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Dimensão morfológica e funcional 

No documento Filamentos metropolitanos (páginas 78-83)

 Estrutura organizativa do documento 

1.1.  Filamentos metropolitanos: uma síntese multidimensional 

1.1.1.  Dimensão morfológica e funcional 

O termo filamento metropolitano surge associado a uma dimensão morfológica, que se prende com a  sua  configuração  física,  para  a  qual  contribuem  o  conjunto  complexo  de  elementos  e  de  relações  entre as partes que a formam.  

De acordo com as escolas de pensamento da Morfologia urbana – Italiana, Francesa e Inglesa42 – a  abordagem  à  leitura  da  forma  urbana  realiza‐se  através  de  uma  abstração  da  realidade  existente,  estruturada  em  três  pilares:  a  forma,  a  resolução  e  o  tempo  (MOUDON,  1997;  PINZON  CORTES,  2009). A forma, entendida como o conjunto e a interação das partes que compõem a espaço urbano,  lida através de uma aproximação elementarista (VIGANÒ, 1999) – o edificado e a sua relação com o  espaço  desocupado,  as  parcelas  e  as  vias  de  circulação.  A  resolução  referindo‐se  ao  deslizamento  entre as escalas da paisagem construída a diferentes aproximações: ao nível do edifício/lote, ao nível  da cidade e ao nível da região. Finalmente, a dimensão temporal, como essencial para a identificação  das transformações e das permanências.  

Através  do  estudo  dos  elementos‐base  que  constituem  a  realidade  metropolitana,  em  diferentes  períodos  temporais,  será  possível  reconstruir  o  seu  processo  de  ocupação  urbana.  Identifica‐se  tipologia de configuração urbana para os diferentes momentos, enquanto resultado da relação entre  a matriz biofísica, a ação humana e o tempo, de forma a explicitar os processos e descobrir as suas  lógicas  e  factores  determinantes,  assumindo‐se  que  a  soma  destas  partes  constitui  as  variadas  camadas do sistema urbano.  

O  recurso  a  estas  técnicas  de  interpretação  /  representação  e  a  sua  exportação  para  um  contexto  físico  mais  alargado  –  o  território  metropolitano  –  surgiu,  então,  da  necessidade  de  leitura  de  fenómenos  urbanos  exteriores  ao  centro  consolidado  da  cidade.  Como  tem  vindo  a  ser  defendido  por  variados  autores  (DEMATTEIS,  1995,  DOMINGUES,  2009,  PORTAS,  [et  al.],  2003,  SECCHI,  2005[2009]), o estudo da metrópole e a compreensão territorial dos fenómenos que transformam o 

      

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 Moudon sistematizou as origens da Morfologia urbana em três grupos principais – a escola italiana (associada a autores  como Muratori e Caniggia), a escola inglesa (associada a Conzen) e a escola francesa (associada a Castex e Panerai) – com  raízes  no  campo  da  arquitetura  e  geografia.  In  MOUDON,  A.‐  Urban  morphology  as  an  emerging  interdisciplinary  field. 

Urban Morphology. ISSN 10274278. Vol. 1 (1997), P.3‐10. Pinzon Cortes junta a estas três escolas a abordagem Holandesa, 

associada  a  autores  como  Rein  Geurtsen.  In  PINZON  CORTES,  C.  ‐  Mapping  Urban  Form:  Morphology  studies  in  the 

contemporary urban landscape. Delft: Technische Universiteit Delft, 2009. ISBN 9789081408820. Tese de doutoramento.P. 

FILAMENTOS METROPOLITANOS. A emergência de morfologias especializadas no território metropolitano de Lisboa  | 45  espaço urbano contemporâneo agrega tecidos urbanos de base erudita, assim como um conjunto de  situações territoriais diferenciadas distribuídas pela periferia43 do centro da cidade. 

Desta  forma,  uma  vez  que  a  natureza  dos  filamentos  metropolitanos  se  encontra  profundamente  relacionada  com  a  sua  localização  no  território  metropolitano,  apoiada  nestes  princípios  base  e  ajustada à realidade periférica, a dimensão morfológica centra‐se na escala de leitura e interpretação  das formações urbanísticas na sua materialidade e nas transformações sofridas ao longo do tempo.   A  identificação  dos  filamentos  metropolitanos  parte  do  diálogo  e  confronto  entre  a  escala  local,  a  escala  metropolitana  e  a  escala  suprametropolitana44  (nacional  e  transnacional)  e  da  leitura  do  fenómeno  como  processo,  num  contexto  temporal  e  espacial  alargado.  No  âmbito  da  sua  leitura  morfológica,  a  identificação  dos  limites  físicos  e  temporais  constitui‐se  como  uma  ação  dinâmica,  ajustada  diretamente  à  realidade  territorial  e  às  relações  estabelecidas  com  o  suporte  biofísico,  antrópico e de governança.  

