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Difundindo a experimentação (2000 a 2001)

“As mudanças implementadas no enfoque metodológico da assessoria permitiram desbloquear capacidades latentes que estavam incubadas nas

comunidades e organizações locais e que não conseguíamos identificar e valorizar. Desbloquear, nesse sentido, tornou-se uma palavra-chave no mé- todo que passamos a empregar. Isso porque percebemos que as capacida- des criativas e políticas existentes no seio das famílias e comunidades dei- xavam de ser valorizadas nos processos de transformação social na medida em que o método que adotávamos era pouco sensível a elas. Nos ocupáva- mos essencialmente em levar aos processos locais novas tecnologias e dei- xávamos de valorizar os conhecimentos associados a práticas preexistentes no local ou, pior ainda, não considerávamos as capacidades locais de gerar esses conhecimentos a partir do convívio com os problemas e oportunida- des comuns às famílias agricultoras.”

“Na prática, deixamos de fazer eventos sobre barragens subterrâneas e passamos a fazê-los com o foco nos sistemas de manejo dos recursos hídricos nas propriedades. Neles, não deixávamos de enfocar a barragem, mas tra- távamos dos papéis (ecológicos, econômicos, sociais) que exercia no siste- ma como um todo e não exclusivamente na construção da infra-estrutura em si ou no seu método de manejo”. “Deixamos de trabalhar as plantas medicinais isoladamente e passamos a abordar o subsistema do ao redor de

casa e o seu papel na saúde e na alimentação das famílias.” “Em vez de

monitorar os consórcios com sorgo que visavam ao aumento da produção de forragem para os períodos secos, passamos a observar as variadas estra- tégias dos próprios agricultores para aumentar a produção global de biomassa forrageira nas propriedades.”

“Essa mudança de enfoque permitiu que a equipe técnica desbloqueasse o seu olhar e adquirisse maior sensibilidade para as inovações espontâneas que antes passavam despercebidas.”

Esse desbloqueio fez com que as experimentações deixassem de estar referenciadas por um leque restrito de inovações e passassem a se orientar pelo quadro de hipóteses para a solução dos problemas coletivamente de- finidos nas redes locais de agricultores-experimentadores. Dessa forma, essa substituição de foco criou condições para que interação entre a asses- soria e os grupos de experimentadores evoluísse significativamente. Entre outros fatores, porque abriu-se caminho para que as práticas já adotadas na região (mesmo que isoladamente por uma única família ou pessoa) e que respondiam a problemas identificados, pudessem ser valorizadas nas análises coletivas e nas redes regionais de experimentação. Foi, por exem- plo, a identificação e a sistematização da experiência de estruturação e manejo da faxina (quintal) da família de Dona Maria do Carmo em Solânea

o principal fator que desencadeou o desenvolvimento de uma linha de ação orientada para o aprimoramento dos arredores das casas dos agricultores. Exemplos como esse proliferaram-se fazendo com que, no decorrer dos anos seguintes, verificássemos a multiplicação, em ritmo exponencial, do acervo de inovações técnicas e sócio-organizativas em experimentação na região, em contraste com o limitado cardápio de alternativas inovadoras existente nos primeiros anos do programa.

A alteração na abordagem metodológica também nos chamou a aten- ção para a necessidade de clarificarmos a própria noção de inovação com a qual estávamos trabalhando. Adquirimos a nítida percepção de que inova- ção não é necessariamente aquilo que vem de fora, seja de agricultores de outras regiões, seja de técnicos. Pelo contrário, em geral ela brota do terre- no do cotidiano local a partir da convivência dos agricultores com os desa- fios encontrados na gestão técnica e econômica de suas propriedades. As- sim, embora os problemas sejam vivenciados de forma coletiva, as solu- ções para enfrentá-los costumam ser criadas por meio de iniciativas indivi- duais ou de pequenos grupos. Em outras palavras: as inovações individuais surgem como resposta a problemas que não são somente do inovador, ten- do, por essa razão, importante significado para a coletividade.

