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3 METODOLOGIA DE PESQUISA

3.2 A ESCOLHA DO APORTE TEÓRICO-METODOLÓGICO

Diante da temática escolhida em nosso projeto de pesquisa, buscamos os aportes metodológicos que pudessem embasar sistematicamente a redação e os procedimentos de nossas investigações, além de adequarem-se aos padrões exigidos pela universidade, e representar um caminho para se chegar ao conhecimento sobre como promover a melhoria das práticas didáticas em alfabetização e a conseqüente promoção do sucesso escolar.

É importante destacar que quando nos propomos a abordar a dimensão das melhorias das práticas didáticas não significa que focamos as práticas em si. Analisamos o que as educadoras nos trouxeram em suas falas e que se mostraram como indicativos para gerar práticas coerentes e eficientes em alfabetização.

Para nós, um fator decisivo para a realização deste trabalho era dialogar efetivamente com os docentes, ouvi-los sobre suas verdades e suas incertezas. Supomos que eles poderiam nos esclarecer sobre como superam os obstáculos imensos que o sistema educacional brasileiro oferece, rompem com estigmas, inclusive os que repousam sobre eles mesmos, os docentes, e continuam a realizar um trabalho íntegro, com vistas à transformação da educação e ao crescimento dos alunos.

Frente às características de nosso corpus, planejamos nosso aporte teórico para a realização do trabalho com o enfoque de estudo de caso.

Numa tentativa de situarmos os prós e os contras de um estudo de caso, observamos que os aspectos desfavoráveis seriam: a falta de abrangência e de representatividade da amostra e, ainda, a impossibilidade de afirmar os resultados do ponto de vista estatístico. Destacamos, porém, os ganhos significativos em realizar a pesquisa na perspectiva de estudo de caso:

• aproximação do tema por intermédio de modos menos usuais de investigação; • possibilidade de lidar com as falas dos professores na perspectiva da polissemia

• produzir um conhecimento contextualizado que o leitor pode interpretar por intermédio da voz do professor e do coordenador;

• ênfase nas informações e situações de cada contexto escolar, focalizando o singular na sua relação com o todo.

3.2.1 Definição e características de Estudo de Caso

O estudo de caso é uma metodologia qualitativa, freqüentemente usada em pesquisa educacional. Nossa escolha recaiu sobre esta abordagem, pois suas características permitem uma avaliação em profundidade dos dados coletados durante o nosso processo de trabalho. Realizamos uma nossa a partir de entrevistas. Neste sentido, a metodologia eleita nos proporcionou condições para analisar as respostas das professoras e coordenadoras enquanto objeto de nossa investigação.

Segundo André (1984, p.51-52), de acordo com:

“[...] a posição tomada na Conferência de Cambridge (Adelman et. Al., 1976), o estudo de caso é um termo amplo, incluindo ‘uma família de métodos de pesquisa cuja decisão comum é o enfoque numa instância’(p.2). Partindo dessa mesma definição, Nisbett e Watt (1978) sugerem que o estudo de caso seja entendido como ‘uma investigação sistemática de uma instância específica’ (p.5). Essa instância, segundo eles, pode ser um evento, uma pessoa, um grupo, uma escola, uma instituição, um programa etc. [...] A metodologia de estudo de caso é eclética, incluindo, via de regra, observação, entrevistas, fotografias, gravações, documentos, anotações de campo e negociações com os participantes do estudo.”

André (1984) apresenta uma série de características que ela denomina de fundamentais para a compreensão do estudo de caso. “Tal tipo de investigação toma como base o desenvolvimento de um conhecimento idiográfico17, isto é, que enfatiza a compreensão dos eventos particulares (casos)”. Apresentamos essas características elencadas pela autora, de forma sintética para percebermos os contornos desse modo de fazer pesquisa:

1. Os estudos de caso buscam a descoberta. Mesmo que o investigador parta de alguns pressupostos que orientam a coleta inicial de dados [...] a compreensão do objeto se efetua a partir dos dados e em função deles;

2. Os estudos de caso enfatizam a ‘interpretação em contexto’; [...]

17 Idiográfico: modalidade de pesquisa qualitativa; na metodologia idiográfica a ênfase recai na análise dos

processos intra-sujeitos ou em eventos particulares; Idio significa relativo ao próprio indivíduo. O significado da informação fundamenta-se, não na performance de um indivíduo relativa a grupos previamente estabelecidos como norma e critério, mas em sua própria performance em momentos diferentes ou em situações semelhantes, avaliadas por métodos independentes. Fonte: http://scielo.bvs-psi.org.br/scielo.php?pid=S1413- 82712003000200004&script=sci_arttext acesso em 25/01/08.

