Contudo, Comênio teve um papel importantíssimo, pois, não apenas porque se empenhou em desenvolver métodos de instrução mais eficientes e mais rápidos, mas porque dava igual importância a todos os alunos.

Ainda assim, mesmo com essas excelentes contribuições possíveis até aquele momento histórico, continuava-se utilizar os métodos de Idade Média, com ensino intelectualista, verbalista e dogmático, de memorização e repetição mecânica, em que as idéias dos alunos não interessavam.

O contexto histórico de transição entre os meios de produção antigos (com o Clero e a Nobreza dominando) foram se enfraquecendo e o capitalismo crescendo. Isso pedia uma mudança importante para a valorização do desenvolvimento livre das capacidades e interesses individuais.

O Filosofo Jean Jacques Rousseau (1712-1778) interpretando bem essas aspirações propôs uma nova concepção de ensino, com base nas necessidades e interesses imediatos da criança. As idéias mais importantes de Rousseau, segundo Libâneo (1990), são as seguintes:

 Os interesses e necessidades do aluno que determinam a organização do estudo e seu desenvolvimento. Elas precisam despertar o gosto pelo

seu estudo e nada melhor do que a natureza, a experiência e o sentimento para conquistar isso.

 A Educação é um processo natural que se fundamenta no desenvolvimento interior do aluno. As crianças são boas por natureza, elas tem uma tendência natural para se desenvolverem.

Rousseau não elaborou propriamente uma teoria de ensino e nem colocou nada em prática. Quem deu continuidade a essas primeiras influências foi outro pedagogo suíço, Henrique Pestalozzi (1766-1841), que trabalhou por toda sua vida na educação de crianças pobres em suas próprias instituições. Atribuiu grande importância ao ensino como meio de educação e desenvolvimento das capacidades do ser humano através do cultivo do sentimento, da mente e do caráter.

Pestalozzi que, ao valorizar o método intuitivo, levou muitos alunos a desenvolverem o senso de observação, análise dos objetos, fenômenos da natureza e a capacidade da linguagem, aquela capaz de expressar em palavras o resultado das observações. Isso foi o que consistiu em uma educação intelectual, valorizando fortemente à psicologia da criança como base para se compreender o desenvolvimento infantil.

As idéias dos gregos antigos, Comênio, Rousseau e Pestalozzi tiveram muita influência em outros pedagogos. Podemos dizer que até hoje se encontram alguns traços característicos dessas teorias nas práticas de alguns professores. Entretanto, após estes pensadores da educação, Johann Friedrich Herbart (1766-1841) foi um dos que mais influenciaram a formação de uma corrente conservadora da educação. Esse pedagogo alemão, que deixou muitos discípulos, deixou idéias que precisam de uma atenção especial, uma vez que, ocuparam presença constante na história da educação brasileira.

Formulou teoricamente sobre os fins da educação e da Pedagogia como ciência, além de desenvolver uma análise do processo psicológico-didático de aquisição do conhecimento, sob a direção do professor. Para ele, a moralidade é o principio maior da educação, que deve ser atingida mediante a prática educativa. Ao homem, a instrução deve buscar que o ele queira o bem de modo que ele aprenda a comandar a si próprio. O professor auxilia nesse processo introduzindo idéias corretas na mente dos alunos, como um arquiteto da mente, trazendo a atenção dos alunos para as idéias desejadas pelo professor, controlando seus interesses. O método consiste em provocar uma espécie de acumulação de idéias na mente da criança.

Herbart buscou também uma formulação de um método único de ensino em conformidade com as leis psicológicas do conhecimento. Estabeleceu quatro passos didáticos que deveriam ser rigorosamente seguidos: a apresentação e preparação da nova matéria, que ele denominou de clareza; após isso seria o momento de associação entre o conhecimento antigo e o novo; o terceiro é a sistematização dos conhecimentos visando a generalização para outras áreas; por último é chegada o momento do método,

como forma de aplicação e exercícios. Seus discípulos aperfeiçoaram essa proposta e desenvolveram uma versão com cinco passos: a preparação, apresentação, assimilação, generalização e aplicação, formula que ainda encontramos em grande parte dos professores no Brasil.

Esse sistema pedagógico herbatiano trouxe contribuições válidas para a organização da prática docente, por exemplo: a necessidade de estruturar e ordenar o processo de ensino, a exigência de compreensão dos assuntos estudados e não apenas a memorização, o significado educativo da disciplina na formação do caráter. Contudo, o ensino era entendido como uma transferência da mente do professor para a do aluno, com a necessidade de reprodução das idéias do professor pelo aluno. Com isso, tivemos uma aprendizagem mecânica, que não proporcionava nada melhor do que uma memorização, sem reflexão e muito menos o pensamento independente e criativo dos alunos.

RESUMO

A história da Didática explica como foi se configurando o aparecimento do ensino no decorrer do desenvolvimento da sociedade, da produção e das ciências, como uma forma de atividade sistematizada e planejada, intencional, dedicada à instrução.

Como primeiras manifestações de ensino e de Didática, há a contribuição do Filósofo Sócrates (século V a.C.). Para ele, o saber não era algo que alguem de fora (mestre) pudesse transmitir. O conhecimento é uma descoberta que a própria pessoa realiza. Seu método chamava-se ironia e funcionava em duas etapas. A primeira chamada de refutação e a segunda etapa chamada maiêutica.

