Estrutura organizativa do documento
1.1. Filamentos metropolitanos: uma síntese multidimensional
1.1.2. Dimensão económica e de governança
Os processos económicos e as formas de governança que estão associadas à formação das áreas especializadas constituem‐se, igualmente, como factores de grande importância para o desenvolvimento regional e a sua influência sobre o território faz‐se sentir através de políticas económicas, mas também, através da aplicação da espacialização de teorias e visões económicas, direta ou indiretamente.
A importância da economia regional no ordenamento do território deriva, em parte, do crescimento das cidades e das migrações rurais, assim como da concentração das atividades económicas e dos desequilíbrios regionais daí resultantes. No âmbito desta investigação, a desmontagem dos padrões de localização e das relações que os espaços ocupados pelas atividades económicas estabelecem com as restantes camadas urbanas será interpretada multidisciplinarmente, sendo a económica mais uma das suas dimensões, que suporta a leitura da convergência entre os modelos e teorias económicas e o espaço. Assim, foca‐se, por um lado, a) a sua integração nas políticas nacionais, de forma a conduzirem a existência, localização e distribuição da ocupação por parte das atividades económicas; e, por outro lado, b) o processo espontâneo de instalação por parte das diferentes empresas, com base nas relações que estabelecem entre si e com o mercado, cuja regulação e planeamento urbanístico foi realizada à posteriori.
Apesar do elemento espaço não se encontrar presente na análise económica tradicional, que se fundamenta num mundo estático e sem dimensões, e onde o factor tempo é a variável essencial, o ramo da economia regional encara o território não apenas como um suporte físico das atividades económicas, mas também como fruto das relações sociais que o compõem, nas quais se enquadra a
50 | FILAMENTOS METROPOLITANOS. A emergência de morfologias especializadas no território metropolitano de Lisboa economia. Desde o século XIX que a forma de distribuição das atividades económicas de produção e de consumo tem vindo a assumir‐se como tema de reflexões e teorias, integrando as questões espaciais. No entanto, a concepção de espaço foi evoluindo ao longo do tempo e das diferentes abordagens, desde o espaço abstracto, contínuo e homogéneo presente nas teorias de localização, ao espaço abstracto e discreto, dividido em regiões – áreas de dimensões físicas consideradas internamente uniformes e sintetizáveis em vectores de características de natureza social, demográfica e económica (CAPELLO, 2006). O território deixou, então, de ser um elemento externo à atividade económica, passando a estar integrado no conjunto de relações que nele se materializam (MATTEO, 2011).
No contexto Europeu atual, a economia regional procura traçar estratégias de resposta às transformações que decorrem da mudança de paradigma de uma sociedade estruturada com base num modelo fordista, para uma organização assente no conhecimento e na sua difusão e aplicação. No entanto, não existe uma abordagem teórica única, mas antes um conjunto vasto de visões que tentaram capturar a complexidade dos fenómenos económicos no espaço físico, ao longo do tempo. Uma sistematização da produção teórica em economia regional (CAPELLO, 2006, FRIEDMAN, [et al.], 1965[1964], MONASTÉRIO, [et al.], 2011) revela a importância da localização, distribuição e relação entre as atividades económicas, refletindo as transformações do contexto histórico, social e urbano. Desta forma, a produção teórica a partir do século XIX poderá ser sinteticamente dividida em três grandes grupos: o conjunto das teorias de localização, que se estende desde o século XIX até à primeira metade do século XX; o conjunto de visões que constitui o modelo funcionalista, cuja produção se concentrou entre os anos 40 e 60; e a produção teórica mais recente, que explora o
modelo territorialista, como resposta à crise do fordismo e à globalização.
