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PEDAGOGIA PROGRESSISTA LIBERTÁRIA

No documento Apostila Did_geral 2015 (páginas 55-57)

4. AS TENDÊNCIAS DIDÁTICO-PEDAGÓGICAS

4.6. PEDAGOGIA PROGRESSISTA LIBERTÁRIA

Papel da Escola: Esta pedagogia pretende que seja exercida pela escola uma

transformação na personalidade dos alunos em um sentido libertário e autogestionário. Funciona basicamente como introduzir modificações institucionais a partir dos níveis mais baixos (população) que será capaz de ir ‘contaminando’ todo o sistema. A escola instituirá mecanismos de mudanças, com base na participação grupal, como assembléias, conselhos, eleições, reuniões, associações, etc., de tal maneira que o aluno, uma vez que atue nas instituições ‘externas’, leve para lá tudo o que aprendeu. Outra forma de atuação da pedagogia libertária, semelhante a primeira, é aproveitando a margem de liberdade do sistema criando grupos de pessoas com princípios educativos autogestionários (associação, grupos informais, escolas autogestionárias). Há, portanto, um sentido expressamente político, da forma como se afirma o indivíduo como produto do social e que o desenvolvimento individual somente se realiza no coletivo. A autogestão é, dessa forma, o conteúdo e o método; resume tanto o objetivo pedagógico quanto o político. Na pedagogia escolar ou institucional, a pedagogia libertária pretende ser uma forma de resistência contra a burocracia como instrumento da ação dominadora do Estado, que tudo controla (professores, programas, provas etc.), retirando a autonomia do processo.

Conteúdos de Ensino: Os conteúdos ficam à disposição do aluno, entretanto,

sem nenhuma exigência de que se recorra a elas, pois são um instrumento a mais. O verdadeiro conhecimento é aquele resultante das experiências do grupo, principalmente das participações críticas. Conhecimento aqui não é a investigação intelectual da realidade para que se extraia um sistema de representações mentais, mas a descoberta que se faz das respostas às necessidades e exigências que a vida social demanda. Desta forma, os conteúdos são o resultado das necessidades e interesses manifestados pelo grupo e que não são necessariamente as matérias de estudo.

Métodos: A própria vivência grupal, na forma de autogestão, que os alunos

irão buscar bases mais satisfatórias de sua própria instituição, a partir de sua própria iniciativa e sem qualquer forma de poder. Trata-se de se instituir responsabilidades pelo coletivo a todos, como o conjunto da vida, as atividades e a organização do trabalho no interior da escola (menos a elaboração dos

programas e a decisão dos exames que não dependem nem dos docentes e nem dos alunos). Aos alunos fica a decisão de trabalhar ou não, ficando o interesse pedagógico na dependência de suas necessidades ou das do grupo.

A progressão da autonomia, sem qualquer direção de fora do grupo, se dá numa direção crescente pela oportunidade de contatos, aberturas dos integrantes, relações informais entre os alunos. Só então, o grupo começa a se organizar de maneira que todos possam participar das discussões, cooperativas, assembléias, isto é, diversas formas de participação e expressão verbal. Entretanto, quem quiser fazer outras coisas deve entrar em acordo com o grupo ou se retirar. No terceiro momento, o grupo se organiza de maneira mais efetiva e, finalmente, no quarto momento, parte para a execução do trabalho elaborado pelo grupo.

Relação Professor-Aluno: Esta pedagogia visa, em primeiro lugar,

transformar a relação professor-aluno no sentido da não-diretividade, isto é, considerar como ineficaz e nocivo todos os métodos que utilizem obrigações e ameaças. Mesmo sendo o professor e o aluno diferentes, nada impede que o primeiro se coloque a serviço do segundo, sem impor suas concepções e idéias, sem transformar o aluno em objeto. O professor é um catalisador e orientador, ele se mistura ao grupo para refletirem mutuamente.

Por serem os alunos livres frente ao professor, este também o é em relação aos alunos (ele pode, caso queira, recusar-se a responder alguma pergunta, permanecendo em silêncio). Entretanto, esse tipo de liberdade de atitude tem um sentido muito claro, pois se um aluno resolve não participar, o faz porque não se sente integrado e, como o grupo tem responsabilidade sobre esse fato deve se colocar a questão. Quando o professor se cala diante de uma pergunta, seu silêncio tem um significado educativo que pode, por exemplo, ser uma ajuda para que talvez o grupo assuma a responsabilidade de responder ou lidar com a situação criada. No mais, o professor se incumbe como uma espécie de conselheiro e, outras vezes, de instrutor ou monitor à disposição do grupo. Em nenhum momento esses papéis do professor se resumem em algum modelo, pois essa pedagogia recusa qualquer espécie de poder ou autoridade.

Aprendizagem: A principal ênfase é na aprendizagem informal, via grupo, e o

repúdio a qualquer forma de repressão visam favorecer o desenvolvimento de pessoas mais livres. Assim, as formas burocráticas das instituições existentes, por seu traço de impessoalidade, comprometem o crescimento pessoal. A motivação, assim, está no interesse em crescer dentro das possibilidades da vivência grupal, desenvolvendo a cada um de seus membros a satisfação de suas aspirações e necessidades.

Somente o experimentado, vivido, é incorporado e útil em situações novas. Desta forma, o critério de relevância do saber sistematizado é seu

possível uso prático. Por esta razão, não faz nenhum sentido qualquer forma de avaliação da aprendizagem, ao menos no que se refere aos conteúdos.

Manifestações na Prática Escolar: Esta pedagogia inclui quase todas as

tendências anti-autoritárias em educação, como a anarquista, a psicanalista, a dos sociólogos, e também a dos professores progressistas. Embora Rogers e Neill não possam ser considerados professistas, pela ausência do aspecto da criticidade sócio-política, não deixam de influenciar alguns libertários, como Lobrot. Entre os estrangeiros, podemos citar Vasquez e Oury entre os mais recentes, Ferrer y Guardia entre os mais antigos. Particularmente significativo é o trabalho de Célestin Freinet, que foi sempre muito estudado por suas inúmeras contribuições, existindo inclusive algumas escolas aplicando seu método. Dentre os estudiosos e divulgadores desta tendência, podemos citar Maurício Tragtenberg, apesar da tônica de seus trabalhos não ser propriamente pedagógica, mas de crítica das instituições a favor de um projeto autogestionário de educação.

No documento Apostila Did_geral 2015 (páginas 55-57)