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Dimensão económica e de governança 

No documento Filamentos metropolitanos (páginas 83-95)

 Estrutura organizativa do documento 

1.1.  Filamentos metropolitanos: uma síntese multidimensional 

1.1.2.  Dimensão económica e de governança 

Os  processos  económicos  e  as  formas  de  governança  que  estão  associadas  à  formação  das  áreas  especializadas  constituem‐se,  igualmente,  como  factores  de  grande  importância  para  o  desenvolvimento  regional  e  a  sua  influência  sobre  o  território  faz‐se  sentir  através  de  políticas  económicas,  mas  também,  através  da  aplicação  da  espacialização  de  teorias  e  visões  económicas,  direta ou indiretamente. 

A importância da economia regional no ordenamento do território deriva, em parte, do crescimento  das  cidades  e  das  migrações  rurais,  assim  como  da  concentração  das  atividades  económicas  e  dos  desequilíbrios regionais daí resultantes. No âmbito desta investigação, a desmontagem dos padrões  de  localização  e  das  relações  que  os  espaços  ocupados  pelas  atividades  económicas  estabelecem  com as restantes camadas urbanas será interpretada multidisciplinarmente, sendo a económica mais  uma  das  suas  dimensões,  que  suporta  a  leitura  da  convergência  entre  os  modelos  e  teorias  económicas e o espaço. Assim, foca‐se, por um lado, a) a sua integração nas políticas nacionais, de  forma  a  conduzirem  a  existência,  localização  e  distribuição  da  ocupação  por  parte  das  atividades  económicas;  e,  por  outro  lado,  b)  o  processo  espontâneo  de  instalação  por  parte  das  diferentes  empresas,  com  base  nas  relações  que  estabelecem  entre  si  e  com  o  mercado,  cuja  regulação  e  planeamento urbanístico foi realizada à posteriori. 

Apesar  do  elemento  espaço  não  se  encontrar  presente  na  análise  económica  tradicional,  que  se  fundamenta num mundo estático e sem dimensões, e onde o factor tempo é a variável essencial, o  ramo  da  economia  regional  encara  o  território  não  apenas  como  um  suporte  físico  das  atividades  económicas, mas também como fruto das relações sociais que o compõem, nas quais se enquadra a 

50 |  FILAMENTOS METROPOLITANOS. A emergência de morfologias especializadas no território metropolitano de Lisboa  economia. Desde o século XIX que a forma de distribuição das atividades económicas de produção e  de  consumo  tem  vindo  a  assumir‐se  como  tema  de  reflexões  e  teorias,  integrando  as  questões  espaciais.  No  entanto,  a  concepção  de  espaço  foi  evoluindo  ao  longo  do  tempo  e  das  diferentes  abordagens, desde o espaço abstracto, contínuo e homogéneo presente nas teorias de localização,  ao  espaço  abstracto  e  discreto,  dividido  em  regiões  –  áreas  de  dimensões  físicas  consideradas  internamente  uniformes  e  sintetizáveis  em  vectores  de  características  de  natureza  social,  demográfica e económica (CAPELLO, 2006). O território deixou, então, de ser um elemento externo à  atividade económica, passando a estar integrado no conjunto de relações que nele se materializam  (MATTEO, 2011).  

No  contexto  Europeu  atual,  a  economia  regional  procura  traçar  estratégias  de  resposta  às  transformações que decorrem da mudança de paradigma de  uma sociedade  estruturada  com base  num modelo fordista, para uma organização assente no conhecimento e na sua difusão e aplicação.  No entanto, não existe  uma abordagem teórica única, mas antes um conjunto vasto de visões que  tentaram capturar a complexidade dos fenómenos económicos no espaço físico, ao longo do tempo.  Uma sistematização da produção teórica em economia regional (CAPELLO, 2006, FRIEDMAN, [et al.],  1965[1964], MONASTÉRIO, [et al.], 2011) revela a importância da localização, distribuição e relação  entre as atividades económicas, refletindo as transformações do contexto histórico, social e urbano.  Desta  forma,  a  produção  teórica  a  partir  do  século  XIX  poderá  ser  sinteticamente  dividida  em  três  grandes  grupos:  o  conjunto  das  teorias  de  localização,  que  se  estende  desde  o  século  XIX  até  à  primeira  metade  do  século  XX;  o  conjunto  de  visões  que  constitui  o  modelo  funcionalista,  cuja  produção  se  concentrou  entre  os  anos  40  e  60;  e  a  produção  teórica  mais  recente,  que  explora  o 

modelo territorialista, como resposta à crise do fordismo e à globalização. 