Como teorias de localização entende‐se um conjunto de visões que derivaram do trabalho pioneiro de Johann Heinrich Von Thünen49 (THÜNEN, 1966[1826]), evoluindo com os trabalhos de Alfred Weber50 (WEBER, 1957[1909]), Walter Christaller51 (CHRISTALLER, 1966[1933]) e Auguste Lösch52
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Em 1826, Von Thünen, apresentou um modelo teórico que explica a organização espacial de uma cidade inserida numa região agrícola, através das causas que originam as diferenças de utilização da terra cultivável, estabelecendo relações entre o mercado, a produção e a distância entre os dois. Como ponto de partida, assumiu que os produtos agrícolas transaccionados seriam idênticos e tomou como o parâmetro a para definição da forma a distância da propriedade agrícola em relação ao centro, uma vez que iria influenciar os custos de transporte e beneficiar os agricultores localizados na proximidade da cidade. Assim, o custo relativo do transporte dos produtos agrícolas determinaria o uso do solo em volta da cidade, organizado em círculos concêntricos (anéis), dedicados ao cultivo de produtos com custos de transporte inversamente proporcionais à sua distância ao centro. 50 Weber desenvolveu a teoria de localização das indústrias, relacionando o custo de transporte, o custo da mão‐de‐obra e o factor local decorrente das economias de aglomeração. 51 Christaller aplicou as ideias desenvolvidas por Von Thünen e Weber ao espaço urbano, relacionando o comportamento do mercado com a dimensão e distribuição das cidades – a Teoria dos Lugares Centrais. Com base neste modelo, seria possível estabelecer uma hierarquia dos lugares, definida a partir da oferta de bens e serviços presentes em cada um, formulada com base numa relação matemática cuja correspondência geométrica gera formas hexagonais, que delimitam as áreas de influência dos vários lugares, articulados entre si por relações de dependência. Para a esta distribuição dos lugares centrais concorrem o princípio de mercado (minimização do número de centros), o princípio de transporte (minimização das distâncias entre os centros) e o princípio administrativo (minimização do número de centros de ordem superior que administram os de ordem inferior).
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Lösch introduziu no seu modelo os mecanismos de mercado e uma hierarquia flexível entre os pontos de oferta, com vista à identificação do lugar de lucro máximo. Apesar das grandes semelhanças de hierarquia urbana que apresenta com o
FILAMENTOS METROPOLITANOS. A emergência de morfologias especializadas no território metropolitano de Lisboa | 51 (LÖSCH, 1978 [1954]). Em 1956, Walter Isard53 publicou Location and Space Economy (ISARD, 1956), que permitiu ampliar a discussão ao mundo anglo‐saxónico54 e despertar a necessidade de incorporar novas disciplinas à análise económica tradicional, propondo uma linha de pensamento que designou como Ciência Regional (Regional Science). Até aos anos 50, esta produção teórica em torno das questões do desenvolvimento regional centrou‐se no estudo dos factores que determinam a localização e organização espacial das atividades económicas, assim como na identificação dos factores de crescimento regional. Por se formalizarem rigorosamente em termos de espaço euclidiano, estes modelos e visões não são assimiláveis como modelos de ciência física, mas antes como modelos teóricos. No entanto, revelaram‐se instrumentos de extrema utilidade para descrever certas realidades regionais, com referência a teorias normativas. Nestes casos, as propriedades do espaço físico geográfico são introduzidas sobretudo para representar de forma traduzida as propriedades dos fenómenos económicos, sociais, culturais, com o objectivo de descrever manifestações concretas (DEMATTEIS, 1995).
A partir da década de 50, a par com o crescimento industrial fordista, verificou‐se um direcionamento das teorias de desenvolvimento regional para os mecanismos de reforço resultantes das externalidades associadas à aglomeração industrial. As teorias funcionalistas de desenvolvimento (FRIEDMAN, [et al.], 1980) basearam‐se num modelo impulsionado por um determinado sector de atividade económica e a partir de uma localização específica, difundindo‐se posteriormente a outros sectores e localizações. Contrariamente às teorias de localização, o desenvolvimento não se apresentaria homogeneamente distribuído no espaço, mas através da existência de aglomerações de atividades que dariam origem a grandes desequilíbrios territoriais. Estes fundamentos estiveram na base dos modelos desenvolvidos por diversos autores, que convergiram na abordagem às questões espaciais através do recurso a regiões e países, como são exemplo os trabalhos de François Perroux (PERROUX, 1955), Gunnar Myrdal55 (MYRDAL, 1972[1957]), Albert Hirschman56 (HIRSCHMAN, 1958) modelo de Christaller, o contributo deste autor parte de pressupostos microeconómicos que explicam a concentração espacial da produção, apresentando um sistema de equilíbrio geral. Desta forma, a distribuição espacial ideal surge da interação e concorrência entre as diferentes indústrias, na busca das suas localizações óptimas, e tendo em conta a procura e a área de influência dos produtos, assim como as distâncias e os custos de transporte.