No que respeita à fundamentação histórico‐temporal, os filamentos metropolitanos surgem de uma  leitura  de  enquadramento  das  diferentes  relações  e  das  lógicas  que  se  estabelecem  entre  as  camadas que determinam a sua configuração e comportamento, ao longo do período de tempo que  se  estende  desde  a  sua  origem  ao  presente.  Associado  às  transformações  metropolitanas  e,  especificamente,  ao  papel  que  as  atividades  económicas  desempenham  neste  processo,  variados  autores  estabelecem  uma  relação  temporal  entre  as  mudanças  no  campo  económico  e  as  consequentes dinâmicas territoriais sentidas no espaço metropolitano (CONZEN, 1994[1990], HALL, 

[et al.], 2000, SASSEN, 2008, SHANE, 2005). Com vista à abordagem ao tema em questão, o período 

de tempo que serve de pano de fundo enquadra‐se nas dinâmicas globais do mundo ocidental, sendo  inúmeras  vezes  designado  como  o  período  pós‐fordista  ou  pós‐industrial.  Este  espaço  de  tempo  sucedeu  a  fase  inaugural  da  produção  em  massa  da  revolução  industrial  no  século  XIX  e  a  fase  da  introdução  modelo  Ford‐Taylorista  nos  sistemas  produtivos,  e  coincide  com  a  fase  contemporânea  de construção de redes globais, com a dispersão dos padrões de produção – primeiro regionalmente,  depois nacional e globalmente.  

A nível mundial, o período pós‐industrial45 tem origem nos anos 70 (apesar de ter assumido os seus  contornos em Portugal num momento mais tardio), com a transformação dos métodos produtivos,  através  da  separação  da  fases  de  produção  e  com  a  introdução  de  tecnologia  de  ponta,  dando  origem  a  um  novo  tipo  de  paisagem  produtiva,  no  qual  se  enquadram  as  formações  urbanísticas        

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 Solá‐Morales clarifica que periferia é tudo aquilo que não tem continuidade, nem repetição, nem sistema. No entanto,  projetar  a  periferia  não  significa  colocá‐la  em  ordem,  ou  ajudar  a  completá‐la  ou  a  redimi‐la,  não  sendo  as  atitudes 

recuperadoras ou redentoras das periferias um ponto de partida do qual se possa arrancar para um projeto. In VAN WELLIE, 

E. (ed.)‐ De cosas urbanas ‐ Manuel Solá‐Morales. Barcelona: Gustavo Gili, SL, 2008. ISBN 9788425222603. P.193. 

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  As  escalas  de  referência  para  a  análise  e  registo  gráfico  foram  a  escala  1:2  000  (escala  local),  escala  1:10  000  (escala  intermédia)  e  1:25  000  (escala  metropolitana).  A  escala  suprametropolitana  é  relevante  do  ponto  de  vista  do  enquadramento e de leitura das dinâmicas históricas, políticas e económicas. 

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  A  abordagem  ao  período  pós‐industrial  é  transversal  a  diversas  temáticas  e  a  investigações  de  diversos  autores,  como  está  presente  por  exemplo  em  ECKARDT,  F.;  MORGADO,  S.  (eds.)‐  Understanding  the  Post‐industrial  City.  Würzburg:  Köenigshausen & Neumann, 2011. ISBN 9783826047787. 

46 |  FILAMENTOS METROPOLITANOS. A emergência de morfologias especializadas no território metropolitano de Lisboa  especializadas  em  questão  –  os  filamentos  metropolitanos.  A  designação  desta  época  como  pós‐

industrial  não  significa  que  a  produção  industrial  ou  a  produção  induzida  pela  alteração  de  uso  do 

solo  industrial  tenha  terminado,  mas  significa  que  emergiu  uma  nova  condição,  que  transfere  a  produção industrial para o campo da tecnologia, afastando‐se da mecânica e deixando as áreas de  indústria pesada vagas e contaminadas após o seu abandono (BERGER, 2006).  