Outra característica que define a inovação, tal como passamos a concebê- la, é o fato de que ela não pode ser entendida como uma técnica dura, passível de generalização. Uma inovação pode ser simplesmente uma nova idéia (ou mesmo uma nova inspiração) para o manejo técnico ou para a organização do trabalho que vise à otimização dos recursos localmente disponíveis para os processos produtivos. Portanto, ela deverá ser sempre adaptada a situações específicas por meio da experimentação.

Esse novo enfoque tornou metodologicamente coerente a relação en- tre os diagnósticos participativos e a dinâmica social de experimentação. Os primeiros definem problemas e suas respectivas hipóteses, enquanto a última testa essas hipóteses na realidade concreta vivenciada pelos agri- cultores. Configura-se assim uma sistemática cumulativa de gestão do co- nhecimento fundamentada no permanente questionamento e revisão dos modelos de hipóteses.

“A construção de novas percepções pela equipe sobre a problemática técnica dos agroecossistemas foi o que permitiu a evolução nas nossas abor- dagens metodológicas. Passamos a interpretar as inovações a partir de uma visão mais integradora, ou seja, a partir de suas funções e impactos sistêmicos. Essa mudança nos ajudou bastante a compreender as racionalidades e estra-

tégias dos próprios agricultores e agricultoras na gestão de seus sistemas produtivos. Isso, sem dúvida, facilitou muito o diálogo com eles.”

O próprio conceito de agricultor-experimentador foi mais bem qualifica- do a partir dessa evolução no enfoque, sendo redefinido como todo e qual- quer indivíduo que inova em suas práticas de manejo e que comunica os resultados de suas inovações aos seus pares. Nessa lógica, experimentação e comunicação passam a ser compreendidas como funções indissociáveis na gestão do conhecimento agroecológico que se processa nas redes de agricultores-experimentadores.

Com essa (re)definição, o papel do agricultor-experimentador deixou de ser percebido como uma posição social outorgada pela assessoria e pas- sou a ser assumido como uma nova identidade social, auto-atribuída entre aqueles que se percebem integrados a um processo coletivo de inovação agroecológica. Foi exatamente esse sentido de pertencimento que, aos pou- cos, conferiu a esse processo os contornos de uma rede informal de agri- cultores-experimentadores na região.

Um aspecto de realce nessa nova compreensão estratégica, é que o enfoque do trabalho deixou de se orientar simplesmente para dinamizar novas redes de inovação e passou também a se ocupar da identificação e do fortalecimento de redes socio-técnicas que estavam inscritas nas nor- mas de convivência social pré-existentes. Esse aspecto ficou particularmente evidente após estudo sobre o manejo da inovação em algumas comunida- des com as quais trabalhávamos no município de Solânea. O estudo identi- ficou que parte significativa das inovações introduzidas nas comunidades nas últimas décadas não é originária dos serviços de extensão rural oficiais e não oficiais e dos comerciantes mas sim das redes socio-técnicas que relacionavam as comunidades enfocadas com outras, inclusive de outros municípios. Esse é o caso, por exemplo, das práticas de tração animal e do preparo do solo no sistema xadrez oriundas de agricultores do Cariri e trazidas para o agreste por vaqueiros e trabalhadores diaristas itinerantes que vendiam seu trabalho a diferentes fazendeiros.11

Cabe aqui destacar também que essa evolução foi responsável pela construção do próprio conceito de Agroecologia nas redes de inovação lo- cais. Estando intimamente relacionado à noção de agricultor-experimentador, o conceito de Agroecologia associa-se à idéia de alternativa ao modelo dos

pacotes, que, na percepção dos agricultores, foi trazido pela assistência

técnica oficial. Segundo membros do Pólo, “o agricultor sempre esteve perto e exerceu a Agroecologia; já no outro modelo – o convencional – o agricul-

tor se especializa”. Trata-se, portanto, de um enfoque para o desenvolvi- mento que é baseado na diversificação da produção e na natureza e não nos

pacotes e nos venenos.

Além de suas especificidades nas dimensões técnica (diversificação X especialização) e metodológica (inovação local X assistência técnica), o conceito de Agroecologia foi assimilado também como uma forma de pro- dução que estabelece uma relação positiva entre a agricultura e o meio ambiente. É nesse sentido que a Agroecologia está diretamente associada à noção de convivência com o semi-árido, em contraste com a idéia de combate

às secas apregoada pelos defensores do modelo convencional.