Como teorias de localização entende‐se um conjunto de visões que derivaram do trabalho pioneiro  de  Johann  Heinrich  Von  Thünen49  (THÜNEN,  1966[1826]),  evoluindo  com  os  trabalhos  de  Alfred  Weber50  (WEBER,  1957[1909]),  Walter  Christaller51  (CHRISTALLER,  1966[1933])  e  Auguste  Lösch52        

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 Em 1826, Von Thünen, apresentou um modelo teórico que explica a organização espacial de uma cidade inserida numa  região  agrícola,  através  das  causas  que  originam  as  diferenças  de  utilização  da  terra  cultivável,  estabelecendo  relações  entre  o  mercado,  a  produção  e  a  distância  entre  os  dois.  Como  ponto  de  partida,  assumiu  que  os  produtos  agrícolas  transaccionados seriam idênticos e tomou como o parâmetro a para definição da forma a distância da propriedade agrícola  em  relação  ao  centro,  uma  vez  que  iria  influenciar  os  custos  de  transporte  e  beneficiar  os  agricultores  localizados  na  proximidade da cidade. Assim, o custo relativo do transporte dos produtos agrícolas determinaria o uso do solo em volta da  cidade,  organizado  em  círculos  concêntricos  (anéis),  dedicados  ao  cultivo  de  produtos  com  custos  de  transporte  inversamente proporcionais à sua distância ao centro.  50  Weber desenvolveu a teoria de localização das indústrias, relacionando o custo de transporte, o custo da mão‐de‐obra e  o factor local decorrente das economias de aglomeração.   51  Christaller aplicou as ideias desenvolvidas por Von Thünen e Weber ao espaço urbano, relacionando o comportamento  do  mercado  com  a  dimensão  e  distribuição  das  cidades  –  a  Teoria  dos  Lugares  Centrais.  Com  base  neste  modelo,  seria  possível  estabelecer  uma  hierarquia  dos  lugares,  definida  a  partir  da  oferta  de  bens  e  serviços  presentes  em  cada  um,  formulada com base numa relação matemática cuja correspondência geométrica gera formas hexagonais, que delimitam as  áreas de influência dos vários lugares, articulados entre si por relações de dependência. Para a esta distribuição dos lugares  centrais  concorrem  o  princípio  de  mercado  (minimização  do  número  de  centros),  o  princípio  de  transporte  (minimização  das  distâncias  entre  os  centros)  e  o  princípio  administrativo  (minimização  do  número  de  centros  de  ordem  superior  que  administram os de ordem inferior). 

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  Lösch  introduziu  no  seu  modelo  os  mecanismos  de  mercado  e  uma  hierarquia  flexível  entre  os  pontos  de  oferta,  com  vista à identificação do lugar de lucro máximo. Apesar das grandes semelhanças de hierarquia urbana que apresenta com o 

FILAMENTOS METROPOLITANOS. A emergência de morfologias especializadas no território metropolitano de Lisboa  | 51  (LÖSCH, 1978 [1954]). Em 1956, Walter Isard53 publicou Location and Space Economy (ISARD, 1956),  que  permitiu  ampliar  a  discussão  ao  mundo  anglo‐saxónico54  e  despertar  a  necessidade  de  incorporar  novas  disciplinas  à  análise  económica  tradicional,  propondo  uma  linha  de  pensamento  que designou como Ciência Regional (Regional Science). Até aos anos 50, esta produção teórica em  torno das questões do desenvolvimento regional centrou‐se no estudo dos factores que determinam  a  localização  e  organização  espacial  das  atividades  económicas,  assim  como  na  identificação  dos  factores  de  crescimento  regional.  Por  se  formalizarem  rigorosamente  em  termos  de  espaço  euclidiano,  estes  modelos  e  visões  não  são  assimiláveis  como  modelos  de  ciência  física,  mas  antes  como modelos teóricos. No entanto, revelaram‐se instrumentos de extrema utilidade para descrever  certas  realidades  regionais,  com  referência  a  teorias  normativas.  Nestes  casos,  as  propriedades  do  espaço  físico  geográfico  são  introduzidas  sobretudo  para  representar  de  forma  traduzida  as  propriedades  dos  fenómenos  económicos,  sociais,  culturais,  com  o  objectivo  de  descrever  manifestações concretas (DEMATTEIS, 1995). 