3. Estudos de caso procuram representar os diferentes e, às vezes, conflitantes pontos de vista presentes numa situação social; [...]

4. Os estudos de caso usam uma variedade de fontes de informação. Ao desenvolver o estudo de caso, o pesquisador faz uso freqüente da estratégia de triangulação, recorrendo para isso a uma variedade de dados, coletados em diferentes momentos, em situações variadas e provenientes de diferentes informantes; [...]

5. Os estudos de caso revelam experiência vicária e permitem generalizações naturalísticas. O pesquisador procura descrever a experiência que ele está tendo no decorrer do estudo. [...] A generalização naturalística18 se desenvolve no âmbito do indivíduo e em função de seu conhecimento experiencial;

6. Os estudos de caso procuram retratar a realidade de forma completa e profunda; [...] 7. Os relatos de estudo de caso são elaborados numa linguagem e numa forma mais acessível

do que os outros tipos de relatórios de pesquisa [...] Os relatos escritos apresentam, geralmente, um estilo informal, narrativo, ilustrado por figuras de linguagem, citações, exemplos e descrições.

O estudo de caso valoriza o conhecimento da experiência e permite a quem irá ler a pesquisa, o leitor, enquanto ele se envolve com o texto, fazer a si mesmo perguntas sobre sua própria prática. Nesse sentido, o pesquisador precisa ser cauteloso em sua escrita e deixar claro quais são as descrições da realidade e quais são as suas interpretações e representações sobre o fato. Segundo André (1984, p.53), “o relato do caso deve deixar muito claro a distinção entre descrição e interpretação, evidências primárias e secundárias, afirmações gerais e depoimentos, resumos e citações”.

Há algumas questões muito importantes que devem acompanhar o pesquisador no estudo de caso que, de certa forma, não fogem às demais pesquisas. Uma delas é a ética. Esta deve estar presente desde o contato inicial com as instituições, na chegada cuidadosa e respeitosa à escola, na atenção, delicadeza e sensibilidade para com o outro, no levantamento dos dados, sabendo ouvir o que o outro diz. Faz-se necessário cuidar da forma de apresentar

18 Generalização naturalística: André (1984) explicita melhor o conceito no próprio texto, fazendo referência a

Stake: “Na medida em que o sujeito (o leitor) percebe a equivalência deste caso particular com outros casos ou situações por ele vivenciadas anteriormente, ele estabelece as bases da generalização naturalística. Para isso, ele usa prioritariamente um conhecimento que Polanyi chama de conhecimento tácito, que são aquelas sensações, intuições, percepções que não podem ser expressas em palavras. O estudo de caso supõe que o leitor vá usar esse conhecimento tácito para fazer as generalizações e para desenvolver novas idéias, novos significados, novas compreensões”. (Cad. de Pesquisa. (49) maio 1984, pág. 52).

os dados e interpretá-los, de modo que o pesquisador possa fazer da pesquisa um momento de descoberta, e não apenas a confirmação de suas hipóteses prévias.

Além dessa questão, há a reflexão sobre a fidedignidade dos resultados. Segundo André (1984, p.53),

“O conceito usual de fidedignidade envolve o confronto ou a relação entre os eventos e a sua representação, de modo que diferentes pesquisadores possam chegar às mesmas representações dos mesmos eventos. No estudo de caso esse problema se coloca de maneira bem diferente já que o proposto é apresentar a informação de forma que dê margem a múltiplas interpretações. Não se parte do pressuposto de que as representações do pesquisador sejam a única forma de apreender a realidade, mas assume-se que os leitores vão desenvolver as suas próprias representações e que estas são tão significativas quanto as do pesquisador”.

Consideramos que ao realizar o estudo de caso podemos ouvir a fala de cada um dos educadores, compreender seus contextos de atuação e, ao mesmo tempo, compreender elementos dos contextos mais amplos de educação. Sendo assim, fazer o estudo de caso pode representar uma porta ou um caminho para se entender o geral. Nesta abordagem metodológica não buscamos a constância e a generalização a priori, mas aproximamo-nos dela de maneira substantiva no final da investigação, na escuta do conjunto de vozes.

A seguir, apresentamos o percurso do planejamento para nosso trabalho e retomaremos, no final do capítulo, o aporte do estudo de caso com base no corpus da pesquisa de campo.