“Essas evoluções conceituais e metodológicas foram importantes na requalificação das funções exercidas pela assessoria e pelos agricultores e suas organizações. Novos relacionamentos foram aos poucos sendo esta- belecidos, colocando em xeque os papéis tradicionais que os agricultores esperam dos técnicos e vice-e-versa. Por exemplo: a expectativa dos agri- cultores pelas visitas dos técnicos aos poucos foi mudando de natureza. Da expectativa por assistência técnica, eles passaram a se apresentar como expositores de suas experiências. Embora nunca tivéssemos adotado a as-

sistência técnica individual como perspectiva de atuação, no início de nos-

so trabalho investimos bastante tempo no acompanhamento de algumas propriedades e/ou grupos de experimentadores. Esse fato, associado ao costume com a forma de atuar dos serviços oficiais de extensão rural, pode ter reforçado para alguns a noção equivocada de que o nosso papel tam- bém seria o de prestar assistência.”

“Do nosso lado, deixamos de depositar em alguns agricultores consi- derados muito inovadores a responsabilidade de atuarem como referências quase exclusivas para os demais. Passamos a compreender e valorizar o fato de que todo agricultor que domina o conhecimento sobre alguma prá- tica inovadora que responda a problemas vivenciados nos agroecossistemas regionais deve ter a oportunidade de apresentar publicamente a sua expe- riência. A partir da incorporação desse entendimento, verificou-se a multi- plicação do número de experiências sistematizadas e, de forma correspon- dente, do número de agricultores-experimentadores interagindo ativamente nas redes locais de inovação agroecológica.”

Esses novos conceitos e identidades incidentes na realidade regional mostraram-se essenciais para que pudéssemos associar as iniciativas de inovação agroecológica em curso com a reflexão sobre modelo de desen- volvimento. O estabelecimento desse vínculo entre a ação prática e o deba-

te no plano político foi o que permitiu mobilizar as redes de agricultores- experimentadores em torno a processos de análise crítica sobre o padrão socialmente excludente e ambientalmente degradador do desenvolvimen- to rural da região e, por analogia, do estado e do país.

As análises realizadas procuravam demonstrar que o modelo hegemônico não é o resultado de um destino inexorável, mas fruto de opções políticas que historica- mente conduziram ao atual padrão de ocupação e uso da terra e seus recursos. Ao incorporarmos essa perspectiva histórico-processual nos debates dos grupos de experimentadores, tornou-se evidente que a generalização da opção agroecológica só se fará a partir do engajamento político dos mesmos na defesa das alternativas técnicas e sócio-organizativas que vêm sendo desenvolvidas na prática. Dessa for- ma, ao mesmo tempo em que defendem alternativas, os agricultores envolvidos nas redes locais de inovação agroecológica adquiriram melhores condições para questi- onar políticas públicas que reiteram o modelo hegemônico, como, por exemplo, a transposição do rio São Francisco, o uso de transgênicos na agricultura, a orientação dos projetos oficiais de crédito rural e o enfoque técnico e metodológico dos servi- ços oficiais de extensão rural.

Além disso, a incorporação da dimensão política nos debates realiza- dos junto aos grupos de experimentadores fez com que a própria relação entre as organizações e as suas bases sociais evoluísse.

“Os sindicatos passaram a sair de trás do birô, onde se ocupavam es- sencialmente dos trâmites formais da previdência social, e passaram a di- vulgar os trabalhos de Agroecologia nas comunidades de seus municípi- os.” “Essa aproximação dos sindicatos com sua base social abriu espaço para que novas lideranças surgissem a partir de suas ações como agriculto- res-experimentadores.”

O novo papel dos STRs foi assim definido por uma das lideranças do Pólo: “Os sindicatos têm que descobrir os tesouros que estão escondidos nas comunidades”, referindo-se ao fato de que existem muitos agricultores e grupos comunitários que já possuem respostas criativas a muitos dos problemas vivenciados pela agricultura familiar na região. Essas iniciativas são os tesouros que precisam ser descobertos e valorizados e, segundo essa liderança, esse é um papel que cabe aos sindicatos.