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Isard introduziu na Teoria de Localização o conceito de transporte como o custo dos recursos necessários para que as mercadorias se desloquem no espaço e superem distâncias e as taxas de transporte como o preço dessa deslocação, aplicado tanto ao abastecimento de matérias‐primas como para a distribuição dos produtos finais.
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Uma vez que os autores que o precederam pertenciam ao universo Germânico e a sua obra escrita na língua alemã, a difusão dos seus trabalhos no mundo Anglo‐Saxónico tinha sido reduzida até esse momento.
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A constatação dos crescentes desequilíbrios entre as economias regionais e nacionais decorrentes das aglomerações industriais conduziu Myrdal a analisar os processos e as relações estabelecidas entre espaços com níveis de desenvolvimento desiguais. A sua teoria da causalidade cumulativa explica que os sistemas sociais e económicos não tendem a evoluir para um equilíbrio, mas, pelo contrário tendem a acumular ciclos de factores positivos e negativos, gerando um crescente fosso entre regiões mais desfavorecidas, orientadas para a produção de bens primários, e as regiões ricas industrializadas, que tirariam partido das economias de escala. Apesar da inexistência de um modelo formal, a argumentação baseia‐se no relato de uma trajetória provável de desenvolvimento regional e na ideia de que a pobreza gera mais pobreza. 56 Igualmente focado nas desigualdades criadas pela aglomeração industrial, Hirschman defendeu que o crescimento seria alcançado por meio de uma sequência de desajustes, destacando a importância dos desequilíbrios para o desenvolvimento territorial e para o estabelecimento de complementaridades entre regiões. Desta forma, o crescimento resultaria do saldo entre os efeitos positivos (forward linkages) gerados pela aglomeração industrial dos polos de crescimento – criação e melhoria das redes infraestruturais, aumento do emprego e dos salários, melhorias no sistema de ensino e formação – e os
52 | FILAMENTOS METROPOLITANOS. A emergência de morfologias especializadas no território metropolitano de Lisboa ou Douglass North57 (NORTH, 1955), associados ao período de crescimento da produção em massa, cujos efeitos territoriais estão ainda presentes nos países industrializados.
Baseado no trabalho de Joseph Schumpeter (SCHUMPETER, 1968[1911]) a respeito do papel desempenhado pelas inovações na dinâmica capitalista, Perroux (PERROUX, 1955) desenvolveu a teoria dos polos de crescimento. Este modelo assumiu uma grande presença nas políticas económicas e de desenvolvimento regional dos países Europeus, a partir dos anos 50, dando origem a aglomerações industriais, desenvolvidas em torno de indústrias‐âncora. Os polos de crescimento estruturam‐se a partir do dinamismo industrial de empresas com elevado grau de inovação, que para além do seu contributo para o crescimento global da produção, influenciam igualmente o contexto em que se inserem ao induzirem o processo de inovação e as relações sinérgicas com as indústrias secundárias, e desta forma, causam significativos impactes sobre o desenvolvimento local e regional. Em termos espaciais, os polos de crescimento conduzem a efeitos de aglomeração industrial e de atividades complementares, assim como fomentam a ligação entre os diferentes polos, através de melhoria das redes infraestruturais.
No entanto, apesar da sua difusão e integração nas políticas económicas, a teoria dos polos de
crescimento revelou‐se pouco consensual, tendo surgido variadas resistências à sua concretização,
assim como críticas aos desequilíbrios e desigualdades regionais gerados pela aglomeração industrial proposta. A partir dos anos 70, as críticas adensaram‐se, pois ao ser concebida para uma lógica de produção em massa, começava a apresentar sinais de desadequação face às transformações produtivas no contexto Europeu e Norte‐americano.
Como resposta à crise do sector industrial emergiu, então, uma postura descentralizada de desenvolvimento, assente nas capacidades endógenas (materiais ou humanas) de cada território – as
teorias territorialistas de desenvolvimento. Através da promoção da constante capacidade colectiva
de inovação e de diálogo entre os recursos internos e externos de determinada região, seria possível a criação de novas situações de manutenção da dinâmica do sistema social, político, económico e ambiental. Estas múltiplas e diferentes abordagens poderão ser divididas em três linhas de pensamento dominantes (STORPER, 1997), a) associadas à introdução de novas tecnologias, presentes no conceito de cluster58 (PORTER, 1998), nos distritos industriais italianos (BAGNASCO,
efeitos negativos (backward linkages) gerados pelo aumento da procura de mão‐de‐obra e matérias‐primas – migrações da população, subida de preços e, no limite, esgotamento dos recursos.