A  partir  da  década  de  50,  a  par  com  o  crescimento  industrial  fordista,  verificou‐se  um  direcionamento das teorias de desenvolvimento regional para os mecanismos de reforço resultantes  das externalidades associadas à aglomeração industrial. As teorias funcionalistas de desenvolvimento  (FRIEDMAN,  [et  al.],  1980)  basearam‐se  num  modelo  impulsionado  por  um  determinado  sector  de  atividade económica e a partir de uma localização específica, difundindo‐se posteriormente a outros  sectores  e  localizações.  Contrariamente  às  teorias  de  localização,  o  desenvolvimento  não  se  apresentaria homogeneamente distribuído no espaço, mas através da existência de aglomerações de  atividades que dariam origem a grandes desequilíbrios territoriais. Estes fundamentos estiveram na  base dos modelos desenvolvidos por diversos autores, que convergiram na abordagem às questões  espaciais através do recurso a regiões e países, como são exemplo os trabalhos de François Perroux  (PERROUX, 1955), Gunnar Myrdal55 (MYRDAL, 1972[1957]), Albert Hirschman56 (HIRSCHMAN, 1958)         modelo  de  Christaller,  o  contributo  deste  autor  parte  de  pressupostos  microeconómicos  que  explicam  a  concentração  espacial  da  produção,  apresentando  um  sistema  de  equilíbrio  geral.  Desta  forma,  a  distribuição  espacial  ideal  surge  da  interação e concorrência entre as diferentes indústrias, na busca das suas localizações óptimas, e tendo em conta a procura  e a área de influência dos produtos, assim como as distâncias e os custos de transporte.  

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 Isard introduziu na Teoria de Localização  o conceito de transporte como o  custo dos recursos necessários para que as  mercadorias  se  desloquem  no  espaço  e  superem  distâncias  e  as  taxas  de  transporte  como  o  preço  dessa  deslocação,  aplicado tanto ao abastecimento de matérias‐primas como para a distribuição dos produtos finais. 

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 Uma vez que os autores que o precederam pertenciam ao universo Germânico e a sua obra escrita na língua alemã, a  difusão dos seus trabalhos no mundo Anglo‐Saxónico tinha sido reduzida até esse momento. 

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  A  constatação  dos  crescentes  desequilíbrios  entre  as  economias  regionais  e  nacionais  decorrentes  das  aglomerações  industriais  conduziu  Myrdal  a  analisar  os  processos  e  as  relações  estabelecidas  entre  espaços  com  níveis  de  desenvolvimento  desiguais.  A  sua  teoria  da  causalidade  cumulativa  explica  que  os  sistemas  sociais  e  económicos  não  tendem  a  evoluir  para  um  equilíbrio,  mas,  pelo  contrário  tendem  a  acumular  ciclos  de  factores  positivos  e  negativos,  gerando um crescente fosso entre regiões mais desfavorecidas, orientadas para a produção de bens primários, e as regiões  ricas  industrializadas,  que  tirariam  partido  das  economias  de  escala.  Apesar  da  inexistência  de  um  modelo  formal,  a  argumentação baseia‐se no relato de uma trajetória provável de desenvolvimento regional e na ideia de que a pobreza gera  mais pobreza.  56  Igualmente focado nas desigualdades criadas pela aglomeração industrial, Hirschman defendeu que o crescimento seria  alcançado por meio de uma sequência de desajustes, destacando a importância dos desequilíbrios para o desenvolvimento  territorial e para o estabelecimento de complementaridades entre regiões. Desta forma, o crescimento resultaria do saldo  entre  os  efeitos  positivos  (forward  linkages)  gerados  pela  aglomeração  industrial  dos  polos  de  crescimento  –  criação  e  melhoria das redes infraestruturais, aumento do emprego e dos salários, melhorias no sistema de ensino e formação – e os 

52 |  FILAMENTOS METROPOLITANOS. A emergência de morfologias especializadas no território metropolitano de Lisboa  ou Douglass North57 (NORTH, 1955), associados ao período de crescimento da produção em massa,  cujos efeitos territoriais estão ainda presentes nos países industrializados. 