Se  à  primeira  vista,  os  filamentos  metropolitanos  originam  uma  paisagem  indistinta  de  unidades  construídas,  de  escala  e  linguagem  dissonante  entre  si  e  com  a  envolvente  onde  se  inserem,  uma  aproximação analítica permite identificar padrões de ocupação comuns e recurso a mecanismos de  organização  interna  e  de  comunicação  visual  semelhantes.  Do  ponto  de  vista  material,  a  questão  prende‐se  com  a  relação  entre  os  elementos  que  constituem  o  conjunto,  sistematizados  para  a  escala  metropolitana  em:  formação  urbanística  especializada,  tecido  urbano  consolidado,  rede  de  mobilidade  e  espaços  abertos;  e  para  a  escala  local  em:  parcela,  sistema  viário  e  edificado.  No  entanto,  para  além  das  características  materiais,  também  contribuem  para  a  constituição  destas  formações  urbanísticas  o  enquadramento  económico,  administrativo  e  político,  que  define  os  princípios e cria as condições para a forma física.  

A estrutura de parcelamento rústico do território constitui‐se como uma camada determinante para  a configuração da ocupação edificada que resulta da sua urbanização posterior. A matriz geométrica  definida  pelos  limites  exteriores  e  pela  dimensão  da  parcela  concentram  as  características  de  determinada localização geográfica, no que respeita às condições biofísicas e de infraestruturação46  (acessibilidade, abastecimento energético ou hídrico, etc.), que foi transportada na transposição da  sua  função  rural  para  urbana.  Da  mesma  forma,  a  matriz  original  definida  pelos  caminhos  rurais,  desenhados entre as propriedades rústicas, forma o primeiro traçado do sistema viário, constituído  posteriormente pelas estradas nacionais que asseguram a acessibilidade às parcelas, que foi depois  complementado  posteriormente  pelas  camadas  definidas  pela  rede  ferroviária  e  pela  rede  de  autoestradas e vias‐rápidas.  

Os  filamentos  metropolitanos  emergem  desta  relação  entre  o  parcelamento  e  as  vias,  caracterizando‐se pela ocupação desconcertada das parcelas marginais que se alinham ao longo da  via que lhes permite o acesso. A primeira etapa caracteriza‐se pela ocupação pontual ou nuclear ao  longo da via, nas áreas de maior conectividade (na confluência ou intercepção com outras estradas,  linhas  ferroviárias  ou  estruturas  portuárias;  ou  na  proximidade  dos  pontos  de  acesso  à  rede  de  mobilidade  de  alta  velocidade).  Posteriormente,  estende‐se  ao  longo  da  estrada,  ocupando  as  parcelas  disponíveis  comunicantes  com  a  via  (e  parcelas  adjacentes,  através  do  recurso  a  mecanismos  espaciais  como  parques,  bolsas  ou  extensões47),  originando  uma  ocupação  linear  estruturada  pela  estrada  e  de  grande  intensidade  no  que  respeita  à  diversidade,  composição  e  recursos visuais e publicitários.          46  A história, forma de organização, estrutura familiar, tradição e cultura de uma determinada sociedade poderão também  ser considerados como informação imaterial que faz parte da herança da estrutura de parcelamento do terreno rústico.  47  Este aspecto encontra‐se desenvolvido no capítulo 4.2.1. Continuidade, ruptura e introdução de novas leituras territoriais 

FILAMENTOS METROPOLITANOS. A emergência de morfologias especializadas no território metropolitano de Lisboa  | 47  Por outro lado, a construção da rede de infraestruturas de mobilidade de alta velocidade introduziu  uma nova escala de leitura do fenómeno, associada à sua abrangência e à emergência de espaços de  acessos  privilegiados  –  as  autoestradas  e  as  vias‐rápidas  constituem‐se  como  uma  nova  camada  material que atravessa o território, de forma a estabelecer ligações físicas eficientes e com ligações  pontuais ao espaço atravessado, funcionando como um túnel. Da sua construção resultou um vasto  conjunto  de  parcelas  atravessadas  que  foram  divididas,  perdendo  a  área  necessária  para  a  exploração  agrícola  e  de  interesse  reduzido  para  a  ocupação  residencial,  mas  que  apresentam  a  capacidade de comunicação visual com os utilizadores da rede de mobilidade e, por outro lado, um  potencial  de  deslocação  metropolitana  (e  nacional)  concentrada  na  proximidade  dos  seus  nós  de  acesso.  A  leitura  alargada  do  território  metropolitano  permite  identificar  a  existência  de  núcleos  densos associados à entrada na rede de autoestradas, mas, a nível local, a acessibilidade às parcelas  estrutura‐se a partir das estradas nacionais, permanecendo na sua estrutura e na organização, como  uma característica determinante para a configuração e funcionamento. 

