• Nenhum resultado encontrado

A questão da eqüidade de gênero foi discutida diante da constatação de que não havia nenhuma estratégia de inclusão das mulheres no grupo. Todos os trabalhos eram chamados de experimento do homem, e nunca da mulher.

Para alguns homens do grupo, o fato de as mulheres serem encarregadas das refeições ou dos afazeres domésticos durante os encontros era uma forma de participação. A falta de tempo das mesmas para acompanharem os experi- mentos devido às tarefas de casa também era uma justificativa dos homens.

A ausência do público feminino também era explicada pelo fato de muitas mulheres não se assumirem como trabalhadoras rurais. O próprio Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), por não reco- nhecer a mulher como trabalhadora rural, mas como doméstica, acaba por afastar mais ainda as mulheres.

Dentro do grupo, apenas dois experimentos foram iniciados por mu- lheres, embora outras duas acompanhassem os experimentos junto com os homens. Fazendo uma análise da participação/presença feminina (agricultoras, técnicas e estagiárias) nas atividades do grupo, observamos que para cada mulher existem dois homens participando (Fonte: Livro de acompanhamento do Grupo AEMSAS).

Mas a partir da discussão sobre relações de gênero, quando o folder do AEMSAS foi elaborado, as legendas das fotos dos experimentos traziam os nomes do marido e da esposa.

Os próprios agricultores do grupo hoje reconhecem a importância das mulheres nesse processo, e existem relatos da forte influência feminina nos sistemas que estão nos quintais, entendendo-se quintal como a área próxima das casas, onde a mulher está mais presente.

4. Conclusões

“Quando você erra com a intenção de acertar, vale a pena.”

Claudinho (Experimentador)

O grupo reconhece que houve muitos erros, mas isso faz parte do pro- cesso de experimentação e aprendizagem. Os agricultores tiveram um gran- de aprendizado com essa construção coletiva dos conhecimentos em rela- ção ao manejo e utilização de espécies, assim como puderam absorver ou- tros métodos alternativos, como compostos e caldas.

Em alguns locais, como no assentamento Cachoeirinha e na comunida- de de Ilha Funda, se priorizou e se investiu muito em algumas pessoas, fazendo com que outras que tinham interesse não participassem. Eram “(...) companheiros(as) que não queríamos perder”. Atualmente, percebe-se que todo esse investimento e tempo gastos não valeram muito a pena e o resul- tado nesses locais poderia ter sido melhor.

De qualquer forma, houve uma expansão de experiências sem a utiliza- ção de queimadas e venenos nas comunidades. Muitas pessoas que chama- vam o grupo de Grupo dos doidos hoje estão produzindo com métodos mais ecológicos. Além disso, muitos experimentadores e experimentadoras que estavam desde o início no grupo, ou expandiram seus experimentos para os quintais, ou deixaram de experimentar para começar a implementar a Agroecologia em toda a propriedade. Mesmo aqueles que abandonaram os experimentos têm até hoje um grande carinho e sentimento por eles, pois foi com eles que aprenderam muitas coisas.

Cabe destacar que não havia disputas políticas e individuais dentro do grupo, até porque não era um grupo formalizado, com cargos a serem dis- putados. Houve época em que tentaram criar uma coordenação formada por três pessoas, mas nunca deu certo. Como uma agricultora do grupo disse: “O AEMSAS não tem dono”. Criou-se uma forma de cada pessoa ser responsável pelo experimento da outra, tornando todos responsáveis pelo conjunto de experimentos.

Uma conseqüência do trabalho do AEMSAS foi a criação da Cooperativa Regional de Economia Solidária da Agricultura Familiar Agroecológica (Cresafa), voltada para a venda da produção dos experimentos que se ex- pandiram e que hoje está em processo de abertura de um ponto de comercialização na cidade de Governador Valadares (MG).

Por fim, essa experiência do Grupo AEMSAS foi importante para o cres- cimento da entidade no que se refere à construção do conhecimento agroecológico, tornando-a uma referência no Vale do Rio Doce e abrindo

Antes da implantação do experimento no Assenta- mento Barro Azul / 4 anos depois.

caminho para a participação em outros espaços de articulação e construção do conhecimento em nível estadual.

Bibliografia

ESPINDOLA, H. S. Sertão do Rio Doce. Bauru: EDUSC, 2005. 488 p. (Coleção História).

CAT-GV. Relatório do II Seminário do AEMSAS: Comunidade de Santa Terezinha, Sobrália, MG, 2002.

CAT-GV. Relatório do III Seminário do AEMSAS, Assentamento Barro Azul, Governador Valadares, MG, 2003.

CAT-GV. Relatórios das Reuniões do Grupo AEMSAS, [s.l.], [20_ _].

FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Ja- neiro: Editora Nova Fronteira, 1986.

1Engenheiro agrônomo e técnico do CAT-GV 2Bióloga e assessora do CAT-GV

3Estudante de agronomia da Universidade Vale do Rio Doce (Univale) e estagiário

do CAT-GV

4No momento de sua fundação, o CAT se chamava Centro de Assistência Técnica,

mas a partir de 2002 passou a se chamar Centro Agroecológico Tamanduá. Essa mudança reflete a evolução das abordagens metodológicas utilizadas, principal- mente no que diz respeito à construção do conhecimento agroecológico e à forma de assistência técnica na região.

5O grupo chegou a ser rotulado como Grupo dos Doidos por pessoas que não

acreditavam nos sistemas alternativos (agroecológicos).

6Palavra do tupi: pênis de pato. Erva da família das rubiáceas de longas raízes

grossas e nodulosas, que fornece a emetina. O seu extrativismo e comércio foram os principais fatores de devassamento da região do Rio Doce.

7Esse fato fez com que se utilizasse formicida na implantação de um dos experi-

mentos, e mais tarde plantas repelentes e /ou atrativas para o controle.

8Áreas onde eram realizados os experimentos.

9Os experimentadores são considerados monitores nos momentos da difusão de