Baseado  no  trabalho  de  Joseph  Schumpeter  (SCHUMPETER,  1968[1911])  a  respeito  do  papel  desempenhado  pelas  inovações  na  dinâmica  capitalista,  Perroux  (PERROUX,  1955)  desenvolveu  a  teoria dos polos de crescimento. Este modelo assumiu uma grande presença nas políticas económicas  e  de  desenvolvimento  regional  dos  países  Europeus,  a  partir  dos  anos  50,  dando  origem  a  aglomerações  industriais,  desenvolvidas  em  torno  de  indústrias‐âncora.  Os  polos  de  crescimento  estruturam‐se a partir do dinamismo industrial de empresas com elevado grau de inovação, que para  além do seu contributo para o crescimento global da produção, influenciam igualmente o contexto  em que se inserem ao induzirem o processo de inovação e as relações sinérgicas com as indústrias  secundárias, e desta forma, causam significativos impactes sobre o desenvolvimento local e regional.  Em  termos  espaciais,  os  polos  de  crescimento  conduzem  a  efeitos  de  aglomeração  industrial  e  de  atividades  complementares,  assim  como  fomentam  a  ligação  entre  os  diferentes  polos,  através  de  melhoria das redes infraestruturais. 

No  entanto,  apesar  da  sua  difusão  e  integração  nas  políticas  económicas,  a  teoria  dos  polos  de 

crescimento  revelou‐se  pouco  consensual,  tendo  surgido  variadas  resistências  à  sua  concretização, 

assim como críticas aos desequilíbrios e desigualdades regionais gerados pela aglomeração industrial  proposta. A partir dos anos 70, as críticas adensaram‐se, pois ao ser concebida para uma lógica de  produção  em  massa,  começava  a  apresentar  sinais  de  desadequação  face  às  transformações  produtivas no contexto Europeu e Norte‐americano. 

Como  resposta  à  crise  do  sector  industrial  emergiu,  então,  uma  postura  descentralizada  de  desenvolvimento, assente nas capacidades endógenas (materiais ou humanas) de cada território – as 

teorias territorialistas de desenvolvimento. Através da promoção da constante capacidade colectiva 

de inovação e de diálogo entre os recursos internos e externos de determinada região, seria possível  a  criação  de  novas  situações  de  manutenção  da  dinâmica  do  sistema  social,  político,  económico  e  ambiental.  Estas  múltiplas  e  diferentes  abordagens  poderão  ser  divididas  em  três  linhas  de  pensamento  dominantes  (STORPER,  1997),  a)  associadas  à  introdução  de  novas  tecnologias,  presentes  no  conceito  de  cluster58  (PORTER,  1998),  nos  distritos  industriais  italianos  (BAGNASCO, 

       efeitos negativos (backward linkages) gerados pelo aumento da procura de mão‐de‐obra e matérias‐primas – migrações da  população, subida de preços e, no limite, esgotamento dos recursos. 

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  North  apresentou  a  teoria  da  base  exportadora,  que  analisa  a  relação  entre  as  teorias  de  localização  e  o  crescimento  económico  regional.  Este  modelo  tem  como  objectivo  explicar  o  desenvolvimento  regional  como  um  processo  que  tem  origem a partir de um impulso externo à região, que consiste na procura dos seus produtos por outras regiões ou países.  Neste  aspecto,  as  exportações  entram  como  o  elemento  determinante  do  crescimento,  que  baseado  em  factores  de  localização específicos associados à existência de recursos e aos custos de transferência e processamento, o que justifica o  aparecimento  de  polos  de  distribuição  e  cidades  como  pontos  de  aglomeração  industrial  e  de  serviços  associados  ao  produto de exportação. 

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 Porter definiu o conceito de clusters como uma concentração espacial de empresas de um sector de atividade específico  e  de  instituições  que  se  relacionam  com  essas  empresas,  direta  ou  indiretamente.  Desta  forma,  direcionam‐se  para  o  mercado  exterior,  apostando  na  competitividade  através  da  articulação  entre  as  diversas  unidades  industriais,  com  o  contexto macroeconómico e infraestrutural e com as instituições públicas e privadas, tais como universidades ou institutos  de  investigação,  de  forma  a  criar  um  fluxo  de  inovação,  e  simultaneamente  fomentar  relações  entre  a  indústria  e  os  agentes locais, de forma a melhorar a adaptação às transformações do mercado. 

