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OS OBJETIVOS

No documento Apostila Did_geral 2015 (páginas 66-70)

5. OS OBJETIVOS, CONTEÚDOS E PROCEDIMENTOS DE ENSINO

5.1. OS OBJETIVOS

As pessoas em geral, costumam sempre fazer planos, expectativas, olhando para seu próprio futuro. Basicamente isso faz parte de todos nós. Planejar o futuro é olhar as possibilidades e buscar o alcance de algumas metas pessoais, como por exemplo, a compra de um bem material, uma viagem nas férias, uma mudança em algo sobre um relacionamento afetivo (como casar-se, ter filhos, etc.), e muitas outras coisas que devem ser alcançadas para que a vida não se torne vazia e sem propósito.

Resumindo, TODOS TEMOS OBJETIVOS A SEREM ALCANÇADOS! Queremos alcançar nossas metas e, ao alcançá-las sentir o prazer da conquista e se sentir realizado. Entretanto, ao alcançar uma meta, costumamos ir adiante e traçar novas metas e continuar lutando para alcançá-las. Os seres humanos são assim e isso é bom, pois graças a essa insatisfação é que a evolução da espécie foi alcançada e que estamos alcançando coisas cada vez mais audaciosas e que, em outros tempos, julgaríamos impossíveis de serem alcançadas.

Entretanto, caso não saibamos aonde queremos chegar, sem um simples objetivo, estaríamos totalmente entregues a um ativismo qualquer. Ou, como diria o Filósofo Montaigne, em seus ensaios escritos no século XVI, citado por Haydt (2002): “nenhum vento ajuda a quem não sabe a que porto deverá velejar”.

Um professor sem objetivos educacionais seria como um sujeito fazendo coisas sem propósito, somente passando o tempo e, no caso da missão docente, o tempo é valioso, pois do trabalho educativo deve resultar em grandes conquistas que raríssimos casos algum aluno conseguiria sem ajuda de ninguém.

Nesse caso, a educação objetiva suas atividades traçando metas para a aprendizagem de seus alunos, sabendo quais serão os conjuntos de conquistas que esses alunos deverão alcançar. Saber aonde se quer chegar

possibilita traçar os meios capazes de fazer com que as metas possam ser atingidas, além de saber o que se poderá avaliar.

“Os objetivos antecipam resultados e processos esperados do

trabalho conjunto do professor e dos alunos, expressando conhecimentos, habilidades e hábitos (conteúdos) a serem assimilados de acordo com as exigências metodológicas (nível de preparo prévio dos alunos, peculiaridades das matérias de ensino e características do processo de ensino e aprendizagem).” Libâneo (1990)

Por serem educacionais, os objetivos são hábitos, conhecimentos, comportamentos que devem ser adquiridos dentro de uma cultura, dando possibilidades de adaptação e condições de pensar, refletir e interferir nesta cultura. Esta é a razão pela qual o professor deve elaborar com todo o cuidado tais objetivos, pois serão as principais aquisições que os indivíduos farão no trabalho com a escola e, determinará em grande parte, que tipo de seres humanos serão e o que terão a oferecer a nossa sociedade.

Além disso, tendo claro os objetivos, o professor deverá elaborar meios para alcançá-los e terá mais facilidade de elaboração, pois sabendo aonde se quer chegar viabiliza a visualização de métodos de trabalho mais eficazes.

Há dois tipos de objetivos a serem determinados: os objetivos gerais – de longo prazo – e os objetivos específicos – de curto prazo. Piletti (2010), denomina os gerais como educacionais, pois visualizam a longo prazo características a serem construídas de pouco a pouco com a ajuda do educador, como por exemplo a criatividade, o pensamento crítico, a capacidade de elaboração e organização de pensamento, etc. São fruto da visão de homem e de mundo do educador, valorizados por ele e almejados para a aquisição pelos alunos de tais capacidades humanas. Já os objetivos específicos ele chama de instrucionais, pois em curto prazo se ocupam da instrução do indivíduo, de comportamentos a serem adquiridos em menos tempo que os objetivos gerais, contudo, sempre relacionados a estes.

Os objetivos gerais são aqueles previstos para determinado ciclo ou grau de ensino, como por exemplo, ao final do ensino fundamental, ou do ensino médio, ou até mesmo, neste caso em menos tempo, ao final de um ano de trabalho, como por exemplo, ao final da 5ª série.

Os objetivos específicos são os definidos para uma disciplina, uma unidade de ensino ou apenas uma aula. São elaborados como constituintes ou partes do objetivo geral e, devem proporcionar gradativamente e indiretamente o alcance deste.

Por exemplo, se o objetivo geral fosse desenvolver a criticidade, os objetivos específicos poderiam ser:

 falar sobre um evento que foi previamente assistido;  analisar um texto com base em na aula assistida;

 explicar os pontos positivos e negativos encontrados pelo grupo após a aula.

