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O produtor que recebe apoio da APA deve retribuir esse apoio à organi- zação. Para isso foram definidos alguns mecanismos. No caso da apicultu- ra, as caixas de abelha são repassadas pela APA aos produtores, que pagam o valor correspondente em produto (mel). Para o repasse de mudas de pupunha, as regras passaram por mudanças nos últimos anos. Inicialmen- te, a cada quatro mudas recebidas da APA, o produtor deveria restituir uma muda. Como essa experiência de devolução não funcionou, a partir do ano de 2002 a regra mudou. Desde então, cada produtor beneficiado devolve, em hastes de palmito (palmito bruto), o correspondente a 25% do total de mudas recebidas, e logo no primeiro corte de palmito. Exemplo: se o pro- dutor recebeu mil mudas, no primeiro corte de palmito que for realizado na sua plantação ele devolverá 250 hastes para a APA.

“Esses 25% de palmito, ou a produção de mel devolvida como pagamento à APA, são revertidos para os associados na forma de cursos de capacitação, de mudas e caixas para novos produtores, de construções da APA, de manutenção de veículos. Enfim, fica dentro da associação mesma” (Edvaldo).

6. Conclusão: questões para refletir

Podemos aprender com a experiência da APA o quanto é importante ter núcleos de agricultores-experimentadores servindo de base para uma pro- posta ampla de disseminação horizontal. É da relação estabelecida entre o agricultor e o agricultor-experimentador que nasce a confiança de que é possível estabelecer um novo sistema produtivo.

Outra questão de grande importância diz respeito ao equilíbrio entre o que se produz e a capacidade de consumo. Ao fornecer produtos de inte- resse do mercado externo, essa relação agricultor e mercado pode propici- ar entrada de outras rendas para a família agricultora, possibilitando tanto

o fortalecimento da sua economia quanto a própria sustentabilidade dos SAFs. Entretanto, exige-se que o produtor e suas formas organi- zativas se capacitem na apropriação de todos os mecanismos da cadeia produtiva – o que não necessaria- mente quer dizer que o produtor ou seu grupo tenha que executar todas as etapas dessa cadeia – para que possam, de forma planejada, traçar o que querem e conseguir realizar o que se espera e se atribui ao merca- do. Claro que aqui se aplica o alerta em tomar cuidados para não ficar refém do mercado.

Percebeu-se ainda que, para iniciar ou mesmo ampliar a proposta, foi necessário contar com parcerias e recursos externos. Os apoios consegui- dos via financiamentos governamentais e não-governamentais indicam que as famílias agricultoras não conseguiriam realizar tais sistemas produtivos empregando apenas os recursos próprios. Mais uma razão para reconhecer que estabelecer parcerias e integrar redes de apoio consistem em elemen- tos-chave para o avanço da proposta.

Embora possamos aprender que o forte da experiência da APA está na relação entre o produtor e o produtor-técnico, eles mesmos não negam, pelo contrário, valorizam o contato com profissionais e instituições de pes- quisa e capacitação cuja metodologia fortalece localmente o aprendizado de novas técnicas, mas que também aprendem com a realidade local para aprimorar essas mesmas técnicas.

Por fim, podemos dizer que a experiência de sistemas agroflorestais, que combina uma variedade de espécies vegetais numa lógica de recupera- ção, introdução de outras para fins de mercado e ainda para o consumo familiar, se contrapõe aos modelos oficiais do agronegócio, da monocultura, dos grandes projetos ditos como de desenvolvimento, mas que só têm ex- pulsado famílias agricultoras do campo e devastado o meio ambiente.

Os dirigentes da APA, aqueles mesmos que foram chamados de loucos, falam com emoção de como a experiência idealizada e em curso leva ao fortalecimento dos produtores enquanto cidadãos. Eles buscaram romper com o (pré)conceito da sociedade e dos governos que os viam como coita-

1Pedagoga, mestre em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável. 2Para saber mais, vide Diagnóstico de Experiências em Sistemas Agroflorestais, 2003. 3O Proambiente, política pública denominada Programa de Desenvolvimento

Socioambiental da Produção Familiar Rural, do Ministério do Meio Ambiente, foi originalmente proposta para a Amazônia por organizações do movimento social e entidades de pesquisa. O pólo do Proambiente na região de Ouro Preto tem a APA como entidade executora e envolve 355 famílias, cujos sistemas de produção estão sendo diagnosticados e analisados para posteriormente receber investi- mentos.

dinhos. Mostraram que, tendo acesso a recursos financeiros, tecnológicos e

ambientais, o agricultor familiar tem capacidade para definir o que é a sua pobreza e como quer superá-la.

1. Introdução

A Associação de Apoio às Comunidades Carentes (Apacc) é uma organi- zação não-governamental fundada em 1994 no município de Belém (PA). A partir de 2000, passou a atuar na região Tocantina do estado, desenvol- vendo ações de assessoria técnica, inicialmente no município de Cametá e, recentemente, em Limoeiro do Ajurú e Oeiras do Pará. Sua missão institucional é “estimular e apoiar as reflexões e iniciativas da população de baixa renda que

visem à melhoria de suas condições de vida e o pleno exercício de sua cidada- nia, na perspectiva de construção de uma sociedade justa e democrática”.

Naquele ano, a Apacc iniciou, em parceria com o sindicato dos traba- lhadores e trabalhadoras rurais (STTR) do município de Cametá, o Progra- ma de Formação de Agricultores e Agricultoras Multiplicadores(as) de Co- nhecimentos Agroecológicos, abrangendo diversas temáticas do conheci- mento agroecológico e da área de saúde preventiva. O programa começou com a formação de cerca de mil agricultores(as) divididos em diversos gru- pos de famílias do município de Cametá. A partir de 2003, houve a expan- são do programa para os demais municípios, envolvendo mais 400 agricultores(as).

Para a Apacc, o objetivo da assessoria técnica não era difundir pacotes tecnológicos, e muito menos acompanhar e fiscalizar as operações de cré- dito agrícola financiadas pelos bancos, mas buscar construir o conheci- mento a partir do respeito aos saberes dos agricultores e agricultoras por meio da experimentação, planejamento, multiplicação e uso sustentável dos recursos naturais da região.

Este texto trará elementos de reflexão sobre a condução do programa que foram discutidos numa oficina de sistematização realizada em Cametá, em maio de 2006, envolvendo técnicos(as), agricultores(as) e pessoas de diversas organizações que participaram do desenvolvimento da iniciativa, tais como: a Apacc, o STTR, a Federação Regional dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri), a Associação de Micro-Credito de Cametá (ASMIC) e a Prefeitura Municipal de Cametá (PMC).