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North apresentou a teoria da base exportadora, que analisa a relação entre as teorias de localização e o crescimento económico regional. Este modelo tem como objectivo explicar o desenvolvimento regional como um processo que tem origem a partir de um impulso externo à região, que consiste na procura dos seus produtos por outras regiões ou países. Neste aspecto, as exportações entram como o elemento determinante do crescimento, que baseado em factores de localização específicos associados à existência de recursos e aos custos de transferência e processamento, o que justifica o aparecimento de polos de distribuição e cidades como pontos de aglomeração industrial e de serviços associados ao produto de exportação.
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Porter definiu o conceito de clusters como uma concentração espacial de empresas de um sector de atividade específico e de instituições que se relacionam com essas empresas, direta ou indiretamente. Desta forma, direcionam‐se para o mercado exterior, apostando na competitividade através da articulação entre as diversas unidades industriais, com o contexto macroeconómico e infraestrutural e com as instituições públicas e privadas, tais como universidades ou institutos de investigação, de forma a criar um fluxo de inovação, e simultaneamente fomentar relações entre a indústria e os agentes locais, de forma a melhorar a adaptação às transformações do mercado.
FILAMENTOS METROPOLITANOS. A emergência de morfologias especializadas no território metropolitano de Lisboa | 53 1984[1977], BECATTINI, 1989, BRUSCO, 1990) ou no conceito de especialização flexível59 (PIORE, [et
al.], 1984); b) associada à organização produtiva alternativa presente no conceito de cidade‐região60
(SCOTT, A. (ED.), 2002, SCOTT, [et al.], 2003); e c) associada ao território, presente nas visões que privilegiam o papel da inovação e das tecnologias em áreas concentradas que fomentam a produção e transferência de conhecimento entre empresas e pessoas, como os meios inovadores (AYDALOT, 1986, MAILLAT, [et al.], 1993), as regiões de aprendizagem (ASHEIM, 1996, FLORIDA, 1995, HUDSON, 1999) ou os tecnopolos61 (CASTELLS, [et al.], 1994).
Para além do ajuste ao novo modelo económico pós‐fordista, a globalização veio introduzir novos desafios às economias regionais, uma vez que assenta na expansão de fluxos diretos de bens (tecnologia, equipamentos, produtos) e capitais (ativos reais e financeiros) para além das fronteiras nacionais, através de redes e fluxos globais. Assim, os atores dominantes na nova economia em rede passaram a ser as empresas multinacionais e instituições financeiras, e os fluxos de recursos dominantes estão dentro das suas redes e não entre firmas e instituições locais, mercados ou estados nacionais (STORPER, 1997). A economia globalizada, resultado da mudança de escala e da formação do mercado global, livre dos limites nacionais, deu origem à criação de redes de relações e trocas transnacionais, em que algumas cidades e áreas metropolitanas se assumiram como nós da economia mundial, reestruturando‐se como centros terciários – as cidades mundiais ou cidades
globais (HALL, 1966[1984], SASSEN, 1991). A forma como as economias dos países Europeus e Norte
Americanos responderam a este desafio foi a viragem para a inovação e para a produção de conhecimento, procurando colmatar a desindustrialização e a deslocação da produção em massa para o Oriente, apoiados na redução dos custos de transporte, no valor dos salários e disponibilidade de mão‐de‐obra.
O fundamento das teorias de economia regional permanece presente em Portugal (ROQUE AMARO, 1991) e, em concreto, no processo de formação dos filamentos metropolitanos do território metropolitano de Lisboa, através da convergência entre a evolução das visões das teorias
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O conceito de distrito industrial está originalmente associado a Bagnasco e aos seus estudos acerca da terceira Itália (como alternativa ao dualismo norte‐sul Italiano) e à emergente especialização regional, desenvolvidos posteriormente por variados autores que focam a característica comum da existência de especificidades locais, de laços sociais, históricos e de conhecimento únicos, que distinguem cada um destes distritos industriais.