Quase dois mil anos depois nascia o pai da Didática. João Amós Comênio (1592-1670), um pastor protestante, escreveu a primeira obra clássica sobre Didática, a Didactica Magna.

O Filosofo Jean Jacques Rousseau (1712-1778) interpretando bem as aspirações daquele momento histórico propôs uma nova concepção de ensino, com base nas necessidades e interesses imediatos da criança.

Rousseau não elaborou propriamente uma teoria de ensino e nem colocou nada em prática. Quem deu continuidade a essas primeiras influências foi outro pedagogo suíço, Henrique Pestalozzi (1766-1841), que trabalhou por toda sua vida na educação de crianças pobres em suas próprias instituições.

Johann Friedrich Herbart (1766-1841) foi um dos que mais influenciaram a formação de uma corrente conservadora da educação. Esse pedagogo alemão, que deixou muitos discípulos, deixou idéias que precisam de uma atenção especial, uma vez que, ocuparam presença constante na história da educação brasileira.

Exercícios

1) Como funcionava a Ironia, o método elaborado por Sócrates?

(a) Funcionava em dois momentos: ditado: momento que ditava o texto e correção: momento que ele corrigia o aluno.

(b) Funcionava basicamente como um modelo na lousa e os alunos prestando atenção à explicação do professor.

(c) Para ser mais preciso, não funcionou adequadamente naquele momento histórico.

(d) Funcionava em duas etapas: refutação: momento que ele levantava objeções até quando este admitisse sua própria ignorância e a

maiêutica: momento que por meio de perguntas induzia a descoberta

do conhecimento pelo interlocutor.

(e) Funcionava como uma espécie de pedagogia dos projetos. Muito moderno para aquele momento histórico.

2) Comênio foi o primeiro educador a formular a idéia da difusão dos conhecimentos a todos e criar princípios e regras de ensino. O que ele quis dizer com a frase: “Primeiramente as coisas, depois as palavras”? (a) A assimilação é feita pela incorporação dos dados da realidade nos esquemas disponíveis no sujeito, é o processo pelo qual as idéias, pessoas, costumes são incorporadas à atividade do sujeito.

(b) A incorporação é a principal forma de atividade mental. Foi isso que ele quis deixar mais claro.

(c) A interiorização é feito primeiramente pela vida em casa, com os pais, depois se aprende na escola.

(d) Quis dizer que não é importante o como, mas o quê se aprende. (e) O conhecimento deve ser adquirido a partir da observação das coisas e dos fenômenos, utilizando e desenvolvendo sistematicamente os órgãos dos sentidos.

3) Herbart buscou também uma formulação de um método único de ensino em conformidade com as leis psicológicas do conhecimento. O que ele estabeleceu?

(a) Estabeleceu o que as crianças deveriam aprender. (b) Estabeleceu inúmeros passos, dentre eles a retórica.

(c) Estabeleceu quatro passos a ser seguidos: clareza (apresentação), associação, sistematização e o método (aplicação e exercícios).

(d) Estabeleceu como motivar os alunos pela palavra.

Resolução dos Exercícios

1) Seu método chamava-se ironia e funcionava em duas etapas. A

primeira chamada de refutação, momento que ele levantava objeções

sobre as opiniões manifestadas pelos discipulos, até quando este admitisse sua própria ignorância e se dissesse incapaz de definir o que anteriormente havia dito conhecer tão bem. A segunda etapa chamada

maiêutica, momento que o discipulo admitia que nada sabia e, partindo

do conhecido para o desconhecido, do mais fácil para o mais difícil Sócrates vai conduzindo, por meio de perguntas, um diálogo capaz de induzir a descoberta do conhecimento pelo interlocutor.

Resposta correta:

(d) Funcionava em duas etapas: refutação: momento que ele levantava objeções até quando este admitisse sua própria ignorância e a

maiêutica: momento que por meio de perguntas induzia a descoberta do

conhecimento pelo interlocutor.

2) A assimilação dos conhecimentos não se dá instantaneamente. Por isso, o ensino tem um papel decisivo na percepção sensorial das coisas. O conhecimento deve ser adquirido a partir da observação das coisas e dos fenômenos, utilizando e desenvolvendo sistematicamente os órgãos dos sentidos.

Resposta correta:

(e) O conhecimento deve ser adquirido a partir da observação das coisas e dos fenômenos, utilizando e desenvolvendo sistematicamente os órgãos dos sentidos.

3) Estabeleceu quatro passos didáticos que deveriam ser rigorosamente seguidos: a apresentação e preparação da nova matéria, que ele denominou de clareza; após isso seria o momento de associação entre o conhecimento antigo e o novo; o terceiro é a sistematização dos conhecimentos visando a generalização para outras áreas; por último é chegada o momento do método, como forma de aplicação e exercícios. Resposta correta:

(c) Estabeleceu quatro passos a ser seguidos: clareza (apresentação), associação, sistematização e o método (aplicação e exercícios).

No documento Apostila Did_geral 2015 (páginas 35-43)