São apenas alguns exemplos de comportamentos esperados como objetivos específicos que possam servir como constituintes do objetivo geral. Isso é o que pode ser chamado de desdobramento do objetivo geral em objetivos específicos. Pega-se como base, conforme o exemplo, um objetivo que tenha de ser construído gradativamente (desenvolver a criticidade) como objetivo geral e, elabora-se objetivos específicos (a serem alcançados em apenas uma aula cada um) capazes de auxiliar também no alcance do objetivo geral. Essa é a dinâmica.

A escrita dos objetivos, tanto gerais quanto específicos, devem

obedecer a determinadas regras para dar clareza, coerência e unidade. Vejamos tais regras:

I. Como parte da intenção da modificação das capacidades dos alunos, deve-se deixar guiar pela seguinte frase: Ao final da aula (ou unidade, ou ano, ou algum período de tempo no trabalho educativo), os alunos serão capazes de...

II. Decorrente da regra anterior podemos perceber que o que encaixa melhor na frase acima é um verbo no infinitivo, como por exemplo: falar, analisar, explicar, desenvolver, aprender, etc. III. Os objetivos sempre se referem aos alunos, conforme a frase

diz, ‘que eles sejam capazes’. Isso deve ficar bem claro para que o professor não cometa equívocos na elaboração colocando coisas sobre seu próprio comportamento. Por exemplo: ‘Fazer os alunos falarem a respeito do carnaval’. Está incorreto, pois quem vai fazer os alunos falarem é o professor, portanto, impede que os objetivos ‘mirem’ o comportamento dos alunos, desviando para o do próprio professor, que deve se ocupar com os meios. Além disso, não casaria com a frase feita na primeira regra.

Essas regras facilitam muito na escrita, pois darão clareza, foco no aluno e coerência com o projeto educativo que o professor possa elaborar. Vejamos os objetivos gerais que os Parâmetros Curriculares Nacionais elegeram para o Ensino Fundamental.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como objetivos do ensino fundamental que os alunos sejam capazes de:

• compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a- dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito;

• posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de

tomar decisões coletivas;

• conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao País; • conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro,

bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais;

• perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente;

• desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania;

• conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva;

• utilizar as diferentes linguagens — verbal, matemática, gráfica, plástica e corporal — como meio para produzir, expressar e comunicar suas idéias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação; • saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para

adquirir e construir conhecimentos;

• questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação.

Outra razão, além do fato de ser um excelente exemplo, que levou a trazer esses objetivos gerais para o ensino fundamental elaborado para os PCNs, foi o fato de ser uma abordagem crítica, não conteudista. É sobre essa criticidade e esse conteudismo que pretendemos aprofundar um pouco.

A Educação como um fenômeno social deve acompanhar a sociedade em uma crescente evolução, dando oportunidade da vida em comum ser cada vez melhor, mais justa, mais ética e mais igualitária, superando as diferenças e equiparando todos em um mesmo patamar. Sabemos, conforme visto anteriormente, que está longe da sociedade ser dessa forma e, como a educação é capaz de capacitar as pessoas para lutar por transformações necessárias, é justamente esse tipo de educação que devemos dar aos nossos alunos; em oposição a uma educação não-crítica e ajustadora.

Conteudismo nada mais é do que a forma como a educação tradicional tratou dos objetivos educacionais, colocando os conteúdos como se fossem os próprios objetivos das aulas, unidades e cursos.

Conforme se coloca na abordagem crítico-social dos conteúdos, eles (os conteúdos) são extremamente importantes para se proporcionar uma educação

transformadora, pois somente dominando todo um conteúdo cultural acumulado seremos capazes de compreender a sociedade através da história, entender a situação da sociedade de classes que defende interesse da minoria dominante e desfavorece grande parte da população que não tem condições intelectuais para lutar por uma transformação. Entretanto, só o conteúdo, sem a ligação com as questões sociais, conforme faz a educação tradicional, seriam insuficiente por não darem a oportunidade de ligar os conhecimentos de dentro da escola para o mundo a fora.

Por exemplo: numa aula conteudista de português, o professor poderia colocar como objetivo específico: aprender a diferença no emprego dos 4

porquês. Em uma abordagem crítica não ficaríamos presos ao domínio dessas

diferenças e o objetivo poderia ser este, por exemplo: criar uma modificação

de um texto com o uso dos 4 tipos de porquês. Nesse caso, a utilização da

capacidade criativa e organizacional do pensamento poderia proporcionar ao estudante instrumentos de uma educação transformadora, pois utilizaria a criatividade, o pensamento, a visualização de possibilidades, etc.

Vejamos um pouco mais sobre a questão dos conteúdos para aprofundar essas questões aqui discutidas.

No documento Apostila Did_geral 2015 (páginas 66-70)