“Com essa perspectiva em mente, os agricultores passaram a se afirmar como produtores de conhecimentos e hoje se colocam politicamente ao defender esse papel. Ao assumirem isso explicitamente, passaram a perce- ber de uma forma diferente o papel da assessoria.”

Os sindicatos parceiros começaram a assumir para si parte significativa das atribuições antes desempenhadas pela assessoria. Por exemplo, consti- tuíram comissões compostas por agricultores-experimentadores para enca- minhar os processos de inovação agroecológica em torno a alguns temas mobilizadores da experimentação. Essas comissões passaram a atuar como espaços autônomos de planejamento, monitoramento e avaliação do tra- balho junto aos grupos de agricultores-experimentadores nos seus respec- tivos municípios, deixando de contar tanto com a iniciativa da assessoria para que essas atividades fossem realizadas.

A evolução dos papéis exercidos pelas organizações parceiras e o apri- moramento de nosso enfoque metodológico também criaram condições objetivas para que pudéssemos dedicar maior tempo às parcerias com ins- tituições de pesquisa científica, entre elas universidades (Federal da Paraíba e de Pernambuco), centros da Embrapa (Algodão, Caprinos, Semi-árido) e o Centro de Cooperação Internacional de Pesquisa Agronômica para o De- senvolvimento (Cirad), da França. Pesquisadores de áreas distintas do co- nhecimento (das ciências agrárias e humanas) passaram a interagir regu- larmente com as dinâmicas sociais de inovação agroecológica na região, cada um a partir de seu ângulo analítico, tomando como referência geral os

quadros de problemas e hipóteses elaborados de forma coletiva nas redes locais de experimentação.12

“Essa intensificação das relações com instituições científicas refletiu, em grande medida, a evolução do papel de assessoria desempenhado pela AS-PTA: de geradora e difusora de inovações agroecológicas, passou a atu- ar mais explicitamente como assessora de dinâmicas sociais de inovação sustentadas pela revalorização dos conhecimentos dos agricultores e como articuladora desses conhecimentos com os da academia”.

De fato, a redefinição do objeto de intervenção da AS-PTA, a partir do emprego do enfoque sistêmico, trouxe para a entidade implicações imedi- atas sobre o seu método de ação, em particular no que se refere à forma de estruturar o trabalho da equipe e ao relacionamento com as organizações parceiras da agricultura familiar. Cada membro da equipe (nesse momento contávamos com cinco pessoas no campo técnico) passou a se responsabi- lizar por um tema mobilizador das dinâmicas de experimentação agro- ecológica na região (recursos genéticos, recursos hídricos, saúde e alimen- tação, criação animal e cultivos ecológicos).

Além dos técnicos dedicados aos temas mobilizadores da experimentação agroecológica, a equipe contava com dois profissionais responsáveis pela área de comunicação. Suas ações se orientavam fundamentalmente ao apoio à sis- tematização das experiências dos agricultores-experimentadores para que os mesmos pudessem apresentá-las a outros agricultores. Uma abordagem metodológica para a sistematização foi desenvolvida especificamente com esse fim. A principal idéia subjacente ao método desenvolvido era que os próprios experimentadores se apropriassem dos materiais de comunicação como instru- mentos para a divulgação de suas experiências. O boletim informativo, um do- cumento de duas a quatro páginas, geralmente ilustrado com fotos, foi um dos principais instrumentos desenvolvidos com esse intuito. Sua produção é reali- zada por meio de um processo relativamente rápido e barato, o que vem permi- tindo que grande número de agricultores-experimentadores e grupos tenham suas iniciativas sistematizadas.13 Até o momento, 130 experiências realizadas

no agreste da Paraíba já foram sistematizadas no formato de boletins. Outros meios de comunicação vêm sendo igualmente empregados para auxiliar os experimentadores a divulgarem suas experiências na região. Entre eles, cabe destacar os vídeos (9 vídeos já produzidos), cartilhas (8 já produzidas), os painéis fotográficos e banners, as peças teatrais, a poesia, a música, etc. A produção desses materiais de sistematização em geral é realizada durante proces- sos preparatórios de intercâmbios e encontros de agricultores-

experimentadores. Assim concebida e executada, a sistematização exerce papel decisivo como subsídio pedagógico na vinculação entre a prática local inovadora e a teoria agroecológica. Ao mesmo tempo, abrem espaço para que os diferentes mecanismos populares de expressão artística sejam exercitados e desenvolvidos.