A  rede  rodoviária  constitui‐se,  então,  como  mais  do  que  um  canal  de  distribuição  e  de  passagem,  mas  como  um  sistema  com  a  capacidade  de  suportar  os  movimentos  locais,  metropolitanos  e  nacionais, assim como a capacidade  de diálogo com os espaços atravessados. A forma de acesso a  cada uma das parcelas e a sua relação de proximidade com a via indicam igualmente o seu carácter,  a  função,  a  dimensão  e  âmbito  (local,  metropolitano  ou  nacional),  e  o  seu  grau  de  capacidade  de  comunicação  com  a  envolvente  –  se,  por  um  lado,  as  indústrias  e  as  atividades  logísticas  não  estabelecem um diálogo com a envolvente, o comércio e os parques empresariais procuram fazê‐lo,  através de localizações de grande conectividade e de qualidade ambiental, comunicando visualmente  com os potenciais utilizadores da rede viária, seja através de marketing de autoestrada ou através da  sua composição e estrutura, em que procuram destacar‐se da envolvente imediata. 

No  que  respeita  ao  edificado,  os  filamentos  metropolitanos  caracterizam‐se  pela  agregação  desconcertada  de  tipologias  e  linguagens  diversas,  compostas  por  edifícios  únicos  ou  de  conjuntos  organizados isoladamente ou em parques empresariais ou logísticos. Resultam, então, em áreas de  baixa densidade, de composição linear de edifícios que se desenvolvem horizontalmente em parcelas  de grandes dimensões. A espontaneidade das ações e a falta de desenho de conjunto revela‐se na  inexistência de alinhamentos ou de diálogo com a envolvente, dando origem a áreas segregadas de  grande quantidade de estímulos, resultante da intensa circulação motorizada durante o horário útil e  do recurso à utilização de mecanismos de comunicação visual e publicidade.    

A  designação  de  filamento  metropolitano  apresenta‐se,  igualmente,  associada  a  um  conjunto  de  formações  urbanísticas  caracterizadas  pela  concentração  de  atividades  urbanas  específicas,  adquirindo,  assim,  uma  dimensão  funcional.  As  principais  funções  concentradas  nestas  áreas  especializadas relacionam‐se com atividades económicas ligadas aos sectores secundário, terciário e  quaternário  (ou  terciário  superior),  cuja  presença  e  importância  se  foi  transformando  ao  longo  do  tempo, acompanhando o contexto socioeconómico nacional e internacional. 

48 |  FILAMENTOS METROPOLITANOS. A emergência de morfologias especializadas no território metropolitano de Lisboa  O processo iniciou‐se com o movimento de deslocação da indústria pesada para o exterior do centro  consolidado, abrindo pistas para a atual leitura alargada do território metropolitano. Posteriormente,  acompanhando  as  transformações  introduzidas  pelos  novos  métodos  produtivos,  novos  hábitos  de  consumo  e  a  construção  da  rede  de  mobilidade  de  alta  velocidade,  verificou‐se  a  intensificação  da  presença  das  atividades  económicas  na  periferia  com  o  crescimento  das  atividades  de  serviços  às  empresas, logística e comércio. A relação de proximidade e a localização destas atividades alterou‐se  na  generalidade,  desligando‐se  da  necessidade  de  proximidade  física  ao  local  de  abastecimento  de  matéria‐prima, ou abastecimento energético e hídrico (que se apresentava até então como um dos  factores determinantes para a localização da indústria), ou a proximidade ao centro no caso do das  grandes  superfícies  comerciais.  Suportado  pela  criação  das  redes  infraestruturais,  foi  criado  um  conjunto  complexo  de  relações  sinérgicas  entre  funções  semelhantes  e  complementares,  que  exploraram  novas  localizações  que  permitiriam  a  expansão  futura  e  tiraram  partido  das  telecomunicações e da eficiência da deslocação física, alimentando o crescimento das atividades de  armazenamento,  processamento,  distribuição  e  comércio  em  pontos  distantes  do  centro  consolidado. 

