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PLANEJAMENTO, INSTRUMENTOS E AÇÕES CRIADAS PARA A PESQUISA

3 METODOLOGIA DE PESQUISA

3.3 PLANEJAMENTO, INSTRUMENTOS E AÇÕES CRIADAS PARA A PESQUISA

Nosso plano de trabalho previa desde o início o contato com professoras e com coordenadoras das escolas do segmento inicial do ensino fundamental, preferencialmente professoras de 1ª e 2ª séries. Definimos que a pesquisa seria realizada em instituições públicas estaduais, posto que acompanhávamos pela mídia e através de depoimentos de colegas professores que a situação nas escolas apresentava muita dificuldade para o crescimento do dos alunos e dos professores, considerando-se as condições de trabalho em geral.

Pesquisamos no site da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo as Diretorias de Ensino responsáveis pelas regiões da capital de São Paulo. Definimos a Diretoria Centro- Oeste por sua abrangência em vários bairros de São Paulo, o que poderia significar um facilitador para definirmos as escolas onde desenvolveríamos o trabalho de pesquisa.

Elaboramos um roteiro de entrevista19 para ser realizado com as professoras de cada escola. As entrevistas tiveram uma base comum, com questões dirigidas a fim de:

• detalhar o pensamento da professora sobre o seu fazer;

• analisar a compreensão da professora acerca de seu papel no processo escolar; • identificar a consciência sobre o que a professora sabe ou não sabe sobre o

processo de aprendizagem dos alunos no campo da alfabetização;

• verificar como é a interpretação da professora sobre o que o aluno viveu durante a aula e que relações percebeu que ele estabelece ou não a partir da mesma. O roteiro usado com as docentes foi readaptado para as entrevistas com as coordenadoras pedagógicas20 . Essa adaptação procurou favorecer o surgimento das concepções da coordenação acerca de seu papel na formação do professor e sua análise sobre a situação vivida na escola referente ao processo de construção da leitura e escrita nas séries iniciais.

O uso da entrevista semi-estruturada

A estratégia escolhida para a realização das entrevistas foi a entrevista semi-estruturada. Fizemos essa escolha porque pensamos em garantir um espaço para perguntas que poderiam surgir tanto da parte da pesquisadora como das entrevistadas, visto que definimos questões no roteiro sobre as quais elas poderiam se envolver mais do que em outras. Inclusive, ao final de cada entrevista, deixamos um momento para que cada educadora pudesse falar sobre algo que não tivesse sido perguntado e que ela julgasse importante relatar. Algumas educadoras retomaram assuntos já discutidos anteriormente e outras trouxeram questões novas.

Nós também incluímos uma questão para as coordenadoras que não havia sido planejada previamente e que versava sobre a presença dos alunos estagiários nas 1ª séries. Este assunto será tratado no capítulo 4.2, quando discutiremos a questão das condições de trabalho na 1ª série.

Quanto ao uso da técnica de entrevista, Gil (2008, p.117) diz:

”[...] é fácil verificar como, entre todas as técnicas de interrogação, a entrevista é a que apresenta maior flexibilidade. Tanto é que pode assumir as mais diversas formas. [...] Pode ser parcialmente estruturada, quando é guiada por relação de pontos de interesse que o entrevistador vai explorando ao longo de seu curso”.

19 Vide anexo A - Roteiro de entrevista com professoras 1ª e 2ª séries (2º e 3º anos)

Análise de documentos

Solicitamos às coordenadoras pedagógicas das escolas o plano pedagógico de 2007, do ano em curso das nossas entrevistas. Até novembro, quando finalizamos as entrevistas, conseguimos apenas o material da escola 1, cuja coordenadora cedeu-nos inclusive os textos usados em reuniões pedagógicas.

Quanto às demais escolas, tentamos novamente no primeiro semestre de 2008, porém sempre surgia algum obstáculo que nos impedia de ter o plano. Dessa feita, decidimos apenas apresentar a característica do documento da escola 1, sem, no entanto, fazer referências ao mesmo durante as análises, pois não definimos como meta do estudo de caso uma análise específica por escola, mas por temas de análise.

O material recebido da escola 1 era na verdade o plano de gestão referente ao período de 2003 a 2006. Nesse documento há os seguintes itens: I - identificação e caracterização da unidade escolar no qual consta um item sobre a análise do processo educacional em que a escola afirma seu trabalho com o foco no trabalho coletivo e na gestão participativa; no item II- objetivos da escola estão descritos os objetivos gerais, objetivos específicos e a proposta pedagógica, cujo texto apresenta o foco de trabalho centrado no aluno e no seu desenvolvimento global; o item III apresenta o plano de curso: ensino fundamental (ciclo I) e nesta parte pode-se ler sobre as habilidades que serão desenvolvidas nos componentes curriculares, inclusive Língua Portuguesa; há ainda o item IV- Planos de trabalho dos núcleos, em que consta o trabalho do professor coordenador pedagógico; item V- APM; item VI - Conselho de Classe; item VII- projetos curriculares e atividades de enriquecimento curricular; os anexos, entre eles um que apresenta as premissas do trabalho no HTPC.

Com relação a outros tipos de materiais, como livros didáticos, exercícios de alunos, tabelas de avaliação diagnóstica dos momentos conceituais da língua escrita, entre outros, foram apresentados pelas entrevistadas enquanto realizávamos as entrevistas com o propósito de complementar e esclarecer suas falas. Não foram, portanto, objeto de uma análise específica, mas apenas no contexto da entrevista.

Análise dos dados

Estabelecemos três categorias de análise, por considerar que são aspectos relevantes do trabalho docente e por terem sido indicadores de destaque nas falas das entrevistadas: 1 visão de educação, de aluno e relação professor/ aluno; 2 visão de formação continuada na

escola e 3 articulação das concepções dos educadores sobre a alfabetização. Em cada uma das categorias definidas colocamos em destaque as análises sobre o que o professor toma como pressupostos para encaminhar suas práticas.

Por um lado, estabelecemos algumas comparações entre as evidências dos pressupostos das educadoras com o que são considerados pressupostos firmados na educação contemporânea em cada eixo teórico apresentado no capítulo 2. Relacionamos o sujeito educador singular com as perspectivas esperadas para o professor alfabetizador. Por outro lado, procuramos mapear através das falas das educadoras quais são suas verdades, suas fragilidades, como pensam sobre os desafios do cotidiano no que tange a cada categoria.

Dessa forma, pensamos em contribuir para alargar a compreensão do quanto é importante ouvir os educadores para tirar conclusões nas investigações sobre como promover o sucesso escolar na área da alfabetização e, assim, mediante nossas conclusões, colaborar na reflexão sobre a necessidade de se reverem práticas de formação tanto inicial como continuada dos profissionais da educação, de modo que estas práticas alcancem as necessidades reais dos profissionais envolvidos em seu ofício.

Escolhemos algumas escolas aleatoriamente e definimos alguns bairros da região sul da cidade de São Paulo que tinham em curso as séries iniciais do ensino fundamental.

Delimitamos nosso corpus de pesquisa a três escolas, em vista dos problemas que surgiram no decorrer do percurso, relatados a seguir no item 3.4 deste capítulo. Entrevistamos as professoras voluntárias das séries iniciais do ensino fundamental e as respectivas coordenadoras.