A partir dessa configuração da equipe, cada subprograma da assesso- ria assumiu, juntamente com as comissões temáticas que haviam sido insti- tuídas pelas organizações dos agricultores, a responsabilidade de elaborar e conduzir um processo de formação específico do seu tema corresponden- te. Passamos a compreender a ‘formação’ como um conjunto de ações fun- cionalmente integradas que articula em um só processo pedagógico o di- agnóstico da realidade (temáticos), a elaboração de hipóteses para enfrentamento dos problemas identificados nos diagnósticos, o monitoramento da experimentação, a pesquisa científica, a sistematização de experiências e a realização de atividades de intercâmbio entre agriculto- res-experimentadores.

No entanto, a organização da equipe da AS-PTA em campos temáticos e a sua correspondência nas comissões que estruturam o trabalho dos sin- dicatos apresentavam o risco de fragmentação do olhar e da ação sobre a realidade. Estava claro que a ação não poderia se resumir ao somatório das atividades planejadas segundo os recortes temáticos, sob pena de perder- mos progressivamente a capacidade de análise de conjunto. Foi exatamen- te para nos prevenirmos desse risco que estabelecemos métodos de monitoramento da transição agroecológica capazes de restabelecer uma leitura sistêmica, ao apreender o impacto da integração de inovações rela- cionadas às diferentes áreas temáticas sobre os agroecossistemas. Com isso, os exercícios de monitoramento, que passaram a ser realizados desde en- tão, foram concebidos para informar em que medida os agroecossistemas em processo de transição tornavam-se mais sustentáveis sob as dimensões econômica, ecológica e sociocultural.

Para avaliar os impactos econômicos das inovações agroecológicas, a entidade desenvolveu uma metodologia específica que foi implementada simultaneamente pela equipe do programa local do Centro-Sul do Paraná.14

Já a dimensão social da sustentabilidade foi analisada com base em duas questões de fundo estratégico: a) em que medida as dinâmicas sociais de inovação agroecológica na região vinham sendo capazes de mobilizar, va- lorizar e empoderar as mulheres agricultoras?; b) em que medida essas dinâmicas vinham sendo capazes de mobilizar e dar respostas concretas às

famílias agricultoras mais pobres dentro do universo social abrangido pe- los sindicatos parceiros? Essas questões foram abordadas por estudos es- pecíficos conduzidos em conjunto com grupos de agricultores e algumas assessorias especializadas, contratadas especificamente para esse fim.

Esses exercícios de monitoramento da sustentabilidade favoreceram a incorporação dos temas enfocados na agenda de debate regional a partir de experiências concretas sistematizadas na realidade imediata. A questão das relações sociais de gênero, por exemplo, passou a figurar como objeto de atenção permanente nas reflexões para o contínuo aprimoramento dos métodos de ação da assessoria e das organizações parceiras. Já os temas da geração de renda e da segurança alimentar puderam ser mais bem apre- endidos como dimensões intimamente integradas nas estratégias econô- micas das famílias agricultoras e não como assuntos mutuamente isolados, passíveis de serem analisados e enfrentados separadamente.

A evolução conceitual e metodológica alcançada nessa fase da trajetó- ria do programa possibilitou a criação de diferentes formas de produzir, organizar e disseminar conhecimentos associados aos processos de transi- ção agroecológica. Essa nova condição também influenciou decisivamente as relações de parceria entre a AS-PTA e as organizações da agricultura familiar, permitindo que papéis fossem redefinidos, em particular pelo fato de as últimas terem explicitamente assumido para si a responsabilidade de atuarem como protagonistas na promoção da Agroecologia. Uma nova