Com a viragem do século, as forças do mercado e da tecnologia direcionaram as dinâmicas urbanas  globais  no  sentido  da  desindustrialização  na  América  do  Norte  e  Europa  (e  em  simultâneo,  a  industrialização  nos  países  emergentes).  Foi  levada  a  cabo  uma  revolução  nos  transportes  e  nas  tecnologias, cujas maiores consequências se fizeram sentir sobre os territórios metropolitanos, que  reafirmaram o seu papel enquanto motores de crescimento económico (HALL, [et al.], 2000). Lisboa  acompanhou  estas  transformações,  e  a  partir  da  segunda  metade  da  década  de  90  iniciou  um  processo  de  realinhamento  económico  através  do  crescimento  e  investimento  em  atividades  de  produção de conhecimento, a par com o declínio e abandono da indústria pesada. Surgiram, então,  inúmeros  espaços  especializados  neste  sector,  formalizados  em  parques  empresariais,  parques  tecnológicos,  parques  de  ciência,  núcleos  e  sedes  empresariais,  cujas  principais  características  em  comum  se  prendem  com  a  concentração  de  funções  semelhantes;  a  sua  localização  periférica  (embora na área de influência de centros urbanos com capital humano qualificado); a proximidade e  acesso  facilitado  à  rede  de  mobilidade  de  alta  velocidade  para  deslocações  nacionais  e  internacionais, e a linguagem corporativa presente no edificado e nos mecanismos publicitários.   As  condições  de  mobilidade  específicas  do  território  metropolitano  de  Lisboa,  decorrentes  da  articulação  eficaz  entre  a  rede  de  ferro‐rodoviária  e  o  aeroporto,  justificaram  por  um  lado,  inexistência  de  uma  cidade  aeroportuária48  como  é  possível  encontrar  em  variadas  metrópoles  Europeias, e por outro lado, a distribuição de parques empresariais na periferia dos centros urbanos,  ao longo da rede de mobilidade, integrados em formações urbanísticas existentes, e constituindo‐se  como  parte  dos  filamentos  metropolitanos.  Simultaneamente,  intensificaram‐se  as  atividades        

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 A cidade aeroportuária caracteriza‐se pela grande concentração de espaços logísticos, hotéis e centros de congressos e  centros  comerciais  na  proximidade  do  aeroporto.  Apesar  de  inexistente  até  ao  momento,  a  construção  de  uma  cidade 

aeroportuária  tem  vindo  a  estar  no  centro  de  discussões,  associada  à  construção  do  novo  aeroporto  de  Lisboa,  em 

FILAMENTOS METROPOLITANOS. A emergência de morfologias especializadas no território metropolitano de Lisboa  | 49  associadas à logística e ao comércio, em continuidade com a tendência iniciada anteriormente, mas  revelando de forma inequívoca através da sua localização, a dependência das redes infraestruturais e  o alargamento da escala de leitura do território e da sua área de influência. Esta deslocação para a  periferia,  em  particular,  do  comércio,  dos  escritórios,  das  sedes  empresariais  e  das  atividades  de  investigação e desenvolvimento tende a criar um novo leque de relações e a substituir a tradicional  proximidade física ao centro urbano. Criam‐se, então, novas relações funcionais e novas geografias 

de localização (VECSLIR, 2007), baseadas fundamentalmente na redução dos tempos de deslocação, 

suportadas  pelas  infraestruturas  viárias  e  de  transporte  e  pela  possibilidade  de  comunicação  suportada pelas redes de telecomunicações. 

Por  outro  lado,  a  agregação  espontânea  funções  (ou  famílias  de  funções)  conduziu  a  uma  especialização  de  determinadas  áreas,  aumentando  a  complexidade  de  relações  a  nível  metropolitano.  Esta  organização  física  por  proximidade  reflete  as  semelhanças  entre  as  partes  constituintes  e  a  complementaridade  funcional  entre  atividades  de  produção  /  transformação  / 

distribuição, investigação / produção, e distribuição / comércio, dando origem a uma especialização 

funcional à escala local e à territorial, como será explorado na Parte II.   

No documento Filamentos metropolitanos (páginas 78-83)