FILAMENTOS METROPOLITANOS. A emergência de morfologias especializadas no território metropolitano de Lisboa  | 53  1984[1977], BECATTINI, 1989, BRUSCO, 1990) ou no conceito de especialização flexível59 (PIORE, [et 

al.], 1984); b) associada à organização produtiva alternativa presente no conceito de cidade‐região60 

(SCOTT,  A.  (ED.),  2002,  SCOTT,  [et  al.],  2003);  e  c)  associada  ao  território,  presente  nas  visões  que  privilegiam o papel da inovação e das tecnologias em áreas concentradas que fomentam a produção  e  transferência  de  conhecimento  entre  empresas  e  pessoas,  como  os  meios  inovadores  (AYDALOT,  1986, MAILLAT, [et al.], 1993), as regiões de aprendizagem (ASHEIM, 1996, FLORIDA, 1995, HUDSON,  1999) ou os tecnopolos61 (CASTELLS, [et al.], 1994). 

Para  além  do  ajuste  ao  novo  modelo  económico  pós‐fordista,  a  globalização  veio  introduzir  novos  desafios  às  economias  regionais,  uma  vez  que  assenta  na  expansão  de  fluxos  diretos  de  bens  (tecnologia, equipamentos, produtos) e capitais (ativos reais e financeiros) para além das fronteiras  nacionais, através de redes e fluxos globais. Assim, os atores dominantes na nova economia em rede  passaram  a  ser  as  empresas  multinacionais  e  instituições  financeiras,  e  os  fluxos  de  recursos  dominantes  estão  dentro  das  suas  redes  e  não  entre  firmas  e  instituições  locais,  mercados  ou  estados  nacionais  (STORPER,  1997).  A  economia  globalizada,  resultado  da  mudança  de  escala  e  da  formação do mercado global, livre dos limites nacionais, deu origem à criação de redes de relações e  trocas  transnacionais,  em  que  algumas  cidades  e  áreas  metropolitanas  se  assumiram  como  nós  da  economia  mundial,  reestruturando‐se  como  centros  terciários  –  as  cidades  mundiais  ou  cidades 

globais (HALL, 1966[1984], SASSEN, 1991). A forma como as economias dos países Europeus e Norte 

Americanos  responderam  a  este  desafio  foi  a  viragem  para  a  inovação  e  para  a  produção  de  conhecimento,  procurando  colmatar  a  desindustrialização  e  a  deslocação  da  produção  em  massa  para o Oriente, apoiados na redução dos custos de transporte, no valor dos salários e disponibilidade  de mão‐de‐obra. 

O fundamento das teorias de economia regional permanece presente em Portugal (ROQUE AMARO,  1991)  e,  em  concreto,  no  processo  de  formação  dos  filamentos  metropolitanos  do  território  metropolitano  de  Lisboa,  através  da  convergência  entre  a  evolução  das  visões  das  teorias        

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  O  conceito  de  distrito  industrial  está  originalmente  associado  a  Bagnasco  e  aos  seus  estudos  acerca  da  terceira  Itália  (como alternativa ao dualismo norte‐sul Italiano) e à emergente especialização regional, desenvolvidos posteriormente por  variados autores que focam a característica comum da existência de especificidades locais, de laços sociais, históricos e de  conhecimento únicos, que distinguem cada um destes distritos industriais. 

Baseados  nos  estudos  acerca  dos  distritos  industriais  italianos,  Piore  e  Sabel  desenvolveram  o  modelo  de  especialização 

flexível, como o sucessor da produção em massa, apoiado na busca por inovação e adaptação tecnológica. Uma das faces 

da  especialização  flexível  consiste  na  aglomeração  regional  em  distritos  industriais,  entendidos  como  composições  homogéneas  de  empresas  de  pequeno  porte,  altamente  inovadoras,  que  funcionam  como  conjunto  económico,  social  e  político,  com  estreitas  relações  entre  as  diferentes  esferas.  O  seu  complexo  funcionamento  em  rede  estabelece  complementaridades  e  concorrência  entre  as  diferentes  empresas,  tirando  partido  da  especialização  local  associada  a  tecnologias adaptáveis e a mão‐de‐obra especializada, resultando numa região de grande dinamismo empresarial. 

