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O DIFÍCIL PERCURSO PARA ENTRAR NA ESCOLA E REALIZAR A PESQUISA

3 METODOLOGIA DE PESQUISA

3.4 O DIFÍCIL PERCURSO PARA ENTRAR NA ESCOLA E REALIZAR A PESQUISA

Realizamos os primeiros contatos com a Diretoria de Ensino Centro-Oeste em janeiro de 2006 a fim de apresentar a proposta de pesquisa. Fomos informados que o assunto deveria ser tratado com a Dirigente Regional, Profa. Walkyria Cattani, e que deveríamos aguardar um agendamento com a mesma. Porém, após diversas tentativas de contato, em 12/02/2007 a assessora orientou-nos a registrar a proposta por escrito21 e levá-la para análise da Dirigente. Assim o fizemos e como a Sra. Dirigente não pode nos receber no horário agendado, deixamos o documento no setor de protocolo em 14/02/2007.

21 Anexo C - Carta dirigida à Dirigente de Ensino Centro-Oeste. Além da carta, foi anexado o roteiro de

entrevista para os professores, o currículo da pesquisadora e a declaração da FE-USP para comprovar o vínculo com a pós-graduação da universidade.

Diante da falta de qualquer resposta, no dia 08/03/2007 fomos pessoalmente à Diretoria de Ensino e fomos informados pela assessora que o documento inicial havia sido extraviado. Iniciamos novamente o processo, com protocolos, registros e cópias do documento protocolado, sem, no entanto, conseguir falar com a Dirigente de Ensino.

Nessa ocasião, percebemos que a escolha pelo caminho oficial para obtenção de autorização para realizar a pesquisa nas escolas havia sido difícil, pois embora os atores institucionais não tenham falado que não era possível realizá-la ou que não tinham interesse na proposta, o que estávamos vivenciando era a recusa para recebê-la. Mantivemos, no entanto, nosso propósito, pois esses fatos confirmavam a necessidade de aproximação com as escolas estaduais. Alguns questionamentos surgiam para nós: por que é tão difícil chegar até a “Sra. Dirigente?” Por que não podíamos simplesmente ir às escolas e esperar que os diretores e suas equipes decidissem se queriam ou não receber uma pesquisadora?

Finalmente conseguimos agendar um novo horário com a Sra. Dirigente e, em 15/03/2007, ela nos recebeu. O documento ainda não havia sido entregue a ela. Recebeu-nos com muita educação, fez uma ressalva sobre o critério de escolha das escolas (não poderia ser a partir dos resultados do SARESP) e informou-nos que não era de sua competência a autorização para tal tipo de pesquisa. Ela precisava encaminhar a proposta para a Coordenadoria de Ensino da Grande São Paulo (COGSP), em atenção ao Prof. Luiz Cândido Rodrigues Maria. E, de fato, nessa mesma data, 15/03/2007, seguiu o processo22 que deixei para sua análise e o ofício23 da Diretoria de Ensino Centro-Oeste para a COGSP.

Nesse momento, percebemos o que significa dizer que os trâmites do sistema educacional são burocráticos, no sentido de crítica à burocracia, esse processo que envolve documentos, autorizações e hierarquia. De certa forma, é como se o sistema fosse organizado para que alguém com um cargo mais elevado na hierarquia tomasse a decisão, embora seja organizado em instâncias em que os responsáveis têm autonomia de gestão. Lück (2006, p.112) escreve sobre as atitudes que cerceiam as práticas autônomas e registra o seguinte acerca da burocratização:

“A burocratização corresponde à prática mecânica e acrítica de normas e regulamentos administrativos que, embora úteis, perdem seu vigor e sua utilidade na organização, no monitoramento e avaliação de processos, e passam a ser utilizados para limitá-los. Quem age autonomamente utiliza as normas, regulamentos e leis como orientadores da ação, pela leitura do seu espírito; quem age reativamente lê a letra da lei e busca nela os aspectos limitadores e cerceadores da ação. [...] É

22 Anexo D - Proposta de trabalho de pesquisa; vide numeração inserida no documento; esta é a cópia que seguiu

com o ofício para a COGSP. (protocolo: 5006/7)

alarmante verificar como é freqüente essa orientação reativa e burocratizante, realizada mediante leitura ‘ao pé da letra’, adotada pelas assessorias jurídicas de secretarias de Educação que, em geral, agem de maneira a definir, a partir das demandas, o que não pode ser feito, em vez de procurar aberturas para o que pode. Muitas vezes, até conselhos de atuação atuam orientados por essa lógica.”

Seguiu-se mais um mês e, em 17/04, recebemos a notícia da Coordenadoria de Ensino através de uma carta com recomendações e a autorização24. A Sra. Dirigente entregou- nos uma carta de apresentação25 para entrarmos em contato com as escolas e assegurar que a pesquisa contava com a autorização de todas as instâncias necessárias.

Estávamos confiantes para iniciar a pesquisa de campo. No entanto, o ambiente escolar também se mostrou “burocrático”. Fizemos várias tentativas de contato para agendar visitas e recebíamos como resposta que não havia datas disponíveis, que seria necessário aguardar coordenadores ou diretores que nunca tinham muita disponibilidade de horário.

Constatamos que havia muitos obstáculos e que deveríamos tomar outras atitudes. Definimos realizar uma mudança de planos e conseguimos alguns contatos, algumas promessas e efetivamente agendamos com uma escola. Tivemos de recorrer a outros expedientes, tais como contatos de colegas que trabalhavam em escola pública e amigos de coordenadores para conseguir que as escolas nos recebessem. Por meio desse sistema informal conseguimos rapidamente contato e abertura para iniciarmos nossa pesquisa.

Definimos três escolas estaduais e acertamos com as equipes que só iniciaríamos o trabalho com as professoras a partir de 09 de maio, em função da solicitação das coordenadoras diante das rotinas escolares relacionadas ao fechamento do 1º bimestre letivo (reuniões de conselho de classe, reuniões de pais, entre outras).

Avaliamos, com a experiência da dificuldade para iniciar a pesquisa, que o sistema escolar às vezes impede que possamos olhar dentro dele, embora nos receba com muita educação. O fato de seguirmos rigorosamente o critério de apenas entrevistarmos os profissionais que se dispusessem voluntariamente a participar da pesquisa refletiu na demora para conseguirmos efetivá-las. Em contrapartida, encontrarmos locais cujas pessoas conseguiram nos receber e puderam disponibilizar seu tempo para colaborar na pesquisa com boa vontade.

24 Anexo F: Solicitação da COGSP de 28/03/2007 e resposta do coordenador de ensino da COGSP de

05/04/2007

25 Anexo G: Ofício no 0457/07 de 17/04/2007. Com este documento nos apresentamos às escolas para iniciarmos

No próximo item, 3.5., retomamos o aporte teórico do estudo de caso com o foco dirigido às três escolas estaduais e no item 3.6. explicitaremos quais são as escolas e as equipes entrevistadas.