Baseados nos estudos acerca dos distritos industriais italianos, Piore e Sabel desenvolveram o modelo de especialização
flexível, como o sucessor da produção em massa, apoiado na busca por inovação e adaptação tecnológica. Uma das faces
da especialização flexível consiste na aglomeração regional em distritos industriais, entendidos como composições homogéneas de empresas de pequeno porte, altamente inovadoras, que funcionam como conjunto económico, social e político, com estreitas relações entre as diferentes esferas. O seu complexo funcionamento em rede estabelece complementaridades e concorrência entre as diferentes empresas, tirando partido da especialização local associada a tecnologias adaptáveis e a mão‐de‐obra especializada, resultando numa região de grande dinamismo empresarial.
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A cidade‐região é caracterizada como uma superaglomeração, como um lugar privilegiado da nova ordem económica, ao constituir‐se como um nó espacial da rede e um motor da economia global, formada por um mosaico de variadas cidades‐
região. A organização industrial e do mercado de trabalho local, aliada ao recurso às novas tecnologias produtivas e de
telecomunicações, permitem a redução dos custos de transporte, o aumento das trocas de informação e flexibilidade, o estímulo da criatividade e da inovação, a qualificação da força de trabalho e a expansão das oportunidades de negócios.
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Os meios inovadores, as regiões de aprendizagem ou tecnopolos têm como denominador comum a inovação e o fluxo de conhecimento, fomentados pela proximidade e concentração espacial entre as diferentes instituições ou empresas, no contexto do modelo económico pós‐fordista. Assim, assumem‐se como contextos territoriais privilegiados no que respeita a externalidades tecnológicas e de inovação, decorrentes da interação, interdependência e aprendizagem entre empresas, ao integrarem redes de inovação através do contacto e mobilidade de funcionários e fornecedores.
54 | FILAMENTOS METROPOLITANOS. A emergência de morfologias especializadas no território metropolitano de Lisboa económicas, as mudanças dos modelos produtivos e económicos e as transformações territoriais em Lisboa, reforçando a necessidade de uma abordagem multidimensional às suas mudanças.
Apesar do recurso a mecanismos espaciais distintos, as diversas teorias económicas referidas apresentam uma vertente espacial formalizada em questões de concentração, distribuição e de escala das unidades de produção. Desta forma, e embora as teorias de localização operassem num espaço homogéneo e abstracto, distante da realidade territorial, lançaram as bases para a introdução da componente material do espaço na discussão económica. Posteriormente, as teorias
funcionalistas de desenvolvimento e, em particular, os polos de crescimento vieram moldar de forma
decisiva o ordenamento do território associado ao período áureo da produção em massa e das indústrias propulsoras de base, que influenciaram o crescimento das cidades e regiões, contribuíram para os fluxos migratórios e justificaram o aparecimento dos vastos complexos industriais, atualmente em reestruturação ou abandono.
O modelo dos polos de crescimento popularizou‐se em Portugal nos anos 1960 e 1970, como um instrumento de política industrial que permitia ao Estado definir e contribuir para o processo económico (PATRICIO, 1991). A partir da década de 1980, os modelos económicos que assentavam nos aspectos exógenos à região foram substituídos por uma abordagem mais contextualizada que se centrava nas suas características particulares, que se constituem como o centro da competitividade regional. Com a viragem do modelo económico, e face ao fenómeno da globalização, a ênfase centrou‐se no desenvolvimento endógeno das regiões, através de projetos descentralizados de desenvolvimento à escala local e regional. No caso da especialização flexível, da aposta em distritos
industriais, clusters, meios inovadores ou tecnopolos, o principal recurso tornou‐se a inovação e a
alta tecnologia, com vista ao consumo diversificado e ao posicionamento no mercado externo. As pequenas empresas assumem um papel central neste processo e sua localização, graças à crescente flexibilidade introduzida pelos avanços na tecnologia de informação, está livre das fortes hierarquias espaciais que caracterizaram o modelo fordista, com menores impactes territoriais e com uma maior aproximação às dinâmicas urbanas existentes. Em termos formais, estas visões deram origem ao aparecimento de novos espaços de concentração empresarial de alto teor tecnológico, de características distintas dos distritos industriais ou polos de