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 A cidade‐região é caracterizada como uma superaglomeração, como um lugar privilegiado da nova ordem económica, ao  constituir‐se como um nó espacial da rede e um motor da economia global, formada por um mosaico de variadas cidades‐

região.  A  organização  industrial  e  do  mercado  de  trabalho  local,  aliada  ao  recurso  às  novas  tecnologias  produtivas  e  de 

telecomunicações,  permitem  a  redução  dos  custos  de  transporte,  o  aumento  das  trocas  de  informação  e  flexibilidade,  o  estímulo da criatividade e da inovação, a qualificação da força de trabalho e a expansão das oportunidades de negócios. 

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 Os meios inovadores, as regiões de aprendizagem ou tecnopolos têm como denominador comum a inovação e o fluxo de  conhecimento,  fomentados  pela  proximidade  e  concentração  espacial  entre  as  diferentes  instituições  ou  empresas,  no  contexto do modelo económico pós‐fordista. Assim, assumem‐se como contextos territoriais privilegiados no que respeita a  externalidades tecnológicas e de inovação, decorrentes da interação, interdependência e aprendizagem entre empresas, ao  integrarem redes de inovação através do contacto e mobilidade de funcionários e fornecedores.  

54 |  FILAMENTOS METROPOLITANOS. A emergência de morfologias especializadas no território metropolitano de Lisboa  económicas, as mudanças dos modelos produtivos e económicos e as transformações territoriais em  Lisboa, reforçando a necessidade de uma abordagem multidimensional às suas mudanças. 

Apesar  do  recurso  a  mecanismos  espaciais  distintos,  as  diversas  teorias  económicas  referidas  apresentam  uma  vertente  espacial  formalizada  em  questões  de  concentração,  distribuição  e  de  escala das unidades de produção. Desta forma, e embora as teorias de localização operassem num  espaço  homogéneo  e  abstracto,  distante  da  realidade  territorial,  lançaram  as  bases  para  a  introdução da componente material do espaço na discussão económica. Posteriormente, as teorias 

funcionalistas de desenvolvimento e, em particular, os polos de crescimento vieram moldar de forma 

decisiva  o  ordenamento  do  território  associado  ao  período  áureo  da  produção  em  massa  e  das  indústrias propulsoras de base, que influenciaram o crescimento das cidades e regiões, contribuíram  para  os  fluxos  migratórios  e  justificaram  o  aparecimento  dos  vastos  complexos  industriais,  atualmente em reestruturação ou abandono.  

O  modelo  dos  polos  de  crescimento  popularizou‐se  em  Portugal  nos  anos  1960  e  1970,  como  um  instrumento  de  política  industrial  que  permitia  ao  Estado  definir  e  contribuir  para  o  processo  económico (PATRICIO, 1991). A partir da década de 1980, os modelos económicos que assentavam  nos aspectos exógenos à região foram substituídos por uma abordagem mais contextualizada que se  centrava nas suas características particulares, que se constituem como o centro da competitividade  regional.  Com  a  viragem  do  modelo  económico,  e  face  ao  fenómeno  da  globalização,  a  ênfase  centrou‐se  no  desenvolvimento  endógeno  das  regiões,  através  de  projetos  descentralizados  de  desenvolvimento à escala local e regional. No caso da especialização flexível, da aposta em distritos 

industriais,  clusters,  meios  inovadores  ou  tecnopolos,  o  principal  recurso  tornou‐se  a  inovação  e  a 

alta  tecnologia,  com  vista  ao  consumo  diversificado  e  ao  posicionamento  no  mercado  externo.  As  pequenas empresas assumem um papel central neste processo e sua localização, graças à crescente  flexibilidade introduzida pelos avanços na tecnologia de informação, está livre das fortes hierarquias  espaciais que caracterizaram o modelo fordista, com menores impactes territoriais e com uma maior  aproximação às dinâmicas urbanas existentes.  Em termos formais, estas visões deram origem ao aparecimento de novos espaços de concentração  empresarial de alto teor tecnológico, de características distintas dos distritos industriais ou polos de 

No documento Filamentos metropolitanos (páginas 83-95)